domingo, 29 de novembro de 2009

Resumo do Mundo Enquanto Ópera





Nunca deixarei de me assombrar de minha infinita capacidade de encontrar quem resuma o que sinto do modo que eu mesma o exprimiria, tivesse o talento, a vontade e mais juízo na cabeça.

Músicas, livros, poesias, trechos de filmes, pichações, dizeres afixados em um ponto de ônibus, fragmentos de conversa alheia registrados acidentalmente: de súbito me deparo com a expressão perfeita do que me enleva, horroriza ou interessa naquele exato momento, a forma feita verbo de meus tédios e angústias.

Após (mais um, e creio que derradeiro) Momento Amy Winehouse 2009, quando mandei meu emprego para onde o Sol não brilha (com consequências, variando do cômico ao descaradamente desagradável, ainda a conferir),amparada por quinze dias de atestado médico documentando o total esgotamento de minhas faculdades docentes/intelectuais/emocionais/sociais, encontro-me internada em minha cidadezinha natal nas montanhas do Rio de Janeiro, sob os cuidados de minha mãe e provocações de meu irmão. Nos últimos dez ou doze anos da minha vida não me lembro de ter passado mais do que três dias corridos aqui, três vezes ao ano; acabo de descansar, pobre neurastênica que sou, por uma semana -- com mais uma semana de repouso ainda pela frente. Uma semana de eu-sozinha revisitando a ópera do mundo nas ruazinhas do lugarejo onde nasci.

Percorro os paralelepípedos em permanente susto. Casarões centenários são furtados de minha vista por muros absurdamente altos, absurdamente cinzas. Os paredões de pedra que protegem minha cidadezinha estão purulentos de prédios. Chego à casa de meus avós para almoçar e o fantasma de um cachorro há muito morto recebe, ganindo baixo, os afagos de minha saudade. A casa não tem mais cachorro, crianças ou avô: abro a bonbonniére e encontro missais, santinhos de gente morta.

Durmo, vou a médicos, folheio as CARAS e Contigo! de minha mãe. Distraio-me das marcas do tempo na cidade, no rosto dos que eu amo e no meu próprio perdendo tempo ainda mais precioso na internet e, em momentary lapses of reason, lendo um dos muitos livros que trouxe comigo -- para aborrecimento de meus familiares, que não compreendem como eu posso me enfurnar em casa, absorta em livros, quando há tanta vida lá fora.

O problema, amados, é que aqui dentro, sempre... me parece melhor. Quando eu fechar os livros e sair ao sol novamente, mais pessoas terão se ido, mais muros subido e prédios maculado as minhas serras. Inevitável. Irreversível.

Fernando Pessoa fala por mim:

"Nada pesa tanto como o afecto alheio -- nem o ódio alheio, pois que o ódio é mais intermitente que o afecto; sendo uma emoção desagradável, tende, por instinto de quem a tem, a ser menos frequente. Mas tanto o ódio como o amor nos oprime; ambos nos buscam e nos procuram, não nos deixam sós.

O meu ideal seria viver tudo em romance, repousando na vida -- ler as minhas emoções, viver o meu desprezo delas. Para quem tenha a imaginação à flor da pele, as aventuras de um protagonista de romance são emoção própria bastante, e mais, pois que são dele e nossas. Não há grande aventura como ter amado Lady Macbeth, com amor verdadeiro e directo; que tem que fazer quem(m) assim amou senão, por descanso, não amar nesta vida ninguém?

Não sei que sentido tem esta viagem que fui forçado a fazer, entre uma noite e outra noite, na companhia do universo inteiro. Sei que posso ler para me distrair. Considero a leitura como o modo mais simples de entreter esta, como outra, viagem; e, de vez em quando, ergo os olhos do livro onde estou sentindo verdadeiramente, e vejo, como estrangeiro, a paisagem que foge -- campos, cidades, homens e mulheres, afeições e saudades --, e tudo isso não é mais para mim do que um episódio do meu repouso, uma distracção inerte em que descanso os olhos das páginas demasiado lidas.

Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda a gente. Se realizasse algum sonho, teria ciúmes dele, pois me haveria traído com o ter-se deixado realizar. Realizei tudo quanto quis, diz o débil, e é mentira; a verdade é que sonhou profeticamente tudo quanto a vida realizou dele. Nada realizamos. A vida atira-nos como uma pedra, e nós vamos dizendo no ar, 'Aqui me vou mexendo'.

Seja o que for este interlúdio mimado sob o projector do sol e as lantejoulas das estrelas, não faz mal decerto saber que ele é um interlúdio; se o que está para além das portas do teatro é a vida, viveremos; se é a morte, morreremos, e a peça nada tem com isso.

Por isso nunca me sinto tão próximo da verdade, tão sensivelmente iniciado, como quando nas raras vezes que vou ao teatro ou ao circo: sei então que enfim estou assistindo à perfeita figuração da vida. E os actores e as actrizes, os palhaços e os prestidigitadores são coisas importantes e fúteis, como o sol e a lua, o amor e a morte, a peste, a fome, a guerra na humanidade. Tudo é teatro. Ah, quero a verdade? Vou continuar o romance..."




Singing Lead Soprano in a Junkman's Choir,


--Xochiquetzal,

sábado, 28 de novembro de 2009

Congratulations...





...your mind has just been blown.

Awestruck,

--Xochiquetzal.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Surtamos Juntinho...





..e até mesmo o prazer de acender um cigarro pós-surto me é negado, já que pela primeira vez em sei lá quanto tempo consigo bater nos peitos com orgulho e me declarar ex-fumante. Pelo menos isso eu tenho.

É curiosamente triste constatar que estamos passando por um stress tão absurdo juntas. Um monte de perguntas ficam passando pela minha cabeça, junto com um monte de posts que tenho armazenados em minha cachola doentia mas, no momento, não tenho como psicografar por aqui, nesse pequeno carro-pipa de lágrimas virtuais que é nosso amado blog.

Conhecimento traz sofrimento, é fato: porém, eu não consigo lidar com meu vício por conhecimento, mesmo ao ver que isso só me empurra pro buraco. Como todos os incautos que caem nas teias viscosas do saber, comecei com conhecimentos leves, light, que eu jurava não me fazer mal algum: comecei a ler Anne Rice quando estava na sexta série. Logo depois estava matando aula pra ficar lendo Neil Gaiman no banheiro. Meus amigos bem que tentaram me alertar, tentaram fazer com que eu voltasse a assinar Capricho, mas já era tarde demais -- quando fui me dar conta lia Edgar Allan Poe o dia inteiro. Hoje sou uma ninguém, mais uma fracassada devorando Nietzsche e Dostoevski enquanto todos que conheço têm emprego, 800 amigos no orkut, abadá pras micaretas, iPhone. E eu, o que tenho além dos cerca de 500 livros que li desde a virada do milênio (sim, eu mantenho uma lista do que leio desde o ano 2000), dez quilos a mais e cinco gatos? Uma horda de perguntas sem resposta.



É foda ser um ponto de interrogação nesse mundo cheio de reticências.

Exclamando de fúria,

--Xochiquetzal.

P.S. - Falta de s nexo em ingles e (blue ponei):



quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Dos males humanos

Que culpa temos de sermos perfeitos? Deus nos deu a dádiva da vida, de respirar, de termos um corpo funcional feito à sua imagem e semelhança, de podermos trepar e gozar de liberdade e direitos. Também nos deu a dádiva de articular pensamentos, formular palavras, hipóteses, discursos, imaginar, sonhar alto, recriminar e criticar; em forma de neurônios e sistemas cerebrais simpáticos, e alguns não tão simpáticos assim. Somos a obra-prima divina, a menina-dos-olhos do Todo-Poderoso, o crème de la crème de todas as coisas que caminham e/ou caminharam sobre a Terra, e um grupo como "o nosso" não é nada menos que le cerise de la crème de la crème. Entre tantos seres iguais a nós, somos tão diferentes por sabermos usar o cérebro ao nosso favor, ao invés de este ser um simples acessório-facilitador a mais na vida, tal como o papel higiênico ou um cortador de unhas.

Ainda assim, arrisco-me a dizer que dos males humanos, o maior deles é pensar. Sempre me gabei de ter um intelecto bem dotado e uma língua afiada, mas nunca imaginei que meus próprios pensamentos fossem se voltar contra mim. Logo eles, que sempre me apoiaram, sempre me sustentaram, me trouxeram até aqui e foram resistentes às chuvas mais geladas e aos vales mais escuros.

O veredicto foi dado.

- Pelos seus exames, você vai viver tranquilamente até os cem anos, se trocar os cigarros por uma caminhada. Pede pra minha secretária te passar a lista de psicólogos.
- Mas doutor, não tem tratamento físico ou cirurgia que resolva de uma vez por todas?
- Tem. Lobotomia.

