sexta-feira, 31 de outubro de 2008

This is Halloween



Desejo muitos outros Halloweens felizes a você, com mais treats do que tricks (se bem que life's no fun without a good scare), e 'bora continuar assustando geral.

Deixo-lhe de presente uma musiquinha:



I am the clown with the tear-away face
Here in a flash and gone without a trace

I am the "who" when you call, "Who's there?"
I am the wind blowing through your hair

I am the shadow on the moon at night
Filling your dreams to the brim with fright

This is Halloween, this is Halloween
Halloween! Halloween! Halloween! Halloween!
Halloween! Halloween!


Espero que não tenha(m) nada contra Tim Burton.

Happy B... Halloween pra você, X. :)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Saussureando







Nosso mano Ferdinand de Saussure estava mais do que certo quando afirmou que "o ponto de vista cria o objeto": nossos pontos de vista absolutamente díspares quanto ao tempo e seu efeito (não mencionarei os guturais da Bel nem meus tuntz porque QUEM AMA, TOLERA) são prova disso. Xochiquetzal angustiada e seu desespero existencial que a tudo abarca; Bel rindo bêbada para o Tempo, seduzindo-o com sua objetividade hedonista que a tudo ilumina; Atillah amargurado, corroendo o Espancando com o niilismo acerbo de um post que, na minha opinião, foi um dos melhores da história deste blog.

Bel, suas memórias de curumim gordinho me encantaram. Sua enxurrada de experiências me assustou, me fez pensar nas minhas e em um de meus credos semi-inconscientes: "eu não vivo, passo perrengue". Eu não tenho uma lista bonita como a sua: tenho uma sucessão crescente de roubadas, de tempos sofridos, não vividos -- o que, obviamente, não passa de um ponto de vista. Algumas pessoas acham a minha vida fascinante. Queria ser como elas.

Mas Atillah, mano véi: hats off to you. Clothes off to you, dammit. Pode ser apenas meu ponto de vista, mas ó: que TESÃO de texto.

Incomparável. Irreversível.

Mas então.Na última segunda-feira meu pai passou por aqui e me levou pra almoçar e conversar. Temos um pequeno problema genético que nos impede de controlar o volume de nossas vozes: eu falo alto e meu pai urra. Quando estamos conversando, às vezes as pessoas vêm me perguntar se eu estou bem, ou pensando que têm que apartar porque é briga. Berro vai, berro vem, gritamos sobre o (ó Deus) Caso Eloá, ambos concordando com a inépcia da polícia, com o absurdo do policial que justificou o fracasso da operação com o fato do crime ser "passional, tratando-se da vida de UM jovem" quando a prioridade seria preservar a vida da garota. Atirador de elite no moleque, os miolos DELE na parede, fim de história. Mas não.

Colocassem um atirador ali, o pessoal dos direitos humanos viria correndo espavorido. Matassem o moleque, the horror! the horror! Tadinho do bandido! Sou apolítica, tento pender pra esquerda, mas confesso que BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO. Meus dezesseis anos de Rio-Cidade-Desespero nas costas me permitem afirmar isso.

Ao sairmos do restaurante, um senhor parrudo de rosto muito vermelho nos parou:

"-- Vocês me desculpem o incômodo, mas eu não pude evitar de ouvir a sua conversa e gostaria de dizer uma coisa... eu fui policial militar por muito tempo, trabalhando em operações especiais..."

Pensei: fodeu. Vamos ouvir uma ode à polícia brasileira de um homem gigantesco e obviamente inflamado pelo que tinha a dizer. Contendo as lágrimas, o cara pegou no braço do meu pai e disse:

"-- ... na minha última operação, um assalto a banco, o gerente foi morto pelos criminosos. Ao invadir o banco eu apaguei três deles. Depois fui saber que um era pára-quedista militar e os outros dois eram membros da corporação. Fui afastado do meu cargo, respondi a processo e por pouco não recebi uma sentença de setenta e dois anos. Larguei minha carreia por desgosto do que aconteceu. O gerente do banco ainda está embaixo da terra, sua mulher ficou viúva e seus filhos órfãos. Hoje eu trabalho numa confecção, com a minha mulher. Se mais pessoas tivessem o seu ponto de vista isso não teria acontecido."

