quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Uma piadinha sem-graça e clichê de Réveillon

Boas entradas pra vocês :)



Vestida de branco, enchendo a fuça de espumante e pulando ondinhas,
Bel

p.s- O último post do ano vai ser meu, yay!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

MERRY... something... whatever.



Meninas, me sinto tocado por suas experiências de fim-de-ano. Uma mensagem para cada uma, ok?


Xochiquetzal, darling:

"Feliz Natal. A fraternidade é vermelha. Vermelho-vadia."




Querida Bel:

"Que no ano de 2009 você possa ter toda a felicidade, alegria e dinheiro que você merece já desde o primeiro dia do ano, e que você não precise ficar feliz e desocupada apenas nos estertores finais de um ano onde você trabalha onze meses pra viver só um. Feliz Ano Novo"



love grace tolerance

Atillah

domingo, 28 de dezembro de 2008

Jingle Bel

I.
Da dicotomia dos significados


O termo "dicotomia" me encanta desde o primeiro ano da faculdade, quando estudei Introdução à Lingüística. Foi aquele abrir de olhos, aquele "como não pensei nisso antes?", aquele cair de ficha tão grande que as pessoas do outro lado da rua ouviram o tilintar; e eu passei dias e dias mastigando, ruminando e mascando, enquanto ouvia as engrenagens do meu cérebro funcionando num irritante "nhéc nhéc nhéc" que se prolongou até eu me aprofundar em outro termo tão suculento quanto (o termo em questão seria "idiossincrasia", só pra matar a -já conhecida- curiosidade da minha amiga cor de peido. Aliás, imagino eu que a cor de um peido deve ser a mesma cor de um cu... meus pêsames, espero que seja mesmo inveja alheia).
A dicotomia me voltou à mente quando recebi um e-mail da X., aquele tipo "Deus existe e os cristãos são bonzinhos e melhores que qualquer outro tipo de pessoa, e eles vão pro céu e o resto vai queimar pra sempre no sétimo círculo do inferno" mas que, apesar da mensagem principal não me agradar, a construção da história me agradou. É um e-mail que descreve uma discussão entre um professor (ateu) e um aluno (cristão). Vou transcrever só a parte relevante:

The student stands quietly for a moment, before asking a question of his own. 'Professor, is there such thing as heat?'
'Yes,' the professor replies. 'There's heat.'
'And is there such a thing as cold?'
'Yes, son, there's cold too.'
'No sir, there isn't..'

The professor turns to face the student, obviously interested. The room suddenly becomes very quiet.
The student begins to explain...
'You can have lots of heat, even more heat, super-heat, mega-heat, unlimited heat, white heat, a little heat or no heat, but we don't have anything called 'cold'. We can hit up to 458 degrees below zero, which is no heat, but we can't go any further after that. There is no such thing as cold; otherwise we would be able to go colder than the lowest -458 degrees.'

'Everybody or object is susceptible to study when it has or transmits energy, and heat is what makes a body or matter have or transmit energy. Absolute zero (-458 F) is the total absence of heat. You see, sir, cold is only a word we use to describe the absence of heat. We cannot measure cold. Heat we can measure in thermal units because heat is energy. Cold is not the opposite of heat, sir, just the absence of it.'

Silence across the room. A pen drops somewhere in the classroom, sounding like a hammer.
'What about darkness, professor. Is there such a thing as darkness?'
'Yes,' the professor replies without hesitation. 'What is night if it isn't darkness?'
'You're wrong again, sir. Darkness is not something; it is the absence of something. You can have low light, normal light, bright light, flashing light, but if you have no light constantly you have nothing and its called darkness, isn't it? That's the meaning we use to define the word. In reality, darkness isn't. If it were, you would be able to make darkness darker, wouldn't you?'


Ah, a dicotomia... só sabemos o que é luz porque sabemos o que é escuridão. Só se tem o conceito de doença a partir do conceito de saúde. Sabemos o que é a alegria porque sabemos o que é tristeza. Se fôssemos felizes o tempo todo, isso não seria "felicidade", seria "normalidade". Adoro dicotomias, elas me lembram um Ouroboros.



Mais no sentido de final e início estarem juntos que pela papagaiada alquimista que representa.

