Life is what happens while we're making other plans.

Essa sou eu, imortalizada em mármore.

Estou profundamente revoltada com meu IMC. Estou me sentindo afrontada com a calça jeans que mal me deixa andar, com meus mini-peitos que agora transbordam de modo deselegante do sutiã e com minha bunda -- sempre ela -- que atrai olhares do povo marrom. SOMENTE do povo marrom. Última do patrão (lendo em cima de mim):

"But sweetie, you're so COMFORTABLE!"

Não quero trabalhar hoje. Quero passar o dia no flickr olhando fotos BBW (Big Beautiful Whales Women) e me consolando que, em algum lugar do mundo, há perverts pessoas de mente doentia aberta que amam as mulheres morbidamente obesas calipígias.

Engordei 12, twelve, doce, douze, dodici, zwölf, δώδεκα, DO-ZE quilos desde que me mudei pra cá. Vocês têm idéia do que é isso? VOCÊS TÊM IDÉIA DO QUE É ISSO? Dos danos irreversíveis causados à minha psique? NÃO!!!!! NÃO!!!!! NINGUÉM ME ENTENDE, EU SOU APENAS UMA GORDA INCOMPREENDIDA!!!!!!PUTAQUEPARIU!!!! arrgh!

Aham.

Então, amigos leitores. O negócio é não esquentar a cabeça com o que já aconteceu, parar de pensar obsessivamente no problema e começar a agir agora, tomando a madura decisão de cortar de vez os doces de minha vida antes que me torne diabética, movimentar-me de vez em quando para não criar escaras, comprar uma meia-calça de alta compressão para conter as varizes e andar de cabeça erguida para disfarçar o queixo duplo porque há coisas piores na vida do que usar manequim 48 apertado pra caralho.

Mas então. Deixa eu ler pra ver se me acalmo.

Eu passei um bom tempo pensando em como responder o último post do Atillah, que ficou simplesmente um tesão. Minha primeira reação foi correr atrás de uma cópia de Blade Runner nas locadoras da região -- perda de tempo total, claro. Nas vascas do desespero tentei São YouTube, que me presenteou com o filme inteirinho. Quando vi Blade Runner, há mais de uma década atrás, não tive maturidade para compreender o filme e fiquei sem saber por que tanta gente pagava pau pro Ridley Scott. Achei o filme chato e lento. Quando vi de novo, na semana passada, achei o filme chato e lento, mas concordei que as metáforas inseridas no mesmo são absurdamente belas. A cena final, então, é de um lirismo surpreendente.

E fiquei pensando sobre a finitude humana, e sobre o fato de que, na verdade, estamos sempre vivendo no fim dos tempos. O mundo não vai acabar: o mundo já está acabando, escoando por nossos dedos a cada dia que passa. Creio que o mundo seria melhor se soubéssemos que temos, give or take, quatro anos pra viver. Como doentes terminais que se dão conta da preciosidade do tempo e começam a fazer o que deveria ter sido feito há muitos anos atrás -- mas com uma urgência apaixonada, erótica até, por saber que -- aham -- vão morrer.

O que você faria se soubesse que tem quatro (if you're lucky) anos pela frente? 1460 dias até o Apocalipse? O que mudaria na sua vida?

Pensou? Beleza.

Então, O QUE TE IMPEDE DE FAZER ISSO AGORA????????????????????

E viva a angústia cyberpunk.

Dona Bel e seu hedonismo... pra que ficar quebrando a cabeça com a finitude humana, comendo pra caralho numa tentativa fracassada de saciar a fome de MAIS VIDA, quando se pode comer, beber, trepar, dormir? Ótima pergunta. Meu único problema em relação ao hedonismo vem da fonte do meu prazer: não me contento com mais vida, quero a vida além da percepção. Explorar os "antípodas da mente" de Aldous Huxley, abrindo doors in the wall com a ajuda de chaves químicas. Infelizmente vim parar em um local onde as únicas chaves químicas ao meu alcance brotam nos pastos, no verão; até lá, fico nessa aridez da realidade, lendo Vidas Secas e chorando a morte da cachorra Baleia (no pun intended). Comê, bebê, trepá, oví música, cunversá cus amigu, rí, fumá: just add chemicals. I'm game if you are.

Momento citação pertinente:

"E é claro que eu estou falando de prazer aplicado de uma forma geral em nossas vidas, mas é praticamente impossível desassociar, num nível mais profundo, prazer de sexo, que é uma das coisas-top-prazerosas, junto com comer, dormir, trepar, beber, rir e fumar. Logo, se eu fosse viver de hedonismo, seria uma lontra obesa promíscua e com enfisema pulmonar, fato que me lembra a existência da temperança acima do prazer. É o contraste das partes chatas da vida real que torna as partes boas melhores ainda. A dor é necessária prá que se valorize ainda mais o prazer. Dialogismos impertinentes, esses." -- by Bel.

Coincidência ou não, um xamã me disse uma vez que a lontra é meu power animal.

Ace of Base KICKS ASS!

Born to be Wide,

--Xochiquetzal.