Fiquei pasma. Meu pai conversou mais um pouco com o cara, deu um abração nele, e fomos embora.

O ponto de vista cria o objeto. Pontos de vista são altamente perigosos, pois criam insidiosamente. E criam muito, feito coelho.

No domingo anterior, Dia da Marmota, modorra de sempre, ligo a TV para ver o "Momento Amy Winehouse" do Pânico, mimijando como de hábito. Após a fúria de Amy, fui ver o que estava passando no Fantástico além da Patrícia Poeta e me deparei com uma reportagem sobre a cólica menstrual e seus efeitos sobre a produtividade feminina. Durante a visita a uma confecção, o dono, de rebenque na mão, inspecionava as mucamas empregadas, sorrindo felizes em suas máquinas de costura, comentando alegres a respeito do prêmio quinzenal que ganham se não perdem dias de trabalho por motivo de saúde. A natureza do prêmio não foi mencionada. Espero de todo coração que seja algo que compense o rebenque nas mãos do capataz, como um jogo de Tupperware ou de panos de prato com citações bíblicas para cada dia da semana.

No final, o repórter entrevista uma moça empacotadeira de supermercado e pergunta o que ela faz para suportar oito horas de pé quando tem cólicas menstruais:


"Eu canto", respondeu a moça.

O ponto de vista criando o objeto.

Cantando,

--Xochiquetzal.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Le temps détruit tout


O tempo a tudo destrói.

Tempo-tic

Tempo-tac

Uma salva de palmas ritmadas de um em um segundo, uma salva de palmas para o primeiro motherfucker que resolveu começar a contar o tempo. O tempo não existia, e o homem viu que era bom. Ele podia chegar em casa trêbado e sua mulher nunca saberia se era cedo demais ou tarde demais. Porém, num momento de desatino alcoólico alguém gritou “Faça-se o tic, faça-se o tac”, e nossa história de miséria humana começou oficialmente, com a precisão exata de um grão de areia escorrendo lépido na ampulheta. Agora podemos nos foder com todo o tempo do mundo. Tempo de sobra para sofrer. Segundos intermináveis que se empilham em minutos e horas e dias e anos e, principalmente, se juntam para virarem morte.

Tempotic -Tempotac

Tempocaixão

Vou contar um lance bem lôco pra vocês: o tempo não corre, ele se empilha. O tempo se junta e faz peso nos ombros, nas costas, na cabeça, e eventualmente comprime o coração. Impossível não sentir a compressão. Dizem que o tempo passa rápido demais nos dias de hoje. É mentira. O tempo não passa nunca, a presença dele é constante; ele chega de longe, se instala do lado da tua cama e fica ali te assombrando. Os segundos não me escorrem pelas mãos; eles chegam de algum lugar, como os raios de luz, como o vento soprando sem destino, chegam e me atingem o TEMPO TODO. TODO o TEMPO do mundo me atingindo. Tempo demais, tempo excessivo, tempo insustentável.

Tic...Tac...tic... tac, tic-tac, tictac, tictactictactictacitcaicacicaccccccc...Morri.

Porque a vida, minhas queridas companheiras de jornada, a vida é uma marcha inexorável para o fim. E no fim não tem um “fim” escrito, como nos livros que adoramos. Não tem um “fim” porque só acaba para nós. Life goes off, time goes on. On and on. Nós acabamos, mas tempo não tem fim. Quem precisa medir o tempo somos nós, porque o fim se aproxima. Ele sempre se aproxima. Esteja preparado para o seu fim, porque ele não tem hora pra acontecer. O fim não carrega relógio, o fim não tem celular, o fim não tem nenhum outro compromisso a não ser pegar você. O fim não trabalha, o fim não dorme, o fim não tem dinheiro. Mas ele vem à galope.

Ao fim e ao cabo da foice, o que nos resta? Nada resta, porque é o fim. Então, só temos o que vem antes do fim, vamos aproveitar bem. E eu sou niilista e hedonista pra caralho. Mas aí também não sei não. Não sei se tenho tempo pra ser alguma coisa. Vai ver esse negócio de ficar tentando ser alguma coisa é perda de TEMPO. A gente fica tentando ser alguma coisa e o tempo ri de nós, porque não interessa o que você seja agora, daqui a pouquinho você não vai ser nada de novo.

