terça-feira, 28 de agosto de 2007

Ícaro? Ih, caiu.


Caralho! Morri.

Ah, pequena necrófila impaciente. Aprenda a lidar com sua ansiedade e apreciar o silêncio de nosso pequeno blog, nos intervalos entre posts. Silence is golden. E se você apurar os ouvidos, como nossos adorados gatos, vai poder ouvir as pequenas e enferrujadas engrenagens de nossos célebros rangendo na distância que nos une. Vai escutar o estômago apertando com a idéia ácida, a bomba vermelha bombeando pequenos jorros de idéia tingidas de vermelho, nascidas do fervor intelectual dos grandes antes de nós.

Pequena postadora inveterada, plis, dê uma maneirada no tamanho de suas citações; você quebrou todos os limites de tamanho ideal de texto e de insanidade em uma citação. Eu me excito mas fico com medo, muito mais medo, em pensar de que canto obscuro e sórdido você vai extrair seu próximo butim e me apresentar orgulhosa: “olha o que eu achei e trouxe pra você”, como o gato que traz o passarinho morto na boca, em sinal de afeto.

Pequeno repositório de saber, objeto de meu gostar incontido, eu te perdôo. Porque mesmo em sua doença você consegue ser genial e apresentar coisas e idéias absolutamente interessantes.

Você chutou o balde com Starseed Transmissions. Preferia quando você citava a bíblia. Mas enfim, a mensagem extraterrestre é um belo apanhado das coisas óbvias que estamos nos dando ao trabalho de discutir ultimamente. Óbvias, começo a descobrir, porque estamos vendo elas se repetirem por todos os cantos agora. Até na boca de um lenhador. Até nos confins da galáxia. Será que era só uma questão de ajustar nossa freqüência? E se essas coisas são tão óbvias e essenciais, por que nos damos ao trabalho de ficar redescobrindo-as eternamente? Por que precisamos de forças externas iluminadas e em outra freqüência de onda, superiores, angelicais, emulando deuses, pra nos dizer essas mesmas coisas forever and ever?

Em que momento de nossa ínfima existência decidimos cobrir os olhos e passar o resto do tempo vendados, ignorando os valores essenciais? Love tolerance grace. Não somos anjos caídos, somos anjos que se jogaram.

E estas asas de cera que estamos fazendo pra nós dois agora? Até onde elas nos levarão? Por quanto tempo esses conceitos e idéias vão durar e nos dar sustento, até que comecem a derreter, pingar pelas pontas das idéias e palavras, primeiro uma pena, depois uma letra, frases se desmantelando, asas depenadas e todas minhas verdades caindo, escorrendo, mais pesadas que o ar. “Tudo que é Sólido desmancha no Ar” (não lembro de quem é o livro, mas o conceito é de Marx), o que não desmancha então? EU QUERO ME APEGAR, PORRA!!.

“Segure minha mão”, você vai dizer. Ah tá valeu. Primeiro arranje asas de verdade e depois conversamos ok?

E voar, voar pra onde? Voar pra quê? Se o lenhador encontrou deus na sua floresta, pra que sair daqui onde estou? Tá bom aqui. Tá quentinho. Eu dei uma espiada lá fora e, cara, tá foda.

Hoje vai você. Amanhã vou eu. Beleza?

Atillah

domingo, 26 de agosto de 2007

The Purpose of Life/Kurt Vonnegut

"Cosmic Christ"by Alex Grey

Do livro "Breakfast of Champions" de Kurt Vonnegut (gênio, profeta, iconoclasta):

"(...) There was a message written in pencil on the tiles by the roller towel. This was it:

WHAT IS THE PURPOSE OF LIFE?

Trout plundered his pockets for a pen or pencil. He had an answer to the question. But he had nothing to write with, not even a burnt match. So he left the question unanswered, but here is what he would have written, if he had found anything to write with:

To be
the eyes
and ears
and conscience
of the Creator of the Universe,
you fool.
(...)"

Sem mais para o momento, despeço-me na espera de um novo post,

--Xochiquetzal.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Ode ao Gato

ODE AO GATO

Pablo Neruda
tradução: Eliane Zagury


Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça vôo.
O gato,
só o gato apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.

Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite .

Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gato, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.

Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

O Palimpsesto de Terêncio


Ah, o sempre subestimado poder da palavra, conceito-criatura que sempre encontra um jeito de nos encontrar, cedo ou tarde, quer queiramos ou não, façamos o que fizermos para evitá-la. Palavras são como múmias de filmes de terror B. Por mais que corramos delas, um dia elas nos pegam de jeito, quando menos esperamos. Daí só nos resta gritar.

