quarta-feira, 25 de julho de 2007

Contra um Conan, só um Rocky / Saber pra quê?


Cai de uma vez, motherfucker.

-- Informe de caráter público --

E eis que minhas bolas continuam no lugar. Dentro de um saco de carne peludo e tals.
Não era realmente uma dúvida; foi mais um momentary lapse of reason, onde algo me atingiu e me fez perguntar a mim mesmo em voz alta: Putaqueospariu, mas afinal, quem é que veste as calças nesse blog?

E daí, lembrei que era eu e tudo ficou bem.
De qualquer forma, obrigado pela sua preocupação e consideração com meus bagos.

Porém, ainda sinto-me diminuído pela estatura de seus posts. O fator competitividade, que você mesma citou, tende a se tornar preponderante com a continuidade de nosso diálogo público. E competitividade é muito importante para mim, que sou XY. Mas é coisa de homem. Você é mulher e não precisa se preocupar com isso. Se preocupe apenas em ser bela.

Coisa de homem.

O que me faz lembrar de “Rocky II” (Rebato seu Schwarzenegger com meu Stallone: olho por olho, dente por dente.), onde em uma cena emocionante Adrian pede para que Rocky não lute mais, pois ele adquiriu um sério problema em um dos olhos depois da luta com Apollo Creed no primeiro filme. Neste momento Rocky considera o pedido de Adrian, olha para ela e diz: “Lutar é a única coisa que eu sei fazer na vida. Eu nunca pedi pra você deixar de ser mulher, então não me peça pra deixar de ser homem”.

Não me peça pra deixar de ser homem. Veja que frase de impacto, súmula de todos os valores realmente masculinos que definham em nossa sociedade metrossexual. Não me peça pra deixar de ser estúpido, tosco e grosso. Não me peça para ser racional quando eu claramente preciso demonstrar o tamanho de meus culhões em praça pública. Não me peça pra deixar de lado minha herança de agressividade que me impele a fazer coisas idiotas apenas para provar meu ponto de vista, mesmo que seja pra provar só pra mim mesmo.

Coisa de homem.

-- Fim do informe público --

Retornando ao nosso tema principal, congratulo sua pessoa pela belíssima e providencial inserção da citação de Eclesiastes. Admirável passagem, que reúne toda a nossa pequenez e inutilidade. “Tudo é vaidade”, e só mesmo vaidade pra fazer com que achemos que temos alguma importância nessa enorme engrenagem, que certamente vai continuar funcionando com ou sem nossa presença.

Sinto-me satisfeito com a abordagem que fizemos do tema “o que é importante na vida”, e não tenho uma vírgula sequer a adicionar aos seus últimos escritos. Não consigo pensar em satisfação maior do que ser diminuído pelos seus posts. Não estou sendo irônico.

Além do tema central que discutíamos, o que mais mexeu comigo se encontra no fim da citação que você fez:

18 For in much wisdom is much grief,
And he who increases knowledge increases sorrow.


Do caralho. Suponho que seja ponto pacífico entre nós que, de fato, conhecimento traz mais dor do que alegria. Começo deste ponto minha divagação.

Já faz alguns anos que não consigo esquecer desse professor que tive na pós-graduação. Meia-idade, consultor de empresas, sucesso na carreira acadêmica e profissional. Com dinheiro suficiente pra não fazer mais porra nenhuma da vida, mas dando aula por gosto (ou vaidade). Em uma de suas aulas de Planejamento Estratégico, do nada ele interrompe sua apresentação de powerpoint, metodicamente planejada para 50 minutos, e resolve desorganizar a aula toda. Desliga o projetor e senta na mesa para falar sobre o assunto “pra que serve estudar”.

Foi muito estranho. Foi como se ele tivesse encarnado alguma entidade.

Mas ele falou uma coisa importante. Depois de discorrer sobre toda sua formação, especializações, mestrados, doutorados e post-docs no exterior, ele disse algo assim: “Descobri que estudar, mas estudar muito mesmo, na verdade não serve pra muita coisa. Na melhor das hipóteses, serve pra mapear de forma mais precisa o tamanho de sua ignorância. Serve pra você saber o quanto você não sabe".

Forte isso. Forte e verdadeiro. Pra mim fez sentido.

Qualquer um que já buscou saber mais e mais sobre um assunto ou tema específico, eventualmente descobre que sabe cada vez menos sobre o referido tema, e que a busca é sempre infrutífera, pois saber todo o possível sobre um assunto é, na verdade, querer as chaves do universo. A busca do saber parece ser na verdade a busca pela ignorância; ao invés de aprender algo novo, você acaba descobrindo o quanto você NÃO sabe. O saber é o véu de Maya, é uma ilusão.

Suponho que qualquer um que já tenha sentido isso tenha um telencéfalo suficientemente desenvolvido pra perceber que a busca do saber não leva a porra nenhuma. Não se requer um alto grau de genialidade pra perceber que saber não traz alegria nem felicidade. Acredito que essa idéia é amplamente apoiada pela “sabedoria” popular, através de frases sínteses como:

“O que os olhos não vêem o coração não sente”
“A pensar morreu um burro” (genial)
“Mais vale burro vivo que sábio morto”
“Nem todas as verdades se dizem”
“O corno é sempre o último a saber”
Ignorance is bliss

Entre outras.

Então gostaria de deixar a pergunta que não quer calar:

Por que diabos malditos
filhos de uma cadela
gostamos tanto de ficar cutucando nossa ignorância
e descobrir o verdadeiro tamanho dela?

Rimou.

Atillah.

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