segunda-feira, 27 de abril de 2009

Almodóvar, Winehouse & Lennon: O SURTO





Oi gente. Adivinhem: eu surtei.

Sabem aquela minha rotina de 13+ horas de trabalho por dia? Sabem aqueles adolescentes monstruosos que estavam me enlouquecendo? E aquelas turmas ingratas às oito da manhã?

Mandei tudo pra casa do caralho.

Na boa: invadi a sala da coordenação uma tarde de tresloucura, tremendo de raiva e estafa, e mandei um "I QUIT!" que deve ter soado absurdamente diva. Eu estava transtornada, gente. Após semanas de atividade frenética meu corpo estava em frangalhos, minha mente em farrapos, meus quadris esféricos, meu cabelo caído, minha menstruação vindo três vezes no mesmo mês, minha voz destroçada, meus relacionamentos inexistentes: liguei o FODA-SE sem a menor cerimônia -- ou preocupação com as contas a pagar, ou com minha imagem profissional. O stress atingiu massa crítica e eu simplesmente SURTEI na frente da minha chefe. Tipo, ataque de pelanca mesmo, coisa de mulher descompensada, com direito a choro e ranger de dentes. Inacreditável o ponto onde enfiei a mim mesma. Jamais deixarei de me assombrar diante da minha infinita capacidade de me foder.



Saí da sala da coordenação algo parecida com a Amy aí de cima, juntando as minhas coisas e tentando não pensar em como faria para sobreviver até encontrar outro emprego -- mas o Inefável resolveu sorrir para mim com os dentes de uma coordenadora simplesmente angelical, que propôs que eu abandonasse as turmas mais problemáticas e reduzisse minha carga horária à vontade, apesar dos inúmeros contratempos que uma rebordosa dessas causaria ao um curso. Foi comovente. Sério.

Infelizmente as turmas que deixei para trás eram exatamente as mais lucrativas -- o que significa que meu breve momento Donald Trump de megalomania financeira foi efêmero. Voltei a ser mais uma fodida, amigos -- até conseguir mais alunos particulares, me infiltrar de vez no mercado de inglês offshore e fazer fortuna. Estou trabalhando o mínimo necessário para continuar fazendo os malabarismos com serra-elétrica que compõem a minha situação financeira, e que se foda. Um dia eu fico rica. Até lá, vou convalescendo de meu embate com o mundo capitalista, ouvindo pilhas de álbuns acumulados, lendo quatro livros ao mesmo tempo, escrevendo, observando os bem-te-vis nos coqueiros e dormindo feito um panda narcoléptico para compensar meu déficit de horas de sono.



(Acabo de perceber que estou com um sorriso beatífico no rosto ao escrever esse parágrafo. Leitores, Xochiquetzal está sorrindo para todos vocês três. Ininterruptamente.)

Mas então. Antes de voltar definitivamente ao submundo do proletariado, raspei o tacho da minha poupança e me mandei para o Rio de Janeiro, onde passei dias lisérgicos na companhia do TC, meu irmão dos tempos de colégio de freiras (e finado colaborador do espancando).

Foram dias de Yellow Submarine, de reencontros em botecos superlotados, de Wagner Moura interpretando Hamlet no Leblon (Ser ou não ser: JAMAIS SERÃO!), bondinhos em Santa Teresa, tesouros garimpados em sebos inesgotáveis, a melhor comida do mundo, tatus andando no calor da tarde, risadas histéricas diante do Discovery Channel, abraço de amigas queridas, mendigos telepáticos me olhando das calçadas, descoberta dos poderes até então ignorados da cerveja, rock 'n' roll no último volume durante a travessia da ponte Rio-Niterói -- num céu de diamantes.

Cara.

Eu fui agraciada com os mais insólitos amigos do mundo, e qualquer tentativa de escrever sobre eles parece-me vazia diante do enorme significado que cada um tem para mim. Fico encarando esse cursor piscante com tanto a dizer sobre eles -- mas impedida pela certeza de que qualquer coisa que eu escreva vá sair piegas como um cartão Hallmark. Amigos, a vocês o não-dito. Amigos, vocês estão além das palavras.

Post mais desconexo, esse. Coisa de gente surtada.

Getting high with a little help of her friends,

--Xochi in the Sky with Diamonds.

P.S. - Aguardem pedidos de empréstimo em um futuro próximo. =D

terça-feira, 7 de abril de 2009

BUT, WHY IS THE RUM GONE? ou XOCHOQUEZTAL ETSÁ BÊBADA




(erros ortográficos revisados pós-ressaca - em sua maioria)

"A felicidade é uma idéia nova" - Saint-Just

Eu não sou feliz. Prontofalei. Não acredito que algum dia o tenha sido -- por não acreditar nessa mentira maior da sociedade moderna, o direito inalienável de ser feliz. O dever de ser feliz, esse fardo horrendo que carregamos sorrindo, a "grande impostura do sábado à noite" nas palavras de Janis Joplin.

Acredito nas incríveis possibilidades de momentos de intensa satisfação, mas não nesse continuum edulcorado que a mídia chama de felicidade. Talvez as minhas uvas estejam verdes, mas nesse momento de intensa angústia no continuum alucinógeno que eu chamo de vida, estou mais preocupada em buscar momentos, não coisas ou estados. Eu sou um beagle, cara: um beagle inglês caçador de raposas, só que não tenho a mínima intenção de destroçar a coitada -- meu lance é a perseguição, é a corrida, é a busca. Eu sou um beagle querendo viver a vida intensamente, mesmo que de modo intensamente doloroso.

Um beagle kamikaze. BANZAI, MOTHERFUCKERS!