II.
Da relação da dicotomia com a pun do título


... E daí que eu só sei o que são FÉRIAS DE VERDADE porque me matei de trabalhar o ano inteiro. O que são as férias , senão ausência de responsabilidades? Ou o que é o trabalho, senão a ausência de diversão e tempo livre? (Dicotomizem isso por mim)
Ralei, caros amigos... ô ano severino, esse de 2008. Faculdade de manhã, trabalho até de noite, mãe desempregada pra sustentar, perrengue, suor, labor e... acabou. Simplesmente acabou, pelo menos por enquanto. E é por ter passado tanta sede durante o ano todo que tô quase me afogando agora. Minha diversão é pensar que não tenho NADA de importante pra fazer, e comer bisnaguinha com requeijão enquanto assisto Malhação ou Aladdin ou tento fazer 100% tocando Madhouse em Guitar Hero II.


EU MEREÇO, PORRA.


Mereço torrar todo meu dinheiro em bobagem, porque eu soube o ano inteiro o que é não ter 40 reais pra um jeans novo. Mereço passar o dia inteiro andando de montanha-russa e dando umas catracadas no carrinho de bate-bate da minha irmã porque eu soube o ano inteiro o que é dar 5 horas de aulas aos sábados de manhã. Mereço beber Smirnoff Ice às 11 da manhã porque passei o ano todo calculando quanto eu economizaria se passasse 2 finais de semana por mês em casa ao invés de sair, pra comprar o maldito par de jeans, que acabei sem comprar porque tive que pagar um tratamento dentário pra velha. Mereço não me preocupar, mereço ser mimada até o osso pela minha irmã. Foi um preço caro a se pagar, mas eu paguei. É uma árdua colheita, mas os frutos estão aí, madurinhos e suculentos, e eu vou comer, sugar, me lambrecar, chupar, lamber, esfregar na cara e no pescoço porque EU MEREÇO.

Só pra dizer que tô tendo um final de ano FODA, recebendo os louros pelos meus esforços e percebendo que já me diverti pelo ano inteiro. E ainda faltam duas semanas de férias pela frente.
Nesse momento, sou o ser mais eufórico do mundo.

KISS MY ASS, YOU BITCHES.


Ainda no terno e afetuoso espírito natalino,
Bel.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Red Bull Te Dá ASAS!






25 de Dezembro de 2008, Chez Xochiquetzal:

Meia garrafa de Orloff pra dentro, boa parte da ceia improvisada pra fora, uma temporada de Futurama depois e dois companheiros desmaiados deixados para trás, tive asas alucinadas para arrumar a cozinha pós-experimentos etílicos de culinária apocalíptica, organizar meu armário, escovar os gatos, separar a roupa branca da colorida e fritar mosquitos com aquela raquetinha elétrica que é uma das grandes alegrias de quem mora na praia -- tudo isso ao som retumbante de uma playlist composta de umas 50 músicas de Bob Dylan que detonariam a sanidade dos presentes, caso estivessem conscientes.

Um brinde de cafeína ao meu primeiro Natal fora do castelo ancestral do clã.

(Procura desesperadamente algo para fazer. Pensa em pintar as unhas de vermelho-vadia mas muda de idéia ao farejar rastros de Raul nas emanações do removedor de esmalte. Decide limpar o interior da geladeira. Desiste após encontrar uma panela de arroz cujo conteúdo havia desenvolvido sistemas políticos rudimentares. Deita no chão da cozinha, bloco de escrever e caneta Bic em punho.)

Red Bull é rola, eu quero a minha mãe! E os meus presentes e meus irmãos com meus presentes, meus tios que de vez em quando me dão presentes, meus 23.3456.32332 (and counting!) primos que nunca me dão nada mesmo e a minha vó, que mesmo me dando o mesmo conjunto de calçolas de algodão bege todo ano é uma véia batuta.

Noite seguinte, resto da Orloff e alguns Red Bulls depois, unhas vermelho-vadia:

fiquei deitada no chão da cozinha, escrevendo poemas dada e pensando na solidão do meu eu-lírico até meu pai me ligar no meio da noite, desejando um Feliz Natal e avisando que estava indo pra night pra pegar muié -- coisa que ele anda fazendo com freqüência desde que se separou da minha madrasta e voltou ao mercado. Meu pai é um sádico que se diverte com a intensidade do meu complexo de Elektra: às vezes ele me liga de um restaurante de Conceição do Mato Dentro (ou algo do tipo), onde está jantando romanticamente com a eleita da semana, e me põe pra falar com ela no celular, cara. Tipo "falaê com a sua nova madrasta malvada, filha!"