Toda a informação da qual precisamos está ao nosso dispor. Toda. Se não conseguimos encontrá-la agora, é porque nosso timing não está certo ou, mais frequentemente, porque simplesmente somos estúpidos demais para enxergarmos o que está diante de nossos narizes. O Inefável fala conosco o tempo todo; nós é que temos cera demais em nossos ouvidos espirituais para ouvi-lo. Um filme recomendado por um amigo, um livro que nos atrai como um ímã em um sebo ou livraria, uma frase dentro de um Biscoito da Sorte do China in Box, um maldito poster motivacional de curso de idiomas... et voilà! Inesperada como uma múmia num filme pornô e tão óbvia quanto, lá está a informação envolta em suas bandagens empoeiradas de signos, tropeçando inexoravelmente em nossa direção.

But I digress. Terence Trent D'Arby. Dele, só conhecia "Sign Your Name", "Holding On to You" e, claro, "Wishing Well", com seu vídeo emblemático da tenebrosa década de oitenta. Fiquei muito surpresa com a qualidade do texto do encarte de Vibrator, mas nem tanto com o conteúdo. Nosso amigo Terêncio repetiu para elaborar conceitos que já passeavam pela intelligentsia européia no século XIX. Além das óbvias obras de Allan Kardec (que, espírita ou não, todo mundo devia ler nem que fosse pra descobrir um modo de discordar coerentemente), há as de Teilhard de Chardin (http://en.wikipedia.org/wiki/Teilhard_de_chardin), que com seu "The Phenomenon of Man" desagradou fabulosamente a Igreja -- e elaborou o interessantíssimo conceito de "noosfera", uma esfera de existência composta pela rede de pensamentos para a qual estamos caminhando, já que nossa cognição afeta a biosfera que nos rodeia. Percepção é realidade, e Chardin previu o novo estágio da consciência humana -- uma consciência trans-humana fruto da interação entre todas as mentes, que culminará no Ponto Ômega -- o objetivo final da História. Interessante, e familiar.

Há também o mais recente -- e absurdamente sagaz --"The Starseed Transmissions" de Ken Carey, um lenhador inculto norte-americano que recebeu "transmissões neuro-biológicas de entidades espaciais" e teve a coragem de colocar no papel as mensagens recebidas. Sua (?) visão da existência, da realidade e do futuro da humanidade é no mínimo intrigante e no máximo lunática -- ergo, prato cheio para piratas bulímicos como nós. É imperdível. Como eu sou uma menina legal, já me adiantei e achei o e-book pra você:

http://www.scribd.com/doc/53133/Carey-The-Starseed-Transmissions

Leia. Leia. Leia. Como com "The Whitest Kids U Know" ( e o malfadado projeto "Little Miss Sunshine"), vou ser seu encosto cultural até que você adicione esse livro ao seu repertório existencial -- especialmente você, meu Huno querido, tão sensível às questões do Ser e do Relacionar. Um pequeno grande tira-gosto:

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Chapter 1 - SINGULARITY OF CONSCIOUSNESS

I come from the Presence where there is no time but the eternal now. I retain, even in the midst of this relationship, an awareness of this realm and of the Universal Being that inhabits it. I come with a message that will prove vital to you in these final days of your history. My individual identity comes into being only as I enter the context of my relationship with you. When I am no longer needed in this capacity, I will merge back into the Being behind all being. There I remain in unity and fulfillment until the next impulse comes to send me on another mission. In the interim, there is no distinction between me and the Source. I and others of my kind desire at this time to bring humans to this same level of awareness. I am a focus of collective human consciousness, but at this time you have little conception of what that means. You do not yet suspect what the singularity of collective human consciousness might be. You still draw identity from the present form of your expression. You feel defined and limited by flesh and bones. You are only beginning to comprehend your oneness with other forms of life. For me to tell you, with these limiting definitions you have of yourself, that I represent an element or a focus of your collective consciousness, would actually be less accurate than to say that I am extraterrestrial I meet the criteria of the latter term in that I do come from outside your planetary field of influence. I bring instructions to your race from the directive organ of Galactic Being. When you remember your true nature, and begin to draw identity from the totality of your being, then it could be stated with all validity that I am an element of your own consciousness. However, at that point, you will no longer perceive me as you do now. When you have awakened to the reality of your true being, you will perceive me and all my species as being inside yourself. Until then, you perceive me as being outside yourself. There is but the filmiest of screens between your present condition and your true nature. It is our mission to assist you in bridging this gap, to awaken you from sleep, to bring you to the fulfillment of your destiny.

