quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Uma piadinha sem-graça e clichê de Réveillon

Boas entradas pra vocês :)



Vestida de branco, enchendo a fuça de espumante e pulando ondinhas,
Bel

p.s- O último post do ano vai ser meu, yay!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

MERRY... something... whatever.



Meninas, me sinto tocado por suas experiências de fim-de-ano. Uma mensagem para cada uma, ok?


Xochiquetzal, darling:

"Feliz Natal. A fraternidade é vermelha. Vermelho-vadia."




Querida Bel:

"Que no ano de 2009 você possa ter toda a felicidade, alegria e dinheiro que você merece já desde o primeiro dia do ano, e que você não precise ficar feliz e desocupada apenas nos estertores finais de um ano onde você trabalha onze meses pra viver só um. Feliz Ano Novo"



love grace tolerance

Atillah

domingo, 28 de dezembro de 2008

Jingle Bel

I.
Da dicotomia dos significados


O termo "dicotomia" me encanta desde o primeiro ano da faculdade, quando estudei Introdução à Lingüística. Foi aquele abrir de olhos, aquele "como não pensei nisso antes?", aquele cair de ficha tão grande que as pessoas do outro lado da rua ouviram o tilintar; e eu passei dias e dias mastigando, ruminando e mascando, enquanto ouvia as engrenagens do meu cérebro funcionando num irritante "nhéc nhéc nhéc" que se prolongou até eu me aprofundar em outro termo tão suculento quanto (o termo em questão seria "idiossincrasia", só pra matar a -já conhecida- curiosidade da minha amiga cor de peido. Aliás, imagino eu que a cor de um peido deve ser a mesma cor de um cu... meus pêsames, espero que seja mesmo inveja alheia).
A dicotomia me voltou à mente quando recebi um e-mail da X., aquele tipo "Deus existe e os cristãos são bonzinhos e melhores que qualquer outro tipo de pessoa, e eles vão pro céu e o resto vai queimar pra sempre no sétimo círculo do inferno" mas que, apesar da mensagem principal não me agradar, a construção da história me agradou. É um e-mail que descreve uma discussão entre um professor (ateu) e um aluno (cristão). Vou transcrever só a parte relevante:

The student stands quietly for a moment, before asking a question of his own. 'Professor, is there such thing as heat?'
'Yes,' the professor replies. 'There's heat.'
'And is there such a thing as cold?'
'Yes, son, there's cold too.'
'No sir, there isn't..'

The professor turns to face the student, obviously interested. The room suddenly becomes very quiet.
The student begins to explain...
'You can have lots of heat, even more heat, super-heat, mega-heat, unlimited heat, white heat, a little heat or no heat, but we don't have anything called 'cold'. We can hit up to 458 degrees below zero, which is no heat, but we can't go any further after that. There is no such thing as cold; otherwise we would be able to go colder than the lowest -458 degrees.'

'Everybody or object is susceptible to study when it has or transmits energy, and heat is what makes a body or matter have or transmit energy. Absolute zero (-458 F) is the total absence of heat. You see, sir, cold is only a word we use to describe the absence of heat. We cannot measure cold. Heat we can measure in thermal units because heat is energy. Cold is not the opposite of heat, sir, just the absence of it.'

Silence across the room. A pen drops somewhere in the classroom, sounding like a hammer.
'What about darkness, professor. Is there such a thing as darkness?'
'Yes,' the professor replies without hesitation. 'What is night if it isn't darkness?'
'You're wrong again, sir. Darkness is not something; it is the absence of something. You can have low light, normal light, bright light, flashing light, but if you have no light constantly you have nothing and its called darkness, isn't it? That's the meaning we use to define the word. In reality, darkness isn't. If it were, you would be able to make darkness darker, wouldn't you?'


Ah, a dicotomia... só sabemos o que é luz porque sabemos o que é escuridão. Só se tem o conceito de doença a partir do conceito de saúde. Sabemos o que é a alegria porque sabemos o que é tristeza. Se fôssemos felizes o tempo todo, isso não seria "felicidade", seria "normalidade". Adoro dicotomias, elas me lembram um Ouroboros.



Mais no sentido de final e início estarem juntos que pela papagaiada alquimista que representa.

II.
Da relação da dicotomia com a pun do título


... E daí que eu só sei o que são FÉRIAS DE VERDADE porque me matei de trabalhar o ano inteiro. O que são as férias , senão ausência de responsabilidades? Ou o que é o trabalho, senão a ausência de diversão e tempo livre? (Dicotomizem isso por mim)
Ralei, caros amigos... ô ano severino, esse de 2008. Faculdade de manhã, trabalho até de noite, mãe desempregada pra sustentar, perrengue, suor, labor e... acabou. Simplesmente acabou, pelo menos por enquanto. E é por ter passado tanta sede durante o ano todo que tô quase me afogando agora. Minha diversão é pensar que não tenho NADA de importante pra fazer, e comer bisnaguinha com requeijão enquanto assisto Malhação ou Aladdin ou tento fazer 100% tocando Madhouse em Guitar Hero II.


EU MEREÇO, PORRA.


Mereço torrar todo meu dinheiro em bobagem, porque eu soube o ano inteiro o que é não ter 40 reais pra um jeans novo. Mereço passar o dia inteiro andando de montanha-russa e dando umas catracadas no carrinho de bate-bate da minha irmã porque eu soube o ano inteiro o que é dar 5 horas de aulas aos sábados de manhã. Mereço beber Smirnoff Ice às 11 da manhã porque passei o ano todo calculando quanto eu economizaria se passasse 2 finais de semana por mês em casa ao invés de sair, pra comprar o maldito par de jeans, que acabei sem comprar porque tive que pagar um tratamento dentário pra velha. Mereço não me preocupar, mereço ser mimada até o osso pela minha irmã. Foi um preço caro a se pagar, mas eu paguei. É uma árdua colheita, mas os frutos estão aí, madurinhos e suculentos, e eu vou comer, sugar, me lambrecar, chupar, lamber, esfregar na cara e no pescoço porque EU MEREÇO.

Só pra dizer que tô tendo um final de ano FODA, recebendo os louros pelos meus esforços e percebendo que já me diverti pelo ano inteiro. E ainda faltam duas semanas de férias pela frente.
Nesse momento, sou o ser mais eufórico do mundo.

KISS MY ASS, YOU BITCHES.


Ainda no terno e afetuoso espírito natalino,
Bel.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Red Bull Te Dá ASAS!






25 de Dezembro de 2008, Chez Xochiquetzal:

Meia garrafa de Orloff pra dentro, boa parte da ceia improvisada pra fora, uma temporada de Futurama depois e dois companheiros desmaiados deixados para trás, tive asas alucinadas para arrumar a cozinha pós-experimentos etílicos de culinária apocalíptica, organizar meu armário, escovar os gatos, separar a roupa branca da colorida e fritar mosquitos com aquela raquetinha elétrica que é uma das grandes alegrias de quem mora na praia -- tudo isso ao som retumbante de uma playlist composta de umas 50 músicas de Bob Dylan que detonariam a sanidade dos presentes, caso estivessem conscientes.