O pior é que eu falo. Até os créditos dele acabarem ou meu pai tomar o celular das mãos da madrasta da semana, por receio do que eu possa estar revelando.

Família Ê, família Á, FAMÍLIA.

Acordei no dia 26 e fui à praia, pondo um ponto final (e futuramente crescente, de tonalidades diversas, bordas e textura irregulares) à minha fase Branca de Neve. Me disseram que fiquei com cor de peido, mas acho que é inveja. Anyway, cor de peido é um preço razoável pelo delicioso sol na moleira, pelas brincadeiras com os cachorros de praia, porções de peixe frito, doses de cachaça, debates literários à beira-mar e argutas observações antropológicas de meus companheiros de vadiagem -- sob os auspícios de um quiosque que alternava "Enter Sandman" com "Cara-Caramba-Cara-Caraô".

Foi muito bom pra caralho, como diria o patrão.

Voltei pra casa e me vi sozinha no meu apartamento no meio do brejo, sapos grilos mosquitos pererecas cigarras e o vento gemendo nos coqueiros, só tudo isso.

Sem internet, sem distrações, sem o ruído branco do mundo na cabeça, deixo o tempo livre para correr com meus gatos, atrás dos livros, através de amigos, entrelinhas que amo.

Ho ho ho, estou feliz.

De uma lan house na região dos lagos,

--Xochiquetzal, personagem de Jorge Amado.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

MORRI.





Cabô, gentem, cabô! Cabô a mamata, cabô a moleza, cabô: meu patrão resolveu deixar a empresa em animação suspensa até o fim de janeiro, quando decidirá se vai fechar as portas de vez ou não. Por um lado, terei mais de um mês de férias remuneradas para ficar de saliência brincar de casinha com a Bel, convencer o Atillah de que a vida vale a pena (se ele conseguir comparecer ao I Fórum Interestadual do Espancando Teclados -- já acendi uma vela para Nossa Senhora de Bátima), curtir meus livros, meus gatos, meus amigos, meu gringo, minha praia.


IURRÚL, galera?


Iurrúl é rola: VOU FICAR SEM INTERNET.


Parem um instante e reflitam sobre a gravidade da frase em negrito acima.


Após nove meses gestando meu eu virtual, nove meses blogando, devorando informação aleatória online, mimijando no MSN e ganhando inúmeras vezes o Troféu Orkut de Moda BuddyPoke, vou ficar sem internet.


Façamos um minuto de silêncio por mim.





Mas não se desesperem, meus entes queridos: há vida além da Internet. Assim que meu espírito errante estiver em paz do lado de lá manifestarei-me semanalmente, meus dedos espectrais espancando teclados ectoplásmicos em um centro espírita lan house, diretamente do Limbo.


Câmbio e desligo,


--Xochiquetzal, em busca de Whoopi Goldberg.

Song to this post:
"Unchained Melody" - The Righteous Brothers

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Something Wicked This Way Comes




Preparem-se...




(tenta realizar a possibilidade de ter leitores que não sejam amigos imaginários)

É CLARO que eu achei a ilustração engraçada/creepy. PUTAQUEPARIU, BEL. Primeiro a fórmula do sonho, agora isso?

Pra rebater, mando algo extremamente creepy (sem adição de engraçado). Trata-se da "Fotografia do Medo" de Joshua Hoffine -- artista que não faz uso de colagens ou truques para revelar o horror. Seus modelos são parentes e amigos (Hoffine diz usar o photoshop apenas para ajustes menores de cor e contraste). Os resultados são simplesmente arrepiantes.

Não me lembro da última vez (se é que houve alguma) que a arte me perturbou tanto. Nada, NADA conseguiu trazer de volta os horrores da infância como as imagens perturbadoras de Hoffine. Preparem-se, leitores -- imaginários ou não.

Freaking you out,

--Xochiquetzal.



























