it's real, the pain you feel
you trust, you must
confess
is someone getting the best, the best, the best, the best of you?
Por algum motivo ainda obscuro prá mim,
Desde então, tenho me sentido muito sozinha.
Por mais emo que isso possa parecer, em minha defesa tenho a dizer que essas foram duas coisas que me entristeceram bastante. Eu tinha dois passarinhos na mão e agora os dois estão voando. Sei que a vida é assim, as pessoas têm que se mudar, minha irmã ia acabar se casando mesmo etc e tal, mas saber que isso ia acontecer não torna a solidão menor.
Depois desse prólogo melancólico, vamos aos finalmentes.
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Nossas trajetórias até a neo-pobreza foram bem diferentes. Talvez por isso mesmo que nossas conclusões sejam opostas.
Não nasci rica, tornamo-nos ricos depois de uns 9 anos juntando um dinheiro. Lembro que nos primórdios da minha vida eu morava numa rua sem asfalto, até comprarmos A CASA em outra cidade, que até hoje representa momentos de verdadeira felicidade prá mim, tal qual a vida no internato. A CASA era velha, torta e estranha, mas entrou meu pai com o dinheiro e minha mãe com o bom gosto. Reformamos do teto ao piso. Não era um palácio, mas era invejável. Lá, minha amiga, eu fui feliz... Era o verdadeiro sonho americano: jardim na frente, cheio de borboletas que eu brincava de caçar com minha irmã (prendíamos as mais coloridas num vidro de palmito, ficávamos decidindo quem tinha a mais bonita e depois soltávamos), dois pinheiros envergados fazendo um arco sobre a escada da entrada, que ficavam cobertos de luzes piscando no Natal, janelas e portas verdes, uma churrasqueira e um pomar no fundo e, dentro da casa, uma família sólida, beirando à perfeição e muito feliz. Pai trabalhador, mãe amorosa, duas meninas inteligentes, faceiras e que desde a infância se amam alucinadamente, e uma cachorrinha dachshund teckel que, ironicamente, morreu após o divórcio.
Adiós Nonino... que largo sin vos, será el camino.
Dolor, tristeza, la mesa y el pan
Y mi adiós, ay!, mi adiós, a tu amor, tu tabaco, tu vino.
¿Quién? Sin piedad, me robó la mitad, al llevarte, Nonino...
(peço licença poética ao Piazzolla, para que "Nonino" possa significar outra coisa para mim)
Até o divórcio, nunca tinha visto meus pais brigaram. Na verdade, as brigas nunca foram freqüentes até o dinheiro começar a faltar. Quando tínhamos dinheiro, meu pai mandou minha mãe calar a boca na frente "das meninas" e isso foi motivo prá ele mandar rosas prá minha mãe durante uma semana, como um pedido de desculpas. Quando não tínhamos verdinhas, mamãe ameaçou papai com uma faca e depois botou fogo no álbum de casamento deles (nessa época nefasta já havíamos colocado A CASA para alugar). Não é de se espantar que eu associe dinheiro à estabilidade, felicidade e amor... eu tenho um passado todo me dizendo que enquanto eu tinha dinheiro, eu tinha bases sólidas e era feliz.
Sua fase rica, querida X., aparentou ser uma maçã cheia de fungos dentro de uma redoma de cristal: lindo e perfeito por fora, podre por dentro. Bem coisa de filme roliúdiano mesmo, merecendo até um look closer do American Beauty.
(que fique bem claro que concluí isso única e exclusivamente pelo que você escreveu no seu post, não pretendendo julgar sua história ou algo do gênero)
Enquanto nós tivemos dinheiro, nós fomos felizes; se bem me lembro, a falência precedeu o divórcio. Posso até arriscar a dizer que a falência também causou o divórcio.
Eu admito crer que sou um ser humano exemplar (vai se foder, modéstia, sou mesmo!) porque tive uma base maravilhosa enquanto fui criança. Mas depois que os reveses foderam minha temperança e chuparam de canudinho the best of me, fiquei escorregadia, arisca, sarcástica, azeda.
O resultado? O resultado é essa colcha de retalhos da minha psique, sempre esperando o pior. Sou instável, fruto do meu meio.
Agora, se a instabilidade que tirou a minha pureza é emocional, e não financeira, eu já não sei.
No meu passado, dinheiro e felicidade andaram juntinhos de mãos dadas; tal qual a instabilidade financeira fez patota com os choros, com a mania estúpida de me cortar, com as brigas, o ódio, o alcool, a vontade de bater a cabeça na parede até sair sangue, prá ver se aquelas discussões assombrosas se faziam calar.
Como me disse o Atillah esses dias, somos escravos do passado. Isso não é uma coisa dantesca? Quero dizer, a gente sempre diz "quem vive de passado é museu". MEU OVO que é o museu. Nós vivemos do passado; melhor dizendo, somos fruto dele, um amontoado de casquinhas de experiências ruins e boas, que foi o que sobrou de tudo aquilo que nós já fomos e vimos.
Tudo passa, até uva passa.
Não, não passa. A dor, o sofrimento e a inconformidade passam, tal qual a alegria e a euforia. O passado não passa, ele fica criando musgo e bolor dentro de nós, se acumulando e se inchando cada vez mais. Podemos até tentar fugir do passado, num Kate-de-Lost lifestyle. Mas e o passado que a gente carrega
Tem como apertar o reset?
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É lógico, eu tenho que terminar o post upando aqui o tango supracitado.
Adiós, Nonino
Uma das pérolas mais bonitas produzida por uma ostra triste. Rejubilai-vos, ó nações do mundo, pois apesar de tantos fardos ainda existem coisas belas para serem apreciadas. Um bom tango torna qualquer vida mais formosa.
xoxox
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P.S- Atillah, acabei de ver um rascunho seu zanzando pelo Blogger. Dá prá terminar essa coisa logo e postar?
Um comentário:
Arrepiante o tango.
Trilha sonora perfeita.
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