Não estou falando apenas dos meus pensamentos; seria por demais egoísta da minha parte pensar apenas em mim, dentre bilhões de outros seres pensantes. Foi este nosso dom que nos deu abrigo, proteção e sobrevivência. Não fui a única a caminhar e me desenvolver através de intelecto, creio que a humanidade toda deve seu grande império ao que carregamos em nossa cachola.

O xis da questão é: quem controla quem? Nós controlamos os nossos pensamentos? Ou eles é que nos controlam?

Nossos pensamentos megalomaníacos nos levaram à guerras. Nossos pensamentos perseverantes nos levaram à resistência e a nos reconstruir. Os pensamentos de uma vida melhor nos levam a continuar tentando achar o script mais apropriado para nossa felicidade.

Eu sempre achei que tinha o controle, que eles estavam ali para me servir e me fazer crescer. Entretanto, no sir, get ready for a quarrel.

It's all in your head


Lift up your fingers and let's untie the string
Let's knot them all to see what this monster brings


Ainda me reviro na cama pensando como uma coisa tão simples como pensar pode dominar meus dias e me deixar mal fisicamente. Quando meus pensamentos estão em marés calmas, eu sou o Sol. O dia é lindo, os passáros cantam, é uma delícia respirar e apenas respirar, eu irradio felicidade, meus raios são galhos longos querendo tocar o céu, eu me esparramo pelo mundo com um sorriso satisfeito na cara. É uma delícia ser normal.
Quando vem a turbulência, até pra Deus eu rezo. Inútil, visto que nem religiosa eu sou, mas rezo pra que tamanho desespero me deixe em paz, rezo pros meus pensamentos voltarem pro lugar, pra angústia passar, pra eu voltar a ser como eu era antes, porque nesses momentos nada mais existe, exceto mil demônios fazendo algazarra nos meus pensamentos. Mas, tá. É tudo coisa da minha cabeça.

Dádiva, né? Prefiro ser um pé de alface.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

about: FFFFFFFFFUUUUUUU

Olá, companheiros.

Que saudade de abrir meu eu aqui. Mais uma vez, vou usar isso aqui como um... como é que o Atillah chama mesmo? "Waste basket emocional"? Bom, pro inferno as nomeclaturas e utilidades; o que seria a internet sem diarinhos e que graça teria esse diarinho virtual em especial, compartilhado, se não fosse eu e a X. enxaquecando alternativamente e o Atillah fingindo estar apenas observando nossa jornada psicodélica endo-nosostras e que acabamos regurgitando por aqui?

Enfim, divago. O desejo latente de escrever me tornou prolixa, tenham paciência comigo.

O fato é: eu me fodi. Me fodi gostoso. Deturpando as mais obscuras fantasias de um amigo meu que adora cus, alguém pegou o meu singelo briosco, tacou sal, um pouco limão, e arrombou com uma pica de 25 cm por 9 de diâmetro.
- Mas por que, Bel? - perguntam-se nossos leitores imaginários.

Sabe o Wally, aquele menininho sapeca que soltou minha mão e se perdeu no meio do mundo enquanto eu estava ocupada olhando as vitrines da Avenida Capitalismo-Filho-da-Puta? Descobri, como o realmente ótimo Zeitgeist me ensinou, que o mundo é mesmo uma ilusão criada por mim. Tudo que é importante, valores que elevo, características que prego, tudo é fruto da minha own personal Matrix. Bom, e aí que Wally se foi. E foi aí que eu descobri que por trás da ilusão, estou cercada do mais imenso e vasto e profundo mar no qual já mergulhei (esse, infelizmente, sem tartarugas pra eu caçar com o olhar). Tarde demais, no entanto, descobri que o Wally era a bóia que me mantinha sã, era onde eu me agarrava pra conseguir respirar.
Sem Wally, um par de mãos gélidas insistem em empurrar minha cabeça pra dentro d'água, me afogando. Passei da resignação ao desespero em duas inspirações de pura água salgada.
Trocando em miúdos, meus queridos amigos, eu me fodi.

O Atillah é um engraçadinho, debochando de nossas (supostas) tentativas de "ficar limpas", mas o fato é que foi exatamente andar com os tatus que me fez quebrar de vez. Minha maior fonte de prazer, aquele cheiro que sempre fazia brotar um sorriso no rosto, a base das minhas mais enebriantes e eufóricas e agradáveis memórias; a dona Juana resolveu que não gostava mais de mim. Fui assaltada por bad trips assombrosas, parei, achei que tinha melhorado, voltei, e aí tive uma crise que me congelou até os ossos.
Por que? Porque ela veio enquanto eu estava absolutely sober.

Ter crise de pânico já tava sendo de praxe enquanto eu dançava o hula com os tatus, mas quando tive isso sóbria, fiquei assustada. Normalmente, essa sensação de afogamento vem e vai com facilidade, mas sóbria parece que não tem cura. Sóbria realmente dá a impressão de que vou morrer, já que, porra, não tem COMO ser "só uma bad trip" se eu tô fuckin' sóbria.

Hospital, médicos, pronto-socorro, medo de sair de casa e nove calmantes por dia: c'est moi!
Logo eu, que sempre fui uma pessoa tranqüila e equilibrada, zen e temperada, fácil de lidar e resiliente, sofrendo às custas de um mal tão psicológico que virou mais lógico do que psico.

Eis me aqui, agora. Despesa gigante com médicos, um medo monstruoso de ter outra crise de medo, medo de viajar, de ficar sozinha em casa e VAI SE FODER se você ousar falar que "é tudo coisa da sua cabeça", Atillah. Quisera eu saber a cura pra isso. Quisera eu saber ao menos a causa disso tudo. Quisera eu voltar a ser normal, a ser eu mesma. Desbravadora, aventureira, bradando meus punhos perante o mundo que me desafia, praticamente uma Xena blogueira.

Mas eu não me reprimo. Não, não. Aí eu me refugio em vocês.


De jeito nenhum. Só sobre o meu cadáver.

E em todas as outras coisas boas que me constroem. Todas as experiências horríveis que já tive e que venci (com algumas cicatrizes), todas as gargalhadas que brotam de mim sem esforço, todo o suor que já verti em busca do que acredito.
Eu sou forte. Eu sou guerreira. Eu sou O Cara. Eu não sou um pintinho molhado, procurando piedade ou alguém pra caçar minhocas para mim. É com essa técnica de homem-bomba que venho sobrevivendo: toda vez que mais uma crise de medo se antecipa na esquina, eu grito com ela. Grito "MEDO DE QUE, SUA VAGABUNDA? ENTÃO VEM ME PEGAR, PORRA". O pior é que ela me responde. Gelada. Intensa. Derretendo minhas entranhas.

Você não sabe o que está acontecendo. Eu venho sem te avisar, sem dar tempo de reação. Eu falo, e você me escuta. Já pensou que você pode estar realmente louca? Vai ter que se tratar. Vai viver comigo o resto da vida. Tomar remédio. Vai ter medo de ficar sozinha e do escuro. Você tá ficando louca.
Lllllllllloooooouuuucccccccaaaaaaa.




E assim vou indo, alternando-me entre uma coragem e força pra lutar semelhante à dos vikings e um medo que me reduz a um ser encolhido, tremendo e com falta de ar no sofá, que só encontra sossego nos braços de Morfeu.

.
Uma parte engraçada disso são os sonhos. Tenho dois sonhos com um background repetido e constante, e só o desfecho muda. Vou contar aqui, já que essa merda de blog É SIM A PORRA DO MEU DIARINHO.

O sonho 1 é numa estação de trem. A situação é sempre a mesma: eu chego num ônibus, atrasada, correndo e esbaforida; e preciso pegar um trem que vai na direção contrária, ou seja: preciso passar pro outro lado da plataforma. Umas duas vezes eu atravessei todalôca pelos trilhos mesmo, esperando os trens passarem, que nem a gente faz pra atravessar a rua. Da última vez eu fiz a coisa certa, que foi dar a volta pela escada rolante e chegar do outro lado, sã e salva. Os transeuntes do meu sonho já devem me ver por lá e falar "ó lá a doidinha do busão".

O sonho 2 envolve a srta. Bel-Doida-de-Pedra observando um cavalo e um índio de peito nu copulando felizes sendo atacados por um urso preto gigante. Sempre começa assim: eu, toda pimposa, observando o índio cavalgando por um campo. Então, aparece o urso.
Da primeira vez, o urso derrubou o índio do cavalo e devorou o pobrezinho numa bocada só, enquanto o cavalo fugia. Da segunda vez, atacou os dois só de farra, sem comer ninguém. A última vez me fez acordar até com enjoo, já que o urso resolveu devorar o cavalo. Jogou o índio no chão, o cavalo galopava pra tentar fugir enquanto o urso devorava o cavalo VIVO, que ainda corria tentando escapar, sem um pedaço da pata, com um pedaço das costas na carne crua e espalhando um monte de sangue pelo campo.

