terça-feira, 31 de julho de 2007

O post mais fácil do mundo



Te abanca no divã garota, que vou resolver teus pobrema.


Obrigado, de coração, por me dar a oportunidade de trazer a esse nosso cantinho o fenomenal Analista. Pelamordedeuscristinho, como você pode ainda não ter lido essa obra magistral, formadora, existencial e essencial.

Mas foda-se. Pra sua sorte estou aqui, e esse seu problema eu posso resolver de chofre.

Existem muitas histórias sobre o analista de Bagé, mas não sei se todas são verdadeiras. Seus métodos são certamente pouco ortodoxos, embora ele mesmo se descreva como "freudiano barbaridade". E parece que dão certo, pois sua clientela aumenta. Foi ele que desenvolveu a terapia do joelhaço.

Diz que quando recebe um paciente novo no seu consultório a primeira coisa que o analista de Bagé faz é lhe dar um joelhaço. Em paciente homem, claro, pois em mulher, segundo ele, "só se bate pra descarrega energia". Depois do joelhaço o paciente é levado, dobrado ao meio, para o divã coberto com um pelego.

- Te abanca, índio velho, que tá incluído no preço.
- Ai - diz o paciente.
- Toma um mate?
- Nã-não... - geme o paciente.
- Respira fundo, tchê. Enche o bucho que passa.

O paciente respira fundo. O analista de Bagé pergunta:

- Agora, qual é o causo?
- É depressão, doutor.

O analista de Bagé tira uma palha de trás da orelha e começa a enrolar um cigarro.

- Tô te ouvindo - diz.
- É uma coisa existencial, entende?
- Continua, no más.
- Começo a pensar, assim, na fìnitude humana em contraste com o infinito cósmico...
- Mas tu é mais complicado que receita de creme Assis Brasil.
- E então tenho consciência do vazio da existência, da desesperança inerente à condição humana. E isso me angustia.
- Pos vamos dar um jeito nisso agorita - diz o analista de Bagé, com uma baforada.
- O senhor vai curar a minha angústia?
- Não, vou mudar o mundo. Cortar o mal pela mandioca.
- Mudar o mundo?
- Dou uns telefonemas aí e mudo a condição humana.
- Mas... Isso é impossível!
- Ainda bem que tu reconhece, animal!
- Entendi. O senhor quer dizer que é bobagem se angustiar com o inevitável.
- Bobagem é espirrá na farofa. Isso é burrice e da gorda.
- Mas acontece que eu me angustio. Me dá um aperto na garganta...
- Escuta aqui, tchê. Tu te alimenta bem?
- Me alimento.
- Tem casa com galpão?
- Bem... Apartamento.
- Não é veado?
- Não.
- Tá com os carnê em dia?
- Estou.
- Então, ó bagual. Te preocupa com a defesa do Guarani e larga o infinito.
- O Freud não me diria isso.
- O que o Freud diria tu não ia entender mesmo. Ou tu sabe alemão?
- Não.
- Então te fecha. E olha os pés no meu pelego.
- Só sei que estou deprimido e isso é terrível. É pior do que tudo.

Aí o analista de Bagé chega a sua cadeira para perto do divã e pergunta:

- É pior que joelhaço?

Luís Fernando Veríssimo


COMO alguém pode escrever tão bem a ponto de cada frase ser uma piada por si mesma? Acho que é isso que se chama “dom”.

No próximo post: saber pra quê? Vamos nos afundar em mais angústia.

Atillah.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Um mês depois do aniversário, encerrava tudo. Um mês depois da data na qual já não mais desejava estar junto. Os olhares não cruzariam mais, estava certo. Agora, apenas um perseguiria o outro. Enquanto um olhava, o outro desolhava. E assim seguiriam na brincadeira de gata e rato, sempre revezando os papés. Alternando suas culpas e culpando-se alternadamente. E depois seria assim. Um amontoado de gestos e gritos e lágrimas jogadas ao vazio. Um pilha de emoções arrebatadoras, que não se tinha idéia do que fazer com elas. Muita coisa era nova. Mas a dor...ah, essa já é antiga. Sempre esteve rondando, feito lobo faminto que espera a chance de atacar. Quando sentiu a oportunidade, tomou a carne para si e fez dela arma. Lutou e digladiou-se até cair no chão. E sentado ficou, sozinho.

Escafandro


Uma das coisas que eu gosto em você é essa sua franqueza crua, ou crueza franca. Admiro isso. Como diria um amigo meu, "acho digno". Invejo você. Eu escuto o chorar do mundo num surround stereo da alma, e sinto a minha própria dor de forma lancinante.

Era o Analista de Bagé que prescrevia para a depressão um "chute no traseiro e deixar de ser fresco" ou algo de gênero? Por tragicômico que seja, ele estava certo. Todo deprimido não passa de um gradessíssimo fresco, um Fresco com F maiúsculo, e a consciência de nossa própria frescura é o que há de mais deprimente em nossa condição.

Gostei dos seus dois estados de ânimo, normal e puto. Eu, como boa sociopata frequentadora do DSM-IV, tenho vários, todos extremos e não-interligados, que revezam-se na minha alma como uma horda bárbara reveza-se ao violar uma freira em uma catedral saqueada.

Meus bárbaros internos (que não passam de um bando de Frescos com roupinhas e atitudes estilo Manowar franzindo meu cérebro) são legião, mas estão contidos na fronteira entre a mania e a depressão. A Dra. Kay Redfield Jamison fez um excelente trabalho de mapeamento dessa fronteira em seu livro "An Unquiet Mind: A Memoir of Moods and Madness" (traduzido no Brazil). Here's an appetizer:

"People go mad in idiosyncratic ways. Perhaps it was not surprising that, as a meteorologist's daughter, I found myself, in that glorious illusion of high summer days, gliding, flying, now and again lurching through cloud banks and ethers, past stars, and across fields of ice crystals. Even now, I can see in my mind's rather peculiar eye an extraordinary shattering and shifting of light; inconstant but ravishing colors laid out across miles of circling rings; and the almost imperceptible, somehow surprisingly pallid, moons of this Catherine wheel of a planet. I remember singing Fly Me to the Moon as I swept past those of Saturn, and thinking myself terribly funny. I saw and experienced that which had been only in dreams, or fitful fragments of aspiration. "Was it real? Well, of course not, not in any meaningful sense of the word real. But did it stay with me? Absolutely. Long after my psychosis cleared, and the medications took hold, it became part of what one remembers forever, surrounded by an almost Proustian melancholy. Long since that extended voyage of my mind and soul, Saturn and its icy rings took on a elegiac beauty, and I don't see Saturn's image now without feeling an acute sadness at its being so far away from me, so unobtainable in so many ways. The intensity, glory, and absolute assuredness of my mind's flight made it very difficult for me to believe, once I was better, that the illness was one I should willingly give up. Even though I was a clinician and a scientist, and even though I could read the research literature and see the inevitable, bleak consequences of not taking lithium, I for many years after my initial diagnosis was reluctant to take take my medications as prescribed. Why did it take having to go though more episodes of mania, followed by long suicidal depressions, before I would take lithium in a medically sensible way?"

Esse é o dilema do transtorno bipolar -- ter que escolher entre as maravilhas do estado maníaco (a percepção da realidade elevada a níveis absolutamente lisérgicos) e as profundezas abissais da depressão (que no meu caso só não é suicida porque ainda há livros demais para ler, filmes a assistir e músicas a escutar. A Arte é minha lanterna dos afogados.). É uma escolha de Sofia.

Só os maníacos sabem o que é sentir o aroma de Deus na chuva, evocar os mortos com uma canção, sentir o respirar de todos os que o precederam em sua nuca à noite, ver os contornos dos que ainda estão por vir no escuro. Viver como em um musical da Broadway, caminhar pelas ruas como Barishnikov, pensar em poesia, funcionar em diferentes realidades ao mesmo tempo agora. Olhar-se no espelho e maravilhar-se com cada aspecto do seu corpo, sentir-se perfeito, limpo. Me vem à mente agora aquela música que abria o programa da Xuxa, "Doce Mel" (pode rir -- se eu não estivesse na minha downward spiral eu estaria gargalhando por dentro):


Bom estar com você
Brincar com você
Deixar correr solto
O que a gente quiser
Em qualquer faz de conta
A gente apronta
É bom ser moleque
Enquanto puder
Ser super humano
Boneco de pano
Menino menina
Que sabe o que quer
Se tudo que é livre
É super incrível
Tem cheiro de bala
Capim e chulé
Doce, doce, doce
A vida e um doce
Vida e mel
Que escorre da boca
Feito um doce pedaço de céu

Sorte minha não ser do tipo suicida, ou asim que estivesse ou pouco mais sã e relesse esse post eu tomaria uma overdose de Rivotril.