Um brinde de cafeína ao meu primeiro Natal fora do castelo ancestral do clã.

(Procura desesperadamente algo para fazer. Pensa em pintar as unhas de vermelho-vadia mas muda de idéia ao farejar rastros de Raul nas emanações do removedor de esmalte. Decide limpar o interior da geladeira. Desiste após encontrar uma panela de arroz cujo conteúdo havia desenvolvido sistemas políticos rudimentares. Deita no chão da cozinha, bloco de escrever e caneta Bic em punho.)

Red Bull é rola, eu quero a minha mãe! E os meus presentes e meus irmãos com meus presentes, meus tios que de vez em quando me dão presentes, meus 23.3456.32332 (and counting!) primos que nunca me dão nada mesmo e a minha vó, que mesmo me dando o mesmo conjunto de calçolas de algodão bege todo ano é uma véia batuta.

Noite seguinte, resto da Orloff e alguns Red Bulls depois, unhas vermelho-vadia:

fiquei deitada no chão da cozinha, escrevendo poemas dada e pensando na solidão do meu eu-lírico até meu pai me ligar no meio da noite, desejando um Feliz Natal e avisando que estava indo pra night pra pegar muié -- coisa que ele anda fazendo com freqüência desde que se separou da minha madrasta e voltou ao mercado. Meu pai é um sádico que se diverte com a intensidade do meu complexo de Elektra: às vezes ele me liga de um restaurante de Conceição do Mato Dentro (ou algo do tipo), onde está jantando romanticamente com a eleita da semana, e me põe pra falar com ela no celular, cara. Tipo "falaê com a sua nova madrasta malvada, filha!"

O pior é que eu falo. Até os créditos dele acabarem ou meu pai tomar o celular das mãos da madrasta da semana, por receio do que eu possa estar revelando.

Família Ê, família Á, FAMÍLIA.

Acordei no dia 26 e fui à praia, pondo um ponto final (e futuramente crescente, de tonalidades diversas, bordas e textura irregulares) à minha fase Branca de Neve. Me disseram que fiquei com cor de peido, mas acho que é inveja. Anyway, cor de peido é um preço razoável pelo delicioso sol na moleira, pelas brincadeiras com os cachorros de praia, porções de peixe frito, doses de cachaça, debates literários à beira-mar e argutas observações antropológicas de meus companheiros de vadiagem -- sob os auspícios de um quiosque que alternava "Enter Sandman" com "Cara-Caramba-Cara-Caraô".

Foi muito bom pra caralho, como diria o patrão.

Voltei pra casa e me vi sozinha no meu apartamento no meio do brejo, sapos grilos mosquitos pererecas cigarras e o vento gemendo nos coqueiros, só tudo isso.

Sem internet, sem distrações, sem o ruído branco do mundo na cabeça, deixo o tempo livre para correr com meus gatos, atrás dos livros, através de amigos, entrelinhas que amo.

Ho ho ho, estou feliz.

De uma lan house na região dos lagos,

--Xochiquetzal, personagem de Jorge Amado.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

MORRI.





Cabô, gentem, cabô! Cabô a mamata, cabô a moleza, cabô: meu patrão resolveu deixar a empresa em animação suspensa até o fim de janeiro, quando decidirá se vai fechar as portas de vez ou não. Por um lado, terei mais de um mês de férias remuneradas para ficar de saliência brincar de casinha com a Bel, convencer o Atillah de que a vida vale a pena (se ele conseguir comparecer ao I Fórum Interestadual do Espancando Teclados -- já acendi uma vela para Nossa Senhora de Bátima), curtir meus livros, meus gatos, meus amigos, meu gringo, minha praia.


IURRÚL, galera?


Iurrúl é rola: VOU FICAR SEM INTERNET.


Parem um instante e reflitam sobre a gravidade da frase em negrito acima.


Após nove meses gestando meu eu virtual, nove meses blogando, devorando informação aleatória online, mimijando no MSN e ganhando inúmeras vezes o Troféu Orkut de Moda BuddyPoke, vou ficar sem internet.


Façamos um minuto de silêncio por mim.





Mas não se desesperem, meus entes queridos: há vida além da Internet. Assim que meu espírito errante estiver em paz do lado de lá manifestarei-me semanalmente, meus dedos espectrais espancando teclados ectoplásmicos em um centro espírita lan house, diretamente do Limbo.


Câmbio e desligo,


--Xochiquetzal, em busca de Whoopi Goldberg.

Song to this post:
"Unchained Melody" - The Righteous Brothers

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Something Wicked This Way Comes




Preparem-se...




(tenta realizar a possibilidade de ter leitores que não sejam amigos imaginários)

É CLARO que eu achei a ilustração engraçada/creepy. PUTAQUEPARIU, BEL. Primeiro a fórmula do sonho, agora isso?

Pra rebater, mando algo extremamente creepy (sem adição de engraçado). Trata-se da "Fotografia do Medo" de Joshua Hoffine -- artista que não faz uso de colagens ou truques para revelar o horror. Seus modelos são parentes e amigos (Hoffine diz usar o photoshop apenas para ajustes menores de cor e contraste). Os resultados são simplesmente arrepiantes.

Não me lembro da última vez (se é que houve alguma) que a arte me perturbou tanto. Nada, NADA conseguiu trazer de volta os horrores da infância como as imagens perturbadoras de Hoffine. Preparem-se, leitores -- imaginários ou não.

Freaking you out,

--Xochiquetzal.



























Uma piada interna para X:

Atillah: eu avisei que coisas estranhas começariam a acontecer
Atillah: eu avisei
Atillah: mas como sou uma sombra do que era, no momento nào consigo lidar com lhc

Já que o Atillah não tá na vibe, essa vai especialmente pra X.:



Shit, sista. Inefável versão hello-kitty.
Surtei quando vi, só não sei se você vai achar tão engraçado/creepy quanto eu achei.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Espancando Todos os Santos




Santo Antônio Jackson



São Caetano e Gil



São Jorge Brown



São Será o Benedito



Aparição da Virgem



Nossa Senhora Amiga do Peito



Nossa Senhora Desaparecida



São Rock






E ela, a única...

































Nossa Senhora de Bátima.




Olhai por nós que recorremos a vós,


--Xochiquetzal, a Herege.

Broccoli Kitteh



Atillah, não fique assim: quando o bicho pegar, pense em gatinhos. Melhor ainda: pense em gatinhos FISSURADOS por brócolis.



"A vida é bela, nóis que complica ela" -- Pai da Xochiquetzal

My sympathy: you haz it.

--Xochiquetzal.

P.S. - Assim que der respondo seu post de acordo. In the meantime, hang in there, buddy: WE LOVE YOU. We love you as much as this cat loves ridin' a roomba:



sábado, 6 de dezembro de 2008

8am-6pm



A cada dia se morre um pouco.