Tenho quase certeza que deve ser meu inconsciente tentando me falar alguma coisa, ainda mais agora que eu resolvi colocar no papel por escrito, mas essas duas doses de vodka* estão me tornando tão misantropa que tô com vontade de mudar meu nome pra Chinaski, e também porque já aloprei demais nossos leitores imaginários com essa conversa de gente doida.

Vocês ainda vão me amar se eu começar a crer que sou o Napoleão Bonaparte, né?


.
Em resumo, só sei que me fodi. Não sei a cura, não sei a causa, não sei pra onde corro, não sei que trem pego nem se chamo alguém pra cuidar dos meus wild but partly-eaten horses nem se caso ou se compro uma bicicleta.

Na vida real, pela primeira vez na minha existência, sou uma cocota popular. A high-society da cidade me descobriu, adoram meu "estilo moderno", nunca viram nem conversaram com um ser mais inteligente que um pedaço de polenta frita (pudera...), e por isso me adoram, me acham engraçadíssima, espirituosa, não me deixam em paz nenhum fim de semana, sempre me chamando pras festas "mais badaladas", minhas companheiras de bar são as meninas mais gostosas da cidade, as mesmas que alguns anos atrás eu chamava de "putinhas de luxo". O mundo dá voltas. Por fora, o novo brinquedinho dos Sebastians e Kathryns da cidade; por dentro, a mesma louca -porém um pouco em frangalhos- de sempre. Spell "ironic" for me, student.



Trocando ideia alegremente com uma bola de vôlei com uma carinha feliz pintada,
Bel, a Louca.


*Ah é! Boas novas: parei com os tatus, mas continuo o mesmo pudim de pinga de sempre.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Lendo Fagner ao Som de Darwin, ou Considerações sobre os (Possíveis) Efeitos Deletérios da Agricultura Celeste



As chuvas de primavera trouxeram o desabrochar em massa da flor do pasto, inculta e bela.



...logo, desde que começou a chover transformei-me numa pessoa deveras abstrata e etérea. Foram semanas sem dúvida interessantes, durante as quais analisei a vida, o universo e tudo mais de um ponto de vista caleidoscopicamente divertido, mas cansei: ontem acordei cedo, tomei borra de café para recobrar os sentidos, sentei-me ao sol para tirar o cheiro de mofo de minhas abundantes dobrinhas e levei uma bifa da realidade ao me deparar com as consequências da maldita chuva: perdi a conta das coisas que deveria (ou não) ter feito esse mês e não fiz because I got high, tipo aquela música:

Had to catch up with my work and I didn't
Because I got high
Was supposed to see my family and didn't
Because I got high
Lost count of movies I've seen, albums I've listened
Because I got high
Been eating crap for weeks and my pants don't fit me
Because I got high
500 bucks disappeared and I don't know how
Because I got high
Got three extra cats in the house and I wonder why
Because I'm not high, because I'm not high, because I'm not high

(tchu-ru-ru-tchu-tchu-ru-ru...)


Maldita chuva: passei horas incontáveis grudada ao sofá, rindo de Mr Show, Monty Python, George Carlin, Bill Hicks e Dave Chapelle. Assisti a mais filmes do que consigo lembrar, ouvi mais álbums que pude assimilar... o que não deixa de ter seu lado interessante, ao transformar minha vida em um continuum de infinita novidade: como minha memória deixa a desejar, tudo que vejo, leio ou ouço é absorvido como se fosse visto, lido ou ouvido pela primeira vez. Clássicos de meu acervo cultural, como How High, Boondock Saints, Appetite for Destruction ou Don Quijote ganham vida, tudo me é inédito -- como se eu fosse um peixinho dourado nadando em círculos dentro de um aquário implausivelmente decorado.



"OMG! Look at that treasure chest! Bubbles come out of it when the lid goes up, ROFLMAO! WTF, I could swear this pirate ship wasn't here five minutes ago! How interesting! Look, a treasure chest! Bubbles! LOL this place is awesome! Dude!! PIRATES!!!!!"

Mas cansa ser um peixe mergulhado no límpido aquário de Deus, borbulhando amorosamente diante do encanto do mundo, noites em claro passadas dentro de mim. Assim que reaprendi a usar minhas pernas, rastejei para fora das águas da psicodelia e salamandro por aí, ainda dependente do meio líquido que me engendrou mas almejando ambientes mais secos, estáveis, reptilianos.

Sangue quente, coração dividido em quatro câmaras, viviparidade e glândulas mamárias, aqui vou eu. Até enjoar disso tudo e voltar para o caldo primordial, começando tudo de novo, lá e de volta outra vez, unicelular e partenogenésica.



Mas nem só de iluminação fúngica e êxtases místicos vive Xochiquetzal: continuei a lecionar normalmente enquanto criatura pisciforme -- com resultados variando do desastroso ao cômico. Comprei um violão, encontrei um professor e dedico-me ao instrumento diariamente; comprei coisas, paguei contas, curei-me de uma infecção sinistra com o poder do pensamento positivo e adotei três gatinhos de duas semanas de idade que um filho da puta abandonou em frente ao meu prédio. Aos detratores de meu estilo de vida alternativo fica a evidência da correria que é o meu dia-a-dia: acordar cedo para dar mamadeira aos gatinhos, tocar violão, ler alguma coisa, pensar em ir à praia e decidir em contrário por falta de companhia, tomar banho, ouvir música, dar mamadeira para os gatinhos, varrer a casa, ir trabalhar, lecionar por sete horas sem muita idéia do que estou fazendo mas com resultados assim mesmo, voltar pra casa, dar mamadeira para os gatinhos, corrigir provas, ouvir música, tocar violão, ver filme, jogar Mario Kart no Nintendo 64, ir dormir.

Claro que me preocupo com coisas. Penso bastante no que vai acontecer com minhas dívidas, no fato de minhas roupas não caberem mais em mim, que Patrick Swayze morreu e só fiquei sabendo ontem (Roadhouse é um dos filmes que vi ad nauseam quando adolescente), no que consiste a verdadeira felicidade...



...mas no momento concentro meus esforços em encontrar lares decentes para essas três criaturinhas antes que me apegue demais a elas e dê início a uma carreira exponencial de crazy cat lady.

Digivolvendo silhuetas de amor à luz da lua,

--Xochiquetzal, Survivor Among the Maddest.


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Non Ducor -- Duco.







"If a doctor, lawyer, or dentist had 40 people in his office at one time, all of whom had different needs, and some of whom didn't want to be there and were causing trouble, and the doctor, lawyer, or dentist, without assistance, had to treat them all with professional excellence for nine months, then he might have some conception of the classroom teacher's job."


~Donald D. Quinn

Cheers, fellow educators.

--Xochiquetzal.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

How Much For Your Wings?






Amigos, que bom ler vocês novamente. Na boa. Bom pra caralho. Tão bom que vou deixar minha absurdamente protelada consideração sobre "Martyrs" para depois, só para tentar responder aos seus posts à altura:

Bel: a gente vai acinzentando até que o gris da alma chega ao ponto de se manifestar em ossos olhos e cabelos. Passamos a definir a vida baseado no que fazemos em vez de no que somos, e quanto mais fazemos, menos somos -- acabando por tentar preencher o vazio do nosso ser com mais e mais fazer, que nem sempre acaba no "final feliz" do mais TER. Quanto mais trabalhamos, mas precisamos trabalhar. Uma rotina oompa-loompa de trabalho traz com ela despesas embutidas --alimentação porca e esporádica pela rua, remédios de todo tipo para tratar os males causados pelo stress, surtos consumistas completamente desnecessários causados por profunda descompensação psíquica... acabamos trabalhando para sustentar o próprio estilo de vida insalubre causado pelo trabalho. Trabalho de Sísifo, literalmente.



Não contentes em sermos escravos, pagamos pela senzala imunda que nos abriga dos elementos e pela ração de cada dia. Financiamos a chibata do feitor em dezessete vezes sem juros nas Casas Bahia e compramos sorridentes nossas cangas com IPI reduzido. Estou na lesma lerda após passar por exatamente a mesma coisa no semestre passado e ter jurado que jamais me deixaria apanhar nas insidiosas teias laborais novamente, mas tudo bem: errar é humano, repetir o erro é burrice, mas como sou a burra mais genial que conheço, dou permissão a mim mesma de errar mais do que o necessário para aprender as lições essenciais da vida. Bate na preta não, nhonhô. Bate na preta não, nhonhô, porque a preta lê livros, a preta se informa, a preta pensa nas coisas quando não está cortando cana -- e um dia a preta queima a Casa Grande com os Sinhozinho tudo dentro.