Então tá então. Se posso ser infeliz o bastante para usar "Doce Mel" para ilustrar a fase maníaca, posso ser mais feliz ao comparar a depressão como todas as bandas de Death-Satanic-Gutural-Kill-Jesus-Rape-The-Virgin-Mary-Metal juntas em um OzzyFest satânico em sua cabeça, berrando no último volume o quanto você é vil, o quanto não vale nada, sua vida não presta, nada jamais irá dar certo, para que tentar, para que tomar banho, por favor me internem, tomem no cu, me deixem em paz -- seguidos por 20 minutos de solos speed metal de uma guitarra mal-afinada perfurando seus tímpanos existenciais.

O mundo torna-se cinza, as pessoas tornam-se cinza, sua boca tem sabor de cinza. É como se a vida fosse um belíssimo aquário de peixes tropicais dado a uma pessoa de péssimo gosto; você é o enfeitinho cafona -- um homenzinho patético preso dentro de um escafandro embaçado, soltando bolhas pela cabeça, entre uma arca do tesouro igualmente patética e um adesivo de "favor não bater no vidro" -- colocados ali pelo imbecil que jamais mereceu um aquário daqueles pra início de conversa. Ridículo. Isolado. Consciente da vida ao seu redor, mas incapaz de interagir com ela.

Cônscia de que meu tempo aqui é limitado, de que estou na melhor fase, biologicamente falando, da vida; sabendo que tenho tudo e mais um pouco para fazer o que quiser, sem esforço. Inteligência. Beleza. Carisma. Todos os atributos de um personagem de AD & D turbinados (modéstia entre eles) -- e nada. Uma Fresca. Daí vem a vergonha de ser tão ridícula. E com a vergonha, o ódio por estar fazendo isso comigo mesma. A coisa piora. Álcool? Viro Conga, a Mulher-Macaca. Cannabis? Engorda, e pior que ser deprimida só mesmo ser deprimida e gorda. Comida? Idem. Other imagination enhancers? VERY expensive short-term reliefs. Bala na cabeça? Muito splattergore. Zumbizo. Não sou nada, apenas estou em algum lugar. Nada me toca. Nada me comove. Nada me surpreende, além do fato do meu marido permanecer do meu lado durante tudo isso. Sempre.

Voltamos à escolha. Is it better to burn out or to fade away, Highlander? Acho que você me conhece bem o bastante pra saber minha resposta.

Pode fazer piada. Eu nunca me levei a sério mesmo. Fico por aqui com duas citações pertinentes:

"Our greatest blessings come to us by way of madness, provided the madness is given us by divine gift."
- Socrates

e

"I doubt sometimes whether a quiet & unagitated life would have suited me -- yet I sometimes long for it."
--Byron


So it goes.

--Xochiquetzal.

domingo, 29 de julho de 2007

I was a teenage air conditioner


23 graus centígrados.

Eu poderia dizer que lamento muito, e sei como deve ser difícil ter um cérebro que não sabe quando produzir serotonina e outras substâncias importantes, nas quantidades e momentos certos.

Mas não vou dizer isso, lógico.

Porque eu não tenho a MENOR idéia de como deve ser isso. O meu nível de empatia é absurdamente baixo e eu não consigo me colocar no lugar das outras pessoas, muito menos sentir seus problemas.

Mas o fator mais importante para que eu não consiga entender é que simplesmente meu humor praticamente não varia; como todo cara tosco, eu só tenho dois estados distintos de humor: normal e puto. Se as coisas estão como eu quero, então eu me sinto normal. Se algo sai do lugar e atrapalha minha vida, então eu fico puto, e vou matar quem precisar pra que as coisas voltem ao normal.

É pouco humano e tals... às vezes eu me sinto como um aparelho de ar condicionado regulado pra 23 graus: se o ambiente está na temperatura certa, eu desligo e não faço nada, perdido em minha satisfação homeostática. Se a temperatura do ambiente fica fria ou quente demais, eu ligo e me mexo pra fazer as coisas voltarem aos tépidos e confortáveis 23 graus. Mas veja, no meu caso a variação de humor é sempre causada por fatores externos. O que parece ser radicalmente diferente da sua condição, segundo algumas coisas que li por aí em minhas explorações internéticas:

You ever get so tired you feel like you're going to rot? Like pieces of you are going to just fall off, hunks of green, spoiled muscle slapping to the floor until you're nothing but a wet, unmoving pile on the carpet?

Depression is like that. For me, anyway. Just... tired. Days on end. Tired all over. Tired down to the bones. Tired in the way the Michelin man is tired. Too tired to shower. Too tired to watch TV. Too tired to get hungry. Too tired to think. I get like that. I've been like that for five straight days now.

Now, somebody's going to ask down in the comments what I have to be depressed about. That's a common source of confusion, because we use the same word "depression" to describe two totally different (and often unrelated) things: one is being really sad, like after your dog dies. The other is an actual medical problem that people often treat with medication. The ones that don't, often treat it with alcohol or a bullet through the skull.


Eu entendo a DESCRIÇÃO do estado, mas isso não faz nada para que eu realmente entenda o ESTADO em si. E como parece que nos encontramos em extremos opostos do tema “variação de humor”, qualquer conselho meu sobre sua situação provavelmente soaria como uma piada de mau gosto, na melhor das hipóteses.

Portanto, a única forma de ajudar e mostrar minha simpatia, é prometer que não vou dizer que isso é culpa sua, e que você devia mudar de vida pra ser mais feliz. Pronto, não disse.

Atillah.

sábado, 28 de julho de 2007

A Frustrating Mess


Manic depression is touching my soul
I know what I want but I just dont know
How to, go about gettin it
Feeling sweet feeling,
Drops from my fingers, fingers
Manic depression is catchin my soul

Woman so weary, the sweet cause in vain
You make love, you break love
Its all the same
When its, when its over, mama
Music, sweet music
I wish I could caress, caress, caress
Manic depression is a frustrating mess

Well, I think Ill go turn myself off,
And go on down
All the way down
Really aint no use in me hanging around
In your kinda scene

Music, sweet music
I wish I could caress, caress, caress
Manic depression is a frustrating mess



I wish this shit would just FUCKING STOP.

So it goes,

--Xochiquetzal.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Clichetes

Há alguns dias estava assistindo os dois últimos episódios da segunda temporada de Heroes, que não tinha assistido ainda por falta de gumption. Qual foi a minha surpresa – ou melhor ainda, minha surpresa por uma coisa tão clichê ser capaz de me surpreender – ao ouvir, naquelas narrações em off com a voz do Mohinder (e aquela musiquinha de baleias no cio ululando ao fundo) um resumo de tudo que discutimos nesse blog até agora: as coisas importantes da vida, nosso objetivo enquanto vivos, what’s best in life Conan etc etc:

Mohinder: Where does it come from? This quest? This need to solve life's mysteries when the simplest of questions can never be answered. Why are we here? What is the soul? Why do we dream? Perhaps we'd be better off not looking at all. Not delving, not yearning. But that's not human nature, not the human heart. That is not why we are here. Yet still we struggle to make a difference, to change the world, to dream of hope. Never knowing for certain who we will meet along the way. Who among the world of strangers will hold our hand. Touch our hearts. And share the pain of trying (...)

We dream of hope. We dream of change. Of fire, of love, of death. And then it happens. The dream becomes real. And the answer to this quest, this need to solve life's mysteries finally shows itself. Like the glowing light of a new dawn. (…)

So much struggle for meaning, for purpose. And in the end, we find it only in each other. Our shared experience of the fantastic. And the mundane. The simple human need to find a kindred, to connect. And to know in our hearts... that we are not alone.

E lá estava, o óbvio, o que todas as grandes religiões têm como base, o que Jesus dizia enquanto zanzava pela Galiléia há dois milênios atrás, o que os Beatles resumiram em uma única frase:

“All you need is love.”

Um grande, cósmico D’UH! Um clichete intergaláctico!!! OH GOD!!!!!! DON'T GO FORWARD!

