sábado, 21 de julho de 2007

HEIL KITLER!


Atillah, engraçada essa sua competitividade. Sempre fomos extremamente competitivos, talvez por sermos tão parecidos e vermos no outro um modelo a superar -- mas nunca realmente parei para pensar que os nossos cromossomos poderiam vir a criar um problema. E daí se eu sou menina? Não vou sair queimando sutiãs nesse blog nem outras palhaçadas feministas -- movimento que, diga-se de passagem, só fodeu ainda mais com minhas camaradas de calcinha -- mas acho que o fato de eu possuir um par XX em vez do seu poderoso XY não me impede de citar Conan, Buttman, Bukowski, Mr T ou qualquer outro ícone do universo "masculino". Tem culpa eu de ser intelecto-sexualmente eclética? Don't you oppress me!

Sei que sou uma mulher sui generis em um mundo povoado por meninas de piastra (até hoje não sei o que é essa porra) no cabelo, telespectadoras cativas de Malhação e fãs de Ivete Sangalo. Assisto filmes cult, falo mais palavrão do que marinheiro bêbado, tenho uma voz única e uma presença física difícil de ignorar. Some a isso o fato de um dia eu ter feito parte da cena musical da cidade e está explicado o porquê da maioria das mulheres me considerar sapata, bissexual ou simplesmente insuportável. Antes eu meio que me ressentia disso. Hoje, vendo o nível cultural de minhas companheiras de estro (desculpem a generalização, leitoras imaginárias), orgulho-me em ser eu -- sapata ou não, sempre se ganha mais jogando nos dois times. Única, inteligente, erudita, multitalentosa, radiante, belíssima eu. A modéstia eu deixei para trás com os últimos excedentes adiposos que eliminei da minha vida.

Resumindo, eu sou foda. Não existe mulher que se compare à mim, eu deveria dominar o mundo, ter minha própria linha de sandálias Azaléa etc etc etc. Se sou tão boa assim, porque perderia meu tempo e talento escrevendo com um ser "pequeno" e emasculado como você? Você tem sido objeto de minha admiração e afeto há 12 anos. Um homem capaz de tanto deve ter bolas de adamantium. So cut the crap.

Eu não coloco ninguém em lugar nenhum. Converse aí com seus botões (já que você se especializou em conversar com botões, não deve ser difícil) e me diga por que você se sente diminuto. Como diria Thom Yorke: You do it to yourself, you do / And that's why it really hurts... (GRANDE e óbvia verdade essa)

Mas tá bom então. Chega de malhar o Judas.

SINCRONICIDADE.

Mais uma grande e óbvia verdade da existência, que livros como O Segredo mastigam para as massas, deixando um punhado de pessoas ridiculamente ricas. Por que diabos a gente não escreve um livro com todas as grandes e óbvias verdades que conseguimos apreender em nossos vinte e poucos anos de vida, com um design misterioso à la The daVinci Code, citações espirituais retiradas de Monster's Manuals de AD&D e ficamos ricos também? Putaquepariu. Desde que eu me entendo por ser pensante percebi a sincronicidade na minha vida, especialmente com os relacionamentos que importam e fazem de mim uma pessoa melhor. A sincronicidade me mostra quais livros ler, filmes asissistir, coisas nas quais pensar. E NUNCA falha, desde que eu preste atenção a ela e a veja funcionando com suas rebimbocas e parafusetas estalando metafisicamente no éter, lubrificadas com o óleo de minha consciência participante. Há pouco tempo atrás li o (pessimamente escrito) A Profecia Celestina -- que é exatamente sobre isso. Baby Consuelo (Rá!) estava certa: o Universo conspira em nosso favor. Megalomania de grandes símios, poeira de estrelas em um Universo indiferente? Talvez. Mas que funciona, funciona.

Linda a citação do seu último post. Só desconcordo com a parte da "ostra inútil": a pérola do bivalve em questão localiza-se exatamente nesse textículo que te tocou, aqueceu seu duodeno, beijou seu cérebro. E foi passada adiante, como uma jóia de família, para nosso blog, para mim, e para os leitores (encarnados e desencarnados) que temos. Ostras inúteis são as que nada produzem, consomem os recursos (que hoje em dia estão mais para dejetos) do mar cultural que as rodeia, nascemcrescemreproduzemmorrem deixando como legado ao nosso gene pool mais algumas ostras que só servem para isso: para revirar o lodo do fundo do mar, regalar-se na matéria morta e --oh apogeu! -- findar sua vidinha descendo pela goela de algum ricaço em um restaurante caríssimo.