The state of consciousness that I represent does not normally verbalize. It. is difficult for me to relate what I wish to convey only through the words and concepts with which you are familiar. Your language was designed to facilitate commerce. What we put together with its components can only approximate my meaning. There is another, more ancient language, more conductive to discourse on this level, but you have forgotten it. Its transfer of information is accomplished through the actual projection of living informational units. These units are at once more specific and more inclusive than your words. They have been designed to convey organic information of concise, yet, comprehensive, informational content. Simultaneously with this conceptual communication, you are subliminally receiving this same information through the living language of light, though your preoccupation with words leaves you with no awareness of it at this time. My work will be complete when I have put you in touch once again with this ancient language. When you have learned to allow the silencing of your thoughts and have begun to focus attention on inner vibrational frequencies, you will become aware of a far more comprehensive picture of all that I am now telling you. Until such time as the life-giving information that comes to you from the source of your being is more readily accessible, I will work within the limitations of your linguistic structure and translate as accurately as I am able. Human beings have a tendency to become imprisoned in their concepts. You must remember that words and concepts can be both fallible and misleading. They are not absolutes. Do not contuse them with the realities they represent. No statement that I will make can be taken as an absolute statement. this does not mean that I am coming from a vague place. On the contrary, it means that your words are not precise enough to express the levels of vibratory awareness that I am attempting to communicate through them. If we are able to get the totality of our message through to even a few individual cells of your collective body, these few should be able to translate this information into forms of cultural expression that will bring about your awakening far more effectively than our overt manipulations of the historical process. The message that is revealed in these pages is the key that will unlock your own latent informational input systems. We are here to put you in direct contact with the source of all information. Our mission is to bring a pre-Fall state of awareness to all human beings who are able to respond, however different they may be, whatever background their may have come from, using whatever conceptual structures seem appropriate. These individuals will then be instructed to translate this awareness into forms of informational exchange appropriate to their respective cultural situations. As this new awareness increasingly filters into everyday levels of human function, and as more and more individual human cells become aware of what is taking place, the change will accelerate exponentially. Eventually, the psychic pressure exerted by a critical mass of humanity will reach levels that are sufficient to tip the scales. At that moment, the rest of humanity will experience an instantaneous transformation of a proportion you cannot now conceive. At that time, the spell which was cast on your race thousands of years ago, when you plunged into the worlds of good and evil, will be shattered forever. Even now, with the healing influx of new information, the spell is beginning to lift. Even as I speak these words, the materializing force fields of bondage and limitation are beginning to lose their influence on consciousness. During this period of vibrational transformation each of you will have a variety of roles to play. Each of you will translate the Life-impulse into patterns appropriate to your environment, and express this impulse in your daily living. I am now blending my consciousness with the cells of your body in order to provide you with some or the more specific information net that I do occasionally relate, but I do this as little as possible. My primary function is to show you how to tap these systems or data retention for yourself. With guidance, you will learn to release your definitions of who you think you are, open your self up to the experience of a much greater reality than you presently believe possible, and return to a level of consciousness where you will be able to communicate with us, not through cumbersome words and concepts, but directly, through communion with all that is.

Do you want to know more about extraterrestrials? Do you want a definition of angels? We are you, yourself, in the distant past and distant future. We are you as you were, would have been and still are, had you not fallen from your original state of grace. We exist in a parallel universe of non-form, experiencing what you would have experienced had you not become associated with the materializing process. I act in this capacity as a midwife at your birth into form. I am an angel of destiny, a messenger from the stars, but I am also the reflection of your unity before and after matter. I am here to enter your consciousness, here to wake you up. Blending with you now in this communication that is also communion, I can sense a forthcoming period of union. I sense its strange and awesome realities. I feel like an explorer in some vast and uncharted land. Are you aware of the uniqueness of physical reality? I sense both pleasure and pain at my entry into your events. I sense pain at the potential I see wasted and it my own commission to verbalize. But I sense pleasure at what I am experiencing through your senses; for though your sensory channels are, in your exclusive dependence on them, your great limitation, they are also marvelous instruments of perception. They are truly your crowning virtue as well as your tragic flaw. This is the first time that I have had the opportunity to perceive reality in this manner. I have never seen the structure of time and space reduced to such intricate and beautiful patterns. I would look out of your eyes for a while and take in the colors and the room and the trees outside the window, and delight in the curious way you perceive light -- as illumination! I would love to explore your world in a playful and child-like fashion. I can better understand now how you are deceived -- such a deep realm of awesome forces, the material Plane! Yet you will not be able to continue here much longer if we don't get on with the business at hand. Much that I am now seeing will not survive many more years of human ignorance. It is important that we use this time to supply you with the information you need. It is important that we restore you, as the central control mechanism of this planet, to a proper state of function. Perhaps a day will come, after all has been set to right again, when we can spend some time together just enjoying the wonders of Creation. I would delight in an opportunity to travel about with you, seeing what you would show me out of your eyes, hearing what you hear with your ears, feeling the touch of Earth on that wonderful substance that is at once both Sun and stone. But now there is work to be done. We must forge the conceptual tools that will set you free.

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Food for thought. Ressoante. Acho que li o livro umas quatro vezes e nunca consegui evitar a sensação de alguém estar usando meu crânio como coqueteleira enquanto lia. Em um mundo de carbon copies, palimpsestos et nihil nove sub Sole, qualquer obra que consiga essa proeza vale a pena ser navegada, nem que seja pela ressaca do dia seguinte e pelo gosto de cabo de guarda chuva que jamais abandona os que se lançam nela.