(Castro Alves passa cheirando rapé)

Bel, colega de cativeiro: estamos presas em armadilhas criadas por nós mesmas. Podemos sair quando quisermos -- o verbo não é poder, é querer. Fomos condicionadas a acreditar que precisamos das coisas pelas quais trocamos horas insubstituíveis de vida, e, psicologicamente falando, abandonar esse mindset é o parto solitário de um bebê cabeçudo às margens do rio Araguaia -- dirigido por Jaime Monjardim. Mas dor é coisa que passa. O que não passa é a sensação de estar pagando de otário quando sabemos exatamente onde e como estamos errando. Criamos a gaiola, mas também a chave: basta ter a coragem de sair portinhola afora quando vierem trocar nossa água.



MAS...

eoalugueleaprestaçãodamáquinadelavareoqueosoutrosvãodizere meunomevaiproSPCeafaturadocartão?

O perigo está nos MAS. Se joga, mona: as coisas boas vêm de correr riscos. Você não precisa trabalhar do jeito que está trabalhando. Você não vai pra debaixo da ponte, pra esquina rodar bolsinha ou pra fila do sopão da igreja. Surta, manda tudo tomar no cu. E se você descobrisse que está com uma doença incurável hoje? Continuaria o que está fazendo agora? Não. Guess what: você tem uma doença incurável, sista -- uma doença chamada intelecto. Live with it, babe. Don't let it drag you down to the grave. Graves are for lemmings -- we are supposed to die in a much more glamourous way: choking in our own vomit, chasing the dragon in an opium den in Bangkok, having a heart attack during an orgy, freezing to death while singing Piaf by the Seine with a Gaulois hanging from our lipstick-stained lips. Do not go gentle into that good night.

MAS... quem caralhos sou eu pra fazer um discurso desses quando não passo de mais um lemming? Xochiquetzal, teu nome é hipocrisia? Hold your horses, folks: eu sou um lemming furioso, um lemming semeando a discórdia, um lemming Molotov que quer ver o circo pegar fogo. Faço parte do sistema mas não pertenço a ele. Pode ser que seja bullshit, mas desde meu último post meu jugo é mais leve: no meu segundo Momento Amy Winehouse 2009, declarei que não trabalho mais antes das duas horas da tarde, e se nhonhô não gostar que arrume uma preta mais prendada, honesta e limpinha do que eu. Também larguei meus alunos particulares de sábado, fonte maior de renda -- renda destinada a sustentar um estilo de vida aberrante. Grandesbosta? Pode ser. Mas não me culpo por colocar o pezinho nas águas do FODASE, ir molhando as perninhas devagarinho, deixando o rebel yell molhar minha cintura antes de mergulhar de cabeça na vagabundagem.

E, Bel, se a minha imponente bunda pode vagar por aí, a sua também pode. Vaguemos bundas pelas areias de Costa Azul, mirando tartarugas, fazendo o mínimo esforço necessário para obter o que realmente precisamos -- coisa possível para moças de nosso métier apenas aqui, onde o sangue negro corre aos borbotões. Saia do armário, deixe Nárnia antes que a Rainha do Gelo (?) se apodere do seu coração, venha bundear conosco. Três pessoas e quatro gatos têm infinitas chances mais de encontrar Wally do que uma mártir entorpecida.

MAS... você que sabe.

I'm sick of giving creeps more of my soul. What about you?

Termino esse post-pregação-semi-hipócrita com uma citação que me ocorreu ao ler o I Told You So de nosso querido Huno:

"THE ROAD OF EXCESS LEADS TO THE PALACE OF WISDOM"
--Proverbs of Hell, William Blake

Quando você atingir massa crítica, lembre-se que tem onde abrigar seu coração supernova. Sempre.

--Xochiquetzal.

P.S. - O mesmo vale pro Huno, estrela anã de 23 graus centígrados, buraco negro de nossas angústias: sempre haverá um panelão de sopa cósmica te aguardando aqui.


"Money" - Pink Floyd
"Time Bomb" - Rancid
"Boom Boom" - John Lee Hooker

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

10 drogen... und smurfen.



...die Sie nicht nehmen sollten...

... wenn Sie Auto fahren.







I JUST ATE A SMURF

*sigh* The fact that life makes no sense gets me through the night.

--X.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vício



Garota-enxaqueca 1 e Garota-enxaqueca 2, entendo no fundo de minha alma suas dores workaholics e tenho apenas duas palavras pra dizer a vocês a respeito do assunto: 


Vocês ignoraram solenemente minhas advertências. Vocês consideraram como frescura, melodrama e, sim eu me lembro, vocês me disseram que isso era "coisa de quem não tava acostumado a trabalhar". Well...

ACOSTUMA AÍ, FDP!

Vocês não me deram ouvidos. Mas tudo bem, ninguém nunca me escuta mesmo. Ninguém presta atenção em vagabundo. Ninguém leva pessoas desocupadas a sério. Todo mundo me olha como se eu estivesse passeando pela vida e não quisesse nenhum tipo de obrigação.

(Não contem pra ninguém, mas é exatamente o que eu estou fazendo)

Não contem pra ninguém, e eu não vou contar também que vocês se tornaram abstêmias. Não vou contar pra ninguém porque, sabem como é, nesse projeto de vocês voltarem a um estado puro e imaculado de brancura, pode ser que alguém bote olho-gordo se ficar sabendo do lance. Melhor não contar.


E também, VAI QUE vocês resolvem desistir, né? Para não ter constragimentos com a recaída, vamos fingir que vocês nunca tentaram.

Vícios são foda. Mas eu sou legal, e vou dar a letra pra vocês de novo. Mesmo que, novamente, vocês não prestem atenção. Olha só: trabalho, drugs, sexo, vídeo-game, dinheiro, relacionamentos, whatevers, tudo pode ser vício, sabiam? Lógico que sabiam, vocês são garotas espertas. Espertas e, agora, com mais brancura.

Vícios, quem não os tem? Acho que ter vícios não é problema. Problema é não saber que tipo de buraco você está tentando tapar com os seus vícios. Ou ter vícios que criem mais buracos. Aliás, que tipo de buraco você tapa com o trabalho mesmo? 

Trabalho? No thanks. Just say no

Porra, prefiro me viciar em pessoas. Se elas não tapam meus buracos, pelo menos eu tapo o buraco delas (heh).

Porque, se você for ver bem, trabalho quase sempre é igual a coke; você sabe que é uma bosta, mas acha que não consegue largar. Eu disse que o trabalha QUASE sempre é igual a coke, porque pó às vezes é legal. Até o refrigerante é legal, de vez em quando. Com rum e limão, por exemplo. Já o trabalho, ah, esse é SEMPRE uma merda.

Ah, eu também disse que você ACHA que não consegue largar. Vai vendo.

Tenho mais más notícias pra vocês: trabalho é um vício pro qual não existe A.A. Too bad, heh? Eu sinto muito garotas, mas vocês vão ter que sair dessas sozinhas. Ninguém pode fazer você parar de trabalhar a não ser você mesmo. Não existe grupo de apoio pra quem quer parar de trabalhar.

"Só vou tomar mais uma"
"Só mais uma fungadinha"
"Só vou trabalhar até o fim do ano"

yeah, right.

Fugir dos seus vícios é tentar fugir de você mesmo. Where do you go when you want to stay away from cocaine? It's so painful.



love grace tolerance

Atillah

Onde está Wally?



É engraçado ver nossas rotinas oompa loompa de lemmings alucinógenas escravizadas pela rotina louca do acorda-trabalha-dorme, com alguns tatus caminhando embriagados de rum espremidos ali nos hífens, nos afetou de maneira opostas.
Você me soou como o Cebolinha bolando um de seus planos infalíveis pra ser o dono do mundo da rua ao falar sobre estratégias para vencer a Mônica e sua força suprema o trabalho árduo e sua força suprema, da mesma forma que quando o Atillah discursa sobre as maravilhas dos 23 graus centígrados me soa como um padre dando um sermão sobre como o paraíso é belo e delicioso.
E eu?

Bem, não se contentaram em colocar essa avezinha aventureira aqui numa gaiola e a obrigar a cantar melodias felizes pra uma plateia sádica. Me sinto horrível -porém não triste- ao perceber que meu estado é pior do que eu esperava: não sinto mais minhas asas. Existe pássaro paraplégico? Tem cura pra resignação, doutor?

