segunda-feira, 27 de julho de 2009

Dirty Dancing





Above: Bonde do Inefavel, circa 1920


São três horas da manhã de sábado e o forró da padaria está comendo solto na esquina, com suas viradinhas cretinas de teclado insuficientemente abafadas pelo ruído da chuva torrencial que alaga a faixa de barro que eu chamo de minha rua. Amber e Penelope dormem no sofá, a água pro mate ferve na chaleira e eu acabo de terminar algo que estava protelando há muito tempo:

Reler o espancando teclados inteiro, de uma sentada só, só parando pra fazer xixi ou fumar um Marlboro Light.

(pausa dramática)

Estou abalada, feliz, surpresa, extasiada, perplexa, sorridente, intrigada, satisfeita, nostálgica, perceptiva, sábia, privilegiada, orgulhosa e mais uma penca de adjetivos que estou com preguiça de evocar após ter a visão Google Earth das pérolas que produzimos juntos, amigos-ostras. Congratulações a nosotros. Nossa interação alucinada é de uma beleza ímpar: encontro-me besta diante dos significados que esses dois anos de espancamento trouxeram à minha vida.

O espancando começou como uma tentativa de preservar meu balé de Rasputin com o Atillah, que abdicou das cartas que iniciaram nosso tango intelectual, desistiu dos telefonemas que nos embalaram por anos e acabou desanimando diante de minhas tentativas de valsar com ele via e-mail. Diante da possibilidade de perdê-lo -- na época, tal possibilidade parecia-me aterradoramente real, ingenuidade minha -- sugeri meio desesperada que escrevêssemos um blog juntos... e não é que meu relutante parceiro finalmente teve a coragem de me tirar pra dançar, justamente quando eu me imaginava a gorducha sozinha e deslocada do baile de formatura?

O que estava tocando? "Deuces Are Wild" ou "Cryin'" do Aerosmith? Não lembro -- estava perdida nos braços digitais do moço bonito que sempre desejei de longe. A música não importava muito. Abracei-o com força durante "I Drove All Night" de Roy Orbison, senti suas mãos na minha cintura enquanto "Wicked Game" ecoava pelo salão. "He loves me, yeah, yeah ,yeah!", sorria eu do outro lado do monitor, rodopiando apaixonadamente pelo setlist do Inefável & seu Conjunto.



Mas não podíamos ficar a noite toda dançando coladinhos, por mais que a debutante virtual em mim assim o desejasse. A festa estava apenas começando e o Inefável era eclético; rebolamos com o boom boom boom de John Lee Hooker, chacoalhamos ao som do Pearl Jam... o baile chegava ao seu ápice. Fui coroada rainha da formatura, Carrie-style, desbancando a menina mais bonita do colégio...

... mas a impermanência acabou nos encontrando. Pisamos no pé do outro ao tentar cavalgar os cavalos selvagens do U2, erramos o compasso no "Lithium" de Cobain. Sweetheart, you're so cruel...

Perdi o Atillah de vista enquanto o Inefável tocava "It Won't Rain All The Time". O Corvo de Brandon Lee e Edgar Allan Poe crocitou seu fúnebre NEVERMORE! e encontrei-me no meio do salão, penteado desfeito, maquiagem borrada, vestido manchado de suor, tentando dançar sozinha sem muito sucesso. O baile estava no fim e eu sequer tinha quem me levasse de volta pra casa. EPIC FAIL, imaginei, enquanto entornava o quarto rum da noite, fingindo estar ótima pra ninguém...

...quando notei a menina mais bonita do colégio (aquela mesmo que perdeu para mim a coroa de rainha calipígia da blogosfera) me olhando. Devia estar me zoando, pensei. Subitamente self-conscious, tentei retocar o batom, ajeitar o cabelo e subir no salto -- afinal, aquela periguete era uma rival -- que olhava pra mim do balcão do bar com olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Olhos bonitos, perigosamente bonitos, acompanhados por lábios que formavam um "vem cá" inaudível.

