Eu choro. Muito.
Mas vai que talvez eu saiba: quando eu era criança e abria o berreiro -- ou melhor, soluçava, porque choro em silêncio -- meu pai repetia o clássico "Pára com essa frescura AGORA antes que eu te dê um motivo pra chorar de verdade!", inelutavelmente acompanhado por um "Engole o choro! ENGOLE O CHORO!" que represou anos de lágrimas mal-choradas no meu peito. Basta uma gotinha de infelicidade, minha ou alheia, pra que meu dique de tristeza transborde, para o assombro de transeuntes -- e vergonha dos que me conhecem.
Chorar de dor é aceitável. Parei de ter vergonha disso faz tempo, mas ando às voltas com outra manifestação das minhas emoções reprimidas na infância que anda atrapalhando a minha vida: o choro convulsivo diante de qualquer estímulo emocional intenso. Ando chorando de raiva, de impaciência, de desespero, de revolta, de irritação. Ando com TPM, TpósM e TM. Ando um saco.
(Pra não dizer que sou a pessoa mais down do mundo, fiquem informados que também choro de amor, de apreciação artística, de gozo e de riso. Menos frequentemente do que pelos motivos citados no último parágrafo, mas pelo menos isso me dá esperança.)
Suspeito que essa confissão lacrimosa tenha sido fruto da magnífica crise de choro cinematográfico de ontem à noite -- deflagrada não por A Cor Púrpura, A Lista de Schindler ou mesmo pela morte da mãe de Littlefoot em Em Busca do Vale Encantado: Chorei convulsivamente após assistir...
...Marley & Eu.
(minuto de silêncio)
Chorando se foi,
--Xochiquetzal, Soluçando Baixinho de Vergonha.