Tempo-tic
Tempo-tac
Uma salva de palmas ritmadas de um em um segundo, uma salva de palmas para o primeiro motherfucker que resolveu começar a contar o tempo. O tempo não existia, e o homem viu que era bom. Ele podia chegar em casa trêbado e sua mulher nunca saberia se era cedo demais ou tarde demais. Porém, num momento de desatino alcoólico alguém gritou “Faça-se o tic, faça-se o tac”, e nossa história de miséria humana começou oficialmente, com a precisão exata de um grão de areia escorrendo lépido na ampulheta. Agora podemos nos foder com todo o tempo do mundo. Tempo de sobra para sofrer. Segundos intermináveis que se empilham em minutos e horas e dias e anos e, principalmente, se juntam para virarem morte.
Tempotic -Tempotac
Tempocaixão
Vou contar um lance bem lôco pra vocês: o tempo não corre, ele se empilha. O tempo se junta e faz peso nos ombros, nas costas, na cabeça, e eventualmente comprime o coração. Impossível não sentir a compressão. Dizem que o tempo passa rápido demais nos dias de hoje. É mentira. O tempo não passa nunca, a presença dele é constante; ele chega de longe, se instala do lado da tua cama e fica ali te assombrando. Os segundos não me escorrem pelas mãos; eles chegam de algum lugar, como os raios de luz, como o vento soprando sem destino, chegam e me atingem o TEMPO TODO. TODO o TEMPO do mundo me atingindo. Tempo demais, tempo excessivo, tempo insustentável.
Tic...Tac...tic... tac, tic-tac, tictac, tictactictactictacitcaicacicaccccccc...Morri.
Porque a vida, minhas queridas companheiras de jornada, a vida é uma marcha inexorável para o fim. E no fim não tem um “fim” escrito, como nos livros que adoramos. Não tem um “fim” porque só acaba para nós. Life goes off, time goes on. On and on. Nós acabamos, mas tempo não tem fim. Quem precisa medir o tempo somos nós, porque o fim se aproxima. Ele sempre se aproxima. Esteja preparado para o seu fim, porque ele não tem hora pra acontecer. O fim não carrega relógio, o fim não tem celular, o fim não tem nenhum outro compromisso a não ser pegar você. O fim não trabalha, o fim não dorme, o fim não tem dinheiro. Mas ele vem à galope.
Ao fim e ao cabo da foice, o que nos resta? Nada resta, porque é o fim. Então, só temos o que vem antes do fim, vamos aproveitar bem. E eu sou niilista e hedonista pra caralho. Mas aí também não sei não. Não sei se tenho tempo pra ser alguma coisa. Vai ver esse negócio de ficar tentando ser alguma coisa é perda de TEMPO. A gente fica tentando ser alguma coisa e o tempo ri de nós, porque não interessa o que você seja agora, daqui a pouquinho você não vai ser nada de novo.
O tempo a tudo destrói.
Mas isso não é motivo pra se sentir mal. É bom que as coisas terminem. E mesmo que não seja bom, não faz diferença, porque elas terminam de qualquer modo. É bom ser niilista e entender que não importa o que você acha das coisas. Elas continuarão sendo o que sempre foram apesar de você.
Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Torça para você estar lá. Torça para você estar lá e poder aproveitar mais um pouco. Aproveite com todas as forças. É bom ser hedonista e entender que não importa o que acham de você, porque no fim todo mundo termina do mesmo modo. Você sempre será o que sempre será, apesar dos outros. O tempo a tudo destrói.
Queridas, um brinde ao tempo:
tin-tin
tintic-tintac.
love grace tolerance
Atillah
8 comentários:
Irreversível é um dos filmes que assim que eu terminei de assistir, coloquei pra assistir de novo pra digerir direito a mensagem.
O tempo destrói tudo, citação mais que pertinente. Vou comentar isso baseada no filme, então X., se você ainda não assistiu, não leia que tem spoiler. Aquele começo caótico -que é na verdade o fim- parece tão fora de órbita e de sincronia com o fim -que na verdade é o começo- bonito. Uma mulher linda, feliz e grávida, uma verdadeira celebração da beleza da vida, transformada numa massa ensangüentada, violada, violentada e inconsciente (verdadeira celebração do horror) pelas mãos do... destino? acaso? do homem?
Imagina se nós assistíssemos nossas vidas assim, de trás prá frente. Primeiro meu funeral e minha velhice caquética e frágil, depois eu bebendo, dançando que nem lôca e celebrando o hedonismo.
O tempo destrói tudo, e pensar desse jeito é assustador. Como eu disse, vamos rir do tempo enquanto ainda estamos em vantagem. After all, the table will turn and we'll be mocked.
Tempo e morte são amiguinhos íntimos, não tô dizendo?
Uma salva de palmas ritmadas pelo excelente texto.
;*
LOL, postei com a conta do blog da escola. minha identidade secreta foi revelada, oh não! madltios sejam, cookies!
É só apagar Bel.
Mas então, vamos continuar aí com esse lance da intertextualidade, de eu pegar as palavras de vocês e distorcer e rever e devolver pra vocês. It amuses me.
It amuses us.
Um sempre tem algo a acrescentar no raciocínio do outro, e acabo invariavelmente ruminando sobre o que vocês disseram.
Muy bueno. Muy bueno PRACARAJO, Atillah. Deixa o tempo se empilhar na minha cacunda um pouquinho mais para que eu rumine isso tudo e devolva pra você numa massa amórfica de palavras loucas.
Tic. Tac.
carai, quanta coisa nova. (ok, na verdade fui eu que fiquei meses sem vir aqui). até a bel tá postando aqui agora e eu nem sabia. aliás deve ser por isso que o índice de comentários aumentou tanto, hum.
ah, não. são os próprios autores que comentam, lol.
bom, vou tirar um dia só pra tirar o atraso (heh) disso aqui. afinal esse é o blog mais foda entre os underground, e o mais underground entre os blogs foda que eu conheço.
(apesar de que ele me deprime um pouco. é tão foda que dá vontade de parar de escrever. vocês me inibem, sabiam ? beijos.)
Uma Pessoa Aleatória:
"esse é o blog mais foda entre os underground, e o mais underground entre os blogs foda que eu conheço."
Nossa. Estou fluorescente de alegria.
Thanks, M... uma pessoa aleatória!
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