terça-feira, 31 de julho de 2007

O post mais fácil do mundo



Te abanca no divã garota, que vou resolver teus pobrema.


Obrigado, de coração, por me dar a oportunidade de trazer a esse nosso cantinho o fenomenal Analista. Pelamordedeuscristinho, como você pode ainda não ter lido essa obra magistral, formadora, existencial e essencial.

Mas foda-se. Pra sua sorte estou aqui, e esse seu problema eu posso resolver de chofre.

Existem muitas histórias sobre o analista de Bagé, mas não sei se todas são verdadeiras. Seus métodos são certamente pouco ortodoxos, embora ele mesmo se descreva como "freudiano barbaridade". E parece que dão certo, pois sua clientela aumenta. Foi ele que desenvolveu a terapia do joelhaço.

Diz que quando recebe um paciente novo no seu consultório a primeira coisa que o analista de Bagé faz é lhe dar um joelhaço. Em paciente homem, claro, pois em mulher, segundo ele, "só se bate pra descarrega energia". Depois do joelhaço o paciente é levado, dobrado ao meio, para o divã coberto com um pelego.

- Te abanca, índio velho, que tá incluído no preço.
- Ai - diz o paciente.
- Toma um mate?
- Nã-não... - geme o paciente.
- Respira fundo, tchê. Enche o bucho que passa.

O paciente respira fundo. O analista de Bagé pergunta:

- Agora, qual é o causo?
- É depressão, doutor.

O analista de Bagé tira uma palha de trás da orelha e começa a enrolar um cigarro.

- Tô te ouvindo - diz.
- É uma coisa existencial, entende?
- Continua, no más.
- Começo a pensar, assim, na fìnitude humana em contraste com o infinito cósmico...
- Mas tu é mais complicado que receita de creme Assis Brasil.
- E então tenho consciência do vazio da existência, da desesperança inerente à condição humana. E isso me angustia.
- Pos vamos dar um jeito nisso agorita - diz o analista de Bagé, com uma baforada.
- O senhor vai curar a minha angústia?
- Não, vou mudar o mundo. Cortar o mal pela mandioca.
- Mudar o mundo?
- Dou uns telefonemas aí e mudo a condição humana.
- Mas... Isso é impossível!
- Ainda bem que tu reconhece, animal!
- Entendi. O senhor quer dizer que é bobagem se angustiar com o inevitável.
- Bobagem é espirrá na farofa. Isso é burrice e da gorda.
- Mas acontece que eu me angustio. Me dá um aperto na garganta...
- Escuta aqui, tchê. Tu te alimenta bem?
- Me alimento.
- Tem casa com galpão?
- Bem... Apartamento.
- Não é veado?
- Não.
- Tá com os carnê em dia?
- Estou.
- Então, ó bagual. Te preocupa com a defesa do Guarani e larga o infinito.
- O Freud não me diria isso.
- O que o Freud diria tu não ia entender mesmo. Ou tu sabe alemão?
- Não.
- Então te fecha. E olha os pés no meu pelego.
- Só sei que estou deprimido e isso é terrível. É pior do que tudo.

Aí o analista de Bagé chega a sua cadeira para perto do divã e pergunta:

- É pior que joelhaço?

Luís Fernando Veríssimo


COMO alguém pode escrever tão bem a ponto de cada frase ser uma piada por si mesma? Acho que é isso que se chama “dom”.

No próximo post: saber pra quê? Vamos nos afundar em mais angústia.

Atillah.

2 comentários:

Anônimo disse...

Verissimo é sempre inacreditável. Congratulo o senhor pelo timing do post e sua pertinência. Gostaria de me estender sobre a sagacidade do autor e minha empatia com o analista e seu Fresco analisando, mas aí a gente perde o fio da meada de novo.

E pode ficar tranquilo que minha azia de existir passou. Estou o contentamento em pessoa, sorrindo para estranhos na rua e voltando aos meus solos de air guitar a caminho do trabalho.

Até o próximo estabaco no abismo da Frescura, claro.

À serotonina!

--X.lo

uma pessoa aleatória disse...

ah essas mulheres, sempre tão inconstantes e imprevisíveis