Aquela cheerleader de corpete de couro estava me chamando? Olhei para trás para me certificar que era comigo mesmo. E não é que era? Minha trajetória através do salão quase vazio foi ebriamente errática: o salto estava me matando, já era na hora de eu chamar um táxi, meu estomo já estava na garupa do Bozo... mas heck, o que eu tinha a perder além do que eu já havia perdido? Respirei fundo e sentei ao lado da periguete, que me pagou uma vodka, disse estar me observando desde o início da festa e que eu dançava divinamente.

"OH NOES, essa sapata está querendo me comer!" Mas a moça era bonita. Bonita e inteligente. Bonita, inteligente e engraçada pra caralho. Bonita, inteligente, engraçada pra caralho e ridiculamente parecida comigo, de um modo esquisito. A primeira vodka deu cria. Entabulamos um diálogo que parecia ter tido seu início antes que nos conhecêssemos. Dose vai, dose vem, fomos gostando uma da outra. Muito. Quando nos demos conta, estávamos trocando juras de amor eterno, declarando irmandade infinita para o salão deserto. O Inefável & Seu Conjunto já tinha guardado os instrumentos e encerrado a apresentação há tempos. Éramos duas moças vergonhosamente bêbadas, esparramadas no chão sujo de confete, rindo convulsivamente, segurando o cabelo para a outra chamar o Raul com alguma dignidade, chorando memórias irreversíveis enquanto um carinha com pinta de estudante de Humanas fumava um baseado e arranhava Bob Dylan no violão, viajando na nossa.



Fomos juntas para a casa (dela ou minha, a essa altura não fazia mais diferença), e o resto, seus pervertidos, é silêncio.

Silêncio é o caralho: desde o baile fatídico, Bel e eu juntamos os trapinhos os playlists díspares de nossos iPods e colocamos a zona resultante em shuffle, confabulando um mosh pit filosófico em permanente repeat. Transformamo-nos uma na outra diversas vezes, viramos uma força da natureza que eventualmente atraiu nosso Huno desertor para a órbita irresistível de nossos quadris -- que ele permanece rodeando até hoje, numa dança de São Vito deliciosamente provocadora, intelectualmente desafiadora, profundamente erótica. Massive Attack digivolve para Metallica que digivolve para Dylan: não importa o quão randômica seja a trilha sonora do nosso High School Musical From Hell, estamos entrelaçados em perfeita harmonia, numa coreografia de sonho de sincronicidade implausível.

Spooky Action from a Distance: we haz it.

Whoever said "it takes two to tango" has never read our bizarre Pergaminhos, Palimpsestos & Alfarrábios. The three of us have been dancing like no one is watching -- well, in John Hammond's case, a LOT of people were watching, but we didn't give a damn -- ever since. And guys: WE KICK ASS.


Patrick Swayze, Michael Jackson, Fred Astaire, Jay Kay, Ginger Rogers, Mikhail Barishnikov, Joaquín Cortés somos nozes!

Longa vida ao Bonde do Inefável, amigos. É um privilégio dançar o créu na velocidade 5 com vocês.

Sorrindo,

--Xochiquetzal/Marivone/Sua Psycho, com saudades, mas DIBÔUA.

P.S. - Summer 2010 in RdO: Armadillo Armageddon -- coming soon to a glitch in the Matrix near (well, not THAT near) you. You CAN'T miss it!.

sábado, 25 de julho de 2009

about: a irônica sincronia das "coisas"

Eu liguei a televisão e a primeira cena/fala foi um alegre:

- Olá, Bel! Sentiu a minha falta?

Era uma cena de filme (creio que Superman no SBT); um fazendeiro voltando pra casa e cumprimentando sua cadela saltitante. Mas foi sinistro ser recepcionada pela minha própria televisão.

Até ia escrever mais, mas vou tentar me utilizar da técnica de deglutir as palavras que saem precocemente. Depois falo mais sobre a irônica sincronia dos corpos.