Irmãos: Nós viemos do amor, e ao amor voltaremos. A natureza desse amor não nos é clara, mas todos sentimos a vibração dentro de nós. Para muitos essa vibração não é mais do que white noise ecoando em nossos cérebros; para as crianças, os loucos, os artistas, visionários e profetas em geral, é o ar que respiramos. Somos amor, e nossa felicidade é diretamente proporcional à quantidade dessa energia que temos em nós, sempre movendo-se. Por mais brega que isso seja, é verdade. Say the word and you’ll be free… and the only word is love.

Naquele momento, tive que parar de admirar a perfeição plástica do ator que interpreta o Mohinder, ou da Nikki/Jessica. Tive um eclipse mental. Tive que baixar minha cabeça. Todos os meus problemas – todos os problemas do mundo – devem-se à falta de amor, em suas muitas faces. Simple as that. Quanto mais eu confabulo, elocubro e podero, quanto mais acho que estou ganhando pontos na minha eterna esgrima contra a existência, mais o Inefável remove sua máscara sorrindo, toca meu peito com o florete de um modo profundamente condescendente e mostra que estou lutando contra a minha própria sombra, enquanto ao Sol que brilha fora da minha caverna... amor omnia est.

Touché, Inefável.

---- Comentário ao seu informe púbico-------

Gostei bastante. Nossa competitividade poderia ter sido canalizada, com toda sua força irresistivelmente genial e imodesta, de forma equivocada. Como símios que somos (e eminentes filósofos naturais), é difícil resistir à tendência de urrar, sacudir as bolas pra mostrar quem é mais macho (e, cromossomos à parte, eu sou a fêmea mais macho que conheço) e sair mijando pelo blog para marcar o território -- mas parece que estamos conseguindo sublimar isso de algum modo. Nossa competitividade intelectual está trazendo à tona o melhor dos dois, e torço pra que continue assim.

Respeito a sua citação de Rocky. Pode dormir tranquilo que jamais te pedirei para deixar de ser homem...

...mas não resisto à tentação de pedir para que você deixe de ser besta.

Coisas de mulher.

----fim do comentário ao informe púbico----

Pois é, também achei que mandamos bem na nossa discussão inaugural do blog. Alguém devia nos pagar para dar palestras e ofuscar a todos com a radiância de nosso intelecto, além de deixar todo mundo molhadinho com a tensão sexual que tempera, sub-repticiamente ou não, tudo que escrevemos/falamos. Jamais abandonarei a esperança de ganhar dinheiro com os frutos do nosso platonismo.

Fico feliz por você ter gostado da minha citação do Eclesiastes e não ter me perguntado se eu tinha virado crente ou coisa do tipo – além de ter inaugurado o que talvez seja uma nova fase das nossas divagações: o eterno elo entre conhecimento e dor. Ignorance is bliss, but knowledge is power. Até pouco tempo, meu lado super-vilã queria poder, poder e mais poder, e eu estava me entregando ao acúmulo bizarro de conhecimento de modo completamente maníaco. Bliss is for the weak – I wanted POWER!!

Então, a Indesejada das Gentes – que havia me ignorado por 26 longos anos – resolveu acertar suas contas comigo. Ceifou meu siamês Sasha. Colheu meu vira-lata Kevin. Amealhou conhecidos, levou consigo uma avó de olhos verdes que cheirava a violetas e arrancou pela raiz a árvore centenária onde pendurei meu balanço, na qual subi e da qual caí tantas vezes, a que me contava estórias fantásticas enquanto eu sentava em sua sombra – meu avô Délio, esteio de minha personalidade, pilar da família. E, não satisfeita, paira todos os dias sobre meu Fibonacci -- the Jesus of Cats – que definha a cada dia com leucemia, emprestando a cada minuto com ele um desespero agridoce por inevitável.

Perdi meus poderes da forma mais abjeta que existe: ao ter de admitir para mim mesma que jamais tive poder algum, e que a força reside em velejar com paz, com graça, a corrente de dor que irrompeu em minha vida. Meu barquinho de papel foi-se bueiro adentro – e não ouso debruçar-me sobre o buraco como faria antes por saber que a curiosidade matou o gato. Pennywise the Clown está à espera, com seus balões coloridos.

Touché, Inefável.

Ainda nem toquei a superfície da transformação causada pela Morte, mas sou grata por cada crise de choro convulsivo, pois estou finalmente aprendendo a ser gente. Aprendendo o que significa ser GENTE, e deixando o inteli- de lado. Estou imaginando a paz. E citando meu Pessoa favorito: “No meu coração há uma paz de angústia, e o meu sossego é feito de resignação.”

“And if there’s a moral there, I don’t know what it is, save maybe that we should take our goodbyes whenever we can” – Neil Gaiman, Sandman.

Como de hábito, tinha mil coisas para escrever a respeito de conhecimento ser dor, mas acho que já escrevi mais do que o suficiente para um post. Para não perdermos esse train of thought, fica a imagem, e a citação de Byron:


"Sorrow is knowledge, those that know the most must mourn the deepest, for the tree of knowledge is not the tree of life."


So it goes,

--Xochiquetzal.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Contra um Conan, só um Rocky / Saber pra quê?


Cai de uma vez, motherfucker.

-- Informe de caráter público --

E eis que minhas bolas continuam no lugar. Dentro de um saco de carne peludo e tals.
Não era realmente uma dúvida; foi mais um momentary lapse of reason, onde algo me atingiu e me fez perguntar a mim mesmo em voz alta: Putaqueospariu, mas afinal, quem é que veste as calças nesse blog?

E daí, lembrei que era eu e tudo ficou bem.
De qualquer forma, obrigado pela sua preocupação e consideração com meus bagos.

Porém, ainda sinto-me diminuído pela estatura de seus posts. O fator competitividade, que você mesma citou, tende a se tornar preponderante com a continuidade de nosso diálogo público. E competitividade é muito importante para mim, que sou XY. Mas é coisa de homem. Você é mulher e não precisa se preocupar com isso. Se preocupe apenas em ser bela.

Coisa de homem.

O que me faz lembrar de “Rocky II” (Rebato seu Schwarzenegger com meu Stallone: olho por olho, dente por dente.), onde em uma cena emocionante Adrian pede para que Rocky não lute mais, pois ele adquiriu um sério problema em um dos olhos depois da luta com Apollo Creed no primeiro filme. Neste momento Rocky considera o pedido de Adrian, olha para ela e diz: “Lutar é a única coisa que eu sei fazer na vida. Eu nunca pedi pra você deixar de ser mulher, então não me peça pra deixar de ser homem”.

Não me peça pra deixar de ser homem. Veja que frase de impacto, súmula de todos os valores realmente masculinos que definham em nossa sociedade metrossexual. Não me peça pra deixar de ser estúpido, tosco e grosso. Não me peça para ser racional quando eu claramente preciso demonstrar o tamanho de meus culhões em praça pública. Não me peça pra deixar de lado minha herança de agressividade que me impele a fazer coisas idiotas apenas para provar meu ponto de vista, mesmo que seja pra provar só pra mim mesmo.

Coisa de homem.

-- Fim do informe público --

Retornando ao nosso tema principal, congratulo sua pessoa pela belíssima e providencial inserção da citação de Eclesiastes. Admirável passagem, que reúne toda a nossa pequenez e inutilidade. “Tudo é vaidade”, e só mesmo vaidade pra fazer com que achemos que temos alguma importância nessa enorme engrenagem, que certamente vai continuar funcionando com ou sem nossa presença.

Sinto-me satisfeito com a abordagem que fizemos do tema “o que é importante na vida”, e não tenho uma vírgula sequer a adicionar aos seus últimos escritos. Não consigo pensar em satisfação maior do que ser diminuído pelos seus posts. Não estou sendo irônico.

Além do tema central que discutíamos, o que mais mexeu comigo se encontra no fim da citação que você fez:

18 For in much wisdom is much grief,
And he who increases knowledge increases sorrow.


Do caralho. Suponho que seja ponto pacífico entre nós que, de fato, conhecimento traz mais dor do que alegria. Começo deste ponto minha divagação.

Já faz alguns anos que não consigo esquecer desse professor que tive na pós-graduação. Meia-idade, consultor de empresas, sucesso na carreira acadêmica e profissional. Com dinheiro suficiente pra não fazer mais porra nenhuma da vida, mas dando aula por gosto (ou vaidade). Em uma de suas aulas de Planejamento Estratégico, do nada ele interrompe sua apresentação de powerpoint, metodicamente planejada para 50 minutos, e resolve desorganizar a aula toda. Desliga o projetor e senta na mesa para falar sobre o assunto “pra que serve estudar”.