Mas originalidade não é tudo. Nosso amigo alado do post anterior pode não ter dito nada de novo, mas seu grande mérito reside na beleza de sua prosa. Muitos artistas se perdem na angústia do "nada novo a dizer" sem lembrar que tudo já foi dito antes -- mas não do jeito DELES, e que este pode ser o único veículo a ressoar para um determinado grupo de pessoas.

Ressoar. Re-soar, soar novamente, repetir elaborando, adicionando, embelezando.

Hoje acordei orgulhosa de não passar de um plágio mal-feito de mim mesma.

Good vibes,

--X.

P.S. - Enquanto escrevia esse post tive que parar diversas vezes ao encontrar referências e pedaços de informação interessantes no caminho -- o que talvez sirva de justificativa para o aspecto Frankenstein do texto. Singrando os mares da World Wide Web acabei revisitando o conceito de Einstein de Spooky Action From a Distance -- que de longe é o título mais genial para uma teoria científica. A Física Quântica aproximando-se da teologia. Coisas que só existem quando observadas -- a ciência provando que a realidade depende de um observador. Percepção = Realidade. M.E.D.O.

Daí me veio a pergunta.... "Who watches the Watchmen?"

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Repetir pra Elaborar



Boiola que dói. Mas mandou bem, Terence.

Pequena gafanhota,

Sou obrigado a lhe conceder a última palavra novamente, já que você conseguiu imprimir um otimismo ao tema que eu nunca atingiria. Ainda sou por demais pessimista e descrente a respeito da busca do conhecimento, mas gosto do que você falou. Talvez seja mesmo uma busca por nos tornarmos GENTE, ao invés de uma procura da verdade final. Aprender a errar, ter humildade, reconhecer o erro e transformá-lo em piada. Bonito. Acho importante não se levar muito à sério.

Mais um tópico fechado. E um novo tópico que se abre, portanto.

Não sei exatamente como chamar a esse tema, e creio que nem tenho como o definir agora. Mas já tem alguns anos que algumas palavras me atingiram e não me largaram. E como tudo que é importante na vida, estas palavras não foram encontradas em um livro. É impressionante como as palavras acham meios de chegar até nós.

QUEM DIRIA que Terence Trent D’Arby é filósofo? Eu também não sabia, até encontrar há uns 5 anos atrás, em um sebo (sempre eles), o CD “Vibrator” do dito cujo. Produzido em 1995, o cdzinho traz algumas músicas épicas (“Holding On To You”), músicas sobre threesome (“Supermodel Sandwich”) e músicas bizarras (“TTD’s Recurring Dream). Porém, o que nos interessa nesse momento são as palavras encontradas na ultima página do encarte, escritas pelo próprio artista:

All matter in us and around us is just a vibration, from a cell to the sun, from a planet to a speck of dust. It is all a wavelength of frequency. Some things buzz at a low frequency (like a rock), some high frequencies – the highest which is love.

As with the grace of the gods I learn slowly but surely
(acho que aqui eles está citando seu grande hit "Wishing Well") in the spirit of aspiration to increase the frequency of my experience, to refine what I absorb from living my life and no one else’s.

Even my desires desire to sharpen its focus and just vibe.

I invite you my brothers and sisters (and anyone the gods have breathed life into is my brother or sister, whether I can accept it or not) to explore the dimensions of the day with me, to examine the width of the darkness we pass through on a cycle, staring deep into the night that always seems to precede our promise.

Here (hear), take a piece of my bread I cannot eat it all myself. I speak to you now from my soul which says that all colours are but fractions of a pure light – that you, yes YOU are as beautiful and worthy of grace as any being ever born. No one will ever be more eligible than you who were born fully formed and complete, your job being to realize this for yourself.

As your brother I haven’t much to offer you, except a suitable frequency of my vibration. I aim it in your direction because that’s why I am here – to do nothing more than convince you, to remind you (as well as myself), that we stand ever poised to spring as deep into the moment as now can offer, for it really is all about now – this moment, what else are we guaranteed?

Enjoy this recording but far more to the point enjoy your life. Insist on finding the means. Gravitate to what your soul enjoys and let it draw you out as you take it in deep. Nothing on earth is more noble than someone trying to transform all that life secretes.

Measure yourself against your sorrows, weigh yourself against your pain, balance yourself against your regret, and with all delight rub yourself against your joys. In the service of evolution, in acknowledgement of our highest frequencies, find your vibration and announce it to the world as loudly or softly as you please and remember this – A LARGE HEART IS A LIGHT HEART AND A LIGHT HEART IS A LIGHTHOUSE.

Love grace tolerance (we’re going to need it)

- TTD 1995

Sensacional. Sou só eu ou deu um déja vu de Eclesiastes aqui?.