Caminhando com os tatus,
Bel.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

The Italian Man Who Went to Malta



Sei que já passei esse vídeo pra muita gente via orkut, mas gostaria de eternizar a piadinha aqui:



EVERYBODY WANNA FOCK!

--Xochiquetzal, not in Malta.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Para entender o mar


Eu devia ter escrito antes. I know. Vocês já estão acostumadas. I know it as well.

Mas vocês duas que utilizam isso aqui como sua waste basket emocional não conhecem a alegria de conter as palavras ao invés de desabafar. Eu manjo vocês (infelizmente até bem demais às vezes), eu sei do conforto de poder a qualquer momento expressar palavras tortas e direitas aos nossos leitores imaginários. A vantagem da psicose é que as vozes e os vultos estão sempre lá, servindo aos seus sintomas e às suas necessidades; nós temos leitores no nosso delírio compartilhado, nessa folie-a-trois. Eles nos ouvem, nos confortam e permitem que continuemos achando que está tudo bem, que tudo passa. Já passou. Vai passar.

Mas o êxtase real  não se encontra no desabafo momentâneo, ele está em reprimir, em engolir as palavras que deveriam sair precocemente, e observar enquanto elas lentamente se transformam em outras palavras. Para fins de exploração centífica vamos escolher uma palavra metamórfica ao acaso. Examinemos a palavra "saudade", escolhida sem nenhum motivo em particular.

Marivone, minha mais recente e aprendiz companheira de aventuras etilícas, "saudades" nem começam a vagamente descrever o buraco existencial que RdO me deixou. É fácil voltar do paraíso e vinte horas de viagem depois digitar minhas saudades aqui. Difícil é esperar e ver o que acontece. Ao longo dos dias a palavra saudade vai se esvaziando daqueles significados anteriores, e incorporando novos e bizarros significados. Ela vira outra coisa. "Coisa" é bom, porque é um substantivo para o indefinível, para todas as COISAS que ainda não foram nomeadas e encaixadas em nosso defeituoso e restrito espectro de coisas definíveis e nomeáveis. "Coisa" é o que se tornou nossa relação; altamente indefinível por definição.

Mas só "quase". E provavelmente vai ficar nesse eterno "quase". Mas enfim, foda-se. A única "coisa" que vale a pena ficar discutindo não é o status do que acontece entre nós, mas sim se "isso" (olha aí o outro indefinidor) é bom ou não para os envolvidos. And that much I already figured out: it's so freakin' and utterly good.

MARIVONE

... você é minha.

RdO deixou marcas na areia, assim como JF. Ler suas saudades de JF tocam um certo banzo em mim também. Mas JF foi uma experiência mais localizada e assentada, que ocasionalmente me arrebatava nas lembranças. Mas passa. Já passou. Vai passar. Agora é diferente, é mais frequente, não é um evento isolado no tempo do qual eu só lembro de vez em quando. Mais de um mês depois e a sensação é de que deixei uma parte minha na Lagoa. Que a minha solitária caminhada de despedida na orla foi me transformando em areia de praia, e que desde que ousei sair de perto do mar, fui deixando um rastro de areia atrás de mim, me desfazendo conforme me afastava. Agora eu estou aqui e não sei mais do que eu sou feito, e a única coisa em que penso é voltar pra perto do mar de novo. Então não é mais "saudade", é necessidade, é urgência, é sobrevivência.

"Areia" foi uma boa metáfora. Mas não, não sou feito de areia. Eu sou feito pelas experiências que passei e, embora estas não se desfaçam com qualquer ressaca (ha) do mar, talvez fosse melhor dessa forma. Porque as ressacas vão e voltam, e a necessidade persiste; as ondas alcoólicas recentes não levam ela embora. Não posso mais fugir da necessidade de estar de novo com as pessoas que tenho o privilégio de conhecer.