O tempo a tudo destrói.

Mas isso não é motivo pra se sentir mal. É bom que as coisas terminem. E mesmo que não seja bom, não faz diferença, porque elas terminam de qualquer modo. É bom ser niilista e entender que não importa o que você acha das coisas. Elas continuarão sendo o que sempre foram apesar de você.

Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Torça para você estar lá. Torça para você estar lá e poder aproveitar mais um pouco. Aproveite com todas as forças. É bom ser hedonista e entender que não importa o que acham de você, porque no fim todo mundo termina do mesmo modo. Você sempre será o que sempre será, apesar dos outros. O tempo a tudo destrói.

Queridas, um brinde ao tempo:

tin-tin

tintic-tintac.

love grace tolerance

Atillah

sábado, 18 de outubro de 2008

TUNTZ TUNTZ TUNTZ




Talamasca: Psycz

Porque eu ainda quero morar numa rave.

Trance é vida, trance é saúde. Seja feliz, escute trance [/bacon].

E porque um dia eu arrasto essa muié pra uma. Rave.

Tuntzing,

--Xochiquetzal, a Química.

P.S. - Tipo isso aqui, ó:


Skazi - Acelera

PUTAQUEPARIUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Metáu is dê ló

X. e Atillah, as músicas que vocês postam aqui sempre são muito bonitas e poéticas. Como boa delinqüente que gosta de pichar monumentos históricos, vandalizarei o ar romanceado e literário do Espancando. Agora que também mando nessa bagaça, me sinto no direito de postar mais um pouco de DESTRUIÇÃO e agressividade verbal gratuita (em nome dos excelentes instrumentais) só porque adorei essa música:



Já que agora dividimos esse cafofo, vou pendurar meu pôster de um bode mastigando um pentagrama invertido sobre as chamas ardentes de Satã BELzeboss detrás da porta, tá? Se não quiserem que as visitas vejam, é só deixar a porta aberta e encostada na parede.

Beijo, vou ali fazer purê de criancinhas ;*

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Tempo, mano velho



(essa é clássica, não podia faltar num diálogo sobre tempo)

Cara amiga, cada vez mais me surpreendo com nós duas. Tão iguais em algumas horas, a ponto de uma gritar prá outra frases amigáveis do tipo SAI DA MINHA CABEÇA, SUA PSYCHO. Tão diferente noutras coisas... como essa questão do tempo. É uma dança de pêndulos, que se aproximam e se afastam ao intercalar de cada segundo, tiquetaqueando sincronicamente, cada uma com seu passarinho na janela gritando CU-CO! CU-CO! CU-CO! de maneira irritante, entre outras coisas menos agradáveis que eles insistem em gritar a cada hora que vemos escoar.
É foda, né? Será que tem como trocar esse cuco por um tico-tico no fubá?

Eu rio do tempo. Sério, eu me dou esse luxo enquanto sou jovem e, teoricamente, tenho muitos anos pela frente. Teoricamente.
Eu rio do tempo, porque ele tem que se esforçar muito prá fugir da minha sede. Você disse "tenho vida de sobra nas mãos, sem ter a menor idéia do que fazer com ela". Quer uma sugestão do que fazer com essa vida? Chupa lascivamente cada cantinho, lambe, beija, esfrega na face, nas bochechas, no pescoço, nos seios e, depois, engole tudo de uma vez.
Como eu disse, o tempo tem que se esforçar prá fugir da minha sede. Você tem vida de sobra nas mãos e não sabe o que fazer com ela, enquanto a minha vida mal cai em minhas mãos e eu já a engulo aos borbotões (foi você mesma que disse "tão novinha...", não foi?)
Vocês bem sabem, o que me mata da rotina é saber que não estou aproveitando meu tempo da melhor forma que eu poderia, e sem ganhos posteriores interessantes. O tempo é curto, o tempo acaba, o tempo nem sempre é dinheiro, o tempo nos fode com pimenta ao invés de KY, o tempo escoa nossos grãozinhos de areia por aquele buraquinho minúsculo da ampulheta. E é tão tragicômico, ser um grãozinho na ampulheta e nada mais.
Tão tragicômico que acho perda de tempo você perder tempo se perguntando o que você quer da vida.
Fora o Obama, que responderia "ser o primeiro presidente negro afro-descendente dos Estados Unidos da América", pouca gente sabe o que quer da vida. E é uma coisa tão simples de resolver, tão infantilmente rasa que é difícil de acreditar que o máximo que a gente pode querer da vida é viver. Sério mesmo. Agora sobre a pergunta viver? mas COMO?, já não tenho tantas respostas óbvias e clichês assim.

