sexta-feira, 3 de agosto de 2007

"Here be dragons"


Dramático hein?

Muito bem.

Vamos agora, então, entrar no abismo da busca do conhecimento. Vamos explorar as fronteiras da inutilidade e falta de objetivo final em todas as coisas. Vamos rever nossos conceitos e nos transformar em algo melhor ou pior no final. Espero que vocês tenham trazido seus escafandros.

Gostaria de iniciar retomando suas considerações provenientes do estado depressivo.

Essa questão da percepção alterada no ciclo maníaco é de causar inveja em poetas e cientistas experimentais. Parece que realmente é como se você estivesse vivendo em outro mundo temporariamente; como se você entrasse em uma freqüência diferente dos seres humanos equilibrados à sua volta, portadores de normalidade patológica. Você vê, sente e aprende coisas que não estão acessíveis para os demais, e que só são possíveis de serem vistas pela inundação de serotoninérgicos que seu célebro está jogando nos seus receptores. Por breves momentos você levanta o véu de Maya, por assim dizer.

E depois da bonança, vem a tempestade, porque esse é o preço do saber. O ciclo depressivo vem como a onda de dejetos que te bate na cara e diz “tu já viu o céu, e agora precisa conhecer o inferno, essa é a natureza do conhecimento”.

Pelo menos pra mim, “saber” sempre teve essa concepção dual: uma coisa que te dá um prazer e euforia imensos quando você descobre algo novo, e que te enfia três dedos no cu logo em seguida, quando você começa a se perguntar exatamente O QUE vai fazer com aquilo e descobre que o caminho do conhecimento que vem depois é mais longo e tortuoso ainda. Caminho sem fim. Otário quem envereda por ele.

Eu estava lendo um livro aí, pra concluir uma disciplina do mestrado. Em suas últimas páginas, o autor pira na batatinha e começa e fazer algumas reflexões existenciais completamente disparatadas do tema geral do livro, porém, altamente relevantes para nossa discussão:

A natureza paradoxal da psicanálise foi percebida por um dos mais antigos colaboradores de Freud, Hans Sachs, a quem se credita por ter afirmado que uma análise termina quando o paciente compreende que ela poderia continuar eternamente, uma afirmação estranhamente reminiscente do princípio do budismo zen, segundo o qual o esclarecimento chega quando o discípulo se apercebe de que não existe segredo algum, nenhuma resposta final e que, portanto, não faz sentido continuar formulando perguntas.

Eu não sei você, mas pra mim isso causa uma diarréia cerebral. Eu sinto meu célebro escorrer espinha abaixo, e parece que perdê-lo totalmente não faria diferença nenhuma, pois talvez eu vivesse melhor sem perguntar coisas. Ao mesmo tempo que eu entendo que não faz sentido perguntar, eu não consigo parar de fazê-lo. E essa é a primeira clivagem que se sofre na busca do saber: você não sabe se o conhecimento vai servir pra alguma coisa e pode até ter certeza de que não servirá. Mas ao mesmo tempo você precisa acreditar que a busca tem algum objetivo, porque senão não continuaria fazendo. Clivagem. Dividido em dois: um cético/asceta feliz e um buscador angustiado.

E fica pior.

Porque ao se perguntar se a afirmativa zen está correta, ao refletir sobre ela, o que você faz é exatamente persistir no erro de continuar se perguntando. Buscar o conhecimento zen é persistir no erro. E por isso eu tenho certeza de que ainda não compreendi o zen. Bizarro, mano.

Vou me restringir a estas idéias iniciais, para que nossa discussão também não se perca precocemente em um caldo inespecífico de temas indiscutíveis. Fecho este singelo e desesperado post com palavras de Wittgenstein, que não me trazem nenhum alento:

Sentimos que, mesmo se respondêssemos a todas as possíveis perguntas científicas, mesmo assim os problemas da vida continuariam intocados. É claro, não restará então pergunta alguma e esta é precisamente a resposta.

Motherfucker. Filósofos são todos uns motherfuckers.

Atillah.


Um comentário:

uma pessoa aleatória disse...

"Bizarro, mano."

hahahahahha, totalmente random essa irreverência em meio à seriedade do post.

mas tipo:

"o esclarecimento chega quando o discípulo se apercebe de que não existe segredo algum, nenhuma resposta final e que, portanto, não faz sentido continuar formulando perguntas."

parece então que eu sou diplomada em budismo zen. parece