Uma piada interna para X:

Atillah: eu avisei que coisas estranhas começariam a acontecer
Atillah: eu avisei
Atillah: mas como sou uma sombra do que era, no momento nào consigo lidar com lhc

Já que o Atillah não tá na vibe, essa vai especialmente pra X.:



Shit, sista. Inefável versão hello-kitty.
Surtei quando vi, só não sei se você vai achar tão engraçado/creepy quanto eu achei.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Espancando Todos os Santos




Santo Antônio Jackson



São Caetano e Gil



São Jorge Brown



São Será o Benedito



Aparição da Virgem



Nossa Senhora Amiga do Peito



Nossa Senhora Desaparecida



São Rock






E ela, a única...

































Nossa Senhora de Bátima.




Olhai por nós que recorremos a vós,


--Xochiquetzal, a Herege.

Broccoli Kitteh



Atillah, não fique assim: quando o bicho pegar, pense em gatinhos. Melhor ainda: pense em gatinhos FISSURADOS por brócolis.



"A vida é bela, nóis que complica ela" -- Pai da Xochiquetzal

My sympathy: you haz it.

--Xochiquetzal.

P.S. - Assim que der respondo seu post de acordo. In the meantime, hang in there, buddy: WE LOVE YOU. We love you as much as this cat loves ridin' a roomba:



sábado, 6 de dezembro de 2008

8am-6pm



A cada dia se morre um pouco.


Bela constatação, perfeitamente óbvia e idiota. Muito mais bela por ser perfeitamente idiota, pois há beleza na estupidez: é como uma folha em branco, imaculada, na qual nenhum fato da vida se grava, uma tabula rasa eternamente a ser escrita, um vir-a-ser que cumpre para sempre a sua função de nunca ser. Bonito isso. Bonito ser estúpido. BONITO, HEEEIN!? “MUITO BONITO, DEZ HORAS DA MANHÃ E AINDA DORMINDO. TÁ ACHANDO QUE A VIDA É SÓ DIVERSÃO?!”


Vai trabalhar, vagabundo.


Mas divago, porque quero fugir do assunto. O que importa é que, seres sem perenidade que somos, desde o primeiro arfar, recém-saído do meio das pernas de alguma mulher, se começa a morrer. Oxigênio, esse algoz: um modafóca disfarçado de herói, tão vital mas ao mesmo tempo tão oxidante; oxidando meus órgãos e aos poucos transformando tudo naqueles pára-choques velhos, cromados, de Brasília 79. Uma Brasília daquelas brancas, onde a ferrugem só faz macular ainda mais a brancura, tornando evidente a deterioração que um dia, com certeza, levará aquela Brasília ao ferro-velho.


Eu sou uma Brasília 79, e a cada dia eu morro um pouco.


Eu sempre morri todo dia e no começo isso até me assustava, mas me disseram que acontece com todo mundo. E se acontece com todo mundo, sabe como é: a gente se acostuma. Parece que o preço de viver é que um dia a diversão toda acaba de uma vez só e você vira adubo. Olha, sé é só isso mesmo, então tá saindo barato. Tem muita gente aí que tá pagando barato e, sinceramente, eles não merecem viver e podiam virar adubo bem antes. Mas isso é outro assunto. Divago. Divago de propósito, pra evitar o assunto principal: a cada dia eu morro um pouco.


Mas agora eu morro mais.


Mas agora eu vivo menos.


Eu era vagabundo.


Morrer mais, viver menos, quisifoda. Que diferença faz? Faz um pouco de diferença, acho. Porque um dia você constata que, se um dia você vai virar adubo, talvez seja, sei lá, LEGAL aproveitar enquanto você não vira. Porque, não tenho certeza, mas acho que vida de adubo não é grande coisa. Tem um tipo de adubo que é basicamente merda de vaca, não tem? Porra, quem quer ser um punhado de merda?


Eu era vagabundo. Eu me sentia bem.


Agora eu me sinto um punhado de merda, cinco dias por semana, das oito às seis. Mas com benefícios e, pasmem, plano odontológico. Eu nem sabia que usavam dente pra fazer adubo.


É, um gosto de merda na boca sabem? Todo dia. Vai ver eu já tô morrendo e virando adubo. Eu trabalho e me sinto um merda. Mas a gente se acostuma. Parece que acontece com todo mundo. Parece que esse lance de viver tem dessas coisas, de você não poder viver direito, porque em pelo menos umas oito ou nove horas do seu dia você precisa se sentir um merda, e não viver. Não dá pra viver e ser adubo ao mesmo tempo. Mas então, você vive mais ou menos metade do dia, morre durante a outra metade e, como bônus, ganha dois dias livres na semana. Ainda é um bom négocio? Viver tá saindo mais caro agora. Tá meio a meio. Tá elas por elas. Tá uma merda. Adubo. Bonito, hein?