Take these broken wings
And learn to fly again
And learn to live so free


Abracei minha rotina severina, engolindo o gosto amargo. Detesto, mas I'm caught in a trap, I can't walk out. Até então, enfrentava meus leões diários a contra-gosto, xingando de "filho de uma puta descabaçada" cada pedra que rolava no meu caminho. Com o coração mais cheio de alguma coisa que não sei o que é, sei que era brilhante e energética. Chamemos-na de Wally. Faz muitos dias que não sei onde está Wally. Enquanto escrevo essas linhas, noto que não são "dias", e sim "semanas". As tarefas desgostosas acabaram por se tornar de vez o que eu chamo de "minha vida". É irônico que logo eu, a aborígene selvagem devoradora de momentos mágicos e Ursinhos Carinhosos, tenha se tornado uma chata que só vive reclamando do trabalho pelos cantos. Fazendo planos mirabolantes pra arrumar mais tempo pra trabalhar mais ainda. Não gosto, mas a gente acostuma a apanhar. Eis-me aqui, acorrentada numa cadeira e levando surra todo dia. E não é que mulheres jovens têm mesmo mais talento para se tornarem mártires?



Wally foi eclipsado. Também, pudera... não há Wally que resista a tanto. Perdi a chama das minhas paixões dentro de mim. Cadê aquela fome toda que eu tinha? Não tem como fugir desse quarto escuro, dessa cadeira adaptada para as minhas necessidades físicas, desse enclausuramento. As pessoas que eu amo tornaram-se distantes, memórias geladas e congeladas em um punhado de fotos num album de orkut. Me ligam pra conversar e eu me irrito porque elas estão atrapalhando o meu trabalho, ou um interrompendo um raro momento de descanso. Me entristece ver que passei de hippie pra yuppie sem nem conceber por onde as coisas começaram a se modificar; se foi de dentro pra fora ou de fora pra dentro.
Onde está Wally?

Isn't me
Have a seed
Let me clip
Your dirty wings
Let me take a ride
Hurt yourself
Want some help
Help myself
Got some rope
Have been told
I promise you
Have been true


Espero que passe. Espero que seja fase, que eu não esteja no breaking point de me tornar uma mártir adulta chata em cuja vida não existe espaço para irresponsabilidades, inclua aí sair para passear com tatus. Acho que finalmente estou cavando um pouco mais perto do esqueleto, doutor. Em uma coisa vocês estão certos: trabalho mata, e trabalho faz mal. Trabalho não enobrece, e sim endurece. Acho que preciso de uma temporada na praia, caçando tartarugas com meu olhar- este agora sem ressacas- pra ver se encontro Wally nadando por aí. Por enquanto, não sei onde está Wally, só tenho a certeza de que, onde quer que ele esteja, ele tá se fodendo gostoso.



Bel, aquela que não luta contra mais nada.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Fúria Contra a Morte da Luz





Levanta-se meio sem graça: "Olá, meu nome é Xochiquetzal e há três semanas não fumo um cigarro, me entupo de remédios ou me embriago."

Grupo: "Olá, Xochiquetzal!!"

Que as três linhas acima sirvam de justificativa para mais um de meus sumiços, já que a rotina de trabalho oompa-loompa que partilhamos não serve mais para justificar nada além de nossa estupidez em aceitar a essa morte indigna que é o trabalho, por mais interessante e recompensador que seja (pelo menos no meu caso). Atillah, velho amigo, demorei para entender sua revolta laboral, mas finalmente vi a luz. Não tardarei a elaborar uma estratégia para ganhar a vida de modo a evitar a fadiga e maximizar o contato com os que me são caros -- mas até Dezembro estarei fadada a dar voltas em torno desse moinho movido a tração animal chamado emprego. Até lá, não passo de uma vaca louca em rehab, um tanto descompensada, mas uma vaca com um propósito. Nada mais perigoso do que um bovino determinado. Nada!!

Falando em bois, continuo ruminando o RANCATAMPADACABEÇA que foi assistir "Zeitgeist" e não pararei de citar esse filme até conseguir que vocês o assistam e comentem. Está quase deixando de ser engraçado o modo que certas coisas essenciais vêm ao meu encontro quando eu mais preciso delas: estava eu passando um fim de semana idílico na casa da minha mãe quando decidi copiar alguns filmes da inacreditável coleção de downloads do meu irmão -- praticamente um backup do 4share ou mininova. Saí escolhendo filmes pelo título em português, sem a menor idéia do que eram, e copiei os dois Zeitgeist simplesmente porque achei legal o título em alemão, pensando que deveria ser um filme de guerra. E era. De uma guerra real, subversiva, doentia -- a guerra contra nós mesmos. O autor/escritor/narrador/compositor/editor Peter Joseph deu nome a todos os bois filosóficos, espirituais, morais, sociais, científicos, caprichosos e garantidos que pastavam a esmo nos campos de minha mente há décadas... pai Adão já sabia que dar nome às coisas é ter poder sobre elas: nomeados, meus unicórniosbois-fantasmas estão prestes a serem marcados a ferro e mandados para um abate intelectual há muito adiado.

Falaê, Dylan Thomas:

Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.

Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.

Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.

Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.

Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.

And you, my father, there on that sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.


Furiosa, encerro esse post mínimo por conta dele -- o trabalho-- reiterando a falta que vocês fazem na minha vida de gado.

Marcada,

--Xochiquetzal, ruminando sozinha.

P.S. - Discografia completa do Beirut: baixo, ouço e recomendo.




segunda-feira, 14 de setembro de 2009

"None are so hopelessly enslaved as those who falsely believe they are free." - Goethe





Assistam Zeitgeist. Vão por mim.

http://www.zeitgeistmovie.com/

"Narrator: The last thing the men behind the curtain want is a conscious informed public capable of critical thinking. Which is why a continually fraudulent zeitgeist is output via religion, the mass media, and the educational system. They seek to keep you in a distracted, naive bubble. And they are doing a damn good job of it."

(Caution: obvious mindfuck inside.)

Aguardando seu feedback,ansiosamente,

--Xochiquetzal, Who Has Always Agreed with Krishnamurti: "It is no measure of health to be well adjusted to a profoundly sick society."

terça-feira, 8 de setembro de 2009

"A job...







... is death without dignity."

--Dylan Thomas


Acabo de ficar quatro dias em animação suspensa dentro de casa, impedida de trabalhar sob suspeita de ser mais uma vítima da temível gripe suína (YAY!) que grassa por terras fluminenses. Quatro dias de desconforto físico amplamente compensado por uma rotina panda de alimentação e descanso, descanso e alimentação -- intercalada por horas ininterruptas de leitura que não faziam parte de minha vida desde que... bem, desde que me tornei um lemming produtivo aos 14 anos.

E olha que tenho plena consciência de que minha vida sempre esteve muito mais para Mario Kart, Zombies Ate My Neighbors e Castle of Illusion do que para bandos de lemingues descerebrados peregrinando rumo ao penhasco final, em nome do Bem Comum -- mas não consegui conter a angústia ao me dar conta da quantidade de felicidades clandestinas às quais me nego em nome de Mammon: ler dois livros em um só dia, organizar meu tão adiado quarto-escritório-boudoir-biblioteca, catalogar meu acervo multimídia, reler cartas encontradas entre caixas de revistas Dragão Brasil (reluctant lol), writing songs to no one, rever amigos perdidos em caixas de fotos esquecidas, tomar sol esparramada no chão da sala.

Aproveitei minha quarentena para me forçar a um detox muito adiado -- que, apesar de colaborar para meu desconforto físico geral, jogou na minha cara o quanto do meu "tou complexa, me larga" deve-se ao simples fato de eu ter ZERO tempo pra mim. Cadê angústia, ansiedade, paranóia, psicose, distúrbios alimentares e dependência química quando eu entro em panda mode?

Conclusão: tenho que reverter ao meu primordial estado panda com muito mais frequência -- digamos, ao menos duas vezes por semana, domingos not included -- se pretendo deixar minha complexidade de lado e começar a ser feliz, Silviooooommm.

Se apenas meus horários de trabalho até dezembro não estivessem completamente lotados, ocupados, descerebrados, rumando ao penhasco final, em nome do Bem Comum.

Perdeu, preibói. Bom dia, lemingues!

--Xochiquetzal, desejando estar virulentamente virótica.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

about: as conversas em off



We choose wisely (I guess).

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

*SIGH*







I miss you guys.

Sighing,

--Xochiquetzal, Imaginary Friend.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Dirty Dancing





Above: Bonde do Inefavel, circa 1920


São três horas da manhã de sábado e o forró da padaria está comendo solto na esquina, com suas viradinhas cretinas de teclado insuficientemente abafadas pelo ruído da chuva torrencial que alaga a faixa de barro que eu chamo de minha rua. Amber e Penelope dormem no sofá, a água pro mate ferve na chaleira e eu acabo de terminar algo que estava protelando há muito tempo:

Reler o espancando teclados inteiro, de uma sentada só, só parando pra fazer xixi ou fumar um Marlboro Light.

