domingo, 28 de dezembro de 2008

Jingle Bel

I.
Da dicotomia dos significados


O termo "dicotomia" me encanta desde o primeiro ano da faculdade, quando estudei Introdução à Lingüística. Foi aquele abrir de olhos, aquele "como não pensei nisso antes?", aquele cair de ficha tão grande que as pessoas do outro lado da rua ouviram o tilintar; e eu passei dias e dias mastigando, ruminando e mascando, enquanto ouvia as engrenagens do meu cérebro funcionando num irritante "nhéc nhéc nhéc" que se prolongou até eu me aprofundar em outro termo tão suculento quanto (o termo em questão seria "idiossincrasia", só pra matar a -já conhecida- curiosidade da minha amiga cor de peido. Aliás, imagino eu que a cor de um peido deve ser a mesma cor de um cu... meus pêsames, espero que seja mesmo inveja alheia).
A dicotomia me voltou à mente quando recebi um e-mail da X., aquele tipo "Deus existe e os cristãos são bonzinhos e melhores que qualquer outro tipo de pessoa, e eles vão pro céu e o resto vai queimar pra sempre no sétimo círculo do inferno" mas que, apesar da mensagem principal não me agradar, a construção da história me agradou. É um e-mail que descreve uma discussão entre um professor (ateu) e um aluno (cristão). Vou transcrever só a parte relevante:

The student stands quietly for a moment, before asking a question of his own. 'Professor, is there such thing as heat?'
'Yes,' the professor replies. 'There's heat.'
'And is there such a thing as cold?'
'Yes, son, there's cold too.'
'No sir, there isn't..'

The professor turns to face the student, obviously interested. The room suddenly becomes very quiet.
The student begins to explain...
'You can have lots of heat, even more heat, super-heat, mega-heat, unlimited heat, white heat, a little heat or no heat, but we don't have anything called 'cold'. We can hit up to 458 degrees below zero, which is no heat, but we can't go any further after that. There is no such thing as cold; otherwise we would be able to go colder than the lowest -458 degrees.'

'Everybody or object is susceptible to study when it has or transmits energy, and heat is what makes a body or matter have or transmit energy. Absolute zero (-458 F) is the total absence of heat. You see, sir, cold is only a word we use to describe the absence of heat. We cannot measure cold. Heat we can measure in thermal units because heat is energy. Cold is not the opposite of heat, sir, just the absence of it.'

Silence across the room. A pen drops somewhere in the classroom, sounding like a hammer.
'What about darkness, professor. Is there such a thing as darkness?'
'Yes,' the professor replies without hesitation. 'What is night if it isn't darkness?'
'You're wrong again, sir. Darkness is not something; it is the absence of something. You can have low light, normal light, bright light, flashing light, but if you have no light constantly you have nothing and its called darkness, isn't it? That's the meaning we use to define the word. In reality, darkness isn't. If it were, you would be able to make darkness darker, wouldn't you?'


Ah, a dicotomia... só sabemos o que é luz porque sabemos o que é escuridão. Só se tem o conceito de doença a partir do conceito de saúde. Sabemos o que é a alegria porque sabemos o que é tristeza. Se fôssemos felizes o tempo todo, isso não seria "felicidade", seria "normalidade". Adoro dicotomias, elas me lembram um Ouroboros.



Mais no sentido de final e início estarem juntos que pela papagaiada alquimista que representa.

II.
Da relação da dicotomia com a pun do título


... E daí que eu só sei o que são FÉRIAS DE VERDADE porque me matei de trabalhar o ano inteiro. O que são as férias , senão ausência de responsabilidades? Ou o que é o trabalho, senão a ausência de diversão e tempo livre? (Dicotomizem isso por mim)
Ralei, caros amigos... ô ano severino, esse de 2008. Faculdade de manhã, trabalho até de noite, mãe desempregada pra sustentar, perrengue, suor, labor e... acabou. Simplesmente acabou, pelo menos por enquanto. E é por ter passado tanta sede durante o ano todo que tô quase me afogando agora. Minha diversão é pensar que não tenho NADA de importante pra fazer, e comer bisnaguinha com requeijão enquanto assisto Malhação ou Aladdin ou tento fazer 100% tocando Madhouse em Guitar Hero II.


EU MEREÇO, PORRA.


Mereço torrar todo meu dinheiro em bobagem, porque eu soube o ano inteiro o que é não ter 40 reais pra um jeans novo. Mereço passar o dia inteiro andando de montanha-russa e dando umas catracadas no carrinho de bate-bate da minha irmã porque eu soube o ano inteiro o que é dar 5 horas de aulas aos sábados de manhã. Mereço beber Smirnoff Ice às 11 da manhã porque passei o ano todo calculando quanto eu economizaria se passasse 2 finais de semana por mês em casa ao invés de sair, pra comprar o maldito par de jeans, que acabei sem comprar porque tive que pagar um tratamento dentário pra velha. Mereço não me preocupar, mereço ser mimada até o osso pela minha irmã. Foi um preço caro a se pagar, mas eu paguei. É uma árdua colheita, mas os frutos estão aí, madurinhos e suculentos, e eu vou comer, sugar, me lambrecar, chupar, lamber, esfregar na cara e no pescoço porque EU MEREÇO.

Só pra dizer que tô tendo um final de ano FODA, recebendo os louros pelos meus esforços e percebendo que já me diverti pelo ano inteiro. E ainda faltam duas semanas de férias pela frente.
Nesse momento, sou o ser mais eufórico do mundo.

KISS MY ASS, YOU BITCHES.


Ainda no terno e afetuoso espírito natalino,
Bel.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu mereço.

Tu mereces.

Ele merece.

Nós merecemos.

Vós eu não sei.

Eles não sabem.

Louca pra merecer coisas pra caramba em sua presença, contando os dias,

--X., que também ama as palavas "dicotomia" e "idiossincrasia".