quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

No Woman No Cry







Eu choro. Muito.

Choro de dor física. Choro de dor espiritual. Choro as minhas dores e as dos outros. Choro quando vejo pessoas das quais gosto chorando -- chorar pra mim é uma coisa reflexa como bocejar. Basta que alguém comece e estou me debulhando em lágrimas sem saber direito por quê.

Mas vai que talvez eu saiba: quando eu era criança e abria o berreiro -- ou melhor, soluçava, porque choro em silêncio -- meu pai repetia o clássico "Pára com essa frescura AGORA antes que eu te dê um motivo pra chorar de verdade!", inelutavelmente acompanhado por um "Engole o choro! ENGOLE O CHORO!" que represou anos de lágrimas mal-choradas no meu peito. Basta uma gotinha de infelicidade, minha ou alheia, pra que meu dique de tristeza transborde, para o assombro de transeuntes -- e vergonha dos que me conhecem.

Chorar de dor é aceitável. Parei de ter vergonha disso faz tempo, mas ando às voltas com outra manifestação das minhas emoções reprimidas na infância que anda atrapalhando a minha vida: o choro convulsivo diante de qualquer estímulo emocional intenso. Ando chorando de raiva, de impaciência, de desespero, de revolta, de irritação. Ando com TPM, TpósM e TM. Ando um saco.

(Pra não dizer que sou a pessoa mais down do mundo, fiquem informados que também choro de amor, de apreciação artística, de gozo e de riso. Menos frequentemente do que pelos motivos citados no último parágrafo, mas pelo menos isso me dá esperança.)

Suspeito que essa confissão lacrimosa tenha sido fruto da magnífica crise de choro cinematográfico de ontem à noite -- deflagrada não por A Cor Púrpura, A Lista de Schindler ou mesmo pela morte da mãe de Littlefoot em Em Busca do Vale Encantado: Chorei convulsivamente após assistir...


...Marley & Eu.

(minuto de silêncio)

Chorando se foi,

--Xochiquetzal, Soluçando Baixinho de Vergonha.

4 comentários:

Bel disse...

vergonha o caralho, filhota. eu assisti esse filme no cinema e saí do cinema chorando. entrei no banheiro pós-filme chorando. e chorando MUITO, de falar "tadiiiiinho do marley" soluçando e o povo do banheiro me olhar que nem lôca.

me consola saber que não fui a única. durante os minutos finais, você ouvia claramente o choro alheio dentro do cinema, e tanta gente saiu chorando da sala que teve uma menina da fila que comentou "porra, tá todo mundo chorando. quero mais ver essa porra de filme, não".

acho que chorar em marley e eu é de praxe pra gente que gosta de bichinhos :3

btw, minha mãe largou o livro do "pior cão do mundo" no banheiro, e eu leio enquanto... er... meu intestino resolve funcionar. só nessas já tô no capítulo 7 ou 8. e hoje chorei cagando enquanto lia essa bosta, hahahahahahahaha.

we're definetely the twisted sisters.

xxx

Anônimo disse...

"hoje chorei cagando enquanto lia essa bosta, hahahahahahahaha."

E eu chorei de rir ao ler isso. Tipo de passar mal e ficar sem ar. Chorar cagando é inédito até pra mim!

Minha mãe me emprestou o "Marley & Eu" dela (de páginas amarrotadas de lágrimas, já que minha mãe consegue superchorar qualquer pessoa no MUNDO) no ano passado. Li com a típica má-vontade com que pego todo best-seller pra ler, mas como boa amante dos animaizinhos fui me envolvendo com a história e terminei o livro em prantos, especialmente por saber EXATAMENTE quão horrível é ter que sacrificar um irmãozinho de estimação. Ainda estou LONGE de superar a morte do meu gatão Fibonacci, a a história do Marley é semelhante DEMAIS à dele (com a diferença que Mr Fibbers era o Jesus dos Gatos e o melhor bicho do MUNDO). Über-snif!

O livro eu achei legal, decentemente escrito, mas o filme é uma BOSTA com B maiúsculo. Tipo Código da Vinci -- e olha que eu simpatizo com o Owen Wilson. Só serviu pra me fazer chorar e me lembrar do meu gato defunto.

Partilhar a vida com um bicho de estimação é para os FORTES.

Toca aqui, irmã de soluço!

In hac lachrymosum valle,

--X.

Anônimo disse...

Olha uma coisa na qual discordamos.

Eu li o livro (comprei no supermercado por UM pound), e não gostei.

Achei mal escrito. Esperava que fosse algo como "Um dono para buscapé" um dos meus livros da minha infância.

E foi um "boa noite meu nome é fulano e vou fazer marketing pessoal enquanto conto, ou melhor, reclamo sobre meu cachorro.

Marcela Jones; disse...

Vi seu blog nos meus favoritos e não tinha a menor ideia do que se tratasse. Mas bastou eu entrar aqui pra me lembrar o porquê fiz isso. Gosto de como você escreve, é bom.

:*