(pausa dramática)

Estou abalada, feliz, surpresa, extasiada, perplexa, sorridente, intrigada, satisfeita, nostálgica, perceptiva, sábia, privilegiada, orgulhosa e mais uma penca de adjetivos que estou com preguiça de evocar após ter a visão Google Earth das pérolas que produzimos juntos, amigos-ostras. Congratulações a nosotros. Nossa interação alucinada é de uma beleza ímpar: encontro-me besta diante dos significados que esses dois anos de espancamento trouxeram à minha vida.

O espancando começou como uma tentativa de preservar meu balé de Rasputin com o Atillah, que abdicou das cartas que iniciaram nosso tango intelectual, desistiu dos telefonemas que nos embalaram por anos e acabou desanimando diante de minhas tentativas de valsar com ele via e-mail. Diante da possibilidade de perdê-lo -- na época, tal possibilidade parecia-me aterradoramente real, ingenuidade minha -- sugeri meio desesperada que escrevêssemos um blog juntos... e não é que meu relutante parceiro finalmente teve a coragem de me tirar pra dançar, justamente quando eu me imaginava a gorducha sozinha e deslocada do baile de formatura?

O que estava tocando? "Deuces Are Wild" ou "Cryin'" do Aerosmith? Não lembro -- estava perdida nos braços digitais do moço bonito que sempre desejei de longe. A música não importava muito. Abracei-o com força durante "I Drove All Night" de Roy Orbison, senti suas mãos na minha cintura enquanto "Wicked Game" ecoava pelo salão. "He loves me, yeah, yeah ,yeah!", sorria eu do outro lado do monitor, rodopiando apaixonadamente pelo setlist do Inefável & seu Conjunto.



Mas não podíamos ficar a noite toda dançando coladinhos, por mais que a debutante virtual em mim assim o desejasse. A festa estava apenas começando e o Inefável era eclético; rebolamos com o boom boom boom de John Lee Hooker, chacoalhamos ao som do Pearl Jam... o baile chegava ao seu ápice. Fui coroada rainha da formatura, Carrie-style, desbancando a menina mais bonita do colégio...

... mas a impermanência acabou nos encontrando. Pisamos no pé do outro ao tentar cavalgar os cavalos selvagens do U2, erramos o compasso no "Lithium" de Cobain. Sweetheart, you're so cruel...

Perdi o Atillah de vista enquanto o Inefável tocava "It Won't Rain All The Time". O Corvo de Brandon Lee e Edgar Allan Poe crocitou seu fúnebre NEVERMORE! e encontrei-me no meio do salão, penteado desfeito, maquiagem borrada, vestido manchado de suor, tentando dançar sozinha sem muito sucesso. O baile estava no fim e eu sequer tinha quem me levasse de volta pra casa. EPIC FAIL, imaginei, enquanto entornava o quarto rum da noite, fingindo estar ótima pra ninguém...

...quando notei a menina mais bonita do colégio (aquela mesmo que perdeu para mim a coroa de rainha calipígia da blogosfera) me olhando. Devia estar me zoando, pensei. Subitamente self-conscious, tentei retocar o batom, ajeitar o cabelo e subir no salto -- afinal, aquela periguete era uma rival -- que olhava pra mim do balcão do bar com olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Olhos bonitos, perigosamente bonitos, acompanhados por lábios que formavam um "vem cá" inaudível.

Aquela cheerleader de corpete de couro estava me chamando? Olhei para trás para me certificar que era comigo mesmo. E não é que era? Minha trajetória através do salão quase vazio foi ebriamente errática: o salto estava me matando, já era na hora de eu chamar um táxi, meu estomo já estava na garupa do Bozo... mas heck, o que eu tinha a perder além do que eu já havia perdido? Respirei fundo e sentei ao lado da periguete, que me pagou uma vodka, disse estar me observando desde o início da festa e que eu dançava divinamente.

"OH NOES, essa sapata está querendo me comer!" Mas a moça era bonita. Bonita e inteligente. Bonita, inteligente e engraçada pra caralho. Bonita, inteligente, engraçada pra caralho e ridiculamente parecida comigo, de um modo esquisito. A primeira vodka deu cria. Entabulamos um diálogo que parecia ter tido seu início antes que nos conhecêssemos. Dose vai, dose vem, fomos gostando uma da outra. Muito. Quando nos demos conta, estávamos trocando juras de amor eterno, declarando irmandade infinita para o salão deserto. O Inefável & Seu Conjunto já tinha guardado os instrumentos e encerrado a apresentação há tempos. Éramos duas moças vergonhosamente bêbadas, esparramadas no chão sujo de confete, rindo convulsivamente, segurando o cabelo para a outra chamar o Raul com alguma dignidade, chorando memórias irreversíveis enquanto um carinha com pinta de estudante de Humanas fumava um baseado e arranhava Bob Dylan no violão, viajando na nossa.



Fomos juntas para a casa (dela ou minha, a essa altura não fazia mais diferença), e o resto, seus pervertidos, é silêncio.

Silêncio é o caralho: desde o baile fatídico, Bel e eu juntamos os trapinhos os playlists díspares de nossos iPods e colocamos a zona resultante em shuffle, confabulando um mosh pit filosófico em permanente repeat. Transformamo-nos uma na outra diversas vezes, viramos uma força da natureza que eventualmente atraiu nosso Huno desertor para a órbita irresistível de nossos quadris -- que ele permanece rodeando até hoje, numa dança de São Vito deliciosamente provocadora, intelectualmente desafiadora, profundamente erótica. Massive Attack digivolve para Metallica que digivolve para Dylan: não importa o quão randômica seja a trilha sonora do nosso High School Musical From Hell, estamos entrelaçados em perfeita harmonia, numa coreografia de sonho de sincronicidade implausível.

Spooky Action from a Distance: we haz it.

Whoever said "it takes two to tango" has never read our bizarre Pergaminhos, Palimpsestos & Alfarrábios. The three of us have been dancing like no one is watching -- well, in John Hammond's case, a LOT of people were watching, but we didn't give a damn -- ever since. And guys: WE KICK ASS.


Patrick Swayze, Michael Jackson, Fred Astaire, Jay Kay, Ginger Rogers, Mikhail Barishnikov, Joaquín Cortés somos nozes!

Longa vida ao Bonde do Inefável, amigos. É um privilégio dançar o créu na velocidade 5 com vocês.

Sorrindo,

--Xochiquetzal/Marivone/Sua Psycho, com saudades, mas DIBÔUA.

P.S. - Summer 2010 in RdO: Armadillo Armageddon -- coming soon to a glitch in the Matrix near (well, not THAT near) you. You CAN'T miss it!.

sábado, 25 de julho de 2009

about: a irônica sincronia das "coisas"

Eu liguei a televisão e a primeira cena/fala foi um alegre:

- Olá, Bel! Sentiu a minha falta?

Era uma cena de filme (creio que Superman no SBT); um fazendeiro voltando pra casa e cumprimentando sua cadela saltitante. Mas foi sinistro ser recepcionada pela minha própria televisão.

Até ia escrever mais, mas vou tentar me utilizar da técnica de deglutir as palavras que saem precocemente. Depois falo mais sobre a irônica sincronia dos corpos.

Caminhando com os tatus,
Bel.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

The Italian Man Who Went to Malta



Sei que já passei esse vídeo pra muita gente via orkut, mas gostaria de eternizar a piadinha aqui:



EVERYBODY WANNA FOCK!

--Xochiquetzal, not in Malta.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Para entender o mar


Eu devia ter escrito antes. I know. Vocês já estão acostumadas. I know it as well.

Mas vocês duas que utilizam isso aqui como sua waste basket emocional não conhecem a alegria de conter as palavras ao invés de desabafar. Eu manjo vocês (infelizmente até bem demais às vezes), eu sei do conforto de poder a qualquer momento expressar palavras tortas e direitas aos nossos leitores imaginários. A vantagem da psicose é que as vozes e os vultos estão sempre lá, servindo aos seus sintomas e às suas necessidades; nós temos leitores no nosso delírio compartilhado, nessa folie-a-trois. Eles nos ouvem, nos confortam e permitem que continuemos achando que está tudo bem, que tudo passa. Já passou. Vai passar.

Mas o êxtase real  não se encontra no desabafo momentâneo, ele está em reprimir, em engolir as palavras que deveriam sair precocemente, e observar enquanto elas lentamente se transformam em outras palavras. Para fins de exploração centífica vamos escolher uma palavra metamórfica ao acaso. Examinemos a palavra "saudade", escolhida sem nenhum motivo em particular.

Marivone, minha mais recente e aprendiz companheira de aventuras etilícas, "saudades" nem começam a vagamente descrever o buraco existencial que RdO me deixou. É fácil voltar do paraíso e vinte horas de viagem depois digitar minhas saudades aqui. Difícil é esperar e ver o que acontece. Ao longo dos dias a palavra saudade vai se esvaziando daqueles significados anteriores, e incorporando novos e bizarros significados. Ela vira outra coisa. "Coisa" é bom, porque é um substantivo para o indefinível, para todas as COISAS que ainda não foram nomeadas e encaixadas em nosso defeituoso e restrito espectro de coisas definíveis e nomeáveis. "Coisa" é o que se tornou nossa relação; altamente indefinível por definição.