Com minha auto-terapia de conversar em voz alta de frente prá parede, descobri que grande parte das minhas angústias começam quando me dou conta de que estou perdendo algo muito melhor que está logo ali, ao alcance da minha mão. Como você estar em casa sábado a noite fazendo um trabalho chato enquanto seu vizinho do apartamento de cima dá uma festa do caralho. ISSO é deixar o tempo escoar. Funciono na base pavloviana de ser condicionada via estímulo-recompensa, e não ver recompensas CLARAS quase sempre faz eu me achar uma babaca (o que acontece 75% do tempo)



The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death

ISSO é desesperador, e ISSO me faz rir do tempo. Porque, daqui a uns anos, é o tempo quem vai rir de mim. Quando eu tiver velha, encarquilhada, toda enrugada e com o dedo do tempo e da morte apontados prá minha cara ao som de suas risadas funestas (você sabe que o tempo e a morte são amiguinhos, né), eu vou poder pegar a Indesejada das Gentes pela gola e dizer I don't need more life, fucker. O pouco que tive, já bebi. Burn in hell, you bitch.

Em suma... posso estar me precipitando ou deixando apenas que o alcóol fale via meus dedos (maldita mania estúpida de escrever bebendo... o texto começa bem, mas depois descamba pro absurdo, alguém já notou?), mas acho que saberei morrer porque eu soube viver.
O tempo? Deixa ele correr, o que podemos fazer? Espernear a cada segundo que se esvai? Ficar sentando pensando "o que devo fazer da vida?" ao invés de levantar e fazer QUALQUER COISA ao invés de ficar sentado se perguntando o que se deve fazer da vida?
Não há o que se fazer da vida, exceto uma coisa já citada neste post.
Hedonism: I haz it.


Esses dias, durante minha auto-terapia, eu recordei de uma das minhas primeiras lembranças como gente. Eu era tão novinha que minha mãe ainda me dava banho. Lembro que eu estava dentro do box, no chuveiro, minha mãe agachada na minha frente e minha irmã se enxugando fora do box, um curumim pequenininho e gordinho. O chão estava molhado e cheio de espuma, e eu comecei a escorregar prá cair. Meu impulso foi, obviamente, procurar algo em que me segurar. Sabe no que tentei me segurar?
Na água do chuveiro. Umas três vezes tentei agarrar aquela bosta, não consegui e caí estatelada, de bunda no chão. Eu sei, contando não parece tão engraçado, mas vocês não têm a menor idéia de como estou rindo enquanto digito isso e lembro da cena. Minhas duas queridas certamente também rirão muito quando eu contar a elas esse episódio e elas relembrarem do acontecido. Enfim, divago.
Queria dizer que foi durante essa sessão solo-terapêutica que ouvi, pela primeira vez, uma risada meio sádica vinda do tempo. Ele me fez lembrar que desse episódio do chuveiro prá cá, já me mudei cinco vezes, cresci uns 100 centímetros e uns 50 kg, não só me formei no segundo grau como estou me formando já na faculdade, perdi o BV, perdi a V, experimentei comidas diferentes, fui pro Paraguai (AY AY AY!), espalhei a palavra de Deus Brasil afora, me apaixonei diversas vezes, troquei de emprego, fiz 8 vestibulares, sofri, me depilei, aprendi a pregar botão, fiz inúmeras tortas que não prestaram, li incontáveis livros, assisti milhares de filmes; e foi essa enxurrada de exeperiências, embalada pelos CU-CO! CU-CO! CU-CO! da minha imaginação doentia, que começou a fazer pressão -a ponto de doer- nos meus ombros.