Foi muito estranho. Foi como se ele tivesse encarnado alguma entidade.

Mas ele falou uma coisa importante. Depois de discorrer sobre toda sua formação, especializações, mestrados, doutorados e post-docs no exterior, ele disse algo assim: “Descobri que estudar, mas estudar muito mesmo, na verdade não serve pra muita coisa. Na melhor das hipóteses, serve pra mapear de forma mais precisa o tamanho de sua ignorância. Serve pra você saber o quanto você não sabe".

Forte isso. Forte e verdadeiro. Pra mim fez sentido.

Qualquer um que já buscou saber mais e mais sobre um assunto ou tema específico, eventualmente descobre que sabe cada vez menos sobre o referido tema, e que a busca é sempre infrutífera, pois saber todo o possível sobre um assunto é, na verdade, querer as chaves do universo. A busca do saber parece ser na verdade a busca pela ignorância; ao invés de aprender algo novo, você acaba descobrindo o quanto você NÃO sabe. O saber é o véu de Maya, é uma ilusão.

Suponho que qualquer um que já tenha sentido isso tenha um telencéfalo suficientemente desenvolvido pra perceber que a busca do saber não leva a porra nenhuma. Não se requer um alto grau de genialidade pra perceber que saber não traz alegria nem felicidade. Acredito que essa idéia é amplamente apoiada pela “sabedoria” popular, através de frases sínteses como:

“O que os olhos não vêem o coração não sente”
“A pensar morreu um burro” (genial)
“Mais vale burro vivo que sábio morto”
“Nem todas as verdades se dizem”
“O corno é sempre o último a saber”
Ignorance is bliss

Entre outras.

Então gostaria de deixar a pergunta que não quer calar:

Por que diabos malditos
filhos de uma cadela
gostamos tanto de ficar cutucando nossa ignorância
e descobrir o verdadeiro tamanho dela?

Rimou.

Atillah.

sábado, 21 de julho de 2007

HEIL KITLER!


Atillah, engraçada essa sua competitividade. Sempre fomos extremamente competitivos, talvez por sermos tão parecidos e vermos no outro um modelo a superar -- mas nunca realmente parei para pensar que os nossos cromossomos poderiam vir a criar um problema. E daí se eu sou menina? Não vou sair queimando sutiãs nesse blog nem outras palhaçadas feministas -- movimento que, diga-se de passagem, só fodeu ainda mais com minhas camaradas de calcinha -- mas acho que o fato de eu possuir um par XX em vez do seu poderoso XY não me impede de citar Conan, Buttman, Bukowski, Mr T ou qualquer outro ícone do universo "masculino". Tem culpa eu de ser intelecto-sexualmente eclética? Don't you oppress me!

Sei que sou uma mulher sui generis em um mundo povoado por meninas de piastra (até hoje não sei o que é essa porra) no cabelo, telespectadoras cativas de Malhação e fãs de Ivete Sangalo. Assisto filmes cult, falo mais palavrão do que marinheiro bêbado, tenho uma voz única e uma presença física difícil de ignorar. Some a isso o fato de um dia eu ter feito parte da cena musical da cidade e está explicado o porquê da maioria das mulheres me considerar sapata, bissexual ou simplesmente insuportável. Antes eu meio que me ressentia disso. Hoje, vendo o nível cultural de minhas companheiras de estro (desculpem a generalização, leitoras imaginárias), orgulho-me em ser eu -- sapata ou não, sempre se ganha mais jogando nos dois times. Única, inteligente, erudita, multitalentosa, radiante, belíssima eu. A modéstia eu deixei para trás com os últimos excedentes adiposos que eliminei da minha vida.

Resumindo, eu sou foda. Não existe mulher que se compare à mim, eu deveria dominar o mundo, ter minha própria linha de sandálias Azaléa etc etc etc. Se sou tão boa assim, porque perderia meu tempo e talento escrevendo com um ser "pequeno" e emasculado como você? Você tem sido objeto de minha admiração e afeto há 12 anos. Um homem capaz de tanto deve ter bolas de adamantium. So cut the crap.

Eu não coloco ninguém em lugar nenhum. Converse aí com seus botões (já que você se especializou em conversar com botões, não deve ser difícil) e me diga por que você se sente diminuto. Como diria Thom Yorke: You do it to yourself, you do / And that's why it really hurts... (GRANDE e óbvia verdade essa)

Mas tá bom então. Chega de malhar o Judas.

SINCRONICIDADE.

Mais uma grande e óbvia verdade da existência, que livros como O Segredo mastigam para as massas, deixando um punhado de pessoas ridiculamente ricas. Por que diabos a gente não escreve um livro com todas as grandes e óbvias verdades que conseguimos apreender em nossos vinte e poucos anos de vida, com um design misterioso à la The daVinci Code, citações espirituais retiradas de Monster's Manuals de AD&D e ficamos ricos também? Putaquepariu. Desde que eu me entendo por ser pensante percebi a sincronicidade na minha vida, especialmente com os relacionamentos que importam e fazem de mim uma pessoa melhor. A sincronicidade me mostra quais livros ler, filmes asissistir, coisas nas quais pensar. E NUNCA falha, desde que eu preste atenção a ela e a veja funcionando com suas rebimbocas e parafusetas estalando metafisicamente no éter, lubrificadas com o óleo de minha consciência participante. Há pouco tempo atrás li o (pessimamente escrito) A Profecia Celestina -- que é exatamente sobre isso. Baby Consuelo (Rá!) estava certa: o Universo conspira em nosso favor. Megalomania de grandes símios, poeira de estrelas em um Universo indiferente? Talvez. Mas que funciona, funciona.

Linda a citação do seu último post. Só desconcordo com a parte da "ostra inútil": a pérola do bivalve em questão localiza-se exatamente nesse textículo que te tocou, aqueceu seu duodeno, beijou seu cérebro. E foi passada adiante, como uma jóia de família, para nosso blog, para mim, e para os leitores (encarnados e desencarnados) que temos. Ostras inúteis são as que nada produzem, consomem os recursos (que hoje em dia estão mais para dejetos) do mar cultural que as rodeia, nascemcrescemreproduzemmorrem deixando como legado ao nosso gene pool mais algumas ostras que só servem para isso: para revirar o lodo do fundo do mar, regalar-se na matéria morta e --oh apogeu! -- findar sua vidinha descendo pela goela de algum ricaço em um restaurante caríssimo.

Livre-se do fardo quase que inerente ao verbro "produzir". Todos somos ambiciosos, queremos mudar o mundo, produzir uma pérola que possa ser exibida entre as grandes pérolas da História no Smithsonian. Pouco a pouco vejo que isso é bobagem -- pior ainda, como o Bom Livro nos diz:

Ecclesiastes 1

The Vanity of Life
1 The words of the Preacher, the son of David, king in Jerusalem.
2 “ Vanity of vanities,” says the Preacher;

“ Vanity of vanities, all is vanity.”
3 What profit has a man from all his labor
In which he toils under the sun?
4 One generation passes away, and another generation comes;
But the earth abides forever.
5 The sun also rises, and the sun goes down,
And hastens to the place where it arose.
6 The wind goes toward the south,
And turns around to the north;
The wind whirls about continually,
And comes again on its circuit.
7 All the rivers run into the sea,
Yet the sea is not full;
To the place from which the rivers come,
There they return again.
8 All things are full of labor;
Man cannot express it.
The eye is not satisfied with seeing,
Nor the ear filled with hearing.
9 That which has been is what will be,
That which is done is what will be done,
And there is nothing new under the sun.
10 Is there anything of which it may be said,

“ See, this is new”?
It has already been in ancient times before us.
11 There is no remembrance of former things,
Nor will there be any remembrance of things that are to come
By those who will come after.
The Grief of Wisdom
12 I, the Preacher, was king over Israel in Jerusalem. And I set my heart to seek and search out by wisdom concerning all that is done under heaven; this burdensome task God has given to the sons of man, by which they may be exercised. I have seen all the works that are done under the sun; and indeed, all is vanity and grasping for the wind.

15 What is crooked cannot be made straight,
And what is lacking cannot be numbered.

16 I communed with my heart, saying, “Look, I have attained greatness, and have gained more wisdom than all who were before me in Jerusalem. My heart has understood great wisdom and knowledge.” And I set my heart to know wisdom and to know madness and folly. I perceived that this also is grasping for the wind.