Mas enfim, percebi que essas palavras me tocam tanto como as daquele post um pouco pra trás, onde eu citava certas palavras encontradas na internet. E fazem tanto sentido pra mim porque provavelmente ESTA é a minha busca no momento.

Em tempos de besteiras descomunais como O Segredo, fico feliz de ver alguém utilizando os conceitos da física de forma poética, ao invés de fazer pseudo-ciência. E aproveito pra usar um conceito da Física também, a ressonância; essa propriedade dos materiais que faz com eles vibrem na mesma freqüência sob certas condições. Agradeço ao inefável por ter pessoas como você por perto, que vibram na mesma freqüência que eu em tantas e tantas vezes. Nada se compara à transmissão fácil de informações e sentimentos que acontece nessas condições.

Algumas coisas ressoam mais e outras menos. Outras não ressoam absolutamente. Por exemplo, não consigo aceitar facilmente que esse bando de zumbis com quem pego ônibus todo dia são, de fato, meus irmãos. Eles dormem. Dormem de um ponto a outro, do começo ao fim do dia, do nascer ao morrer. Já nascem dormindo e morrem em silêncio. E ficam babando. Mas já não consigo me achar muito melhor do que eles também. Creio que é um bom começo.

E acredito, acredito DEMAIS nos relacionamentos, em experimentar o mundo, em não possuir as pessoas e deixar que elas também procurem o melhor pra si. Isso ressoa muito fundo em mim. E, porra, Some things buzz at a low frequency (like a rock), some high frequencies – the highest which is love. Quão totalmente brega e maravilhoso é isso? Como suportar uma frase dessas sem sorrir? QUEM não ressoa com uma declaração dessas?

All you need is love. Algumas coisas nunca mudam, e não há nada de novo sob o Sol.

Atillah.

Les Extremités Se Touchent


"Oversoul" by Alex Grey

Como ninguém se manifesta, fica aqui a menção de parte do artigo "Vem de Longe o que Vê Longe" de Gabriel Perissé (Revista Língua Portuguesa, Especial Etimologia no. 2):

"(...) A propósito, não seria a primeira vez que uma frase literária ou filosófica se populariza e passa a ser conhecida como provérbio. 'Os extremos se tocam', que o poeta Guilherme de Almeida dizia ser, para ele, 'o único provérbio que conseguiu acontecer', nasceu de um pensamento de Pascal: 'les extremités se touchent', visto por alguns como prenúncio da copncepção de dialética em Hegel e Marx. Mas que extremidades serão essas? Pascal dizia que a primeira é a ignorância natural do ser humano e a outra, a ignorância a que as grandes almas chegam, a ignorance savante, a sábia ignorância de quem sabe que nada sabe."

'Round and 'round and 'round we go...

--Xochiquetzal.

domingo, 12 de agosto de 2007

Se murar vira colégio, se cobrir vira circo


"Todos somos muito ignorantes. O que acontece é que nem todos ignoramos as mesmas coisas."
--Einstein



Adivinhem só... o carrinho serotoninérgico da montanha-russa do meu cérebro voltou à sua espiral descendente, após algumas semanas de trégua emocional marcadas por inenarráveis e extáticos loops de mania. It doesn't hurt when you fall, only when you land... bem, daqui de cima a altura é monstruosa. O carrinho subiu, atingiu o ápice da loucura, adquiriu o momentum da realidade e está começando a destestável descida para o Averno da minha alma. Estou com vertigo existencial só ao contemplar a queda.

Ouch.

Mas voltemos à nossa busca vã. Antes de mais tudo temos que definir melhor esse adjetivo:

VÃO (do latim vanu): vazio, oco, inútil, sem valor, ilusório, irreal, falso, fantástico, frívolo, fútil,ineficaz, vanglorioso -- and so it goes.

Acho que a definição da busca intelecto-existencial como vã é uma questão de perspectiva -- que no nosso caso, piratas-da-perna-de-pau-do-olho-de-vidro-da-cara-de-mau, tende a ser um tanto falha já que carecemos da noção de profundidade.

Talvez seu problema seja estar focalizando seu olho no "vazio, oco, inútil, sem valor, ineficaz". Visto através dessa lente, "vão" é realmente um adjetivo escroto, traiçoeiro. Ele te leva a um julgamento pejorativo do desejo de saber, da incompletude que, para mim, é o cerne da existência. Como qualquer calouro doidão de Filosofia poderia dizer, a busca e o questionar são importantes. As respostas, não. Aliás, quando encontradas, estas são descartáveis -- nossas certezas e valores mudam a cada dia, e nossas chamadas respostas não fogem à essa regra. Somos seres mutantes em constante evolução, e evoluir significa errar e tentar, errar e tentar de novo, até nos tornarmos mestres em evitar determinados erros, nos considerarmos seres supremos e... cairmos em um erro mais complexo e dar reboot no processo.