E Bel... Bel, de novo: perdeupreibói. Perdeupreibói total. John Hammond manda lembranças, tatus andando acenam de longe enquanto assistem stand-up comedy, e espero que você possa um dia novamente estar com as tartarugas. Elas são sábias, elas vivem no mar. E elas não se desmancham com as ressacas, ao contrário de nossa querida X., que se desfaz - castles in the sand style - com a primeira marola de rum. Acho que estamos na época de procriação dos pizurks, porque eles estão todos se arrastando pela areia, em direção à privada.

Mas obrigado, Bel. Obrigado a você, minha mais escolada companheira de aventuras etílicas, por termos novamente a chance de enfrentarmos uma ressaca juntos. Por novamente passarmos pelas ondas que só Goiás, com suas infinitas praias, pode proporcionar. Obrigado por suportar com resiliência ímpar as merdas que eu falo, você surfa lindamente pela pororoca de palavras que eu tendo a soltar em nosso evento anual

Eu vejo em seus olhos que falo demais, olhos de tartaruga sábia, que já passou por mares mais agitados do que eu passei. Olhos de ressaca; tatu, teu nome é Capitu. 

Mas ó: a gente precisa parar de se encontrar assim.

love grace tolerance

Atillah

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Cobain Digivolve-se Para Caymmi, ou Breve Ensaio Sobre a Saudade






"Home is where your heart is. It's about time I put more heart and less brains in (on?) my surroundings." - X., July 2009

São três minutos depois da meia-noite de segunda, 20 de julho de 2009 -- há três minutos que meu final de semana fantástico acabou e vejo-me forçada, ainda que sob condições adversas de temperatura e pressão, a blogar minhas peripécias antes que estas se percam na neblina da minha cabeça.

"Babe, o Porquinho Atrapalhado na Cidade Grande" -- na minha opinião, uma daquelas obras -primas cinematográficas que passam batido quando não se tem o hábito de assistir TV aberta bêbada em noites de domingo -- está passando na Record. Meus tatus têm "Babe" em grande conta.

Mas então. As peripécias urbanas de Babe são apenas a cereja alucinógena do sundae de loucura sabor maresia que foram minhas últimas 48 horas na Região dos Lagos -- sobremesa existencial vinda bem na hora em que a vontade de largar o caos fluminense e voltar a Minas bate forte como nunca.

As saudades de Juiz de Fora vieram junto com a estréia bloguística de meu irmão de fé Gabriel Lobo, afiando a faca amolada de seu cérebro cintilante nos teclados em vez das habituais cordas de violão. Bem-vindo à blogosfera, Gabriel, e ao mundo dos que sentem saudade.

Sinto saudade da saudade que você evoca com teclas & cordas, das madrugadas geladas, da cantoria dos bares, dos estudantes cobertos de tinta e farinha, do anão flamenguista do calçadão, das afrontas da véia da buchinha, do festival de bandas novas, das pessoas bonitas, do Miss Gay. Do tiozinho do violino desafinado, dos macaquinhos do Parque Halfeld, dos policiais mais camaradas do Brasil, dos travestis da Rua Santa Rita. De chorar desconto com o dono da Livraria Liberdade, de comer um hambúguer no Mary Milk depois da noitada, de horrorizar-me com o "Dawn of the Dead" de fim-de-rave... Dos estudantes lutando pelo meio-passe há mais de década, do mural de Portinari desafiando a rotina no centro, de caminhar sozinha às quatro da manhã sem mais sobressaltos do que uma cantada mais ousada, da música colonial nas igrejas, das vacas atoladas, das nobres capivaras reunidas à beira do rio Muriaé (?), dos bandos de maritacas que me acordavam às seis da manhã.

Sinto falta da invejável coleção de pessoas inusitadas que amealhei por lá: a musicista pequenina que contém multidões, a estudante de Farmácia com sua crença xiita em processos bioquímicos, o advogado com as asas de Mercúrio tatuadas nos pés, a acadêmica dividida entre Backstreet Boys e Metallica, a assistente social lipoterapeuta e sua trupe Cazuzinha, o rapaz que chutava pombos quando ninguém estava olhando, a oficial de justiça budista, o fumante-inveterado-convertido-em-ciclista, o percussionista movido a lítio...

