sábado, 23 de agosto de 2008

Bodas de Marfim (What if...)





A intimidade é uma merda.

No entanto, após quinze anos de love/hate com o Atillah, quando a maioria dos relacionamentos já se transformou em calcinhas beges, chinelo Rider e cerveja quente na laje aos domingos, continuo me surpreendendo com a quantidade de episódios de nossa vida que come full circle, iniciando mais uma espiral ascendente me nossa interação cósmica, up up and away rumo a esferas cada vez mais interessantes e insólitas. Descubro-me tentando distinguir onde termino e ele começa mais uma vez, e outra, e outra. Temos nossas inside jokes, nossas pequenas – e grandes – crueldades e temas recorrentes que nos acompanham nessas bodas de marfim. Um deles é o do niilismo, que zoei com catiguria algumas vezes, e voltou pra me dizer "I told you so" quando fomos apresentados em tempo real ao The Nihilist Manifesto. Tive que rever meus conceitos de modo quase trágico. A língua é o chicote da bunda:

Xochiquetzal diz: MUITO bom o texto
Xochiquetzal diz: o Manifesto
Xochiquetzal diz: reli umas três vezes. Muito pertinente. Painfully so. Não vou ao extremo de me rotular niilista (ou qualquer outro -ista além dos que já me foram imputados), mas ó: first quality food for thought
Xochiquetzal diz: deu até domestic dispute
Atillah - Nihilist Clown diz: é
Xochiquetzal diz: o patrão ficou puto comigo
Atillah - Nihilist Clown diz: foi foda
Atillah - Nihilist Clown diz: até as partes que ensaiam uma certa incoerência não são facilmente atacáveis
Atillah - Nihilist Clown diz: até porque, os supostos defeitos do texto, como arrogância, pretensão, etc, também são defeitos meus
Atillah - Nihilist Clown diz: ler aquilo ali foi como olhar no espelho, foi bizarro
Xochiquetzal diz: sim, até a agressão referente a negros, morons e tal, que doem de primeira, caem ao chão depois de uma análise mais distanciada
Xochiquetzal diz: sim, o texto é absurdamente arrogante
Xochiquetzal diz: me vi ali também, o que me incomodou muito, mas daí pensei "que se foda, porque é que eu não tenho o direito de ser arrogante quando todo mundo esfrega seu direito de ser estúpido na minha cara on a daily basis"?
Xochiquetzal diz: cansei de ser forçada a me sentir mal/culpada por ser do jeito que sou
Xochiquetzal diz: arrogante, pedante, preconceituosa... que se foda
Atillah - Nihilist Clown diz: isso foi genial, por favor cita no blog em algum momento

“We can live in our own mental worlds, perhaps, but the world outside of us keeps going, and our interaction with it is the only determination of success or failure; the rest is entirely cognitive dissonance.”

Meu unicórnio bateu asas e voou, e sua ausência me mostrou o quanto da inquietação na qual eu andava imersa há anos era pura angústia da separação: parte de mim pressentia a falência total de meus alicerces dissonantes de pensamento, mas recusava-se a largar o osso; era mais confortável, era mais exótico, era parte do meu mito de mim mesma. Eu, que me julgava esclarecida, recusava a admitir que nada sabia e sofria por saber que vivia uma farsa. Reconhecia que o unicórnio incomodava, mas insistia a arrastá-lo pelo cabresto; não podia deixá-lo ir. Sofria por saber que ele TINHA que ir. E ele foi.

E eu me senti... em paz.



“ (…) the intermediate problem is that living in such societies is, at the lowest and highest levels of our perception, disturbing. Not only is there illusion taken as reality, but it is an illusion created out of what ideas are popular and therefore (because most people are not wise) contra-wisdom and contra-realistic. In later civilization, we all serve the whims of popularity and the illusions of the crowd, awaiting that future day when the shit finally hits the fan and we are forced to acknowledge our reliance on illusion.”

Permaneço relutante em subscrever a qualquer –ismo, mas não me lembro da última vez em que um texto clarificou tanta coisa que já zanzava pela minha cabeça -- como meu desconforto em ter que adaptar minhas ações/reações ao mínimo denominador comum das pessoas ao meu redor. Não posso falar como penso, o que penso, quando penso, porque receio ofender os outros, já que me foi imposto que ser inteligente é ser marginal, é ser desagradável, dissonante, incômodo. Minha interação com o mundo é de um tatibitate ultrajante. Diminuo-me ao pensar duas vezes antes de usar palavras como “amálgama” em meu ambiente de trabalho para “não soar pretensiosa”; nego minha natureza e toda a busca no conhecimento que me é cara diariamente. No entanto, as pessoas não pensam duas vezes antes de puxar conversa comigo sobre o novo quadro do Zorra Total. Ninguém se envergonha de dizer “seje” ou repetir o último bordão da novela das oito. Ninguém leva a pecha de ignorante.

A errada sou eu.

Sinto um pouco de vergonha (ela, de novo) por ter levado tanto tempo para ligar o foda-se em níveis mais profundos de minha consciência (e ainda faltam muitos a explorar), por ter precisado do empurrão de meu Nihilist Bear para chegar a pensamento tão óbvio. Pode ser que no futuro eu venha a mudar de idéia, but there is but one moment, and it is now, and it is eternity. Besides, I'm pretty good at taking things back.


“To analyze reality is to see that it operates like thought; to analyze thought is to see that the world operates much as thoughts do, and therefore, that putting thoughts into flesh is the supreme form of thinking.”



Thinking,

--Xochiquetzal.










Um comentário:

Bel disse...

adorei os "what if", mas não me empolguei tanto quanto vocês dois nessa onda niilista aí. falta-me embasamento teórico prá entrar nessa discussão com vocês.

shame on me, mas ninguém é perfeito =(