Bela constatação, perfeitamente óbvia e idiota. Muito mais bela por ser perfeitamente idiota, pois há beleza na estupidez: é como uma folha em branco, imaculada, na qual nenhum fato da vida se grava, uma tabula rasa eternamente a ser escrita, um vir-a-ser que cumpre para sempre a sua função de nunca ser. Bonito isso. Bonito ser estúpido. BONITO, HEEEIN!? “MUITO BONITO, DEZ HORAS DA MANHÃ E AINDA DORMINDO. TÁ ACHANDO QUE A VIDA É SÓ DIVERSÃO?!”


Vai trabalhar, vagabundo.


Mas divago, porque quero fugir do assunto. O que importa é que, seres sem perenidade que somos, desde o primeiro arfar, recém-saído do meio das pernas de alguma mulher, se começa a morrer. Oxigênio, esse algoz: um modafóca disfarçado de herói, tão vital mas ao mesmo tempo tão oxidante; oxidando meus órgãos e aos poucos transformando tudo naqueles pára-choques velhos, cromados, de Brasília 79. Uma Brasília daquelas brancas, onde a ferrugem só faz macular ainda mais a brancura, tornando evidente a deterioração que um dia, com certeza, levará aquela Brasília ao ferro-velho.


Eu sou uma Brasília 79, e a cada dia eu morro um pouco.


Eu sempre morri todo dia e no começo isso até me assustava, mas me disseram que acontece com todo mundo. E se acontece com todo mundo, sabe como é: a gente se acostuma. Parece que o preço de viver é que um dia a diversão toda acaba de uma vez só e você vira adubo. Olha, sé é só isso mesmo, então tá saindo barato. Tem muita gente aí que tá pagando barato e, sinceramente, eles não merecem viver e podiam virar adubo bem antes. Mas isso é outro assunto. Divago. Divago de propósito, pra evitar o assunto principal: a cada dia eu morro um pouco.


Mas agora eu morro mais.


Mas agora eu vivo menos.


Eu era vagabundo.


Morrer mais, viver menos, quisifoda. Que diferença faz? Faz um pouco de diferença, acho. Porque um dia você constata que, se um dia você vai virar adubo, talvez seja, sei lá, LEGAL aproveitar enquanto você não vira. Porque, não tenho certeza, mas acho que vida de adubo não é grande coisa. Tem um tipo de adubo que é basicamente merda de vaca, não tem? Porra, quem quer ser um punhado de merda?


Eu era vagabundo. Eu me sentia bem.


Agora eu me sinto um punhado de merda, cinco dias por semana, das oito às seis. Mas com benefícios e, pasmem, plano odontológico. Eu nem sabia que usavam dente pra fazer adubo.


É, um gosto de merda na boca sabem? Todo dia. Vai ver eu já tô morrendo e virando adubo. Eu trabalho e me sinto um merda. Mas a gente se acostuma. Parece que acontece com todo mundo. Parece que esse lance de viver tem dessas coisas, de você não poder viver direito, porque em pelo menos umas oito ou nove horas do seu dia você precisa se sentir um merda, e não viver. Não dá pra viver e ser adubo ao mesmo tempo. Mas então, você vive mais ou menos metade do dia, morre durante a outra metade e, como bônus, ganha dois dias livres na semana. Ainda é um bom négocio? Viver tá saindo mais caro agora. Tá meio a meio. Tá elas por elas. Tá uma merda. Adubo. Bonito, hein?


Eu falava de idiotas e estúpidos. E vagabundos. Escória. Vou adicionar os imbecis. Porque, olha só, qualquer imbecil pode ver que não tá sendo um bom negócio esse lance aí de viver pouco mais da metade do tempo e virar merda no tempo que sobra. Tá meio caro. Bonito hein, vagabundo? Jogando merda no carro, hein? Depois a Brasília 79 fica toda enferrujada e quero ver quem vai comprar. Não tem conserto não, minha senhora. Deu problema na rebimboca da parafuseta, melhor mandar pro ferro-velho e comprar uma nova. Ninguém quer andar em carro velho.


Mas a gente se acostuma. Se acostuma a morrer.


love grace tolerance

Atillah

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Birth of a butterfly



Que bonito ver seu renascimento, dona X. Ver esse vídeo após ler esse post me lembrou você me dizendo, sobre estar se redescobrindo:
"Estou parindo a mim mesma".

O que gerou piadas posteriores sobre dar um tapinha na bunda do neném. Enfim, divago.
Queria te dizer: bem-vinda de novo ao mundo. Apesar de ele ser uma bittersweet symphony (trying to make ends meet, you're a slave to money then you die, né Atillah?), existem alguns momentos que fazem a luta pra sair do casulo valer a pena.
Existem, sim.
Mas já passou, ex-lagartinha. Trate agora de deixar essas asas secarem pra você dar seus loopings novamente.
Dou-lhe meu presente de boas-vindas:

Mais uma metáfora com o reino vegetal.
Metaphors, we live by. Enquanto você encara suas mudanças como um doloroso sair do casulo, eu estou encarando as minhas como um natural desabrochar de uma flor. É, fodam-se essas risadas de "HIHIHI, sua bichinha" que tô ouvindo daí, mas EU SOU UMA FLORZINHA, CHEIROSA E BONITA,TÁ?
O engraçado é que essas metáforas com flores e vegetais me perseguem. Eu já contei pra vocês que meu antigo fotolog se chamava "áspera pétala"? O atual chama-se "lemon drop". Pobrêmas: i haz dem.

Eu desabrocho. Estar aqui, "convivendo" com vocês, só me fez desabrochar mais e mais. Sacudo o orvalho do caule e abro minhas pétalas, encarando o céu. Tenho meus espinhos, e possivelmente terei mais um bom punhado antes de murchar pra sempre, mas tamos aê: o Sol me espera.
Quando estiver pronta pra voar, venha cafungar meu polén (cheiradora clandestina!) e lamber meu néctar. Minhas folhinhas tremem de excitação e anseiam por este momento.

.
Eu adoro sua dramaticidade teatral, sabe. Não vejo nisso um defeito, acho que deve ser a admiração pelo oposto, do mesmo jeito que você admira minha simplicidade de raciocínio. Não que eu não tenha meus momentos de drama queen, você bem conhece meia dúzia deles. Mas "conviver" com você é assistir uma Antígona no mundo moderno, uma junkie Ophelia (que até mesmo já foi rejeitada como oferenda a Iemanjá, by the way) que não enluta-se pela morte do pai, mas pelo errôneo luto de si mesma. Não é porque você mudou que você não existe mais. É a mesma, porém agora com asas e anteninhas.
Oh, what a noble mind is here overthrown.

Vai dar ouvidos pra essa lagarta maconheira? Deve ser chegada daquele gatinho creepy (we're all mad here). É, é... não é só você que tem problemas com o monólogo who-are-you, admito. Se definir é dureza, mas hey... foi uma árdua luta pra sair do casulo, e só porque agora tem asas não significa que deixou de ser lagarta. Quero dizer que uma não anula a outra. É por causa da lagarta que teceu o casulo que você existe, já pensou nisso? Você é a lagarta 2.0, you are who you are, whoever it is e espero profundamente que continue sendo esse "whoever" que a gente tanto gosta.