18 For in much wisdom is much grief,
And he who increases knowledge increases sorrow.

------------------------------------------------------

Pois é. Tudo é vaidade. Quanto mais eu medito na metáfora da ostra, mais coisas me vêm à cabeça: a ostra morre para entregar sua pérola, que vai enfeitar o pescoço de alguma madame que não faz noção do antiquíssimo e reverendo processo que a produziu. Então, "produzir" pérolas para quê? Sejamos pérolas. Contentemo-nos com o que há de precioso dentro de nós, que alguns privilegiados conseguem perceber. Se formos ostras workaholics, que precisam expelir e criar, expelir e criar, seja por vaidade, seja por sofrimento, abracemos nossa natureza: escrevamos best-sellers, sinfonias, pintemos nossa Guernica. Se não, guardemos as pérolas dentro da gente, por mais que elas doam. Nossos moluscos amados as admirarão, e se tivermos sorte conseguiremos -- o que talvez seja a nossa grande missão nesse mundo, por mais reticente à idéia de procriação que eu seja -- passá-las adiante às nossas ostrinhas. Um dia haverá o Grande Levante das Ostras Constipadas, e marcharemos do limo do oceano, cagando pérolas por onde passarmos, cegando os outros moluscos com o brilho de nossos excrementos.

Quero ver minha linhagem nesse Levante, e sorrir para ela lá do Grande Céu das Ostras.

Let's be fruitful and multiply; enquanto não dá para parir baby oysters, toquemos, como você disse, as ostras ao nosso redor -- falando, ouvindo, rindo, chorando, SENDO. Afinal, dentro de duas, com sorte três gerações, we'll be dust in the wind. Que pelo menos nossas palavras ecoem baixinho no inconsciente de nossa prole.

To happiness!

--Xochiquetzal, a Verborrágica.

P.S. - Esse post ficou uma merda porque eu me senti pressionada o tempo todo pra liberar o computador para o uso do patrão. Não julguem minha capacidade de coesão e genialidade literária por esse textículo medíocre, leitores imaginários... ou se quiserem, julguem e enfiem esse post no cu. Com sorte, daqui a um tempo vocês produzam uma pérola a partir desse pequeno grão de areia desconexo.

sexta-feira, 20 de julho de 2007


Eu ficaria com uma atualização da máxima do nosso querido e singelo Conan:

Presidente de multinacional: O que é melhor na vida?
Executivo de multinacional: Esmagar a concorrência, monopolizar o mercado e ouvir as lamentações das massas desempregadas.


Tá, foi um post escroto e não chega nem perto das elucubrações existencialistas anteriores. Eu só queria postar alguma coisa, poxa... :/

Eunucos também têm opinião.


O dia em que perdi minhas bolas.

OMG.
Você citou Conan.
Você começou um post da forma mais cheia de testosterona que eu poderia imaginar. Eu devia ter feito esse tipo de citação. Você me emasculou na frente de TODOS os nossos leitores imaginários. Você é MENINA, você devia citar Hello Kitty. Embora eu ache que Hello Kitty não fale, porque acho que ela não tem boca. Oh well...

Só me resta reconhecer sua genialidade e timing humorístico.
Você grande, eu pequeno.

Porém, do diminuto lugar onde você me colocou depois de seu post, ainda me sinto no direito de emitir opiniões sobre o assunto principal, a saber, o que importa na vida.

Adejando sem rumo pelo mar de bosta, caos e alegria que é a internet, caí num post que traz à tona o nosso conhecido fenômeno da sincronicidade; um post singelo onde o autor fala:

i want to run away.
no kidding.

i just want to wander and zigzag and tiptoe around the world for a while, and scratch it and vacuum goodness from it, to the greatest quantity i can possibly gather and grasp, just forget about success and the future and trying to `shape my life' and loss and mcdeath and micro$oft and rent and "meaning" and relationships and just:

do what really fucking matters,

which really, is each little human's personal thing. and my personal thing, my pretties, is everything! and i am not just speaking of this site, i mean everything, this entire earth, the fragrances, a sculpture, romeo and juliet, some stars, the feeling of running, a mislaid book, a weary traveler, coffee in a styrofoam cup and the energy emanating from the body of a person in love.
(Texto integral em http://www.everything2.com/?node_id=1244518)

Puta merda, mas que genial; que conforto sinto nos meus intestinos, por saber que mais pessoas nesse mundinho de deus também têm a ambição de ser uma ostra inútil.

E eu estou achando que nossa metáfora da ostra pode sofrer de um erro fundamental: as ostras nunca mostram as pérolas pras outras ostras; elas guardam as pérolas pra si mesmas. As pérolas só nascem pro mundo, só passam a existir, quando a ostra morre, separada do catarro inerte dentro da concha. Quão triste é isso? Que coisa mais absolutamente inútil é produzir pérolas que só são mostradas pro mundo depois que você morre? Isso não é uma pérola, é um câncer. Enfia o câncer no rabo.

“Do what really fucking matters”. E como você aborda de maneira espetacular, o que importa é diferente pra cada um.

Parece que a partir do momento que você consegue estar em paz consigo mesmo, você automaticamente toca algo em todo mundo que chega perto de você. E acho que foi isso que eu quis dizer quando citei o foco nos relacionamentos significativos. Importa-me muito estabelecer relações genuínas com pessoas, onde cada encontro possa deixar uma marca, onde aconteçam emoções, onde cada um se sinta um pouco mais vivo. Não me interessa ser um filósofo genial, mas me interessa ser alguém que as pessoas queiram escutar. E também me interessa ser alguém para quem as pessoas queiram falar de si mesmas, compartilhar, expor as vísceras e, ao saírem, se sentirem um pouco melhor. Nada melhor que escutar de alguém “porra, lembrei de você quando me aconteceu tal coisa” ou “fiquei pensando naquilo que você falou”. Ou encontrar do nada um velho (ou novo) amigo e os dois acharem imediatamente tempo pra ir ao boteco mais próximo, sabendo que nada poderia ser mais importante naquele momento.

Pérolas aos porcos, e às ostras. Eu quero é produzir felicidade.

Atillah

terça-feira, 17 de julho de 2007

What's best in life, Conan?


Mongol General: What is best in life?
Conan
: To crush your enemies, to see them driven before you, and to hear the lamentations of their women.

Acho que essa é uma das citações mais fodas da história cinemática, especialmente na voz empostada de AHnold. Conan rules.

No entanto, a pergunta permanece. What's best in life? O que é importante na vida?

No ponto que ocupo no continuum espaço-tempo, sou da opinião que o importante na vida é o que falta a cada um -- sou meio cética quanto a uma necessidade básica comum a todos nós. Saúde, as pessoas me dizem. Sem saúde a vida torna-se ridiculamente complicada, mas muitas vezes a falta da mesma é o instrumento do Inefável para que abramos os olhos para o que realmente importa para nós -- sucesso, família, trabalho, arte, o que seja. Relacionamentos até.

Tome meu mau exemplo: se alguém me perguntar "What's best in life, Xochiquetzal?" eu (após fazer a citação cretina de Conan, o Bárbaro) responderia: paz de espírito. Minha vida interior é tão absurdamente conturbada, meu relacionamento (or lack thereof) comigo mesma é tão violento que antes de mais tudo preciso exorcizar meus demônios, encontrar um ponto de equilíbrio e ter pela primeira vez na vida um pouco de sanidade. Sem isso, tudo o mais é falho: relacionamentos, trabalho, dinheiro, amor, espiritualidade, saúde até. Estou tão embrulhada nos fios de mim mesma que não consigo lidar com mais nada. Refugio-me nas palavras, que me proporcionam uma interface segura para me comunicar com as pessoas relevantes na minha vida. Façam o que eu digo, e não o que eu faço.

Pessoas. No funeral do meu avô percebi com uma clareza inédita que o que importa é quem você é (no caso dele, foi), o que você ensinou, o modo como tocou a vida das pessoas ao seu redor -- quer tenha se relacionado com elas ou não. Meu avô foi um homem verdadeiramente sábio e bom -- coisa rara hoje em dia -- e mesmo na decrepitude dos seus últimos anos, preso a uma cama há quase uma década e já senil, continuou a construir seu legado apenas sendo: ao suportar sua condição clínica sem uma reclamação, ao se submeter a coisas "humilhantes"como depender dos outros para ir ao banheiro, comer e tomar banho, com um sorriso no rosto. Ao produzir pérolas -- ostra contorcida porém sorridente que era -- que me iluminam o caminho até hoje.