Eu falava de idiotas e estúpidos. E vagabundos. Escória. Vou adicionar os imbecis. Porque, olha só, qualquer imbecil pode ver que não tá sendo um bom negócio esse lance aí de viver pouco mais da metade do tempo e virar merda no tempo que sobra. Tá meio caro. Bonito hein, vagabundo? Jogando merda no carro, hein? Depois a Brasília 79 fica toda enferrujada e quero ver quem vai comprar. Não tem conserto não, minha senhora. Deu problema na rebimboca da parafuseta, melhor mandar pro ferro-velho e comprar uma nova. Ninguém quer andar em carro velho.


Mas a gente se acostuma. Se acostuma a morrer.


love grace tolerance

Atillah

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Birth of a butterfly



Que bonito ver seu renascimento, dona X. Ver esse vídeo após ler esse post me lembrou você me dizendo, sobre estar se redescobrindo:
"Estou parindo a mim mesma".

O que gerou piadas posteriores sobre dar um tapinha na bunda do neném. Enfim, divago.
Queria te dizer: bem-vinda de novo ao mundo. Apesar de ele ser uma bittersweet symphony (trying to make ends meet, you're a slave to money then you die, né Atillah?), existem alguns momentos que fazem a luta pra sair do casulo valer a pena.
Existem, sim.
Mas já passou, ex-lagartinha. Trate agora de deixar essas asas secarem pra você dar seus loopings novamente.
Dou-lhe meu presente de boas-vindas:

Mais uma metáfora com o reino vegetal.
Metaphors, we live by. Enquanto você encara suas mudanças como um doloroso sair do casulo, eu estou encarando as minhas como um natural desabrochar de uma flor. É, fodam-se essas risadas de "HIHIHI, sua bichinha" que tô ouvindo daí, mas EU SOU UMA FLORZINHA, CHEIROSA E BONITA,TÁ?
O engraçado é que essas metáforas com flores e vegetais me perseguem. Eu já contei pra vocês que meu antigo fotolog se chamava "áspera pétala"? O atual chama-se "lemon drop". Pobrêmas: i haz dem.

Eu desabrocho. Estar aqui, "convivendo" com vocês, só me fez desabrochar mais e mais. Sacudo o orvalho do caule e abro minhas pétalas, encarando o céu. Tenho meus espinhos, e possivelmente terei mais um bom punhado antes de murchar pra sempre, mas tamos aê: o Sol me espera.
Quando estiver pronta pra voar, venha cafungar meu polén (cheiradora clandestina!) e lamber meu néctar. Minhas folhinhas tremem de excitação e anseiam por este momento.

.
Eu adoro sua dramaticidade teatral, sabe. Não vejo nisso um defeito, acho que deve ser a admiração pelo oposto, do mesmo jeito que você admira minha simplicidade de raciocínio. Não que eu não tenha meus momentos de drama queen, você bem conhece meia dúzia deles. Mas "conviver" com você é assistir uma Antígona no mundo moderno, uma junkie Ophelia (que até mesmo já foi rejeitada como oferenda a Iemanjá, by the way) que não enluta-se pela morte do pai, mas pelo errôneo luto de si mesma. Não é porque você mudou que você não existe mais. É a mesma, porém agora com asas e anteninhas.
Oh, what a noble mind is here overthrown.

Vai dar ouvidos pra essa lagarta maconheira? Deve ser chegada daquele gatinho creepy (we're all mad here). É, é... não é só você que tem problemas com o monólogo who-are-you, admito. Se definir é dureza, mas hey... foi uma árdua luta pra sair do casulo, e só porque agora tem asas não significa que deixou de ser lagarta. Quero dizer que uma não anula a outra. É por causa da lagarta que teceu o casulo que você existe, já pensou nisso? Você é a lagarta 2.0, you are who you are, whoever it is e espero profundamente que continue sendo esse "whoever" que a gente tanto gosta.

