quarta-feira, 11 de julho de 2007

"Vontade de cantar. Mas tão absoluta / que me calo, repleto." -- Canto Esponjoso, Drummond.


"Canto Esponjoso". Título forte.

Uma das minhas taras, além do conhecido fetiche por livros e do calunioso tesão por cadáveres, é por títulos atraentes, expressivos, descritivos, brutais e líricos:

Something Wicked This Way Comes
Sound and Fury
Cat's Cradle
Night Falls Fast
Tender is the Night
Invisible Cities...

... e a lista se estende ad infinitum. Já comprei livros, belos e bestas, pelo título. Já deixei de ver filmes pelo mesmo motivo, julguei pessoas pelo nome. Num raro momento de ausência de pensamento crítico, há uns 13 anos atrás, cheguei a responder a um anúncio colocado em uma revista de RPG (estavam achando que eu não tinha motivos para esconder minha verdadeira identidade, leitores fantasmas?) procurando "correspondência com minas que curtam RPG" -- as palavras exatas as comeram as traças há tempos. O autor, um cara --menino -- com um nome anacrônico, o sobrenome chique niponizado por um erro de impressão.

O título desse rapaz era atraente como "O Doce Veneno do Escorpião", brutal como um livro de receitas, lírico como um manual de estatística. Mas, num momentary lapse of reason, adquiri o mancebo para meu acervo.

O moço virou meu livro de cabeceira. ProTeteu, metamorfoseou-se em tantos títulos significativos, em mais de uma década de leituras em comum... de Entrevista Com o Vampiro a Grande Símio Negando a Morte, passeando por todas as correntes literárias e de pensamento -- algumas imaginárias, outras imaginadas. Bukowski maldito, Bíblia Sagrada.

Eu, Juíza Final de Pessoas pelo Título e Livros pela Capa, carrego esse homem de bolso aonde quer que eu vá, querendo ou não, desde então.

He, who once said "I really need a girl like an open book / to read between the lines", got more than he had asked for.

E seguimos, relendo um ao outro na distância disfarçada dos livros, cartas, mensagens. Criticando, reescrevendo, amassandojogandofora, enviando e recebendo palavras. Palavras, desde o início, foram nossa pedra de Bolonha.

Títulos podem ser enganosos. Ou não.

Vou parar por aqui antes que me transforme em Lord Byron ou -- Éris me livre -- Goethe. Para arrematar esse arroubo blogger, mais uma de Drummond:

"Chego à conclusão de que escritor é aquele que não sabe escrever, pois quem não sabe escreve sem esforço..."



E para meu estudioso da alma humana e profundo conhecedor do sarcoma que corrói a minha, fica a frase de Musset:

"Toda a doença do século presente provém de duas causas que provocam no povo duas feridas: tudo que era deixou de ser, tudo o que será não é ainda"

Meus Fetiches, Taras & Perversões Afins estão longe de serem infundados.

Cadáveres não.

Às pedras no meio de nossos caminhos!

-- Madame X.

2 comentários:

Atillah disse...

Agradeço pela menção. Comovente. Tipo, de verdade. Um beijo na sua alma.

Anônimo disse...

Obrigada pela comoção. Eu nunca sei se você está falando a sério or being facetious -- faz parte do seu charme e do que me irrita em você.

I'm going to take it as a compliment.

Beijos no cerebelo.