Ser ou não ser. O quê, eis a questão. Creio que ter é acessório do ser, e quanto mais você é menos você precisa ter para ser verdadeiramente feliz. Concordo que o desejo seja parte integrante de nós e não possa ser vendido separadamente, mas talvez hoje em dia o grande problema é confundir o desejo de ser com o de ter. Não nasci para asceta e quero ter muitas coisas, lugares e pessoas. O problema é que enquanto eu não for alguém (e não o sou), o que possuo são pérolas (OSTRA!) aos porcos. Como usufruir dos prazeres da vida sem a capacidade de apreendê-las em sua totalidade? Preciso aprender a ser de modo a apreciar o ter, o estar e o devir.

Coisas são coisas, e ficar correndo atrás delas é tão ridículo como o cara de "How High" dando ataque de pelanca: they... they took my BABY! OH GOD! Don't go forward! Oh my horn! Don't put it in the trunk --- THAT'S NOT YOURS! Será sintoma da minha sociopatia relativizar isso dizendo que relações são relações, interações que simplesmente SÃO, indo e vindo de modo oceânico, fora de nosso controle? Coisas são coisas, pessoas são pessoas, relações são relações. A cada uma sua devida importância, sua intensidade, seu tempo. Algumas pessoas que julgamos essenciais permanecem conosco por muito tempo -- mas depois se vão. Apegar-se a elas, no meu ver, não é muito diferente de apegar-se a coisas.

Impermanência, mais uma vez.

No final, temos apenas a nós mesmos, e o que nos falta. E no nosso caminho do berço ao túmulo, temos as pessoas que nos acompanham -- dançando, correndo, se arrastando, carregando-nos no colo. Aproveitemo-nas enquanto companheiras de viagem, e preparemo-nos para o inevitável momento em que nossos caminhos divergirem. In the meantime, let's try and have fun.

So it goes.

--Xochiquetzal.

Mas bom mesmo é ser inútil / Goodbye old red bike


A bicicleta vermelha  não é importante

O feliz e humorístico post contendo o excerto de “How High”, de fato me traz lembranças felizes à mente, e muito propositadamente levanta a questão: o que é importante na vida?

Eu decidi que importante na vida são as relações. O resto é besteira.

Não significa que o indivíduo, idiotamente, abra mão de ter uma bicicleta vermelha; ao contrário do que dizem taoístas e budistas, TER coisas é importante na vida. Ter papel (macio) pra limpar a bunda, ter um vídeo-game, ter dinheiro pra viajar, ter uma televisão grande e sistema de som decente pra assistir novela das oito. Besteira é achar que se vai conseguir abrir mão de todos os prazeres terrenos e viver apenas da luz do sol. O desejo é constituinte desde o nascimento. Abandoná-lo é também abandonar a parte mais humana que temos,

Porém, é idiota também ficar correndo atrás da sua bicicleta vermelha. Ela é só uma coisa pra te levar de um lado pro outro. Você que a transformou em um fetiche, em um objeto de desejo, em uma materialização bizarra e enfeitada de todas as outras coisas que você não tem na vida e acha que precisa.

Porque quando você investe um objeto de tanto amor e então você perde esse objeto, você fica desesperado. Coisas são só coisas. Deixa essa porra pra lá. Depois você compra outra.

Mas o que você não compra são relações. Relações significativas, quero dizer. Ter alguéns com quem conversar, comer, beber e olhar a vida passar. Relações em primeiro lugar. Ter coisas só é importante se for pra melhorar ou aumentar o número de relações.

Se você está deixando de ter relações pra trabalhar demais e comprar coisas, você está fazendo algo errado. Se você tem muitas coisas e poucas relações significativas, você está fazendo algo errado. Pare, respire, repense.

Eu não quero ser uma ostra angustiada e produtora de pérolas. Eu quero ser uma ostra inútil, consumidora dos recursos do mar e feliz. Enfia a pérola no rabo.

Atillah

segunda-feira, 16 de julho de 2007

BICYCLE... BICYCLE....

Já que nossos ghost-writers não estão muito dispostos a postar ultimamente, fica esse clip do filme "How High", de tanta significância existencial e humorística para mim e para os meus:



THAT`S NOT YOURS!!!!!!!!

Remember friends... life is nothing but a pimped-out red bicycle!

So it goes,

--Xochiquetzal.

sábado, 14 de julho de 2007

Singela, No Entanto Não Menos Significativa, Nota Alcoolizada:



Bêbada de vodka barata (R$ 4 o litro) combinada com Tang de morango, em verdade vos digo:

PROCURAI UMA TORRENT COM TODOS OS ÁLBUNS DA BANDA GOV'T MULE E BAIXAI, E TERÁS O REINO DOS CÉUS.

Abençoados são os que gostam de blues e Southern Rock, pois estes sentarão à direita (de quem entra) do Pai.

Amém,

--Irmã Xochiquetzal, a Ébria.

Blue Öyster Cult

Expresso meu protesto ao seu copy/paste post com essa ginecológica imagem de uma pérola sendo extraída de seu ninho catarrento. "Ostra" por si só soa como um palavrão... "Vai tomar no cu seu OSTRA!"

Meu primeiro fim de semana de semiférias e estou completamente burnt out, destruída, deprimida, gorda, sem perspectivas, NO FUTURE. Nem Stevie Ray Vaughan, meu Noivo Cadáver, me faz sorrir. Estou totalmente Blue Oyster. Ô ostra...

Copy/paste merece citação. De Pessoa. Então toma, ó:

"Escrevo-lhe hoje por uma necessidade sentimental -- uma ânsia aflita de falar consigo. Como de aqui se depreende, eu nada tenho a dizer-lhe. Só isto -- que estou hoje no fundo de uma depressão sem fundo. O absurdo da frase falará por mim. Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro (...) Em dias da alma como hoje eu sinto bem, em toda a minha consciência do meu corpo, que sou a criança triste em que a vida bateu."

Bate mais que eu gamo, Fernandinho:

"Tanto tenho vivido sem ter vivido! Tanto tenho pensado sem ter pensado! Pesam sobre mim mundos de violências paradas, de aventuras tidas sem movimentos. Estou farto do que nunca tive nem terei, tediento de deuses por existir. Trago comigo as feridas de todas as batalhas que evitei. Meu corpo muscular está moído do esforço que nem pensei em fazer."

E tenho/teve dito. "O Livro do Desassossego" foi escrito por mim. Às vezes suspeito, com a falsa modéstia que me é particular, que fui Fernando Pessoa em minha vida passada -- ao ler "O Livro..." tenho certeza disso. Fica a pergunta: que merda eu fiz no mundo espiritual enquanto penava entre 1935 e 1980 pra voltar à carne como uma ostra, apenas uma ostra, nada mais do que uma ostra?

Pior do que isso, uma ostra que está mais para mexilhão?

Molusco maldito, bivalve bizarro, tua estirpe não vingará!

So it goes.

--Xochiquetzal.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Cenas da vida privada/Pérolas do msn


Xochiquetzal - Kneel Before ZOD! diz:
falando em pérolas, olha só que boa: "Ostra feliz não faz pérola".

Atillah - badassmofo diz:
nunca tinha ouvido essa

Atillah - badassmofo diz:
muito boa

Xochiquetzal - Kneel Before ZOD! diz:
Mas eu não quero ser uma ostra feliz. ostras felizes terminam goela abaixo com limão, fora o fato de serem um catarro com concha.

Atillah - badassmofo diz:
eu tenho minhas dúvidas sobre ostras felizes

Atillah - badassmofo diz:
por que, tipo, se a ostra do lado produz uma pérola, a que não produz não vai ficar feliz enquanto não fizer uma igual

Atillah - badassmofo diz:
ainda que saiba que precise ficar infeliz, com um objeto estranho em si mesma pra produzir uma pérola

Xochiquetzal - Kneel Before ZOD! diz:
Mas só as ostras infelizes produzem pérolas. Elas sofrem, sentem dor, contorcem-se com aquele grão de areia dentro delas... e acabam expelindo, parindo, a pérola.

Xochiquetzal - Kneel Before ZOD! diz:
Prefiro sofrer de modo a deixar pérolas por aí do que ser um mero e feliz catarro de concha.

Atillah - badassmofo diz:
você prefere ser um catarro sofredor do que um catarro feliz. Você realmente está dizendo isso?

Xochiquetzal - Kneel Before ZOD! diz:
Beem, desde que meu sofrimento produza algo que brilhe.