Sadismo do Inefável? Acho que não. Estamos aqui para aprender, e revoltar-se contra o processo -- progressista, aliás -- de aprendizagem só gera dor. Alunos problemáticos acabam passando o recreio na sala do diretor, tendo sua merenda roubada por coleguinhas e fazendo dever de casa extra.

Não vejo muito problema em se estabacar na frente de toda a escola, levantar, limpar o uniforme, sorrir amarelo e tentar de novo, nem que seja para se estabacar de novo três passos adiante. Cedo ou tarde você acaba aprendendo; se demorar muito, pelo menos vai trazer algum riso a esse Ateneu no qual estamos confinados -- onde a gigantesca maioria dos alunos sequer suspeita da natureza do lugar onde está, ou mesmo se reconhece como estudante de alguma coisa.

Eu cheguei a conclusão de que um dos meus maiores erros era me levar a sério demais. Desde que assumi o que há de histriônico em mim, os tombos se encheram de graça. Palhaça-acrobata, descobri que não há nada melhor do que levantar de uma queda digna de Ícaro com um estupendo "TA-DA!!!!" acompanhado de rufar de tambores e pose circense.

Enquanto aprendo, entretenho meus colegas de internato.

Suspeito que revoltar-se com a natureza mutável de tudo que nos rodeia é como revoltar-se contra o fato de nossos dentes serem os únicos ossos incapazes de auto-reparação, ou contra calcinhas de algodão bege recebidas como presente de aniversário, ou contra a celulite. Faz parte.

Como todas as mazelas que me acompanham, utilizo minha perspectiva distorcida para justificar tudo o que faço (ou mais frequentemente, deixo de fazer) nessa vida louca e torta. Minha busca pode ser vã, mas é ilusória e irreal como o véu de Maya, frívola e fútil como a essência feminina, fantástica em suas surpresas e gloriosa como a ordem do Universo. Não sou masoquista; meu prazer não está na queda, mas no TA-DA! que a sucede. Tento fazer dos meus erros minha obra de arte. Caindo e aprendendo.

Precisamos da humildade -- carente na gigantesca maioria dos abençoados com um intelecto saliente e um espírito questionador -- de reconhecermos que não fazemos a menor idéia de onde estamos indo. É duro baixar a cabeça após anos caminhando entre urbanas massas cinzentas enquanto possuidores de um cérebro LCD widescreen digital stereo surround mega turbo fluorescente. Anos de orgulho intelectual não se vão assim tão fácil -- ou pelo menos nos convencemos disso. É chegada a hora de despir a beca do intelectual e vestir a roupa de palhaço, o collant (ui!) do acrobata, tomar do chicote e da cadeira do domador de feras. Pôr a cartola do ringmaster e urrar "bring in the clowns!" para delírio da massa cinzenta que nos assiste.

Panis et circensis. Sejamos artistas do saber. Ars gratia artis, buddy.

TA-DAAAAAAAA!

--Xochiquetzal.

*APPLAUSE*

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Ensaio sobre a cegueira.


Oh! I see what you're meaning!

Você pintou uma bela imagem da busca vã. E ainda usou piratas pra isso. Eu não sei se já te respeitei mais em algum momento do que respeito agora.

Mas, na boa, desconte todo o lirismo do seu (belo) post, e voltaremos ao poço sem fundo.

Não consigo ver glória ou beleza nessa busca. Vou buscando, sem saber muito bem por quê. Vou-me, impelido por algo que não consigo ver. Ler, perguntar, discutir, refletir até as últimas conseqüências. E no final padecer no mesmo lugar de onde iniciou, se não MAIS fudido do que antes.

Vejo uma clara distinção entre técnicas úteis e o saber que coloco em questão: saber cozinhar, tirar leite de vaca, trocar pneu de carro, subir em árvore, mentir direito, jogar Street Fighter, furar casamento, beber sem cair ou se mijar. São todos saberes úteis, desejáveis, que nos ajudam a caminhar com menos dor por este vale de lágrimas.

Mas e o saber masturbatório? Esse aí que a gente só acha nos livros, que ninguém te explica direito, e que te joga na reflexão sem resposta final? Esse que levanta as perguntas, que angustia e que não tem fim?

E, se é inútil, por que insistimos? Que impulso maldito é este? Não é à toa que a Árvore do Saber era habitada pela cobra, e que o Senhor disse pra não comer do seu fruto. Nada de bom vem de lá, deve ser a morada do anjo caído, de Thanatos, e lar do fim das coisas.

Ou somos intrinsecamente masoquistas? Gostamos da dor, temos prazer na dúvida; gostoso é não saber, e saber unicamente que não se sabe porra nenhuma. É isso então? Busca sem motivo, a não ser gerar prazer através da dor. Corsários da Triste Figura, indeed. O tapa olho venda os dois, e não só um olho.