Uma saudade de degredo, uma saudade expatriada. Juiz de Fora me dói na prática, logo em mim, campeã teórica da dor de um exílio até então experimentado somente nos versos de outros. A saudade verbo se faz carne em mim a cada pensamento das montanhas de Minas, a cada baforada sabor metástase que me dá vontade de largar tudo o que tenho (?) aqui para voltar e começar tudo de novo lá.

But I'm not there, I'm gone.

*abre mais uma Itaipava, fuma mais um Marlboro, suspira*

Eu estou acabando comigo A Região dos Lagos está acabando comigo. Há 14 meses que a minha vida transformou-se em cigarettes and alcohol, sedentarismo compulsório sob o sol de um banzo insuportável que às vezes atinge massa crítica. E logo quando acho que não dá mais, vivo dias de glória tropical que fazem tudo valer a pena, como o fim de semana que tinha intenção de narrar nesse (mais um) post alcoolizado antes de perder completamente o fio da meada ao tentar acompanhar os tatus.

Fim de semana lagarteando nas areias da lagoa, catando conchas com os amigos, fim de semana de pele grudenta de sal e o chão sujo de areia.

Passei a tarde sentada num rochedo à beira-mar, tomando sol de mormaço e contando tartarugas na água. HECK, eu SEGUREI uma tartaruga-marinha nos braços hoje enquanto ajudava pescadores a retirar de sua barbatana o anzol e a linha que a trouxeram até a praia. Bel, amiga que tanto se encantou com os rebanhos de tartarugas daqui: eu tive uma delas no colo, sista. Senti sua pulsação nas mãos, corri meus dedos sobre a aspereza suave da carapaça, mirei olhos antiquíssimos que piscavam lentamente.

Foi lindo.

Não consigo imaginar nada -- além nadar com golfinhos, abraçar um panda ou cavalgar um unicórnio, talvez -- que se compare à magia quase brega que foi ter aquele bicho nas mãos: Eu fui feliz, Silviooooommmm. Fiz xixi no mato, peguei um roseado zégzy, caminhei uns quatro quilômetros de volta pra casa, vi árvores amareladas de canários-do-reino quando já ia me esquecendo de que sim, "nos bosques há árvores loucas de pássaros"... Cheguei em casa e capotei no sono sem sonhos dos exaustos, para acordar renovada duas horas depois, com o cheiro do protetor solar, da maresia e do suor me lembrando da tarde marítima.

O ponto de vista cria o objeto, Xochiquetzal. Você tem que se lembrar disso antes de completar sua rotina de auto-destruição. É possível ser feliz no desterro e na desdita. Deixa de ser dramática, toca o carpe diem nessa porra e transforme seu Poe em Gonçalves Dias:

Quoth the Raven: NEVERMORE! my ass:Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, motherfuckers!

--Xochiquetzal, tocando blues no cavaquinho.


Songs to this post:

"Mergulho Marítimo" - Pedro Luís e a Parede
"Gandaia das Ondas/Pedra e Areia" - Lenine
"A Cigarra" - Elza Soares

quarta-feira, 15 de julho de 2009

MEOW.





I -- SO -- completely disagree.

--Xochiquetzal, purring =^.^=

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A shot in your head

Primeiramente...

This fuck is gonna give me a fuck me for the fuckin' rest of my fuckin' walk with the ta-fucking-tus.



Eu SUR-TEI.

.

Segundamente,
Minha querida lagartixa borboleta etílica, não me ache uma sádica, mas é na dor e na crise que você produz seus melhores posts, suas notas mais agudas, suas palavras mais suculentas. Eu leio e gosto sem culpa porque sei que

Regra óbvia n° 1:
VAI PASSAR


Apesar de toda a calda de drama e hipérboles, seu Ode a um Sábado Fracassado me deu até fome pelos seus miolos.




i can haz your brains?