Os traumas, os apelidos, as lágrimas, as vitórias, as violências contra nós, de todas as espécies, os inúmeros causos que tricotamos via e-mail, tudo isso é o que nos torna nós mesmas. A cada metamorfose sua e a cada noite que me encasulo nas pétalas pra voltar a respirar na manhã seguinte, esse amontoado de nós-mesmas fica maior e maior, feito entulho acumulado no quartinho de bagunças. Posso te dizer, então, que a cada metamorfose nos tornamos mais nós-mesmas. Que bom que você resolveu não ligar mais, mas só queria que você soubesse disso, sabe, de que a lagarta continua firme em você.
Quer um teco da minha folha?

Ride the winds of a brand new day, high where mountains stand
Found my hope and pride again
Rebirth of a man

(Nem gosto de Angra, mas o trecho é pertinente)

Desabrochando,
Bel.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Mutatis Mutandis




"--Um What's the name of the word for things not being the same always. You know. I'm sure there's one. Isn't there? There must be a word for it... the thing that lets you know time is happening. Is there a word?
--Change."
--Delirium and Dream, Sandman



Traumas de infância, apelidos cruéis e auto-estima subterrânea encasulados nas teias do tempo, minha idéia de Self dormita inquieta, gorducha lagartinha nerd sonhando sonhos de borboleta rara. Meu peristaltismo psíquico vai empurrando reservas de insegurança alma abaixo: faço da fúria energia, metabolizo a dor tecendo asas aveludadas de solidão. Renasço trêmula, o corpo incerto, úmida ânsia de abandonar o solo. Metamorfoseio-me no próximo estado do Ser.



Anteninhas tremendo de expectativa, aguardo o desabrochar de asas fulgurantes em minhas costas ouvindo o rufar de tambores distantes, numa Anunciação angélica do Advento de mim mesma. A Profecia se cumpre: chego à Terra Prometida.




Livre dos liames viscosos do passado, livre de tiques emocionais derrotistas, de certezas que aprisionam, de limitações auto-impostas: borboleta rosa-de-luto, borboleta monarca, mariposa oriental, Gypsy moth?













Think again.













Oh sweet, diabetic irony.

The Caterpillar and Alice looked at each other for some time in silence: at last the Caterpillar took the hookah out of its mouth, and addressed her in a languid, sleepy voice.
'Who are you?' said the Caterpillar.
This was not an encouraging opening for a conversation. Alice replied, rather shyly, 'I-I hardly know, sir, just at present -- at least I know who I was when I got up this morning, but I think I must have been changed several times since then.'
'What do you mean by that?' said the Caterpillar sternly. 'Explain yourself!'
'I can't explain myself, I'm afraid, sir' said Alice, 'because I'm not myself, you see.'
'I don't see," said the Caterpillar. (...) 'You! Who are you?'


Sei não, dona Lagarta, só sei que estou de saco cheio desse meu eterno vir-a-ser. Talvez seja esse o meu problema: talvez quando eu me conformar com o fato de jamais vir a ser coisa nenhuma eu venha a ser alguma coisa. Talvez não.


Vai que a vida é esse vagar incógnito de metamorfoses ambulantes? Vai que não há respostas não há chegadas não há saídas, apenas jardins borgianos de caminhos que se bifurcam ad infinitum?


Cansei. Cansei de estagiar pra borboleta, de aguardar o clímax da mudança que não chega nunca, quando tudo que há são mais caminhos mais processos mais perguntas sem resposta. Vou é me enrodilhar sobre meu cogumelo, soprando fumaça na cara dos que passam por mim, lagarteando meu intelecto a cada Who are you?


(Takes a puff from the hookah)

Quer saber? Não importa. Deixo as pessoas em sua homeostase metafísica, quietinhas e confortáveis, feliz se, ao rastejar de volta para a minha noite escura da alma, as deixo um pouco mais abertas ao mistério tremendo do mundo.


Who are you?

--Xochiquetzal.


"Oh my soul, be prepared to meet Him
Who knows how to ask questions." -- T.S. Eliot.



Songs to this post:
"It's Alright Ma (I'm Only Bleeding)" - Bob Dylan
"To Ramona" - Bob Dylan
"Change" - Blind Melon
"White Rabbit" - Jefferson Airplane

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Lendo a Lea






Há pouco confabulamos sobre nossas visões díspares do Tempo e seus efeitos em nossas vidas. Ainda ontem conversei com o Atillah no MSN, um Atillah meio manco devido ao peso de sua recente ball and chain laboral. Quando a Bel começou a escrever conosco, celebrei o encontro de uma fêmea pensante, eu, zumbi tão faminta por cérebros femininos -- iguaria raríssima.

Olho grande esse meu, ironia do Inefável: os caminhos loucos e tortos da vida me trouxeram mais cérebro do que eu poderia comer, na caixinha craniana TetraPak da minha amiga/professora/aluna Lea, companheira de momentos de angústia intelectual e descobertas culturais. A mulher simplesmente não pára de agregar valores à minha vida...

...além de escrever só um pouquinho bem pra caralho.

Ganhei esse texto de presente dela, e quis partilhar com a nossa legião de uns seis leitores.

(Pena, pois a Lea merece ser lida. Um dia a convencerei de escrever um blog.)

Impressionada com a coincidência dos temas delô com os temas delea,

--Xochiquetzal, eating humble pie. =)


Feliz ano novo

Enfim, por uma série de motivos, eu decidi não mais trabalhar aos sábados.
Sábados, prefere-se curtas viagens, descanso, outro tempo. Só dois dias, mas cabe limpar a casa, filme, estudo, cuidar de você. Fazer tempo para estudar. Compra-se tempo. Tempo para sorrir, tempo para andar, tempo para pensar. Tudo tem o seu tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou. E por aí se vão dois versículos. Restam seis de uma seção do capítulo três de Eclesiastes. As aspas deveriam ter sido abertas e já fechadas. Não o foram. Detalhe. Gasta-se tempo.
Acreditar que é tempo desperdiçado o tempo despendido só pensando, escrevendo e lendo, tempo em vão. Já ouviu falar de alguém famoso por não fazer nada? Vagabundo, é o nome. Poucos dizem. Muitos pensam.
Eu decidi que preciso parar de trabalhar aos sábados.
Gosto disso na versão em inglês. I must.

Minha aula de inglês hoje foi algo muito bom. É excelentemente bom ter uma amiga-professora que pense com a mesma intensidade que você. Além mais e além mar... no mar de reflexões que a palavra através da literatura constrói-nos seres humanos sociais políticos culturais , os ais...
Diferente ano. Algumas ciências, outras nem tão reconhecidas diriam que a vida acontece sempre em etapas. Um bom amigo afirmou sabiamente a mim (e ao vento) que “entender de mulheres é entender de ciclos”.

