sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Ensaio sobre a cegueira.


Oh! I see what you're meaning!

Você pintou uma bela imagem da busca vã. E ainda usou piratas pra isso. Eu não sei se já te respeitei mais em algum momento do que respeito agora.

Mas, na boa, desconte todo o lirismo do seu (belo) post, e voltaremos ao poço sem fundo.

Não consigo ver glória ou beleza nessa busca. Vou buscando, sem saber muito bem por quê. Vou-me, impelido por algo que não consigo ver. Ler, perguntar, discutir, refletir até as últimas conseqüências. E no final padecer no mesmo lugar de onde iniciou, se não MAIS fudido do que antes.

Vejo uma clara distinção entre técnicas úteis e o saber que coloco em questão: saber cozinhar, tirar leite de vaca, trocar pneu de carro, subir em árvore, mentir direito, jogar Street Fighter, furar casamento, beber sem cair ou se mijar. São todos saberes úteis, desejáveis, que nos ajudam a caminhar com menos dor por este vale de lágrimas.

Mas e o saber masturbatório? Esse aí que a gente só acha nos livros, que ninguém te explica direito, e que te joga na reflexão sem resposta final? Esse que levanta as perguntas, que angustia e que não tem fim?

E, se é inútil, por que insistimos? Que impulso maldito é este? Não é à toa que a Árvore do Saber era habitada pela cobra, e que o Senhor disse pra não comer do seu fruto. Nada de bom vem de lá, deve ser a morada do anjo caído, de Thanatos, e lar do fim das coisas.

Ou somos intrinsecamente masoquistas? Gostamos da dor, temos prazer na dúvida; gostoso é não saber, e saber unicamente que não se sabe porra nenhuma. É isso então? Busca sem motivo, a não ser gerar prazer através da dor. Corsários da Triste Figura, indeed. O tapa olho venda os dois, e não só um olho.

Cegos, sendo guiados por outros cegos. Quem te leva e “ensina”, no fundo é mais cego do que você. Aprendeu a se virar melhor na escuridão, talvez. Mas era melhor não ter entrado na caverna.

O aviso era claro: “ali existem dragões, embora eu não saiba direito onde, porque não fui burro de ir lá conferir.”

Loas à nossa estupidez, portanto. Não achamos o dragão, e perdemos o caminho de volta. Navegamos ao sabor do vento, lemos o livro que aparece, corrigimos o leme, trocamos de área de estudos, atolamos o navio, achamos o limite de nossa ignorância. É preciso estudar mais, saber mais. Ir mais longe, e navegar só por navegar, pois não temos rumo, porto e não sabemos aonde chegar. Me diga o que ler, me diga o que sentir, me explique o que fazer, me indique por onde ir. Perdi tempo demais estudando sobre como sentir, e esqueci como que faz.

Pensando bem, deixa pra lá. Você é tão cega quanto eu.

Atillah.


2 comentários:

Anônimo disse...

Sem diminuir os méritos dos seus excelentes posts anteriores, esse foi, BY FAR, o mais melhor (em qualquer aspecto) de todos.Deu cãimbra no lobo frontal.

Sabe quando você fica sentado em uma posição desconfortável, perde a sensação das pernas e quando tenta mexê-las dá aquele entorpecimento que fica no exato limite entre prazer e dor? Quando você não sabe se sente cócegas ou agulhadas? Esse foi o efeito mental do seu post.

Estou fazendo caretas existenciais na frente do monitor, enquanto esperoa agonia passar pra começar a pensar em como responder à altura.

Como é gratificante estar ligada a pessoas como você.

Valeu, Inefável.

*hats off to you*

--X.

Anônimo disse...

É que você é teórico / socrático. É o tipo de que Nietzsche menos gostava.

http://orkutcidio.wordpress.com/2007/08/29/o-nascimento-da-tragedia-imparcialmente/

Post foda ;)