.
Duas da manhã de uma quarta-feira e eu aqui, na terceira Skol de 500 ml, no segundo lote de tatus olímpicos e comendo pão com mortadela.
É a Ode de Uma Bon-Vivant falida, amigos.

Mas sabe o que é mais divertido?
I really don't care and I'm really happy right now.


i love you, MJ.

Regra óbvia n° 2:
Existem, no mínimo, meia dúzia de coisas mais importantes que dinheiro e que cumprir responsabilidades.


(Atillah, you little asshole, você estava certo)

.
Cada vez mais acho que, se não fossem umas muletas aí, eu não teria metade do auto-controle que tenho, e possivelmente já teria me jogado da janela do quinto andar, nada fácil de entende alguns anos atrás. Minhas muletas são tipo o oxigênio: eu sei que me estragam, mas não dá pra viver sem.

Ou dá?



Sabe o que é engraçado?
Eu rezei¹, rezei e rezei para que as coisas fossem diferentes para mim. E agora que as minhas preces foram atendidas, eu acho que as coisas estavam melhor que antes de eu cometer a estupidez de pedir por algo diferente.

"Morris said the things happened so naturally," said his father, "that you might if you so wished attribute it to coincedence."

Já leram The Monkey's Paw? Uma dica: LEIAM.

.


E apesar da minha fala parecer amarga a alguns, eu estou muito feliz agora mesmo.

- Eu quero ser feliz, Silviommmmm.

Como é triste ter que viver entre insetos.

X., tô escrevendo etílica em fraternidade a você, hein?


___________

¹ "rezar" no sentido figurado (N. da E.)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

FUCK!







--XochiFUCKINquetzal

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A Momentary Lapse of Reason






Ler. Ler para não enlouquecer, ler para não matar alguém, ou a si próprio. Ler para encontrar a mim mesma nos outros. Ler.

Leio desesperadamente desde muito pequena, e a literatura sempre foi a âncora da nau
desgovernada que sou desde... bem, muito pequena.

Muito bonito tudo isso, mas o que eu gostaria de dizer é que acabo de me dar conta que ando lendo significativamente menos desde que entrei na downward spiral na qual me encontro/encontrava. Não me lembro da última vez que tive paz para organizar meu espírito nas palavras dos outros, e isso me assusta. Por algum tempo pensei que finalmente não precisava mais da muleta literária para me apoiar nesse mundo -- que poderia sair mancando realidade afora com a graça de um paciente terminal de Parkinson sem maiores preocupações do que...

*INTERROMPEMOS ESSE POST PARA UMA PAUSA ETÍLICA*

Pois então... desde a volta do Huno a seu estado de origem, comecei a aprender aos tropeções a beber a gloriosa cerveja -- que fiz questão de desprezar publicamente nesses dez anos de abstenção dos fermentados. "Odeio cerveja, cerveja, engorda, eca cerveja", dizia a antiga ninja Sparrow, do alto de suas gloriosas quatro doses de rum e a meio caminho do banheiro, de onde só sairia para o ocaso humilhante de suas aspirações piratas -- entre risadas de lúpulo do Huno e do Gringo.

Então: estou aprendendo a beber cerveja aos 28 anos de idade. Olhem isso. Neste momento de meu sábado fracassado, pouco após escrever o post sobre minha atual depressão, resolvi abrir as duas garrafas de cerveja da geladeira e bebê-las sozinha, entre tatus e meu acervo de vídeos do YouTube. Alegria, alegria.

Um dos motivos de estar bebendo absurdamente tanto -- para meus padrões de consumo
Amish -- nessas últimas semanas, além da maravilhosa descoberta da suavidade dos fermentados sobre o estupor dos destilados, tem a ver com o fato de eu estar buscando limites alcoólicos que deveria ter adquirido há muitos anos atrás. Boldly going where no one has gone before, but ten years later, grr.