Livre-se do fardo quase que inerente ao verbro "produzir". Todos somos ambiciosos, queremos mudar o mundo, produzir uma pérola que possa ser exibida entre as grandes pérolas da História no Smithsonian. Pouco a pouco vejo que isso é bobagem -- pior ainda, como o Bom Livro nos diz:

Ecclesiastes 1

The Vanity of Life
1 The words of the Preacher, the son of David, king in Jerusalem.
2 “ Vanity of vanities,” says the Preacher;

“ Vanity of vanities, all is vanity.”
3 What profit has a man from all his labor
In which he toils under the sun?
4 One generation passes away, and another generation comes;
But the earth abides forever.
5 The sun also rises, and the sun goes down,
And hastens to the place where it arose.
6 The wind goes toward the south,
And turns around to the north;
The wind whirls about continually,
And comes again on its circuit.
7 All the rivers run into the sea,
Yet the sea is not full;
To the place from which the rivers come,
There they return again.
8 All things are full of labor;
Man cannot express it.
The eye is not satisfied with seeing,
Nor the ear filled with hearing.
9 That which has been is what will be,
That which is done is what will be done,
And there is nothing new under the sun.
10 Is there anything of which it may be said,

“ See, this is new”?
It has already been in ancient times before us.
11 There is no remembrance of former things,
Nor will there be any remembrance of things that are to come
By those who will come after.
The Grief of Wisdom
12 I, the Preacher, was king over Israel in Jerusalem. And I set my heart to seek and search out by wisdom concerning all that is done under heaven; this burdensome task God has given to the sons of man, by which they may be exercised. I have seen all the works that are done under the sun; and indeed, all is vanity and grasping for the wind.

15 What is crooked cannot be made straight,
And what is lacking cannot be numbered.

16 I communed with my heart, saying, “Look, I have attained greatness, and have gained more wisdom than all who were before me in Jerusalem. My heart has understood great wisdom and knowledge.” And I set my heart to know wisdom and to know madness and folly. I perceived that this also is grasping for the wind.

18 For in much wisdom is much grief,
And he who increases knowledge increases sorrow.

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Pois é. Tudo é vaidade. Quanto mais eu medito na metáfora da ostra, mais coisas me vêm à cabeça: a ostra morre para entregar sua pérola, que vai enfeitar o pescoço de alguma madame que não faz noção do antiquíssimo e reverendo processo que a produziu. Então, "produzir" pérolas para quê? Sejamos pérolas. Contentemo-nos com o que há de precioso dentro de nós, que alguns privilegiados conseguem perceber. Se formos ostras workaholics, que precisam expelir e criar, expelir e criar, seja por vaidade, seja por sofrimento, abracemos nossa natureza: escrevamos best-sellers, sinfonias, pintemos nossa Guernica. Se não, guardemos as pérolas dentro da gente, por mais que elas doam. Nossos moluscos amados as admirarão, e se tivermos sorte conseguiremos -- o que talvez seja a nossa grande missão nesse mundo, por mais reticente à idéia de procriação que eu seja -- passá-las adiante às nossas ostrinhas. Um dia haverá o Grande Levante das Ostras Constipadas, e marcharemos do limo do oceano, cagando pérolas por onde passarmos, cegando os outros moluscos com o brilho de nossos excrementos.

Quero ver minha linhagem nesse Levante, e sorrir para ela lá do Grande Céu das Ostras.

Let's be fruitful and multiply; enquanto não dá para parir baby oysters, toquemos, como você disse, as ostras ao nosso redor -- falando, ouvindo, rindo, chorando, SENDO. Afinal, dentro de duas, com sorte três gerações, we'll be dust in the wind. Que pelo menos nossas palavras ecoem baixinho no inconsciente de nossa prole.

To happiness!

--Xochiquetzal, a Verborrágica.

P.S. - Esse post ficou uma merda porque eu me senti pressionada o tempo todo pra liberar o computador para o uso do patrão. Não julguem minha capacidade de coesão e genialidade literária por esse textículo medíocre, leitores imaginários... ou se quiserem, julguem e enfiem esse post no cu. Com sorte, daqui a um tempo vocês produzam uma pérola a partir desse pequeno grão de areia desconexo.

Um comentário:

uma pessoa aleatória disse...

OMG

além de verborrágica, você também é "reticente à idéia de procriação" !

e a sincronicidade cada vez mais gera sincronicidade...