Xochiquetzal - Kneel Before ZOD! diz:
Nem que seja um pouquinho.

Atillah - badassmofo diz:
você é esquisita


So It Goes...


... comentando seu último e excelso post sobre amizades:

Suspeito que o que escrevo reflita minha sociopatia/misoginia/atitude blasé/pura arrogância em relação aos commoners que me rodeiam, but so it goes: eu não me incomodo com amizades natimortas, as pessoas que chegaram aos tropeções às margens da minha vida, observaram o fluir dos acontecimentos, os seres estranhos que nadavam na corrente, colocaram o pezinho na água para ver se estava fria e deram para trás. Para ser mais franca ainda, chego a não registrar a presença dos poucos que deram uns mergulhos, achavam que podiam aguentar a temperatura, o lodo e os peixes estranhos, e depois saíram correndo pedindo arrego para a toalha.

Minhas águas não são para os fracos. Já sofri muito ao observar o mudaréu de gente espanando nas águas estagnadas dos outros, já quis ser olho d'água, laguinho, ter girinos, lambaris -- existir repleta da vida que bóia em água parada. Mas quem nasceu pra rio não dá pra açude; em algum momento durante minha crise dos vinte e poucos anos resolvi parar de me martirizar por tudo que eu não sou e aceitar o que há de caudaloso, traiçoeiro, barrento e fugidio em mim. Still waters run deep my ass; you never get into the same river twice.

Muita gente interessante passou por mim, e pouca permaneceu. Talvez por eu ser tapada por natureza, o Inefável sempre tornou óbvio quem pertencia ao meu acervo e quem era pulp fiction; já dei com os burros n'água ao ler uma pessoa promissora por capítulos a fio apenas para descobrir mais uma coleção de clichês, de espiritualidade Paulo Coelho ou densidade Sydney Sheldon. Doeu, mas deixei o livro-pessoa de lado, não-terminado --natimorto. Sem dó. Nosso tempo nessa terceira rocha a partir do Sol é muitíssimo limitado para ser desperdiçado com má literatura. Leio e jogo fora, ou leio e repasso para um incauto, ou -- the horror! the horror! -- vendo mesmo para um sebo em busca de algum retorno do investimento emocional.

Prefiro meu seleto grupo de clássicos, meu Top Ten of the World's Finest Crazy Persons que releio, memorizo, guardo no coração para referências e alusões mesmo na ausência. Meus Pequenos Príncipes, meus Quixotes, meus poetas urbanos -- sou grata a cada um deles por terem sido capazes de navegar minha vida tão corrida, suportar minhas vazantes... sou pessoa de poucos amigos, reclusa por opção, chata pra caralho e com a graça social de um Chefe-Guerreiro Viking; os amigos que permanecem do meu lado (muitas vezes beeem distantes da margem pra não serem respingados pela fúria do meu existir) são valorizados e queridos -- do meu jeito meio ogro, mas creio que eles me entendam.

Nos últimos quatro anos, a fabulosa internet, além de ter me conseguido um marido, resgatou das profundezas do orkut um amigo-irmão querido (TC, you know who you are!). Adicionei-o sem medo à prateleira. O trabalho -- felizmente no meu meio a quantidade de pessoas sui generis é grande -- adicionou outros, alguns marcantes e dignos de notas de rodapé, outros, thrillers bem escritos. No mais, a biblioteca dos meus afetos está fechada para balanço, indefinidamente.

"Mas nossa, que radical, olha quanta gente legal você deixa de conhecer com essa atitude elitista imbecil e essa sua personalidade escrota!" Com certeza. Ainda conheço pessoas, leio livros novos, emociono-me com tudo. Meu problema é preferir intensidade a quantidade. No meu universo hiperativo e psicótico administrar relacionamentos é um desafio. Prefiro manter os que tenho e deixar os outros à margem (até que se prove o contrário) do que me tornar represa de um monte de gente que jamais conseguirei suportar.

Estou aprendendo a inumana arte de não olhar para trás, como a mulher de Lot. Che sera, sera; meu top ten permanece o mesmo até hoje. A ordem de seus elementos muda, as releituras, a compreensão do texto, de suas maravilhas e lacunas; mas eles estão sempre lá. As obras que somem, emprestadas para algum ladrão de livros fidaputa, sempre retornam à fonte, quando o momento é propício. As que não retornam, bem, espero que encontrem prateleiras que as sirvam de abrigo. Quanto aos ladrões de livros, que Éris destrua a todos de modo humorístico e ignominioso.

Impermanência. Love it or grieve it. Nada "é para ser". As coisas são ou não são -- essa é a questão.

Bonito isso -- eu deveria escrever livros de auto-ajuda. Às vezes eu quase me convenço de que escrevo a verdade, o que é um grande feito; mas na maioria dos casos, termino meus textos-reflexões com a sensação tão burilada por Pessoa -- uma foz:

"Afinal, isto bem me contentaria, se eu conseguisse persuadir-me que esta teoria não é o que é, um complexo barulho que faço aos ouvidos de minha inteligência, quase para ela não perceber que, no fundo, não há senão a minha tristeza, a minha incompetência para a vida."

-- O Livro do Desassossego

So it goes.

--Xochiquetzal.


quinta-feira, 12 de julho de 2007

Amigo de verdade é igual bunda, todo mundo tem.


Amigo de verdade tira sua foto e põe na net, pra ver se da próxima vez você fica mais esperto.

Aproveitando o tema de natimortos...

- Mas então guria, e aquela amizade bonita que a gente nós podíamos ter hein?
- Ah, pois é. Nem deu.

Ter um amigo de verdade é fácil.
Fácil.
Basta você ser você mesmo, ainda que todo mundo te odeie. Uma hora dessas você vai bater de cara com outro ser vivente tão desajustado como você, e vocês vão virar amigos. É meio inevitável; é como o movimento das ondas, a alta dos preços, a corrupção dos políticos, cagar depois da janta, essas coisas impossíveis de evitar.

Pode ver. Qualquer débil mental tem pelo menos um amigo de verdade. Qualquer intelectual tem um amigo de verdade. Qualquer féladaputa tem um amigo de verdade. Até você. Com um pouco de sorte você encontra mais uns dois ou três pela vida. Mas um você tem. É uma lei universal. Aquele que você conheceu quando era criança. Aquele que vai segurar a alça do seu caixão. Amigo de verdade.

Mas e as quase-amizades? O amigo de verdade natimorto? Aquela amizade que você achou que era, mas não foi e nunca será?

Você sabe do que eu tô falando? Você já sentiu a sensação dolorosa de ver uma pessoa muito legal se esvaindo por entre seus dedos? Daquelas pessoas que aparecem do nada, que você dá uma olhada, acha interessante, mas é melhor deixar pra lá, afinal, você já é casado. Ou não tá a fim de fazer social naquele momento.

Mas seu desdém provoca o inefável, que bota essa pessoa no seu caminho de novo. Numa situação altamente improvável, lógico, tipo fila do banco, trabalho em dupla na faculdade, acidente de trânsito. Esses eventos que o inefável apronta pra tornar tudo ainda mais exótico, pra criar aquele sentimento sacana do tipo “nossa, acho que era mesmo pra gente se conhecer!”. Destino filha da puta.

E daí você começa a conversar com o indivíduo/indivídua e tudo fica muito legal, e você começa a pensar “nossa, que puta pessoa gente boa essa!”, e papo vai, papo vem, cafés e cervejas passam por diferentes mesas juntos e ... já foi mano; você está apaixonado. Você nem viu o caminhão que te atropelou. Inapelavelmente preso a uma pessoa legal.

E quando você está pensando em botar essa pessoa em definitivo pra dentro da sua vida, no seu livrinho de meia página intitulado “meus melhores amigos”, você se toca que não vai ser tão fácil assim. Que você trabalha demais, que suas aulas juntos acabaram, que ela vai se mudar, que ele casou com outra, que o boteco que vocês freqüentavam fechou. E o contato entre vocês vai minguando. E as conversas ficam mornas. E já se encontram só muito de vez em quando. E aquele relacionamento fica no eterno vir-a-ser.

É um momento triste esse, onde você se toca do fim precoce de uma quase-amizade. Sempre dá pra forçar a barra, claro. Sempre dá pra aparecer de surpresa, convidar pra sair, ligar no meio do dia, mas não é a mesma coisa. Porque nessa hora você pensa que seus amigos de verdade nunca precisaram de esforço nenhum pra virararem amigos de verdade. Deixa pra lá. “Não era pra ser”, você pensa, tentando se confortar.