Mas eu sou natural born malemolente, so I turned the table. Não foi um tempo que passou, foi um tempo que eu certamente vivi. E que venham os próximos anos! Possivelmente os CU-CO! CU-CO! CU-CO! sejam mais freqüentes daqui prá frente, but I'll handle it. Cada dia mais me convenço que "viver" vem de dentro prá fora, e não de fora prá dentro; so, my dear X., you'd better make up your mind. Soon. Don't tic-tac yourself forever.

Chutando a bunda dos ponteiros,
Bel.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Time





Não gosto de relógios. Pulso, parede, não importa: não gosto. Qualquer tic-tac me impede de dormir.

Relógios são testemunhas mudas de minha inépcia de viver o momento, eu, pessoa temporária -- temporariamente ausente, vivendo em meio a memórias inúteis e temores futuros num fuso horário de sonho. "Aqui e agora, rapazes, aqui e agora" gritam os pássaros da Ilha de Huxley. Inelutavelmente meu here and now termina em there and then. Todo mundo vivendo, e eu aqui.

Tic. Tac.

Ter ficado doente me forçou a horas de reflexão há muito proteladas. Passei minhas férias no Inferno dos dias febris na cama, pensando na vida (or lack thereof) e no uso que faço dela. Não foi legal. Levantei-me,curada mas ainda mais lesa das idéias, se é que tal coisa é possível. E fui tocar a vida pra frente.

Voltei a um trabalho (or lack thereof) que não faz sentido, conversando amenidades com pessoas que não fazem sentido numa cidade onde o tempo deixou de fazer sentido há tempos. Como naquele filme com Bill Murray, todo dia é Dia da Marmota aqui.

Todo dia. A mesma coisa. Sempre.

Ando consumida pela angústia da mortalidade, relendo "A Negação da Morte", tentando ter fé em alguma coisa, resolver o que é que eu quero da vida.

I want more life, fucker.

Beleza, tomaê. Tenho vida de sobra nas mãos, sem ter a menor idéia do que fazer com ela. Cansei de brincar de intelectual/artista problemática. Cansei da minha curiosidade letal e de minha propensão ao dramático, da busca dolorosa pelo conhecimento, mas acho que não tem mais jeito: virou segunda natureza. E agora, Xochiquetzal?

Agora, amigos, entrei no meu Grande Balanço Existencial inaugural e estou completamente perdida.

Ortega disse que "Viver é sentir-se perdido", mas putaquepariu, me dêem pelo menos uma base sobre a qual ficar de pé. Estou revisitando minha memória, tirando o pó de minhas dores e polindo minhas alegrias passadas, numa busca desesperada de quem eu fui para tentar definir a criatura que sou. Talvez depois de ter alguma noção de identidade eu consiga responder o que é que eu quero da vida afinal.

Mas talvez não.

Tic. Tac.

Larguei esse verdadeiro encosto chamado Internet e fui corrigir exercícios dos meus alunos, pra ver se conseguia sair do loop mental onde havia me enfiado. Peço a eles que escolham uma música predileta por semana e a traduzam com o auxílio de um dicionário. Os resultados são surpreendentes: o vocabulário aumenta consideravelmente e o conhecimento passivo da estrutura do idioma vai sendo construído devagarinho.

No meio de "Only You", "Pretty Woman", "What a Wonderful World" e "My Way" deparo-me com "Time" do Pink Floyd, numa tradução que exigia uma correção mais rigorosa. Sem perceber vi-me forçada a prestar atenção pela primeira vez nas letras.

É. Eu nunca tinha parado pra prestar atenção em "Time" ou em qualquer outra música do Pink Floyd, por pura pirraça intelectual (todo mundo que eu conheço, meu pai, minha mãe, respectivos consortes, tiozinhos, ex-namorados, amigos, chegados e concunhados AMA Pink Floyd). 27 anos na cara sem nunca ter ouvido The Dark Side of the Moon -- mind the gap:




Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an offhand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way

Tired of lying in the sunshine
Staying home to watch the rain
And you are young and life is long
And there is time to kill today
And then one day you find
Ten years have got behind you
No one told you when to run
You missed the starting gun

And you run, and you run to catch up with the sun, but it's sinking
Racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death

Every year is getting shorter
Never seem to find the time
Plans that either come to nought
Or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desparation is the English way
The time is gone
The song is over
Thought I'd something more to say

Home, home again
I like to be here when I can
When I come home cold and tired
It's good to warm my bones beside the fire
Far away across the field
The tolling of the iron bell
Calls the faithful to their knees
To hear the softly spoken magic spells


LHC vibes, anyone?

