quarta-feira, 28 de maio de 2008

On The Road




Listening to his own Voice.


A obra-prima de Jack Kerouac completa 50 anos em 2008. Meio século, e parece que foi hoje.

Li On the Road pela primeira vez numa tradução porca que arrumei, aos treze anos, na biblioteca do colégio. Não fazia idéia do que se tratava o livro -- gostei do título em original inglês e mandei ver. A tradução era uma calamidade, não captei 30% da essência do livro que marcou a geração Beat e permanece moderno em sua busca por uma América de sonho, entre os escombros da Great Depression. Sounds familiar.

Too familiar, maybe. Meu encanto com as estradas -- reais ou metafóricas -- já se transformou em estilo de vida, esse lamentar ininterrupto pela humanidade enquanto o mundo passa correndo pelas janelas dos meus olhos, eu passageira clandestina de um trem de carga rumo a lugar nenhum, embalada pelo blues da alma. Clichê, mas o que é que eu posso fazer. Não passo de uma holy fool que sente demais e vive de menos. Play me some John Lee Hooker while I sing my white girl blues. We're all on the road.

Meu falecido companheiro de blog Atillah adorava dar esporros pelo meu sentir em excesso. Sei que não se deve falar dos mortos, mas sempre desconfiei que sua ojeriza pelas estradas tortas da minha vida eram projeções de seu desconforto quanto aos seus próprios caminhos incertos. Não sei, e provavelmente jamais saberei -- os mortos não falam. Talvez, com o passar do tempo e o apertar da saudade daquele que foi meu companheiro literário de estrada por anos, eu arrume uma Ouija Board e tente contactá-lo do Outro Lado, desafiando-o a despejar sua aspereza na brincadeira do copo. Meu País das Maravilhas não será o mesmo sem ele, que partiu do meu mundo em busca de outras aventuras, outras pessoas, outras paragens. Quanto a mim, fico por aqui chacoalhando no trem de meus pensamentos, embalada pelo ritmo de Kerouac:

"The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, the ones who never yawn or say a commonplace thing, but burn, burn burn like fabulous roman candles exploding like spiders across the stars and in the middle you see the blue centerlight pop and everybody goes 'Awww!'"

Is it better to burn out or to fade away?

"Aww!", arrisco dizer que o finado responderia, com sua pena tinta de ira e fúria.

Always on the run (it saves introductions and goodbyes, boys!),

--Xochiquetzal.



The Dharma Bum.

3 comentários:

Anônimo disse...

Suas palavras me inspiram, nunca vi ou li ninguém escrever tão bem como você.
Infelizmente poucas pessoas lêem seu blog, o que é triste.

Porém não se deixe abater.. sempre vão haver amigos com você.

Abraços, continue escrevendo.

Anônimo disse...

Uau. Esse livro é fantástico!!!!!

Mas li a versão traduzida em português por Eduardo Bueno. Muito fóda o livro, hã? Tem horas que quero ser Dean ou Sal mas, sei lá, pensei que no final do livro eu iria fazer que nem Eduardo Bueno, até porque não tenho grana, hehehehehe.

Talvez o movimento beat foi precursor do discordianismo, hã?

Grande abraço e excelente blog.

Anônimo disse...

"On The Road" é um clássico da literatura norte-americana. O movimento beat engendrou crias maravilhosamente tortas que buscam o paraíso perdido de Sal Paradise até hoje. Hippies, hipsters, discordians, anarquistas, inconformados, escapistas, pensadores e outros "vagabundos" que ousam sentar à margem da corrente de white noise da sociedade e observá-la, com asco ou piedade, passando o tempo jogando pedrinhas na água ou dinamitando os peixes do fundo.

Fnord, companheiros de estrada!

--X.