Não posso mais trabalhar aos sábados. O verbo mudou, o efeito não. Não poder quer dizer que estou sendo coibida à decisão. O estômago gritou: pare! O sono: pare! O coração: pare! O cérebro: é tempo de optar por outras praias.
Águas... Tenho de olhar para um canto menor e cumprido do mapa. Antes era uma forma mais para circunferência deformada e um nariz, agora reta. Presto atenção ao noticiário do clima. Aprendi que, quando chove, cai um pingo, dois e todos. Não é aquela chuva vinda aos poucos, devagar, céu cinza, mais preto e, só agora, tempestade. Aqui não. É chuva? Vem do oceano e cai. Às vezes, duram dias, sem parar. A cidade enche. Muitas casas enchem. Zona norte e zona sul, pobre e rico, lado a lado b, alaga ou não alaga.
Ouço “Ladeira da preguiça” e gosto muito de esquecer o significado de morro. Isso é tão bom! Andar, andar e ainda ver o depois, é tão bom. O horizonte? Lá, não. Só o belo. Zona norte-morro-barragem da Pampulha-morro-UFMG-morro-obra rodoviária-morro-cracolândia-IAPI-morro abaixo-centro e ufa, chegou-se ao cercado de morros. Fechado num mar de morros. Aqui não é metáfora. O mar está ali. Molhado, salgado, o primeiro e mais importante amigo. Depois dele, haveria monstros? Perguntariam meus antepassados. Não! Há mais vida.

E há vida aos sábados. Há vida às sextas também. Mas, não percebemos. Percebemos só o acaso e, por acaso, aquele velho bêbado na praça sem banco é vida também.
Amor, que nada. A vida prega suas desilusões com pregos inoxidáveis. Palavra que dá vida há algo que não se vê. Não se pega. Não se ouve. Não se cheira. Amor? Cadê? Espera seu tempo que já passou
.


--Lea.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Cirque de la Pluie







As ruas de Itaperuna haviam se transformado num Mar Vermelho de lama e esgoto quando entrei triunfante na cidade -- num ônibus 1001. A rodoviária era uma ilha de concreto da era Brizola, cercada de água podre por todos os lados -- o teatro dos horrores das rodoviárias do interior fluminense, com sua trupe aumentada pelas pessoas ilhadas pena enchente: os mendigos e bêbados da casa enrodilhavam-se com um número ainda maior de cachorros esqueléticos, formas de miséria indissolúveis em busca de calor e conforto; da margem oposta da rua os brados de um pastor semeavam a Boa Nova nos tímpanos férteis de um grupo bem-vestido, que de vez em quando jogava os braços para o alto em estertores pentecostais, revelando rodelas de suor nas axilas. Ao lado da igreja, o Albino's Hotel e Restaurante Self-Service (agora com churrasco!) disputava comensais náufragos com a Pizzaria's Supimpa's.

Sentei-me, liguei pro meu pai e confirmei minha suspeita de que não poderia sair dali enquanto as águas não baixassem. Resignada, botei meu mp3player pra tocar e, LHC vibrations or not, a guitarra de Stevie Ray Vaughan começou a chorar "Texas Flood":

Well there's floodin' down in Texas... all of the telephone lines are down
Well there's floodin' down in Texas... all of the telephone lines are down
And I've been tryin' to call my baby... Lord and I can't get a single sound

Well dark clouds are rollin' in... man I'm standin' out in the rain
Well dark clouds are rollin' in... man I'm standin' out in the rain
Yeah flood water keep a rollin'... man it's about to drive poor me insane

Well I'm leavin' you baby... Lord and I'm goin' back home to stay
Well I'm leavin' you baby... Lord and I'm goin' back home to stay
Well back home are no floods or tornados... baby and the sun shines every day


Tá no inferno, abraça o capeta, certo? Resolvi transformar meu Saison l'Enfer em expedição antropo-filosófica e comecei a prestar atenção do Grand Guignol ao meu redor. Minha percepção se debatia entre o espetáculo dos mendigos invisíveis e seus incríveis cachorros amestrados; equilibristas que ousavam abrir caminho pelos escombros à deriva (alguns com crianças de colo, Ladies and Gentlemen!); mágicos que tiravam sorrisos da cartola tentando entreter a platéia com comentários do tipo "que chuva, hein? Jesus...". De vez em quando estreitava meu foco em direção aos contorcionismos dos crentes de sovaco suado, para ser distraída pelos malabarismos de motoristas navegando a torrente de merda marrom.

It's... MONTY PYTHON'S DROWNING CIRCUS!

(A palhaça era eu, ridícula na minha mania de processar o absurdo ao meu redor, levando tortas de revolta azeda na cara para ninguém rir.)

Mas deixe estar. Um dia minha maquiagem derrete e eu toco fogo nessa porra toda.

(Muda o tom antes de ganhar uma temporada grátis em hotel com suítes de paredes fofinhas e roupões de mangas compriiiiiiiiidas)

Cirque de la Pluie deixado pra trás (ou empurrado pra dentro), pendências em Itaperuna (cujo único mérito consiste em significar "Rolling Stone" em tupi) resolvidas, volto ao espancando matando cachorro a grito, dando nó em pingo d`água, beliscão em azulejo, murro em ponta e faca e mais do que chuchu na serra; volto em grande estilo, enfiando o pé na jaca para chorar a morte da bezerra. Ponham água no feijão, amigos, pois Xochiquetzal está cheia de som e fúria.



Alguns clonazepans depois, sinto-me capacitada a responder o post da Bel.

ENADE, amiga? Xochiquetzal se comisera. Não peguei a época dessa porcaria, simpatizo com suas dores -- até com as alcoólicas, já que ando dando pra beber (rsrs) Bacardi até invocar o Raul toda noite -- de todo coração. No entanto, peço por caridade que você retire o poeta fingidor do cu. Poesia é coisa sacra, amiga. Depois dos músicos e carinhas com pinta de estudante de Humanas (minha mais recente tara é pelo Pedro Luís do Pedro Luís e a Parede) os poetas são minha presa preferida. Mas no cu, não.

Mas voltemos ao seu post:

"Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura."

Ontem estava tendo espasmos orgásticos no cérebro ao ler Ficciones de Jorge Luiz Borges, que é tipo assim o M.C. Escher da literatura mundial. Leitura convoluta, que dobra-se sobre si mesma e se auto-referencia, envolvendo o leitor num maelström de irrealidade e sonho, pontos de vista dentro de pontos de vista dentro de pontos de vista como numa boneca russa. Deus meu, que tesão de livro. O conto Pierre Menard, autor del Quijote é Saussure puro ao expor as entranhas do maior clássico da literatura ocidental às transformações dos pontos de vista. Pierre Menard decide reescrever, palavra por palavra, alguns capítulos do romance de Cervantes, copiando-o sem copiá-lo, num palimpsesto alucinado que prova de uma vez por todas que não há momento como o presente e que nem mesmo a literatura é capaz de legar algo à posteridade. Aquela ganha novo alento ao ser analisada sob um anacronismo deliberado (imagine o Quijote sendo escrito por um francês obscuro do século XIX, Madame Bováry por uma monja medieval, A Metamorfose por um autóctone de Júpiter em 7098?).