Logo, estou tropeçando em minhas limitações alcoólicas, catando milho no teclado, pedindo a Dionísio que o que eu escreva agora esteja de alguma forma reconhecível como proto-texto amanhã -- quando ficarei bêbada de novo para evitar a ressaca.

Ah. Aproveito o momento para lamentar a morte anunciada do brilhante Caros Leitores, que me privou de um ângulo singularmente inteligente de ver a vida. Choro, vela e fita amarela ao Caros Leitores -- e votos de que Lord W. volte a agraciar a blogosfera com sua visão deliciosamente aguçada do mundo o mais rápido possível.

Acabaram-se as duas garrafas de Brahma, acabou-se o maço de Marlboro que eu tinha e minha seleção de vídeos do YouTube... agora estou só com meus pensamentos bêbados, ainda me acostumando a eles. Tantas coisas a dizer e tanto

(série de palavras incompreensíveis)

esses malditos dedos que se recusam a fazer o que o meu cérebro manda. MUNDO INJUSTO, INJUSTO!

Enfim. Estava falando da drástica redução de meu ritmo de leitura e da angústia silenciosa que tal redução me causa. Descobria-me confusa, irritada, nervosa por não
encontrar a palavra impressa que representava perfeitamente minha confusão, nervosismo, irritação. Não me lembro (o que não quer dizer muita coisa) de ter me abstido da leitura voluntariamente antes. Tudo muito novo pra mim, essas coisas tudo.

Quando estava hospedando meia dúzia das mais adoráveis pessoas insanas do mundo durante o festival de jazz e blues, me deparei com minha antiga coletânea de versos de Pessoa no banheiro de hóspedes -- colocada lá como laxante literário. Comecei a reler os versos em êxtase, esquecida de seus efeitos narcóticos, deslembrada dos ecos de mim mesma que encontro no Poeta.

Tinha planos remotos -- antes de começar a beber -- de digitar verso a verso um poema do Portuga que é a descrição do eu de agora, por mais piegas e comprometedor que isso seja. Infelizmente terei que esperar até ter acesso à Web para procurar tal poema online -- sem condições de digitar agora. No way.

A literatura é minhs religião, e venho me sentindo afastada de meu Deus por muito, muito tempo.

Há um desterro emocional que acompanha a falta de leitura e me deprime horrivelmente.

Uma tarde inusitada, conversando com a Lea entre café e cigarros na cozinha de casa, ela confessou partilhar de meu credo, a Literaura sendo capaz de englobar todas as ciências sem se comprometer com nehuma delas. Esqueci-me do nome da Musa da poesia lírica -- onde estás, Google, quando preciso de ti -- mas hei de lembrar-me.

HEI DE FICAR BOA PARA VINGAR-ME.

Mas, enquanto a sobriedade não vem, sinto-me livre para discorrer sobre minha atual confusão a respeito de todas a idéias que tive e deixei de ter a respeito de Deus -- ou de pelo menos o que eu arrisco a chamar de Deus. O ateísmo não me cai bem -- há em mim um senso (muitas vezes enganoso) do Inefável que repele sua total negação. O Cristianismo para mim é uma negação por si só, e as alternativas -- bem, por mais simpáticas que sejam, exalam aquela (aura?) de ovo podre da idéia comum da Deidade.

E fico aqui, entre o cinismo de meu intelecto e o maravilhoso de meu coração, mais perdida do que bala em boca de banguela, tentando desesperadamente fazer sentido do que está dentro de mim...

...quando me deparo com as Tábuas da Lei nos versos de Pessoa:


Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.


Ai meu estomo. Vou lá tomar um omeprazol e já volto.

(18 horas depois...)

Tenho que aprender a apreciar a vida com moderação.

Xochiquetzal, publique seus ramblings acima como mea culpa e largue essa vida bandida.

Live fast die young my ass
-- eu quero ser feliz Silviommmmm.

Shit.

--Xochiquetzal, Heterônima de uma Menina Aí.