Hanging on in quiet desperation,

--Xochiquetzal.

Tic. Tac.

sábado, 11 de outubro de 2008

Up Yours, Grim Reaper!





Oláááááááá Enfermeiros!

É com imenso júbilo que volto à ativa após sete dias de inenarráveis tormentos, febres de 41 graus e delírios envolvendo grandes quantidades de geléia de mocotó e lhamas (não perguntem. É melhor assim.). Até agora não sei o que foi que eu tive, mas sei que foi sinistro. Não me lembro da última vez (se é que houve uma) em que estive tão doente; para tornar tudo ainda mais legal, dois dias depois o patrão caiu de cama com exatamente os mesmos sintomas, apesar dos fever dreams dele envolverem chalés feitos de queijo cottage e Star Trek ("Sweetie, I dreamt we lived in a cottage made of cottage cheese and were those dudes from Star Trek who have sex by rubbing their ears together").

Mas o pulso ainda pulsa.

Então. Nas vascas da agonia nem tive tempo de escrever algo sobre Polyamory... eu já havia lido e pensado nisso, mas tive que me dobrar à genialidade geométrica da minha amiga.

Bel, Xochiquetzal te respeita!

Vocês já ouviram falar em Sapiosexuality? Eu não, até tropeçar na comunidade do Orkut e sair definitivamente do armário. Finalmente havia conseguido definir o borrão de Roscharsch da minha sexualidade! After 27 years of looking for love in the wrong places, I knew who I was and what I wanted: I was... SAPIOSEXUAL.

Vale a pena copiar a descrição da comunidade aqui (o grifo é meu):

"Here's an e-mail that I sent out a while back on what I mean by sapiosexual. The message was in response to "What gender do you prefer in sex and/or a relationship?"

Me? I don't care too much about the plumbing. I want an incisive, inquisitive, insightful, irreverent mind. I want someone for whom philosophical discussion is foreplay. I want someone who sometimes makes me go ouch due to their wit and evil sense of humor.

I decided all that means that I am sapiosexual. I want to fuck with peoples minds. :)

I invented this term while on too little sleep driving up from SF in the summer of '98 and I'm trying to propagate it as much as possible. So please use it when appropriate...

But where's the gender in all that? That people that I find like that also happen to have marvelous, wonderful bodies happens to be a perq. Flesh is fun...

You can only fuck someone for so long (5-8 hours is finite) but you talk forever".


(Alguém tem que avisar o dono da comu que ele não é o detentor do termo, mas o que vale é a intenção.)

Bel: "Estava dizendo que estamos tratando de amor que pode ser sexual, emocional, espiritual e, por que não?, intelectual. Né?"

É.



Beijando seus cerebelos,

--Xochiquetzal.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O Pulso





Almas-gêmeas de minh'alma,

escrevo estas mal-traçadas linhas para informá-los de que minha recente ausência do mundo virtual deve-se a uma doença ainda não identificada, que desde sábado à noite consome minhas energias sem piedade.

Com a graça do Senhor consegui reunir minhas derradeiras forças para rastejar até meu local de trabalho e colocar meus negócios em ordem, caso a Indesejada das Gentes ceife minha alma, cumprindo a velha profecia de que eu partiria aos 27 anos, tão jovem e com searas tão luminosas ainda a percorrer.

Amados, o pensamento em vocês é o que ainda me dá forças para combater o mal que me devora. Durante meus delírios febris, os "heh" de Atillah mesclam-se aos "eu te amo sua loca" de Bel, servindo de lenitivo para o fogo que queima as minhas entranhas.

Mesmo durante este transe vocês estão comigo. Amo vocês.

E não se desesperem, que eu voltarei no meio da noite para cheirar o pé de todos.


--Xochiquetzal, a Agonizante.