(Tem uma garrafa violada de Bacardi olhando pra mim, by the way)

Algumas pessoas que amo profundamente não compreendem minha necessidade ardente de buscas, de novas experiências, novos sucessos, fracassos e decepções. "Você nunca está satisfeita! Quando você aprenderá a ser feliz com o que tem, em vez de passar seus dias ardendo de desejo pela grama do outro lado da cerca?"

Porque "o outro lado da cerca" implica um conjunto que me contém e do qual não posso escapar, uma limitação vinda não sei de onde que todos parecem aceitar como a ordem natural das coisas. Não vejo lado de coisa alguma, só vejo o que está ao meu redor e dentro de minha cabeça, e é isso que eu quero. Não nasci para ficar pastando tranquila, ruminando a existência e olhando com olhos bovinos a paisagem por sobre os mourões: esse sobre-e-desce amargo do bolo alimentar magoa a minha garganta, azeda a minha alma. Não.

Eu Quero Mais do que Isso.

Entendo que a minha recusa -- ou incapacidade -- de "estar feliz" por quantidades previsíveis e mensuráveis de tempo causa-me uma dor absurda, mas esse absurdo está na minha natureza. Estou cansada de negar meu absurdo, de me contentar com o que não é meu, de dançar o créu na velocidade 6 da sociedade enquanto meu espírito insiste em marcar o compasso de um blues: de receber silenciosamente o escarro dos tísicos que amo. "Você é inepta para a vida. De que vale toda a sua cultura quando você mal sabe fazer contas?", "Você não passa de uma alienada" ou o indelével "O seu problema, minha filha, é que você lê demais."

Vocês não me compreendem, chora meu lado emo, arrumando a franjinha pro lado para deixar as lágrimas negras de rímel em evidência.

Mas tudo bem, pessoas minúsculas: deixei de ser emo e de esperar compreensão dos que não podem sequer me garantir santuário. Que venha o blasé encontrado nas profundezas de Pessoa, aquele com maiúscula:

"Repudiei sempre que me compreendessem. Ser compreendido é prostituir-se. Prefiro ser tomado a sério como o que não sou, ignorado humanamente, com decência e naturalidade."

"When we can't dream no longer, we die".



Dias depois, trocando Bacardi por Montilla por motivos financeiros...


É, gentem. Motivo número doze pelo qual eu não bebo: verificar texto acima.

Bel, dentro de minhas limitações emocionais, estou hiperfeliz por você, detentora de um canudo de Letras como o meu e futura professora burnt-out. Letras é uma carreira foda, em todas as acepções do adjetivo. Humanas é uma área de MACHO, apesar de todos os alunos em contrário, e saber que temos mais uma coisa em comum -- esse canudo comprido, grosso e cheio de veias -- me faz feliz. Um dia serei eloquente (não sei se o trema caiu e não estou nem aí pra reforma ortográfica, não consigo achar o trema dessa joça mesmo)o suficiente (RIMEI!) pra te convencer a vir pra cá lutar numa piscininha lambuzada de petróleo comigo; enquanto isso, aguardo e espero.

Letrados do Brasil, Xochiquetzal respeita todos vocês.

*HIC!*

--Xochiquetzal, Still Wondering Why the Rum is Gone.

sábado, 4 de abril de 2009

Formatura

AÊ, galera. Foram anos cansativos, mas consegui!



Vestir a beca, refletir sobre o juramento e os discursos que ouvi, jogar o capelo pra cima; tudo isso me ludibriou e agora tô me sentindo uma idiota por estar cheia de sonhos e esperanças.

“A wise man will make more opportunities than he finds.”
Francis Bacon


Logo eu, que já tô cansada de saber o peso da vida. Nenhuma grande tragédia me aflige, grazadeus, mas me vejo numa grande selva de sobrevivência.

"Compreendia agora muito mais claramente que antes a importância do mandamento supremo da vida moderna - o undécimo mandamento, que anulara todos os outros: 'Não perderás o teu emprego'"
(George Orwell)


Dividida num cabo-de-guerra entre a esperança + vontade de perseverar contra pessimismo + auto-comiseração (caiu o hífen com a reforma? seilá), sinto o lado it's gonna be a bright sun-shiny day puxando mais forte depois de pegar no canudo (o que um canudo roliço não faz, hein?).

“Go for it now. The future is promised to no one.”
~ Wayne Dyer




Ainda assim, me sinto uma ingênua por estar otimista. O canudo não vai mudar minha vida, eu sei, mas o fato de ter caído a ficha de que preciso procurar algo -qualquer algo- no que investir para crescer e sair da lama me clareou um pouco a mente.

“What lies behind us and what lies before us are tiny matters compared to what lies within us.”
~ Ralph Waldo Emerson


“One day Alice came to a fork in the road and saw a Cheshire cat in a tree. Which road do I take? she asked. Where do you want to go? was his response. I don't know, Alice answered. Then, said the cat, it doesn't matter.”

Vejo tanto velho cansado falando "aaah, quando eu era um jovem cheio de sonhos e esperanças..." que meu otimismo desanima. Pela minha pouca experiência, acredito que eles tenham razão; que essa coisa de sonhos e eu-vou-conseguir é tudo bobagem e as coisas vão continuar a mesma merda.

Tudo bem, é só uma sementinha de luz no meu peito. Se o solo não continuar tão árido aqui em volta, quem sabe ela desabrocha, né?

(O Atillah tinha me falado uma expressão engraçada sobre esse tipo de "crise", mas esqueci qual era. OHHHHHHH, não sei porque.)

Enfim, enquanto não levo uma na bunda, vou continuar saltitando por aqui.

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