Os traumas, os apelidos, as lágrimas, as vitórias, as violências contra nós, de todas as espécies, os inúmeros causos que tricotamos via e-mail, tudo isso é o que nos torna nós mesmas. A cada metamorfose sua e a cada noite que me encasulo nas pétalas pra voltar a respirar na manhã seguinte, esse amontoado de nós-mesmas fica maior e maior, feito entulho acumulado no quartinho de bagunças. Posso te dizer, então, que a cada metamorfose nos tornamos mais nós-mesmas. Que bom que você resolveu não ligar mais, mas só queria que você soubesse disso, sabe, de que a lagarta continua firme em você.
Quer um teco da minha folha?

Ride the winds of a brand new day, high where mountains stand
Found my hope and pride again
Rebirth of a man

(Nem gosto de Angra, mas o trecho é pertinente)

Desabrochando,
Bel.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Mutatis Mutandis




"--Um What's the name of the word for things not being the same always. You know. I'm sure there's one. Isn't there? There must be a word for it... the thing that lets you know time is happening. Is there a word?
--Change."
--Delirium and Dream, Sandman



Traumas de infância, apelidos cruéis e auto-estima subterrânea encasulados nas teias do tempo, minha idéia de Self dormita inquieta, gorducha lagartinha nerd sonhando sonhos de borboleta rara. Meu peristaltismo psíquico vai empurrando reservas de insegurança alma abaixo: faço da fúria energia, metabolizo a dor tecendo asas aveludadas de solidão. Renasço trêmula, o corpo incerto, úmida ânsia de abandonar o solo. Metamorfoseio-me no próximo estado do Ser.



Anteninhas tremendo de expectativa, aguardo o desabrochar de asas fulgurantes em minhas costas ouvindo o rufar de tambores distantes, numa Anunciação angélica do Advento de mim mesma. A Profecia se cumpre: chego à Terra Prometida.




Livre dos liames viscosos do passado, livre de tiques emocionais derrotistas, de certezas que aprisionam, de limitações auto-impostas: borboleta rosa-de-luto, borboleta monarca, mariposa oriental, Gypsy moth?













Think again.













Oh sweet, diabetic irony.

The Caterpillar and Alice looked at each other for some time in silence: at last the Caterpillar took the hookah out of its mouth, and addressed her in a languid, sleepy voice.
'Who are you?' said the Caterpillar.
This was not an encouraging opening for a conversation. Alice replied, rather shyly, 'I-I hardly know, sir, just at present -- at least I know who I was when I got up this morning, but I think I must have been changed several times since then.'
'What do you mean by that?' said the Caterpillar sternly. 'Explain yourself!'
'I can't explain myself, I'm afraid, sir' said Alice, 'because I'm not myself, you see.'
'I don't see," said the Caterpillar. (...) 'You! Who are you?'


Sei não, dona Lagarta, só sei que estou de saco cheio desse meu eterno vir-a-ser. Talvez seja esse o meu problema: talvez quando eu me conformar com o fato de jamais vir a ser coisa nenhuma eu venha a ser alguma coisa. Talvez não.


Vai que a vida é esse vagar incógnito de metamorfoses ambulantes? Vai que não há respostas não há chegadas não há saídas, apenas jardins borgianos de caminhos que se bifurcam ad infinitum?


Cansei. Cansei de estagiar pra borboleta, de aguardar o clímax da mudança que não chega nunca, quando tudo que há são mais caminhos mais processos mais perguntas sem resposta. Vou é me enrodilhar sobre meu cogumelo, soprando fumaça na cara dos que passam por mim, lagarteando meu intelecto a cada Who are you?


(Takes a puff from the hookah)

Quer saber? Não importa. Deixo as pessoas em sua homeostase metafísica, quietinhas e confortáveis, feliz se, ao rastejar de volta para a minha noite escura da alma, as deixo um pouco mais abertas ao mistério tremendo do mundo.


Who are you?

--Xochiquetzal.


"Oh my soul, be prepared to meet Him
Who knows how to ask questions." -- T.S. Eliot.



Songs to this post:
"It's Alright Ma (I'm Only Bleeding)" - Bob Dylan
"To Ramona" - Bob Dylan
"Change" - Blind Melon
"White Rabbit" - Jefferson Airplane

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Lendo a Lea






Há pouco confabulamos sobre nossas visões díspares do Tempo e seus efeitos em nossas vidas. Ainda ontem conversei com o Atillah no MSN, um Atillah meio manco devido ao peso de sua recente ball and chain laboral. Quando a Bel começou a escrever conosco, celebrei o encontro de uma fêmea pensante, eu, zumbi tão faminta por cérebros femininos -- iguaria raríssima.