Mas só "quase". E provavelmente vai ficar nesse eterno "quase". Mas enfim, foda-se. A única "coisa" que vale a pena ficar discutindo não é o status do que acontece entre nós, mas sim se "isso" (olha aí o outro indefinidor) é bom ou não para os envolvidos. And that much I already figured out: it's so freakin' and utterly good.

MARIVONE

... você é minha.

RdO deixou marcas na areia, assim como JF. Ler suas saudades de JF tocam um certo banzo em mim também. Mas JF foi uma experiência mais localizada e assentada, que ocasionalmente me arrebatava nas lembranças. Mas passa. Já passou. Vai passar. Agora é diferente, é mais frequente, não é um evento isolado no tempo do qual eu só lembro de vez em quando. Mais de um mês depois e a sensação é de que deixei uma parte minha na Lagoa. Que a minha solitária caminhada de despedida na orla foi me transformando em areia de praia, e que desde que ousei sair de perto do mar, fui deixando um rastro de areia atrás de mim, me desfazendo conforme me afastava. Agora eu estou aqui e não sei mais do que eu sou feito, e a única coisa em que penso é voltar pra perto do mar de novo. Então não é mais "saudade", é necessidade, é urgência, é sobrevivência.

"Areia" foi uma boa metáfora. Mas não, não sou feito de areia. Eu sou feito pelas experiências que passei e, embora estas não se desfaçam com qualquer ressaca (ha) do mar, talvez fosse melhor dessa forma. Porque as ressacas vão e voltam, e a necessidade persiste; as ondas alcoólicas recentes não levam ela embora. Não posso mais fugir da necessidade de estar de novo com as pessoas que tenho o privilégio de conhecer.

E Bel... Bel, de novo: perdeupreibói. Perdeupreibói total. John Hammond manda lembranças, tatus andando acenam de longe enquanto assistem stand-up comedy, e espero que você possa um dia novamente estar com as tartarugas. Elas são sábias, elas vivem no mar. E elas não se desmancham com as ressacas, ao contrário de nossa querida X., que se desfaz - castles in the sand style - com a primeira marola de rum. Acho que estamos na época de procriação dos pizurks, porque eles estão todos se arrastando pela areia, em direção à privada.

Mas obrigado, Bel. Obrigado a você, minha mais escolada companheira de aventuras etílicas, por termos novamente a chance de enfrentarmos uma ressaca juntos. Por novamente passarmos pelas ondas que só Goiás, com suas infinitas praias, pode proporcionar. Obrigado por suportar com resiliência ímpar as merdas que eu falo, você surfa lindamente pela pororoca de palavras que eu tendo a soltar em nosso evento anual

Eu vejo em seus olhos que falo demais, olhos de tartaruga sábia, que já passou por mares mais agitados do que eu passei. Olhos de ressaca; tatu, teu nome é Capitu. 

Mas ó: a gente precisa parar de se encontrar assim.

love grace tolerance

Atillah

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Cobain Digivolve-se Para Caymmi, ou Breve Ensaio Sobre a Saudade






"Home is where your heart is. It's about time I put more heart and less brains in (on?) my surroundings." - X., July 2009

São três minutos depois da meia-noite de segunda, 20 de julho de 2009 -- há três minutos que meu final de semana fantástico acabou e vejo-me forçada, ainda que sob condições adversas de temperatura e pressão, a blogar minhas peripécias antes que estas se percam na neblina da minha cabeça.

"Babe, o Porquinho Atrapalhado na Cidade Grande" -- na minha opinião, uma daquelas obras -primas cinematográficas que passam batido quando não se tem o hábito de assistir TV aberta bêbada em noites de domingo -- está passando na Record. Meus tatus têm "Babe" em grande conta.

Mas então. As peripécias urbanas de Babe são apenas a cereja alucinógena do sundae de loucura sabor maresia que foram minhas últimas 48 horas na Região dos Lagos -- sobremesa existencial vinda bem na hora em que a vontade de largar o caos fluminense e voltar a Minas bate forte como nunca.

As saudades de Juiz de Fora vieram junto com a estréia bloguística de meu irmão de fé Gabriel Lobo, afiando a faca amolada de seu cérebro cintilante nos teclados em vez das habituais cordas de violão. Bem-vindo à blogosfera, Gabriel, e ao mundo dos que sentem saudade.

Sinto saudade da saudade que você evoca com teclas & cordas, das madrugadas geladas, da cantoria dos bares, dos estudantes cobertos de tinta e farinha, do anão flamenguista do calçadão, das afrontas da véia da buchinha, do festival de bandas novas, das pessoas bonitas, do Miss Gay. Do tiozinho do violino desafinado, dos macaquinhos do Parque Halfeld, dos policiais mais camaradas do Brasil, dos travestis da Rua Santa Rita. De chorar desconto com o dono da Livraria Liberdade, de comer um hambúguer no Mary Milk depois da noitada, de horrorizar-me com o "Dawn of the Dead" de fim-de-rave... Dos estudantes lutando pelo meio-passe há mais de década, do mural de Portinari desafiando a rotina no centro, de caminhar sozinha às quatro da manhã sem mais sobressaltos do que uma cantada mais ousada, da música colonial nas igrejas, das vacas atoladas, das nobres capivaras reunidas à beira do rio Muriaé (?), dos bandos de maritacas que me acordavam às seis da manhã.

Sinto falta da invejável coleção de pessoas inusitadas que amealhei por lá: a musicista pequenina que contém multidões, a estudante de Farmácia com sua crença xiita em processos bioquímicos, o advogado com as asas de Mercúrio tatuadas nos pés, a acadêmica dividida entre Backstreet Boys e Metallica, a assistente social lipoterapeuta e sua trupe Cazuzinha, o rapaz que chutava pombos quando ninguém estava olhando, a oficial de justiça budista, o fumante-inveterado-convertido-em-ciclista, o percussionista movido a lítio...

Uma saudade de degredo, uma saudade expatriada. Juiz de Fora me dói na prática, logo em mim, campeã teórica da dor de um exílio até então experimentado somente nos versos de outros. A saudade verbo se faz carne em mim a cada pensamento das montanhas de Minas, a cada baforada sabor metástase que me dá vontade de largar tudo o que tenho (?) aqui para voltar e começar tudo de novo lá.

But I'm not there, I'm gone.

*abre mais uma Itaipava, fuma mais um Marlboro, suspira*

Eu estou acabando comigo A Região dos Lagos está acabando comigo. Há 14 meses que a minha vida transformou-se em cigarettes and alcohol, sedentarismo compulsório sob o sol de um banzo insuportável que às vezes atinge massa crítica. E logo quando acho que não dá mais, vivo dias de glória tropical que fazem tudo valer a pena, como o fim de semana que tinha intenção de narrar nesse (mais um) post alcoolizado antes de perder completamente o fio da meada ao tentar acompanhar os tatus.

Fim de semana lagarteando nas areias da lagoa, catando conchas com os amigos, fim de semana de pele grudenta de sal e o chão sujo de areia.

Passei a tarde sentada num rochedo à beira-mar, tomando sol de mormaço e contando tartarugas na água. HECK, eu SEGUREI uma tartaruga-marinha nos braços hoje enquanto ajudava pescadores a retirar de sua barbatana o anzol e a linha que a trouxeram até a praia. Bel, amiga que tanto se encantou com os rebanhos de tartarugas daqui: eu tive uma delas no colo, sista. Senti sua pulsação nas mãos, corri meus dedos sobre a aspereza suave da carapaça, mirei olhos antiquíssimos que piscavam lentamente.

Foi lindo.

Não consigo imaginar nada -- além nadar com golfinhos, abraçar um panda ou cavalgar um unicórnio, talvez -- que se compare à magia quase brega que foi ter aquele bicho nas mãos: Eu fui feliz, Silviooooommmm. Fiz xixi no mato, peguei um roseado zégzy, caminhei uns quatro quilômetros de volta pra casa, vi árvores amareladas de canários-do-reino quando já ia me esquecendo de que sim, "nos bosques há árvores loucas de pássaros"... Cheguei em casa e capotei no sono sem sonhos dos exaustos, para acordar renovada duas horas depois, com o cheiro do protetor solar, da maresia e do suor me lembrando da tarde marítima.

O ponto de vista cria o objeto, Xochiquetzal. Você tem que se lembrar disso antes de completar sua rotina de auto-destruição. É possível ser feliz no desterro e na desdita. Deixa de ser dramática, toca o carpe diem nessa porra e transforme seu Poe em Gonçalves Dias:

Quoth the Raven: NEVERMORE! my ass:Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, motherfuckers!

