Não gosto de relógios. Pulso, parede, não importa: não gosto. Qualquer tic-tac me impede de dormir.
Relógios são testemunhas mudas de minha inépcia de viver o momento, eu, pessoa temporária -- temporariamente ausente, vivendo em meio a memórias inúteis e temores futuros num fuso horário de sonho. "Aqui e agora, rapazes, aqui e agora" gritam os pássaros da Ilha de Huxley. Inelutavelmente meu here and now termina em there and then. Todo mundo vivendo, e eu aqui.
Tic. Tac.
Ter ficado doente me forçou a horas de reflexão há muito proteladas. Passei minhas férias no Inferno dos dias febris na cama, pensando na vida (or lack thereof) e no uso que faço dela. Não foi legal. Levantei-me,curada mas ainda mais lesa das idéias, se é que tal coisa é possível. E fui tocar a vida pra frente.
Voltei a um trabalho (or lack thereof) que não faz sentido, conversando amenidades com pessoas que não fazem sentido numa cidade onde o tempo deixou de fazer sentido há tempos. Como naquele filme com Bill Murray, todo dia é Dia da Marmota aqui.
Todo dia. A mesma coisa. Sempre.
Ando consumida pela angústia da mortalidade, relendo "A Negação da Morte", tentando ter fé em alguma coisa, resolver o que é que eu quero da vida.
I want more life, fucker.
Beleza, tomaê. Tenho vida de sobra nas mãos, sem ter a menor idéia do que fazer com ela. Cansei de brincar de intelectual/artista problemática. Cansei da minha curiosidade letal e de minha propensão ao dramático, da busca dolorosa pelo conhecimento, mas acho que não tem mais jeito: virou segunda natureza. E agora, Xochiquetzal?
Agora, amigos, entrei no meu Grande Balanço Existencial inaugural e estou completamente perdida.
Ortega disse que "Viver é sentir-se perdido", mas putaquepariu, me dêem pelo menos uma base sobre a qual ficar de pé. Estou revisitando minha memória, tirando o pó de minhas dores e polindo minhas alegrias passadas, numa busca desesperada de quem eu fui para tentar definir a criatura que sou. Talvez depois de ter alguma noção de identidade eu consiga responder o que é que eu quero da vida afinal.
Mas talvez não.
Tic. Tac.
Larguei esse verdadeiro encosto chamado Internet e fui corrigir exercícios dos meus alunos, pra ver se conseguia sair do loop mental onde havia me enfiado. Peço a eles que escolham uma música predileta por semana e a traduzam com o auxílio de um dicionário. Os resultados são surpreendentes: o vocabulário aumenta consideravelmente e o conhecimento passivo da estrutura do idioma vai sendo construído devagarinho.
No meio de "Only You", "Pretty Woman", "What a Wonderful World" e "My Way" deparo-me com "Time" do Pink Floyd, numa tradução que exigia uma correção mais rigorosa. Sem perceber vi-me forçada a prestar atenção pela primeira vez nas letras.
É. Eu nunca tinha parado pra prestar atenção em "Time" ou em qualquer outra música do Pink Floyd, por pura pirraça intelectual (todo mundo que eu conheço, meu pai, minha mãe, respectivos consortes, tiozinhos, ex-namorados, amigos, chegados e concunhados AMA Pink Floyd). 27 anos na cara sem nunca ter ouvido The Dark Side of the Moon -- mind the gap:
Relógios são testemunhas mudas de minha inépcia de viver o momento, eu, pessoa temporária -- temporariamente ausente, vivendo em meio a memórias inúteis e temores futuros num fuso horário de sonho. "Aqui e agora, rapazes, aqui e agora" gritam os pássaros da Ilha de Huxley. Inelutavelmente meu here and now termina em there and then. Todo mundo vivendo, e eu aqui.
Tic. Tac.
Ter ficado doente me forçou a horas de reflexão há muito proteladas. Passei minhas férias no Inferno dos dias febris na cama, pensando na vida (or lack thereof) e no uso que faço dela. Não foi legal. Levantei-me,curada mas ainda mais lesa das idéias, se é que tal coisa é possível. E fui tocar a vida pra frente.
Voltei a um trabalho (or lack thereof) que não faz sentido, conversando amenidades com pessoas que não fazem sentido numa cidade onde o tempo deixou de fazer sentido há tempos. Como naquele filme com Bill Murray, todo dia é Dia da Marmota aqui.
Todo dia. A mesma coisa. Sempre.
Ando consumida pela angústia da mortalidade, relendo "A Negação da Morte", tentando ter fé em alguma coisa, resolver o que é que eu quero da vida.
I want more life, fucker.
Beleza, tomaê. Tenho vida de sobra nas mãos, sem ter a menor idéia do que fazer com ela. Cansei de brincar de intelectual/artista problemática. Cansei da minha curiosidade letal e de minha propensão ao dramático, da busca dolorosa pelo conhecimento, mas acho que não tem mais jeito: virou segunda natureza. E agora, Xochiquetzal?
Agora, amigos, entrei no meu Grande Balanço Existencial inaugural e estou completamente perdida.
Ortega disse que "Viver é sentir-se perdido", mas putaquepariu, me dêem pelo menos uma base sobre a qual ficar de pé. Estou revisitando minha memória, tirando o pó de minhas dores e polindo minhas alegrias passadas, numa busca desesperada de quem eu fui para tentar definir a criatura que sou. Talvez depois de ter alguma noção de identidade eu consiga responder o que é que eu quero da vida afinal.
Mas talvez não.
Tic. Tac.
Larguei esse verdadeiro encosto chamado Internet e fui corrigir exercícios dos meus alunos, pra ver se conseguia sair do loop mental onde havia me enfiado. Peço a eles que escolham uma música predileta por semana e a traduzam com o auxílio de um dicionário. Os resultados são surpreendentes: o vocabulário aumenta consideravelmente e o conhecimento passivo da estrutura do idioma vai sendo construído devagarinho.
No meio de "Only You", "Pretty Woman", "What a Wonderful World" e "My Way" deparo-me com "Time" do Pink Floyd, numa tradução que exigia uma correção mais rigorosa. Sem perceber vi-me forçada a prestar atenção pela primeira vez nas letras.
É. Eu nunca tinha parado pra prestar atenção em "Time" ou em qualquer outra música do Pink Floyd, por pura pirraça intelectual (todo mundo que eu conheço, meu pai, minha mãe, respectivos consortes, tiozinhos, ex-namorados, amigos, chegados e concunhados AMA Pink Floyd). 27 anos na cara sem nunca ter ouvido The Dark Side of the Moon -- mind the gap:
Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an offhand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way
Tired of lying in the sunshine
Staying home to watch the rain
And you are young and life is long
And there is time to kill today
And then one day you find
Ten years have got behind you
No one told you when to run
You missed the starting gun
And you run, and you run to catch up with the sun, but it's sinking
Racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death
Every year is getting shorter
Never seem to find the time
Plans that either come to nought
Or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desparation is the English way
The time is gone
The song is over
Thought I'd something more to say
Home, home again
I like to be here when I can
When I come home cold and tired
It's good to warm my bones beside the fire
Far away across the field
The tolling of the iron bell
Calls the faithful to their knees
To hear the softly spoken magic spells
LHC vibes, anyone?
Hanging on in quiet desperation,
--Xochiquetzal.
Tic. Tac.
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