O pulso ainda pulsa

O pulso ainda pulsa

Peste bubônica câncer pneumonia

Raiva, rubéola, tuberculose, anemia

Rancor, cisticircose, caxumba, difteria

Encefalite, faringite, gripe, leucemia

O pulso ainda pulsa

O pulso ainda pulsa

Hepatite escarlatina estupidez, paralisia

Toxoplasmose, sarampo, esquizofrenia

Ulcera, trombose, coqueluche, hipocondria

Sifilis, ciúmes, asma, cleptomania

O corpo ainda é pouco

O corpo ainda é pouco

Reumatismo, raquitismo, cistite, disritmia

Hérnia, pediculose, tétano, hipocrisia

Brucelose, febre, tifóide, arteriosclerose, miopia

Catapora, culpa, carie, câimbra, lepra afasia

O pulso ainda pulsa

O pulso ainda pulsa

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Polyamory & Polygeometry

Olha que legal o que eu achei na internet:

Subject: 2) What's polyamory, then?

(Glad you asked that. ;-) ) Polyamory means "loving more than one". This love may be sexual, emotional, spiritual, or any combination thereof, according to the desires and agreements of the individuals involved, but you needn't wear yourself out
trying to figure out ways to fit fondness for apple pie, or filial piety, or a passion for the Saint Paul Saints baseball club into it. "Polyamorous" is also used as a descriptive term by people who are open to more than one relationship even if they are not currently involved in more than one. (Heck, some are involved in less than one.) Some people think the definition is a bit loose, but it's got to be fairly roomy to fit the wide range of poly arrangements out there.


(leiam o resto do FAQ aqui)

Achei. Finalmente achei o rebalho de ovelhas negras do qual nós fugimos. Finalmente não me acho mais esquisita desde que vocês dois ME PERVETERAM, desde que tive uma amizade colorida com um casal nos meus tenros 18 aninhos, desde que eu ficava de namorico com dois irmãos (um sabia do outro e eu curtia os dois- separadamente :( ), desde que odeio nêgo me ligando prá saber o que tô fazendo e com quem tô fazendo e porquê estou fazendo, desde que me acho uma hippie liberal que caiu de um trailer psicodélico com um unicórnio pintado na lateral, logo abaixo do slogan LOVE IS ALL YOU NEED, desde que gosto de pessoas, independente de sexo, raça, credo e composições químicas... apesar de que tenho lá minha preferência por narizes protuberantes. Vai entender.



O que mais gostei da história toda é que estamos falando de amor na esfera mais pura da palavra; amor ágape, phylos, eros, uáreva, não entendo lhufas disso, e não de "múltiplos parceiros". Ok, ter múltiplos parceiros também não é nada ruim... marriage is a great institution, but I'm not ready for an institution yet, por enquanto eu quero deitar e rolar sendo solteira. Mas enfim, divago. Estava dizendo que estamos tratando de amor que pode ser sexual, emocional, espiritual e, por que não?, intelectual.
Né?

.
Polygeometry

Depois das minhas fórmulas matemáticas desconhecidas e fundidoras de cuca, vamos à aula de geometria.
Quando o poliamor ocorre, digamos, entre um casal que tem uma ligação forte entre si e uma ligação mais fraca com um 3° elemento, temos a relação em T. Quando é uma pessoa com um vínculo forte com duas que não se relacionam, temos um V. Pensando no nosso caso, acho que estamos mais prá um W:



Mas se fosse um W, não haveria a óbvia e prévia relação entre X e A. Então, reorganizando, teremos uma espécie de... A com bracinhos? Triângulo com duas retas adjacentes?



Daí, se considerarmos também a minha outra pessoa exterior ao triângulo, com quem tenho laços fortíssimos, teríamos uma forma que não tem outro nome, a não ser "A com bracinhos e uma antena":



E se considerarmos as nossas outras relações não tão fortes assim, mais as relações fortes do meu 3° elemento, teremos a seguinte figura geométrica...



...que eu carinhosamente chamo de suruba de minhocas.
E, ainda que seja complicado desse tanto, eu acho tudo maravilhosamente simples.

Se alguém ver um trailer psicodélico passando por aí, avisa que eu caí em Goiás, tá?

xoxox