Olho grande esse meu, ironia do Inefável: os caminhos loucos e tortos da vida me trouxeram mais cérebro do que eu poderia comer, na caixinha craniana TetraPak da minha amiga/professora/aluna Lea, companheira de momentos de angústia intelectual e descobertas culturais. A mulher simplesmente não pára de agregar valores à minha vida...

...além de escrever só um pouquinho bem pra caralho.

Ganhei esse texto de presente dela, e quis partilhar com a nossa legião de uns seis leitores.

(Pena, pois a Lea merece ser lida. Um dia a convencerei de escrever um blog.)

Impressionada com a coincidência dos temas delô com os temas delea,

--Xochiquetzal, eating humble pie. =)


Feliz ano novo

Enfim, por uma série de motivos, eu decidi não mais trabalhar aos sábados.
Sábados, prefere-se curtas viagens, descanso, outro tempo. Só dois dias, mas cabe limpar a casa, filme, estudo, cuidar de você. Fazer tempo para estudar. Compra-se tempo. Tempo para sorrir, tempo para andar, tempo para pensar. Tudo tem o seu tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou. E por aí se vão dois versículos. Restam seis de uma seção do capítulo três de Eclesiastes. As aspas deveriam ter sido abertas e já fechadas. Não o foram. Detalhe. Gasta-se tempo.
Acreditar que é tempo desperdiçado o tempo despendido só pensando, escrevendo e lendo, tempo em vão. Já ouviu falar de alguém famoso por não fazer nada? Vagabundo, é o nome. Poucos dizem. Muitos pensam.
Eu decidi que preciso parar de trabalhar aos sábados.
Gosto disso na versão em inglês. I must.

Minha aula de inglês hoje foi algo muito bom. É excelentemente bom ter uma amiga-professora que pense com a mesma intensidade que você. Além mais e além mar... no mar de reflexões que a palavra através da literatura constrói-nos seres humanos sociais políticos culturais , os ais...
Diferente ano. Algumas ciências, outras nem tão reconhecidas diriam que a vida acontece sempre em etapas. Um bom amigo afirmou sabiamente a mim (e ao vento) que “entender de mulheres é entender de ciclos”.

Não posso mais trabalhar aos sábados. O verbo mudou, o efeito não. Não poder quer dizer que estou sendo coibida à decisão. O estômago gritou: pare! O sono: pare! O coração: pare! O cérebro: é tempo de optar por outras praias.
Águas... Tenho de olhar para um canto menor e cumprido do mapa. Antes era uma forma mais para circunferência deformada e um nariz, agora reta. Presto atenção ao noticiário do clima. Aprendi que, quando chove, cai um pingo, dois e todos. Não é aquela chuva vinda aos poucos, devagar, céu cinza, mais preto e, só agora, tempestade. Aqui não. É chuva? Vem do oceano e cai. Às vezes, duram dias, sem parar. A cidade enche. Muitas casas enchem. Zona norte e zona sul, pobre e rico, lado a lado b, alaga ou não alaga.
Ouço “Ladeira da preguiça” e gosto muito de esquecer o significado de morro. Isso é tão bom! Andar, andar e ainda ver o depois, é tão bom. O horizonte? Lá, não. Só o belo. Zona norte-morro-barragem da Pampulha-morro-UFMG-morro-obra rodoviária-morro-cracolândia-IAPI-morro abaixo-centro e ufa, chegou-se ao cercado de morros. Fechado num mar de morros. Aqui não é metáfora. O mar está ali. Molhado, salgado, o primeiro e mais importante amigo. Depois dele, haveria monstros? Perguntariam meus antepassados. Não! Há mais vida.

E há vida aos sábados. Há vida às sextas também. Mas, não percebemos. Percebemos só o acaso e, por acaso, aquele velho bêbado na praça sem banco é vida também.
Amor, que nada. A vida prega suas desilusões com pregos inoxidáveis. Palavra que dá vida há algo que não se vê. Não se pega. Não se ouve. Não se cheira. Amor? Cadê? Espera seu tempo que já passou
.


--Lea.