domingo, 12 de agosto de 2007

Se murar vira colégio, se cobrir vira circo


"Todos somos muito ignorantes. O que acontece é que nem todos ignoramos as mesmas coisas."
--Einstein



Adivinhem só... o carrinho serotoninérgico da montanha-russa do meu cérebro voltou à sua espiral descendente, após algumas semanas de trégua emocional marcadas por inenarráveis e extáticos loops de mania. It doesn't hurt when you fall, only when you land... bem, daqui de cima a altura é monstruosa. O carrinho subiu, atingiu o ápice da loucura, adquiriu o momentum da realidade e está começando a destestável descida para o Averno da minha alma. Estou com vertigo existencial só ao contemplar a queda.

Ouch.

Mas voltemos à nossa busca vã. Antes de mais tudo temos que definir melhor esse adjetivo:

VÃO (do latim vanu): vazio, oco, inútil, sem valor, ilusório, irreal, falso, fantástico, frívolo, fútil,ineficaz, vanglorioso -- and so it goes.

Acho que a definição da busca intelecto-existencial como vã é uma questão de perspectiva -- que no nosso caso, piratas-da-perna-de-pau-do-olho-de-vidro-da-cara-de-mau, tende a ser um tanto falha já que carecemos da noção de profundidade.

Talvez seu problema seja estar focalizando seu olho no "vazio, oco, inútil, sem valor, ineficaz". Visto através dessa lente, "vão" é realmente um adjetivo escroto, traiçoeiro. Ele te leva a um julgamento pejorativo do desejo de saber, da incompletude que, para mim, é o cerne da existência. Como qualquer calouro doidão de Filosofia poderia dizer, a busca e o questionar são importantes. As respostas, não. Aliás, quando encontradas, estas são descartáveis -- nossas certezas e valores mudam a cada dia, e nossas chamadas respostas não fogem à essa regra. Somos seres mutantes em constante evolução, e evoluir significa errar e tentar, errar e tentar de novo, até nos tornarmos mestres em evitar determinados erros, nos considerarmos seres supremos e... cairmos em um erro mais complexo e dar reboot no processo.

Sadismo do Inefável? Acho que não. Estamos aqui para aprender, e revoltar-se contra o processo -- progressista, aliás -- de aprendizagem só gera dor. Alunos problemáticos acabam passando o recreio na sala do diretor, tendo sua merenda roubada por coleguinhas e fazendo dever de casa extra.

Não vejo muito problema em se estabacar na frente de toda a escola, levantar, limpar o uniforme, sorrir amarelo e tentar de novo, nem que seja para se estabacar de novo três passos adiante. Cedo ou tarde você acaba aprendendo; se demorar muito, pelo menos vai trazer algum riso a esse Ateneu no qual estamos confinados -- onde a gigantesca maioria dos alunos sequer suspeita da natureza do lugar onde está, ou mesmo se reconhece como estudante de alguma coisa.

Eu cheguei a conclusão de que um dos meus maiores erros era me levar a sério demais. Desde que assumi o que há de histriônico em mim, os tombos se encheram de graça. Palhaça-acrobata, descobri que não há nada melhor do que levantar de uma queda digna de Ícaro com um estupendo "TA-DA!!!!" acompanhado de rufar de tambores e pose circense.

Enquanto aprendo, entretenho meus colegas de internato.

Suspeito que revoltar-se com a natureza mutável de tudo que nos rodeia é como revoltar-se contra o fato de nossos dentes serem os únicos ossos incapazes de auto-reparação, ou contra calcinhas de algodão bege recebidas como presente de aniversário, ou contra a celulite. Faz parte.

Como todas as mazelas que me acompanham, utilizo minha perspectiva distorcida para justificar tudo o que faço (ou mais frequentemente, deixo de fazer) nessa vida louca e torta. Minha busca pode ser vã, mas é ilusória e irreal como o véu de Maya, frívola e fútil como a essência feminina, fantástica em suas surpresas e gloriosa como a ordem do Universo. Não sou masoquista; meu prazer não está na queda, mas no TA-DA! que a sucede. Tento fazer dos meus erros minha obra de arte. Caindo e aprendendo.

Precisamos da humildade -- carente na gigantesca maioria dos abençoados com um intelecto saliente e um espírito questionador -- de reconhecermos que não fazemos a menor idéia de onde estamos indo. É duro baixar a cabeça após anos caminhando entre urbanas massas cinzentas enquanto possuidores de um cérebro LCD widescreen digital stereo surround mega turbo fluorescente. Anos de orgulho intelectual não se vão assim tão fácil -- ou pelo menos nos convencemos disso. É chegada a hora de despir a beca do intelectual e vestir a roupa de palhaço, o collant (ui!) do acrobata, tomar do chicote e da cadeira do domador de feras. Pôr a cartola do ringmaster e urrar "bring in the clowns!" para delírio da massa cinzenta que nos assiste.

Panis et circensis. Sejamos artistas do saber. Ars gratia artis, buddy.

TA-DAAAAAAAA!

--Xochiquetzal.

*APPLAUSE*

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