Mas, é claro, você nunca vai saber.

Atillah

quarta-feira, 11 de julho de 2007

"Vontade de cantar. Mas tão absoluta / que me calo, repleto." -- Canto Esponjoso, Drummond.


"Canto Esponjoso". Título forte.

Uma das minhas taras, além do conhecido fetiche por livros e do calunioso tesão por cadáveres, é por títulos atraentes, expressivos, descritivos, brutais e líricos:

Something Wicked This Way Comes
Sound and Fury
Cat's Cradle
Night Falls Fast
Tender is the Night
Invisible Cities...

... e a lista se estende ad infinitum. Já comprei livros, belos e bestas, pelo título. Já deixei de ver filmes pelo mesmo motivo, julguei pessoas pelo nome. Num raro momento de ausência de pensamento crítico, há uns 13 anos atrás, cheguei a responder a um anúncio colocado em uma revista de RPG (estavam achando que eu não tinha motivos para esconder minha verdadeira identidade, leitores fantasmas?) procurando "correspondência com minas que curtam RPG" -- as palavras exatas as comeram as traças há tempos. O autor, um cara --menino -- com um nome anacrônico, o sobrenome chique niponizado por um erro de impressão.

O título desse rapaz era atraente como "O Doce Veneno do Escorpião", brutal como um livro de receitas, lírico como um manual de estatística. Mas, num momentary lapse of reason, adquiri o mancebo para meu acervo.

O moço virou meu livro de cabeceira. ProTeteu, metamorfoseou-se em tantos títulos significativos, em mais de uma década de leituras em comum... de Entrevista Com o Vampiro a Grande Símio Negando a Morte, passeando por todas as correntes literárias e de pensamento -- algumas imaginárias, outras imaginadas. Bukowski maldito, Bíblia Sagrada.

Eu, Juíza Final de Pessoas pelo Título e Livros pela Capa, carrego esse homem de bolso aonde quer que eu vá, querendo ou não, desde então.

He, who once said "I really need a girl like an open book / to read between the lines", got more than he had asked for.

E seguimos, relendo um ao outro na distância disfarçada dos livros, cartas, mensagens. Criticando, reescrevendo, amassandojogandofora, enviando e recebendo palavras. Palavras, desde o início, foram nossa pedra de Bolonha.

Títulos podem ser enganosos. Ou não.

Vou parar por aqui antes que me transforme em Lord Byron ou -- Éris me livre -- Goethe. Para arrematar esse arroubo blogger, mais uma de Drummond:

"Chego à conclusão de que escritor é aquele que não sabe escrever, pois quem não sabe escreve sem esforço..."



E para meu estudioso da alma humana e profundo conhecedor do sarcoma que corrói a minha, fica a frase de Musset:

"Toda a doença do século presente provém de duas causas que provocam no povo duas feridas: tudo que era deixou de ser, tudo o que será não é ainda"

Meus Fetiches, Taras & Perversões Afins estão longe de serem infundados.

Cadáveres não.

Às pedras no meio de nossos caminhos!

-- Madame X.

Nasce um blogger


Ilustres leitores imaginários,

As palavras faltam para descrever a emoção de escrever. Descrevo, portanto, em forma de poema meus agradecimentos à essa menina que me convida para afundar de vez esse pequeno blog natimorto.

À você
Pequena Menina-Flor
Escritora
Guerreira
e
com tesão por cadáveres

Brilhante
Pura
feito roupa lavada com Omo
Mas sua chama queima demais e muito rápido
e você vai acabar
logo

E também você vai pro cemitério
cumprir sua função de musa
sai da vida pra eternidade
e enquanto isso me usa

me usa pra justificar
a morte desse pequeno blog
nascido do amor
alimentado no sarcasmo
morrido em lágrimas e gargalhadas desesperadas

Obrigado. Awesome.

Atillah - O Poeta

P.S. Eu coloquei um cu no começo do post, porque achei que daí em diante ele só podia melhorar. Ainda bem que tudo terminou bem.

Homem Voa 193 Milhas Numa Cadeira de Jardim Suspensa por Balões de Festa

Saudações, Leitores Imaginários!

Eu sou uma alienada no tocante ao noticiário -- minha vidinha mais ou menos já é tumultuada demais sem os horrores do Oriente Médio, crimes de todo tipo, fofocas sobre "celebridades" e sensacionalismo mantendo-me refém da incerteza.

Não preciso disso. Meu parco tempo livre é dedicado à leitura de livros, à música, aos meus gatos. Fico sabendo dos últimos escândalos através dos meus alunos ou, mais frequentemente, do meu marido -- que passa uma considerável parte do seu tempo lendo notícias online e indignando-se com as mesmas. O clichê permanece: os opostos se atraem.

Mas há a vida. E há poesia, há inocência e maravilha, mesmo nos arcabouços da cnn.com. Achei a seguinte notícia bonita demais pra ser fato. Coisa de livro infantil, de história em quadrinhos, de aquarelas do inconsciente.

Imaginem a paz.

--Madame X.


Original: http://www.cnn.com/2007/US/07/10/flying.lawn.chair.ap/index.html

Man flies 193 miles in lawn chair

  • Story Highlights
  • Man uses 105 helium balloons for lift, plastic bags of water for ballast
  • Kent Couch, 47, flew 25 mph while wife, dog followed in car below
  • In 1982, Larry Walters flew lawn chair three miles above Los Angeles

BEND, Oregon (AP) -- Last weekend, Kent Couch settled down in his lawn chair with some snacks -- and a parachute. Attached to his lawn chair were 105 large helium balloons.

Destination: Idaho.

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Balloons suspend Kent Couch in a lawn chair as he floats in the skies near Bend, Oregon, on Saturday.

With instruments to measure his altitude and speed, a global positioning system device in his pocket, and about four plastic bags holding five gallons of water each to act as ballast -- he could turn a spigot, release water and rise -- Couch headed into the Oregon sky.

Nearly nine hours later, the 47-year-old gas station owner came back to earth in a farmer's field near Union, short of Idaho but about 193 miles from home.

"When you're a little kid and you're holding a helium balloon, it has to cross your mind," Couch told the Bend Bulletin.

"When you're laying in the grass on a summer day, and you see the clouds, you wish you could jump on them," he said. "This is as close as you can come to jumping on them. It's just like that."

Couch is the latest American to emulate Larry Walters -- who in 1982 rose three miles above Los Angeles in a lawn chair lifted by balloons. Walters had surprised an airline pilot, who radioed the control tower that he had just passed a guy in a lawn chair. Walters paid a $1,500 penalty for violating air traffic rules.

It was Couch's second flight.

In September, he got off the ground for six hours. Like Walters, he used a BB gun to pop the balloons, but he went into a rapid descent and eventually parachuted to safety.

This time, he was better prepared. The balloons had a new configuration, so it was easier to reach up and release a bit of helium instead of simply cutting off a balloon.

He took off at 6:06 a.m. Saturday after kissing his wife, Susan, goodbye and petting his Chihuahua, Isabella. As he made about 25 miles an hour, a three-car caravan filled with friends, family and the dog followed him from below.

Couch said he could hear cattle and children and even passed through clouds.

"It was beautiful -- beautiful," he told KTVZ-TV. He described the flight as mostly peaceful and serene, with occasional turbulence, like a hot-air balloon ride sitting down.

Couch decided to stop when he was down to a gallon of water and just eight pounds of ballast. Concerned about the rugged terrain outside La Grande, including Hells Canyon, he decided it was time to land.

He popped enough balloons to set the craft down, although he suffered rope burns. But after he jumped out, the wind grabbed his chair, with his video recorder, and the remaining balloons and swept them away. He's hoping to get them back some day.

Brandon Wilcox, owner of Professional Air, which charters and maintains planes at the Bend airport, said Couch definitely did it. Wilcox said he flew a plane nearby while Couch traveled and took photos of the flying lawn chair.

Whether Couch will take a third trip is up to his wife, and Susan Couch said she's thinking about saying no. But she said she was willing to go along with last weekend's trip. "I know he'd be thinking about it more and more, it would always be on his mind," she said. "This way, at least he's fulfilled his dream."



terça-feira, 10 de julho de 2007

Fiat Lux

Popping the cherry! Dando início às nossas atividades literárias, aguardo a colaboração dos convidados enquanto termino de arrumar essa bagunça e deixar o visual nos trinques.

Step into my parlor, said the Spider to the Fly...

--Xochiquetzal.