--Xochiquetzal, tocando blues no cavaquinho.


Songs to this post:

"Mergulho Marítimo" - Pedro Luís e a Parede
"Gandaia das Ondas/Pedra e Areia" - Lenine
"A Cigarra" - Elza Soares

quarta-feira, 15 de julho de 2009

MEOW.





I -- SO -- completely disagree.

--Xochiquetzal, purring =^.^=

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A shot in your head

Primeiramente...

This fuck is gonna give me a fuck me for the fuckin' rest of my fuckin' walk with the ta-fucking-tus.



Eu SUR-TEI.

.

Segundamente,
Minha querida lagartixa borboleta etílica, não me ache uma sádica, mas é na dor e na crise que você produz seus melhores posts, suas notas mais agudas, suas palavras mais suculentas. Eu leio e gosto sem culpa porque sei que

Regra óbvia n° 1:
VAI PASSAR


Apesar de toda a calda de drama e hipérboles, seu Ode a um Sábado Fracassado me deu até fome pelos seus miolos.




i can haz your brains?


.
Duas da manhã de uma quarta-feira e eu aqui, na terceira Skol de 500 ml, no segundo lote de tatus olímpicos e comendo pão com mortadela.
É a Ode de Uma Bon-Vivant falida, amigos.

Mas sabe o que é mais divertido?
I really don't care and I'm really happy right now.


i love you, MJ.

Regra óbvia n° 2:
Existem, no mínimo, meia dúzia de coisas mais importantes que dinheiro e que cumprir responsabilidades.


(Atillah, you little asshole, você estava certo)

.
Cada vez mais acho que, se não fossem umas muletas aí, eu não teria metade do auto-controle que tenho, e possivelmente já teria me jogado da janela do quinto andar, nada fácil de entende alguns anos atrás. Minhas muletas são tipo o oxigênio: eu sei que me estragam, mas não dá pra viver sem.

Ou dá?



Sabe o que é engraçado?
Eu rezei¹, rezei e rezei para que as coisas fossem diferentes para mim. E agora que as minhas preces foram atendidas, eu acho que as coisas estavam melhor que antes de eu cometer a estupidez de pedir por algo diferente.

"Morris said the things happened so naturally," said his father, "that you might if you so wished attribute it to coincedence."

Já leram The Monkey's Paw? Uma dica: LEIAM.

.


E apesar da minha fala parecer amarga a alguns, eu estou muito feliz agora mesmo.

- Eu quero ser feliz, Silviommmmm.

Como é triste ter que viver entre insetos.

X., tô escrevendo etílica em fraternidade a você, hein?


___________

¹ "rezar" no sentido figurado (N. da E.)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

FUCK!







--XochiFUCKINquetzal

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A Momentary Lapse of Reason






Ler. Ler para não enlouquecer, ler para não matar alguém, ou a si próprio. Ler para encontrar a mim mesma nos outros. Ler.

Leio desesperadamente desde muito pequena, e a literatura sempre foi a âncora da nau
desgovernada que sou desde... bem, muito pequena.

Muito bonito tudo isso, mas o que eu gostaria de dizer é que acabo de me dar conta que ando lendo significativamente menos desde que entrei na downward spiral na qual me encontro/encontrava. Não me lembro da última vez que tive paz para organizar meu espírito nas palavras dos outros, e isso me assusta. Por algum tempo pensei que finalmente não precisava mais da muleta literária para me apoiar nesse mundo -- que poderia sair mancando realidade afora com a graça de um paciente terminal de Parkinson sem maiores preocupações do que...

*INTERROMPEMOS ESSE POST PARA UMA PAUSA ETÍLICA*

Pois então... desde a volta do Huno a seu estado de origem, comecei a aprender aos tropeções a beber a gloriosa cerveja -- que fiz questão de desprezar publicamente nesses dez anos de abstenção dos fermentados. "Odeio cerveja, cerveja, engorda, eca cerveja", dizia a antiga ninja Sparrow, do alto de suas gloriosas quatro doses de rum e a meio caminho do banheiro, de onde só sairia para o ocaso humilhante de suas aspirações piratas -- entre risadas de lúpulo do Huno e do Gringo.

Então: estou aprendendo a beber cerveja aos 28 anos de idade. Olhem isso. Neste momento de meu sábado fracassado, pouco após escrever o post sobre minha atual depressão, resolvi abrir as duas garrafas de cerveja da geladeira e bebê-las sozinha, entre tatus e meu acervo de vídeos do YouTube. Alegria, alegria.

Um dos motivos de estar bebendo absurdamente tanto -- para meus padrões de consumo
Amish -- nessas últimas semanas, além da maravilhosa descoberta da suavidade dos fermentados sobre o estupor dos destilados, tem a ver com o fato de eu estar buscando limites alcoólicos que deveria ter adquirido há muitos anos atrás. Boldly going where no one has gone before, but ten years later, grr.

Logo, estou tropeçando em minhas limitações alcoólicas, catando milho no teclado, pedindo a Dionísio que o que eu escreva agora esteja de alguma forma reconhecível como proto-texto amanhã -- quando ficarei bêbada de novo para evitar a ressaca.

Ah. Aproveito o momento para lamentar a morte anunciada do brilhante Caros Leitores, que me privou de um ângulo singularmente inteligente de ver a vida. Choro, vela e fita amarela ao Caros Leitores -- e votos de que Lord W. volte a agraciar a blogosfera com sua visão deliciosamente aguçada do mundo o mais rápido possível.

Acabaram-se as duas garrafas de Brahma, acabou-se o maço de Marlboro que eu tinha e minha seleção de vídeos do YouTube... agora estou só com meus pensamentos bêbados, ainda me acostumando a eles. Tantas coisas a dizer e tanto

(série de palavras incompreensíveis)

esses malditos dedos que se recusam a fazer o que o meu cérebro manda. MUNDO INJUSTO, INJUSTO!

Enfim. Estava falando da drástica redução de meu ritmo de leitura e da angústia silenciosa que tal redução me causa. Descobria-me confusa, irritada, nervosa por não
encontrar a palavra impressa que representava perfeitamente minha confusão, nervosismo, irritação. Não me lembro (o que não quer dizer muita coisa) de ter me abstido da leitura voluntariamente antes. Tudo muito novo pra mim, essas coisas tudo.

Quando estava hospedando meia dúzia das mais adoráveis pessoas insanas do mundo durante o festival de jazz e blues, me deparei com minha antiga coletânea de versos de Pessoa no banheiro de hóspedes -- colocada lá como laxante literário. Comecei a reler os versos em êxtase, esquecida de seus efeitos narcóticos, deslembrada dos ecos de mim mesma que encontro no Poeta.

Tinha planos remotos -- antes de começar a beber -- de digitar verso a verso um poema do Portuga que é a descrição do eu de agora, por mais piegas e comprometedor que isso seja. Infelizmente terei que esperar até ter acesso à Web para procurar tal poema online -- sem condições de digitar agora. No way.

A literatura é minhs religião, e venho me sentindo afastada de meu Deus por muito, muito tempo.

Há um desterro emocional que acompanha a falta de leitura e me deprime horrivelmente.

Uma tarde inusitada, conversando com a Lea entre café e cigarros na cozinha de casa, ela confessou partilhar de meu credo, a Literaura sendo capaz de englobar todas as ciências sem se comprometer com nehuma delas. Esqueci-me do nome da Musa da poesia lírica -- onde estás, Google, quando preciso de ti -- mas hei de lembrar-me.

HEI DE FICAR BOA PARA VINGAR-ME.

Mas, enquanto a sobriedade não vem, sinto-me livre para discorrer sobre minha atual confusão a respeito de todas a idéias que tive e deixei de ter a respeito de Deus -- ou de pelo menos o que eu arrisco a chamar de Deus. O ateísmo não me cai bem -- há em mim um senso (muitas vezes enganoso) do Inefável que repele sua total negação. O Cristianismo para mim é uma negação por si só, e as alternativas -- bem, por mais simpáticas que sejam, exalam aquela (aura?) de ovo podre da idéia comum da Deidade.

E fico aqui, entre o cinismo de meu intelecto e o maravilhoso de meu coração, mais perdida do que bala em boca de banguela, tentando desesperadamente fazer sentido do que está dentro de mim...

...quando me deparo com as Tábuas da Lei nos versos de Pessoa:


Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.


Ai meu estomo. Vou lá tomar um omeprazol e já volto.

(18 horas depois...)

Tenho que aprender a apreciar a vida com moderação.

Xochiquetzal, publique seus ramblings acima como mea culpa e largue essa vida bandida.

Live fast die young my ass
-- eu quero ser feliz Silviommmmm.

Shit.

--Xochiquetzal, Heterônima de uma Menina Aí.