Ah, eu adoro tomar porrada da arte. Cada vez que levo um tapa no intelecto do tipo do de Borges, fico molhadinha. Bate mais, bate mais que eu gamo!

"Pensar, analizar, inventar (me escribió también) no son actos anómalos, son la normal respiración de la inteligencia. Glorificar el ocasional cumplimiento de esa función, atesorar antiguos y ajenos pensamientos, recordar con incrédulo estupor lo que el doctor universalis pensó, es confesar nuestra languidez o nuestra barbarie. Todo hombre debe ser capaz de todas las ideas y entiendo que en el porvenir lo será."

Construir, reconstruir, colher pensamentos alheios e incorporá-los ao que se é... partilhar esse blog com a Bel têm sido uma viagem insólita -- a recantos da minha personalidade que eu julgava inacessíveis ou simplesmente inexistentes. Vejo-me pelos olhos do Atillah (e creio que vice-versa) há tantos anos que já tinha me acostumado com o toque de esquizofrenia que a presença dele adiciona à minha vida. A chegada da Bel foi mais uma voz no tumulto da minha cabeça, mas uma voz que confunde sem vertigem, ilumina sem cegueira. Encontrei-me diversas vezes ao me perder nela, para em seguida me perder de novo e me encontrar navegando minha psique sem astrolábio ou portulano. Sinal da minha loucura adorar isso? Última chamada de embarque para a Stultifera navis, galera!


Considerações sobre diários (eu também tenho os meus desde a infância) depois.

"Caminante, no hay camino, se hace camino al andar"...

Caminando,

--Xochiquetzal.


Songs to this post:

"Tupelo" - John Lee Hooker
"Texas Flood" - Stevie Ray Vaughan
"When the Levee Breaks" - Led Zeppelin

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Street Fighter: The Later Years (Legendado)




Enquanto não consigo paz de espírito para postar, aproveito para partilhar com vocês mais uma pérola do YouTube: Street Fighter, The Later Years -- com legendas equivocadas em português que irritam, mas algumas vezes adicionam graça à coisa toda.

Antes que o Atillah venha com seus "mimimimi essa é velha pra caralho mimimimi você sempre indicando o que todo mundo já viu", aviso que EU não tinha visto ainda e achei muito bom. Trouxe sorrisos a um dia prenhe de agouros.

"You're chewing on the WRONG Brazil nut!"

LOLling,

--Xochiquetzal.

Partes 1, 2 e 3:



O resto vocês encontram no YouTube.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Panis Et Circensis



Esta inacreditável contenda entre anões não tem seu valor cômico diminuído pela farsa intrínseca que é o Jerry Springer.



Removam o set do programa e desenformem este vídeo no Coliseu romano. Adicionem leões a gosto. Polvilhem com cristãos. Não é necessário acrescentar idiotas. Sirva quente.

We are definitely living in the end times.

Rindo/chorando,

--X.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Pós-hiato

Esse fim de semana eu saí de casa sábado, enchi a cara e voltei prá casa às 7 da manhã. Deitei na cama pensando: "porra, amanhã tem a merda do ENADE". Acordei obrigada às 11h, com o excesso de vodka martelando na parte de trás da minha cabeça, fumei uns três cigarros, tomei banho e fui xingando da minha casa até o local onde eu faria a prova da merda do ENADE. Ainda meio bêbada, de péssimo humor, com a cabeça fervendo de coesões, coerências, concordâncias, interpretações, enfia o poeta fingidor NO CU e todas essas merdas que são de praxe na merda do ENADE, lembrei do blog no meio da prova.

Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.


Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos, achei que isso sintetizou tão bem o Saussureando. Nossa relação, aqui dentro, baseia-se muito em pontos de vista, afinal, é o que temos nas mãos. Palavras distantes digitadas, pensamentos sinônimos ou antônimos que gostamos de colher um da árvore do outro (eu já mencionei meu problema com metáforas do reino vegetal, né?), é tão bela essa construção sobre idéias, pensamentos e palavras... do meu ponto de vista, claro. Outras pessoas achariam tudo isso uma enorme bobagem.

Eu gosto de tentar ver pelos olhos dos outros; veja bem como nossos irreversíveis, cara X., nos construíram a ponto de me reconstruir só de vomitar alguns fatores que criaram meu ponto de vista em cima da sua blusa nova. É uma merda, essa coisa de pensar os fatores que te construíram como você é hoje.

Sabe que eu tenho uns diários. Desde que eu tinha uns 12 anos eu registro o que penso, e é infinitamente engraçado ver como eu sou uma pessoa diferente do que eu escrevia no diário de capa laranja do que eu escrevo agora no meu "diário" de fundo bege e fonte Georgia. Fato: são pessoas diferentes. Mas, ôpa!, ainda sou eu.
Parece que a gente vai girando com o mundo, e passa ver os mesmos objetos com outros olhos. Se você vê um pato de costas, ele parece um espanador. Se vê de frente, parece um pino de boliche com bico. Ok, I'll quit the drugs.



Pino de boliche.
*segura o pato*
To be or not to be?

Do mesmo jeito que um mesmo homem não toma banho duas vezes no mesmo rio, não vê o mesmo objeto duas vezes com os mesmos olhos. Estamos sempre em rotação, mas que merda de mudanças irreversíveis e inevitáveis -umas mais brutas que as outras- das quais não podemos desviar. Tô meio agressiva com esse alcool na mente, perdoem-me.

Espero de todo coração que seja algo que compense o rebenque nas mãos do capataz, como um jogo de Tupperware ou de panos de prato com citações bíblicas para cada dia da semana., e sua ironia enche meus olhos de satisfação.
Só sei disso: nem a pau que eu vou cantar enquanto meu útero implora por uma cicuta on the rocks, isso é um ponto de vista tão Poliana que chega a ser incompreensível prá minha pessoa, e olha que eu sou a compreensão em pessoa. Nascemos como somos ou nos tornamos o que somos? Gee, eu poderia criar musgo enquanto penso prá responder isso.



Não posso escrever mais enquanto não digerir direito essa auto-própria-pergunta à minha pessoa mim mesma.

Criando musgo,
Bel.

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Update do dia seguinte:

Pato? PATO? Deus do céu, de onde tirei isso?
Esse é o tipo de raciocínio aleatório e sem razão de ser que surge de vez em quando. Do tipo "bolonhesa é uma palavra gorda" e "fusquinhas brancos parecem suspiros", mas achei tão bonitinha a foto que vou deixar.

Esqueci de mencionar também que estou rezando pela alma do seu porquinho. Titia me disse que "dinheiro na mão é vendaval", então, pelo menos que uma parte fique segura dentro do pâncreas do seu porquinho.

