As pessoas têm o direito de permanecer estúpidas.
Tudo o que dizem pode e será utilizado contra elas neste blog.
As pessoas têm o direito a interlocutores igualmente estúpidos.
GENTALHA! GENTALHA! HUMPF!!
Idiocracy.Ando pensando em escrever. Pensando muito, pensando sem parar, mas incapaz de colocar os pensamentos aqui -- por conta do trabalho, das leituras a pôr em dia, da confusão geral e indignação perante esse mundo torto em que me colocaram. Pára essa merda que eu quero descer.
Após semanas de cuidadosa confabulação interna e extenuantes exercícios de retórica comigo mesma -- semanas tentando me situar nesse
world gone wrong e os seres que o partilham comigo, pensei, pensei, pensei e voltei ao ponto de partida:
ESTOU CERCADA DE IDIOTAS.
Arrogante pra caralho, né? Doeu até em mim, que carrego a pecha de pedante desde a primeira série, ao responder "Éqüidna, cachalote e caribu" à pobre professorinha que me pediu três exemplos de mamíferos.
Mas é. Sempre me desesperei na minha condição de ilha, sempre estive semi-sozinha, mas agora que moro em uma cidade pequena pela primeira vez na vida, meu horror perante a ignorância que me cerca está tomando proporções Cuthúlicas.
"Vamos simbora/pro bar/beber, cair, levantar" é martelado na minha cabeça das onze da noite às quatro da manhâ de TODA sexta e sábado, desde que eu me mudei para um apartamento lindo -- a trinta metros da "Casa de Forró" mais popular da cidade. Meus pensamentos diários são interrompidos a cada três minutos (em média) por essa música ínfera. CARACA, como se diz aqui. É irresistível. Não consigo completar um raciocício sem que esse EXU disfarçado de música venha cavalgar meus pensamentos:
"Vamu simbora
pru bar
bebê, caí, levantchá
Vamu simbora
pru bar
bebê, caí, levantchá
bebê, caí, levantchá
bebê, caí, levantchá
bebê, caí, levantchá
SI VOCÊ QUISÉ MI ACUMPANHÁáÁááÁÁ..."
Essa ode à estupidez interrompe todos meus processos mentais. Tento relembrar a diferença entre os conceitos platônicos, aristotélicos,epicuristas e estóicos de felicidade: BEBÊ, CAÍ, LEVANTCHÁ. Faço compras no supermercado, paro diante da seção de padaria e me pergunto se levo sonhos ou não: BEBÊ, CAÍ, LEVANTCHÁ. Explico a diferença entre
borrow e
lend a uma turma de business English: BEBÊ, CAÍ, LEVANTCHÁ. Escovo Pandora, minha Persa arredondada: BEBÊ, CAÍ, LEVANTCHÁ. Interrompo a leitura de "Jangada de Pedra" de Saramago por conta de BEBÊ, CAÍ, LEVANTCHÁ.
PUTAQUEPARIU!Não tenho como exorcizar esse encosto musical. Dizem que a melhor maneira de se livrar de uma música presa em sua cabeça é cantarolá-la sem cessar até que ela passe pra outra pessoa; se vocês têm o azar de saber de que "música" estou falando, espero ter sido bem-sucedida.
O forró foi a primeira coisa que me marcou aqui. Depois veio a tentativa de me comunicar com as pessoas na rua, com meus colegas de trabalho: as referências culturais são
Zorra Total, a novela das oito, o "jornal" EXTRA. Bordões de TV repetidos como mantras, Paulo Coelho e
O Segredo tidos como gurus pelos poucos letrados, Luciana Gimenez é ídolo, Faustão no último volume aos domingos, o povo fazendo fila na inauguração da nova loja Casa & Vídeo ("Minina, o Uóshton mi deu uma chapinha lá da Casivídil qui é ótima")...
Como pode, como pode, como podem as pessoas limitarem sua dieta à lavagem cultural despejada no chiqueiro de suas TVs pela mídia? Como pode ninguém contestar NADA, ninguém querer pensar em NADA, ninguém almejar mais, sorrisos idiotas estampado na cara, pessoas que vão pru bar, bebem, caem, levantcham, ligam a TV à noite, acompanham a programação e vão dormir?
Gostaria de poder ligar o foda-se, mas não consigo. Sou professora e não desisto nunca -- pelo menos luto por não desistir. Não posso ser mais uma burnt out. Não posso. Mas quero.
"The mass of men lead lives of quiet desperation." - Henry David Thoreau
Queria simplesmente dizer não.
Yep.Up, up and away,
--Xochiquetzal.