Cegos, sendo guiados por outros cegos. Quem te leva e “ensina”, no fundo é mais cego do que você. Aprendeu a se virar melhor na escuridão, talvez. Mas era melhor não ter entrado na caverna.

O aviso era claro: “ali existem dragões, embora eu não saiba direito onde, porque não fui burro de ir lá conferir.”

Loas à nossa estupidez, portanto. Não achamos o dragão, e perdemos o caminho de volta. Navegamos ao sabor do vento, lemos o livro que aparece, corrigimos o leme, trocamos de área de estudos, atolamos o navio, achamos o limite de nossa ignorância. É preciso estudar mais, saber mais. Ir mais longe, e navegar só por navegar, pois não temos rumo, porto e não sabemos aonde chegar. Me diga o que ler, me diga o que sentir, me explique o que fazer, me indique por onde ir. Perdi tempo demais estudando sobre como sentir, e esqueci como que faz.

Pensando bem, deixa pra lá. Você é tão cega quanto eu.

Atillah.


quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Alguns momentos nos quais as mulheres ficam sublimes, para mim:
na cama
no altar
na gravidez





Freud explica...

sábado, 4 de agosto de 2007

Do cérebro acorrentado

O que aprisiona a mente?
O que você faz pra se conter dentro de si?
Enquanto o vizinho do seu lado se contorce e inflama.
Você tem mais de mil amarras que te aprisionam.

Ninguém diz o que realmente pensa.
Ninguém fala o que realmente sente.
Sobe no palco, põe a máscara
e acena pra toda a gente.

Ele finge que ama;
ela finge que adora.
E assim caminham juntos,
numa parca sintonia.

A música que toca é a trilha sonora da sua vida.
Mas só se ouve uma nota.
Que se repete, repete, repete muito mais.
E você segue dançando sob o chicote do capataz.

Navigare necesse; vivere non est necesse

Io-Ho-Ho my ass

Navegantes do saber, certas pessoas decidem, desde muito cedo, dedicar suas vidas à exploração desse mare nostrum que é o conhecimento -- ignorando a verdadeira extensão dos horrores e maravilhas que se escondem na jornada. Os bestiários e portulanos dos que as precederam são ignorados: SAPERE AUDE -- OUSE SABER, e a experiência direta está no coração do ousar. Ali há dragões, dizem uns; Scylla e Charybdis espreitam um quadrante do Great, Unabridged and Forever Incomplete Map of Human Ignorance (Penguin Books, 1994, McClenahan, Mazuroski et al). Avalon se esquiva nas brumas; as torres de Atlântida podem ser vislumbradas sob as águas em dias claros de navegação fácil.

Contrariando a maioria e mandando o Velho do Restelo enfiar suas predições no cu, preparam-se, armando-se de curiosidade e estocando inocência. Aguardam então a maré e lançam-se na busca por novos territórios do saber, mesmo que alguns ainda tenham o senso de temer o abismo no fim do mundo. Correr distâncias, conquistar continentes, provar especiarias; ambiciosos, muitos navegantes jamais voltam ao seus portos de origem. Alguns o mar os engole; outros encontram seu El Dorado e resolvem ficar por lá, para desespero de famílias endividadas e noivas a mirar o horizonte. Os que retornam são estranhos seres híbridos, mudados para sempre pelo que testemunharam. Seu andar gingado de marinheiro acostumado com o ninar do oceano, seu olhar triste e oleoso de leão-marinho e sua aparência de eterna ressaca os traem -- parte de dois mundos e pertencentes a nenhum, vagam pelas tabernas contando seus casos, na esperança de, entre uma e outra garrafa de rum, encontrarem seus semelhantes.

Triste é o destino dos que provam o fruto da Árvore do Conhecimento. Como disse Byron:

"Sorrow is knowledge, those that know the most must mourn the deepest, for the tree of knowledge is not the tree of life."

Corsários da Triste Figura, aqui estamos nós. Apesar de risíveis na nossa angústia, acho que ainda podemos nos dar o crédito de, após tantos naufrágios e motins, continuarmos a navegar no escuro em busca... em busca do quê?
Não sabemos mais. Mas insistimos na eterna procura, no vagar. Como salmões subindo o rio para a desova, algo externo a nós nos impele, nos guia a alguma coisa que sabemos (ou esperamos?) estar lá. Abandonamos na escuna Status Quo e embarcamos sorridentes no Mary Celeste, sem saber por quê. Só sabemos que o mar muda aos seus, e que pirata que se preze não possui porto seguro. Orgulhosos de nossa temeridade, dos membros faltando e do limo nos dentes, seguimos cantando pela noite escura da alma. Navegar é preciso; viver não é preciso -- a frase que Pompeu usava para exortar seus marinheiros covardes um século antes de Cristo figura embaixo do bom e velho Jolly Roger.