Mi español es una mierda, portanto, yo pude compreender (menor idéia de como se fala "compreender" em espanhol) mucho poco de los perros. O pouco de espanhol que tenho utilizo para decifrar frases profundas como:
Molestando niños muertos me da ereccion.
Só esse tipo de pensamento prá ser pior que patos e pinos de boliche, mesmo.

Sim, e depois de emusgar um bocado, acho que a resposta prá minha auto-pergunta é: um pouco dos dois. Concordas?

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Kiss the Wookie, Kick the Droid...





Come and help me, Obi-Wan!

Dancing with Ewoks,

--Xochiquetzal.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Amores Perros






Porque eu dei de cara com esse poema de Fabio Morábito na Letras Libres e TIVE que postar aqui. The devil made me do it.

POEMA
por Fabio Morábito

Tengo un perro invisible,
llevo un cuadrúpedo por dentro
que saco al parque
como los otros a sus perros.
Los otros perros se dan cuenta
de mi perro
cuando, al doblarme, lo saco de mí mismo
para que juegue y corra,
sólo sus dueños no lo ven,
tal vez tampoco a mí me vean.
Me siento en una banca y veo cómo mi perro,
que a fuerza de paseos se ha ido dando,
se mezcla con sus semejantes,
y aunque los otros dueños no lo ven,
anima e inquieta la perrada
y entre los dueños cunde la inquietud
y empiezan a llamar sus perros
para que no se forme la jauría.
Tal vez tampoco a mí vean,
sentado en una banca,
doblado un poco
por el esfuerzo de dejar mi perro libre,
y aunque no pueden ver mi perro,
tal vez sí ven el perro
que invisible, como el mío,
llevan dentro,
la bestia que no sacan nunca,
el perro que reprimen
llevando a pasear sus perros.


Doblada un poco,

--Xochiquetzal.

Espírito de Porco






A Terra completou seu vigésimo-oitavo ciclo em torno do Sol, dando início à lenta contagem regressiva até a temida mudança de casa decimal.

Além das calcinhas beges e trocados de praxe, ganhei um post de aniversário da Bel, um "parabéns aê" atrasado do Atillah (estamos progredindo -- ano que vem ele acerta a data) e um cofre de porquinho lindo, daqueles bem oldskool, dos quais a Fortuna só pode ser removida com o espatifar de suas entranhas. Estou me sentindo uma adivinha romana, ainda mais quando li o cartão que acompanhava o mimo: "Mamãe já botou cem reais aqui pra você, viu?". Tive ganas de imolar o inocente suíno na hora.

Encontro-me dividida entre os impulsos de realizar uma intervenção cirúrgica nele, tomar vergonha na cara e aproveitar a deixa pra finalmente começar a economizar ou espatifá-lo no chão -- coisa que eu já teria feito há tempos se não fosse o receio de encontrar apenas um bilhete escrito "Rá rá rá ficou sem porco -- espero ter cumprido meu papel de progenitora e te dado uma lição, beijos, mamãe."


It keeps calling me...

Família Ê, família Á, FAMÍLIA.

Aniversários me deprimem (O RLY?) pois me forçam a encarar os Greatest Hits da minha vida do último ano pra cá, geralmente resultando numa compilação existencial da qualidade de um CD Caldeirão do Huck. No entanto, conforme os anos se acumulam em minhas costas, descubro-me aceitando esse presente de grego do tempo com um sorriso genuíno e colocando-o pra tocar pois, grandesbosta ou não, meu Greatest Hits Halloween Passado - Halloween Presente FAZ parte de quem eu sou. Vou envelhecendo e aprendendo a aceitar o que há de podre em mim, amadurecendo de trás pra frente até esverdear de novo e começar tudo outra vez.

Toca NxZero aêêê \o/!!!!!!!

Mas a vida é uma espiral ascendente, amigos. Não entramos no mesmo rio duas vezes: começamos cada novo ciclo com o que aprendemos no anterior [/paulocoelho]. Aprendi um pouco sobre a natureza múltipla do amor com vocês, por exemplo. Aprendi a absorver em vez de repelir com o Atillah, ao permitir que seu lodo niilista conspurcasse a imaculada face do meu unicórnio da minha fé e que suas companhias inusitadas passassem a constelar o meu universo. O Atillah me deu a Bel de presente, e a Bel vale uma infinidade de parabéns esquecidos. Way to go, Juno!

Encerro as reflexões natalícias de 2008 com um pertinente trecho da revista mexicana Letras Libres, colhido esta manhã durante meu percurso para MacaHell:

"[Oscar Wilde] Desacreditó el ideal romántico de sinceridad para sustituirlo por el más oscuro ideal de autenticidad. Al ser sincera con uno solo entre los muchos seres que la componen una persona es falsa ante todos los demás. Uma vida auténtica debe reconocer lo que se opone."


Autenticada em três vias,

--Xochiquetzal, a Velha.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

This is Halloween



Desejo muitos outros Halloweens felizes a você, com mais treats do que tricks (se bem que life's no fun without a good scare), e 'bora continuar assustando geral.

Deixo-lhe de presente uma musiquinha:



I am the clown with the tear-away face
Here in a flash and gone without a trace

I am the "who" when you call, "Who's there?"
I am the wind blowing through your hair

I am the shadow on the moon at night
Filling your dreams to the brim with fright

This is Halloween, this is Halloween
Halloween! Halloween! Halloween! Halloween!
Halloween! Halloween!


Espero que não tenha(m) nada contra Tim Burton.

Happy B... Halloween pra você, X. :)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Saussureando







Nosso mano Ferdinand de Saussure estava mais do que certo quando afirmou que "o ponto de vista cria o objeto": nossos pontos de vista absolutamente díspares quanto ao tempo e seu efeito (não mencionarei os guturais da Bel nem meus tuntz porque QUEM AMA, TOLERA) são prova disso. Xochiquetzal angustiada e seu desespero existencial que a tudo abarca; Bel rindo bêbada para o Tempo, seduzindo-o com sua objetividade hedonista que a tudo ilumina; Atillah amargurado, corroendo o Espancando com o niilismo acerbo de um post que, na minha opinião, foi um dos melhores da história deste blog.

Bel, suas memórias de curumim gordinho me encantaram. Sua enxurrada de experiências me assustou, me fez pensar nas minhas e em um de meus credos semi-inconscientes: "eu não vivo, passo perrengue". Eu não tenho uma lista bonita como a sua: tenho uma sucessão crescente de roubadas, de tempos sofridos, não vividos -- o que, obviamente, não passa de um ponto de vista. Algumas pessoas acham a minha vida fascinante. Queria ser como elas.

Mas Atillah, mano véi: hats off to you. Clothes off to you, dammit. Pode ser apenas meu ponto de vista, mas ó: que TESÃO de texto.

Incomparável. Irreversível.