Corsários zen-budistas, um dia perceberemos que nosso navegar continuará eternamente, até nos darmos conta de que não há porto final, tesouro final, nada a ser explorado, nada de novo sob o Sol. E agora, José? Meia-volta, volver?

No fucking way, buddy.

Questionar é minha natureza. Estou aqui para o butim, o rum, as brigas e as putas. Antes pirata equivocado do que estivador acomodado. No momento falta-nos a perspectiva (talvez por termos um olho a menos?) para saber se estamos errados ou não, se devemos persistir em nossos questionamentos ou desistir da busca. É um sofrimento inútil. Provamos do fruto da Árvore; there's no going back. Talvez se fundássemos um P.A. (Piratas Anônimos) com um programa de 12 passos, conseguíssemos aceitar nossa natureza com menos angústia, um dia de cada vez.

Buy the ticket, take the ride.

E fica o lirismo de Pessoa:

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

"Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

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So it goes.

--Xochiquetzal.



sexta-feira, 3 de agosto de 2007

"Here be dragons"


Dramático hein?

Muito bem.

Vamos agora, então, entrar no abismo da busca do conhecimento. Vamos explorar as fronteiras da inutilidade e falta de objetivo final em todas as coisas. Vamos rever nossos conceitos e nos transformar em algo melhor ou pior no final. Espero que vocês tenham trazido seus escafandros.

Gostaria de iniciar retomando suas considerações provenientes do estado depressivo.

Essa questão da percepção alterada no ciclo maníaco é de causar inveja em poetas e cientistas experimentais. Parece que realmente é como se você estivesse vivendo em outro mundo temporariamente; como se você entrasse em uma freqüência diferente dos seres humanos equilibrados à sua volta, portadores de normalidade patológica. Você vê, sente e aprende coisas que não estão acessíveis para os demais, e que só são possíveis de serem vistas pela inundação de serotoninérgicos que seu célebro está jogando nos seus receptores. Por breves momentos você levanta o véu de Maya, por assim dizer.

E depois da bonança, vem a tempestade, porque esse é o preço do saber. O ciclo depressivo vem como a onda de dejetos que te bate na cara e diz “tu já viu o céu, e agora precisa conhecer o inferno, essa é a natureza do conhecimento”.

Pelo menos pra mim, “saber” sempre teve essa concepção dual: uma coisa que te dá um prazer e euforia imensos quando você descobre algo novo, e que te enfia três dedos no cu logo em seguida, quando você começa a se perguntar exatamente O QUE vai fazer com aquilo e descobre que o caminho do conhecimento que vem depois é mais longo e tortuoso ainda. Caminho sem fim. Otário quem envereda por ele.

Eu estava lendo um livro aí, pra concluir uma disciplina do mestrado. Em suas últimas páginas, o autor pira na batatinha e começa e fazer algumas reflexões existenciais completamente disparatadas do tema geral do livro, porém, altamente relevantes para nossa discussão:

A natureza paradoxal da psicanálise foi percebida por um dos mais antigos colaboradores de Freud, Hans Sachs, a quem se credita por ter afirmado que uma análise termina quando o paciente compreende que ela poderia continuar eternamente, uma afirmação estranhamente reminiscente do princípio do budismo zen, segundo o qual o esclarecimento chega quando o discípulo se apercebe de que não existe segredo algum, nenhuma resposta final e que, portanto, não faz sentido continuar formulando perguntas.

Eu não sei você, mas pra mim isso causa uma diarréia cerebral. Eu sinto meu célebro escorrer espinha abaixo, e parece que perdê-lo totalmente não faria diferença nenhuma, pois talvez eu vivesse melhor sem perguntar coisas. Ao mesmo tempo que eu entendo que não faz sentido perguntar, eu não consigo parar de fazê-lo. E essa é a primeira clivagem que se sofre na busca do saber: você não sabe se o conhecimento vai servir pra alguma coisa e pode até ter certeza de que não servirá. Mas ao mesmo tempo você precisa acreditar que a busca tem algum objetivo, porque senão não continuaria fazendo. Clivagem. Dividido em dois: um cético/asceta feliz e um buscador angustiado.

E fica pior.

Porque ao se perguntar se a afirmativa zen está correta, ao refletir sobre ela, o que você faz é exatamente persistir no erro de continuar se perguntando. Buscar o conhecimento zen é persistir no erro. E por isso eu tenho certeza de que ainda não compreendi o zen. Bizarro, mano.

Vou me restringir a estas idéias iniciais, para que nossa discussão também não se perca precocemente em um caldo inespecífico de temas indiscutíveis. Fecho este singelo e desesperado post com palavras de Wittgenstein, que não me trazem nenhum alento:

Sentimos que, mesmo se respondêssemos a todas as possíveis perguntas científicas, mesmo assim os problemas da vida continuariam intocados. É claro, não restará então pergunta alguma e esta é precisamente a resposta.

Motherfucker. Filósofos são todos uns motherfuckers.

Atillah.