Mas então.Na última segunda-feira meu pai passou por aqui e me levou pra almoçar e conversar. Temos um pequeno problema genético que nos impede de controlar o volume de nossas vozes: eu falo alto e meu pai urra. Quando estamos conversando, às vezes as pessoas vêm me perguntar se eu estou bem, ou pensando que têm que apartar porque é briga. Berro vai, berro vem, gritamos sobre o (ó Deus) Caso Eloá, ambos concordando com a inépcia da polícia, com o absurdo do policial que justificou o fracasso da operação com o fato do crime ser "passional, tratando-se da vida de UM jovem" quando a prioridade seria preservar a vida da garota. Atirador de elite no moleque, os miolos DELE na parede, fim de história. Mas não.

Colocassem um atirador ali, o pessoal dos direitos humanos viria correndo espavorido. Matassem o moleque, the horror! the horror! Tadinho do bandido! Sou apolítica, tento pender pra esquerda, mas confesso que BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO. Meus dezesseis anos de Rio-Cidade-Desespero nas costas me permitem afirmar isso.

Ao sairmos do restaurante, um senhor parrudo de rosto muito vermelho nos parou:

"-- Vocês me desculpem o incômodo, mas eu não pude evitar de ouvir a sua conversa e gostaria de dizer uma coisa... eu fui policial militar por muito tempo, trabalhando em operações especiais..."

Pensei: fodeu. Vamos ouvir uma ode à polícia brasileira de um homem gigantesco e obviamente inflamado pelo que tinha a dizer. Contendo as lágrimas, o cara pegou no braço do meu pai e disse:

"-- ... na minha última operação, um assalto a banco, o gerente foi morto pelos criminosos. Ao invadir o banco eu apaguei três deles. Depois fui saber que um era pára-quedista militar e os outros dois eram membros da corporação. Fui afastado do meu cargo, respondi a processo e por pouco não recebi uma sentença de setenta e dois anos. Larguei minha carreia por desgosto do que aconteceu. O gerente do banco ainda está embaixo da terra, sua mulher ficou viúva e seus filhos órfãos. Hoje eu trabalho numa confecção, com a minha mulher. Se mais pessoas tivessem o seu ponto de vista isso não teria acontecido."

Fiquei pasma. Meu pai conversou mais um pouco com o cara, deu um abração nele, e fomos embora.

O ponto de vista cria o objeto. Pontos de vista são altamente perigosos, pois criam insidiosamente. E criam muito, feito coelho.

No domingo anterior, Dia da Marmota, modorra de sempre, ligo a TV para ver o "Momento Amy Winehouse" do Pânico, mimijando como de hábito. Após a fúria de Amy, fui ver o que estava passando no Fantástico além da Patrícia Poeta e me deparei com uma reportagem sobre a cólica menstrual e seus efeitos sobre a produtividade feminina. Durante a visita a uma confecção, o dono, de rebenque na mão, inspecionava as mucamas empregadas, sorrindo felizes em suas máquinas de costura, comentando alegres a respeito do prêmio quinzenal que ganham se não perdem dias de trabalho por motivo de saúde. A natureza do prêmio não foi mencionada. Espero de todo coração que seja algo que compense o rebenque nas mãos do capataz, como um jogo de Tupperware ou de panos de prato com citações bíblicas para cada dia da semana.

No final, o repórter entrevista uma moça empacotadeira de supermercado e pergunta o que ela faz para suportar oito horas de pé quando tem cólicas menstruais:


"Eu canto", respondeu a moça.

O ponto de vista criando o objeto.

Cantando,

--Xochiquetzal.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Le temps détruit tout


O tempo a tudo destrói.

Tempo-tic

Tempo-tac

Uma salva de palmas ritmadas de um em um segundo, uma salva de palmas para o primeiro motherfucker que resolveu começar a contar o tempo. O tempo não existia, e o homem viu que era bom. Ele podia chegar em casa trêbado e sua mulher nunca saberia se era cedo demais ou tarde demais. Porém, num momento de desatino alcoólico alguém gritou “Faça-se o tic, faça-se o tac”, e nossa história de miséria humana começou oficialmente, com a precisão exata de um grão de areia escorrendo lépido na ampulheta. Agora podemos nos foder com todo o tempo do mundo. Tempo de sobra para sofrer. Segundos intermináveis que se empilham em minutos e horas e dias e anos e, principalmente, se juntam para virarem morte.

Tempotic -Tempotac

Tempocaixão

Vou contar um lance bem lôco pra vocês: o tempo não corre, ele se empilha. O tempo se junta e faz peso nos ombros, nas costas, na cabeça, e eventualmente comprime o coração. Impossível não sentir a compressão. Dizem que o tempo passa rápido demais nos dias de hoje. É mentira. O tempo não passa nunca, a presença dele é constante; ele chega de longe, se instala do lado da tua cama e fica ali te assombrando. Os segundos não me escorrem pelas mãos; eles chegam de algum lugar, como os raios de luz, como o vento soprando sem destino, chegam e me atingem o TEMPO TODO. TODO o TEMPO do mundo me atingindo. Tempo demais, tempo excessivo, tempo insustentável.

Tic...Tac...tic... tac, tic-tac, tictac, tictactictactictacitcaicacicaccccccc...Morri.

Porque a vida, minhas queridas companheiras de jornada, a vida é uma marcha inexorável para o fim. E no fim não tem um “fim” escrito, como nos livros que adoramos. Não tem um “fim” porque só acaba para nós. Life goes off, time goes on. On and on. Nós acabamos, mas tempo não tem fim. Quem precisa medir o tempo somos nós, porque o fim se aproxima. Ele sempre se aproxima. Esteja preparado para o seu fim, porque ele não tem hora pra acontecer. O fim não carrega relógio, o fim não tem celular, o fim não tem nenhum outro compromisso a não ser pegar você. O fim não trabalha, o fim não dorme, o fim não tem dinheiro. Mas ele vem à galope.

Ao fim e ao cabo da foice, o que nos resta? Nada resta, porque é o fim. Então, só temos o que vem antes do fim, vamos aproveitar bem. E eu sou niilista e hedonista pra caralho. Mas aí também não sei não. Não sei se tenho tempo pra ser alguma coisa. Vai ver esse negócio de ficar tentando ser alguma coisa é perda de TEMPO. A gente fica tentando ser alguma coisa e o tempo ri de nós, porque não interessa o que você seja agora, daqui a pouquinho você não vai ser nada de novo.

O tempo a tudo destrói.

Mas isso não é motivo pra se sentir mal. É bom que as coisas terminem. E mesmo que não seja bom, não faz diferença, porque elas terminam de qualquer modo. É bom ser niilista e entender que não importa o que você acha das coisas. Elas continuarão sendo o que sempre foram apesar de você.

Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Torça para você estar lá. Torça para você estar lá e poder aproveitar mais um pouco. Aproveite com todas as forças. É bom ser hedonista e entender que não importa o que acham de você, porque no fim todo mundo termina do mesmo modo. Você sempre será o que sempre será, apesar dos outros. O tempo a tudo destrói.

Queridas, um brinde ao tempo:

tin-tin

tintic-tintac.

love grace tolerance

Atillah