Pra começar, gostaria de dizer que fico feliz com a aprovação pública de meu relato do Outro Lado, apesar de triste por não ter condições de atender à demanda por maiores informações por motivos quimio-epistemológicos.
Explica-se: após quase um mês de homeostase cerebral -- fato inaudito na minha vida adulta -- as situações pitorescas que engatilharam reações extremas em mim perderam o seu impacto. Lembro-me de todas sem exceção: o caso do dia em que todos os relógios pararam; o dia em
que quase perdi um mamilo, tentando provar a lenda urbana de que coelhos agressivos se acalmam ao serem segurados contra o peito e ouvirem a batida de um coração; o dia em
que eu estava ouvindo o Robert Plant & Jimmy Page No Quarter, uma música árabe travou no CD player e eu passei uns vinte minutos ouvindo o mesmo solo de cítara em loop, perfeitamente convencida de que o tempo havia parado. Por aí vai. Contando assim é engraçadinho, mas me falta a capacidade de passar de modo fidedigno a dimensão do estranho e do insano que permeou cada situação.
Há poucos dias as coisas franziram feio aqui em casa, numa situação-limite que há um mês atrás me poria virada para a parede, fazendo arabescos com meu próprio excremento e batendo a cabeça fazendo "mimimimimi". Que nada. Fiquei impressionada em como consegui manter a calma, e lembrei-me da mesma hora de um post antigo no qual você dizia possuir apenas dois estados: normal e puto. Naquele momento eu estava em modo "puto", dando-me conta que sim, era possível conter a represa lisérgica da minha mente com barreiras bem-definidas. Por enquanto eu só consigo definir três estados: o supracitado "puto", o "hiperativo" e o "aliviado". Creio que com o passar do tempo e um pouco de prática conseguirei colocar minhas barreiras em ordem.
O preço a pagar é a perda da capacidade de narrar o inenarrável, mas por enquanto está valendo a pena. Não creio que eu tenha experimentado o mundo com uma vivacidade especial: acho que sob uma luz fria e brutal seria uma expressão mais correta. Era como se o Sol fosse uma gigantesca lâmpada fluorescente, acentuando com sua luz dura cada espinha, mancha, calombo e ferida da cútis do mundo, examinada e cutucada diante do espelho do banheiro porco da rodoviária da minha mente. Agora as coisas estão mais quentes, menos Pi e mais Amélie Poulain. O Sol aquece o cérebro e silencia as crianças da noite (ah, mas que música elas faziam!).
Fica aqui a citação do sublime livro "Pilgrim at Tinker Creek", de Annie Dillard:
"'Still,' wrote Van Gogh in a letter,'a great deal of light falls on everything.' If we are blinded by darkness, we are also blinded by light. When too much light fals on everything, a special terror results."
Luz. Sol. Desde que assisti "Sunshine"("Alerta Solar",LOL) venho conversando frequentemente com meus botões a respeito da nossa estrela -- e sincronicamente me deparando com fragmentos de conversas de outros botões a respeito do mesmo tópico. O Sol é uma coisa assombrosa. Descaralhante em sua enormidade e insignificância, e como toda a mirabilia que nos cerca, nós raramente nos damos conta dele. Annie Dillard, no mesmo livro, diz que:
"(...) our local star without surcease explodes on our heads. We have really only that one light, one source for all power, and yet must we turn away from it by universal decree. Nobody here on the planet seems aware of this strange, powerful taboo, that we all walk about carefully averting our faces, this way and that, lest our eyes be blasted forever. Darkness appalls and light dazzles; the scrap of visible light that doesn't hurt my eyes hurts my brain. What I see sets me swaying. Size and distance and the suden swelling of meanings confuse me, bowl me over."
Não sei se vivemos em mundos diferentes ou se apenas assistimos o descortinar do mesmo mundo sob lâmpadas completamente diversas. Acho a segunda opção mais provável e mais bonita, além de menos solitária. 14 anos depois ainda me pego pensado na supernova de casualidades que nos uniu e no "como pode?" da coisa toda, mas hoje me limito a sorrir e a agradecer ao que quer que tenha orquestrado essa colisão de mestre. Questionar pra quê? Ponho INXS no Winamp e escuto Michael Hutchence:
I
I was standing
You were there
Two worlds collided
And they could never ever tear us apart
PAM PAM PAM PAM!!!!!!
Simbora, passarinho angustiado. Você com a sua asa de cera, eu com a minha, de braços dados rumo ao Sol, nossa ruína.
Explica-se: após quase um mês de homeostase cerebral -- fato inaudito na minha vida adulta -- as situações pitorescas que engatilharam reações extremas em mim perderam o seu impacto. Lembro-me de todas sem exceção: o caso do dia em que todos os relógios pararam; o dia em
que quase perdi um mamilo, tentando provar a lenda urbana de que coelhos agressivos se acalmam ao serem segurados contra o peito e ouvirem a batida de um coração; o dia em
que eu estava ouvindo o Robert Plant & Jimmy Page No Quarter, uma música árabe travou no CD player e eu passei uns vinte minutos ouvindo o mesmo solo de cítara em loop, perfeitamente convencida de que o tempo havia parado. Por aí vai. Contando assim é engraçadinho, mas me falta a capacidade de passar de modo fidedigno a dimensão do estranho e do insano que permeou cada situação.
Há poucos dias as coisas franziram feio aqui em casa, numa situação-limite que há um mês atrás me poria virada para a parede, fazendo arabescos com meu próprio excremento e batendo a cabeça fazendo "mimimimimi". Que nada. Fiquei impressionada em como consegui manter a calma, e lembrei-me da mesma hora de um post antigo no qual você dizia possuir apenas dois estados: normal e puto. Naquele momento eu estava em modo "puto", dando-me conta que sim, era possível conter a represa lisérgica da minha mente com barreiras bem-definidas. Por enquanto eu só consigo definir três estados: o supracitado "puto", o "hiperativo" e o "aliviado". Creio que com o passar do tempo e um pouco de prática conseguirei colocar minhas barreiras em ordem.
O preço a pagar é a perda da capacidade de narrar o inenarrável, mas por enquanto está valendo a pena. Não creio que eu tenha experimentado o mundo com uma vivacidade especial: acho que sob uma luz fria e brutal seria uma expressão mais correta. Era como se o Sol fosse uma gigantesca lâmpada fluorescente, acentuando com sua luz dura cada espinha, mancha, calombo e ferida da cútis do mundo, examinada e cutucada diante do espelho do banheiro porco da rodoviária da minha mente. Agora as coisas estão mais quentes, menos Pi e mais Amélie Poulain. O Sol aquece o cérebro e silencia as crianças da noite (ah, mas que música elas faziam!).
Fica aqui a citação do sublime livro "Pilgrim at Tinker Creek", de Annie Dillard:
"'Still,' wrote Van Gogh in a letter,'a great deal of light falls on everything.' If we are blinded by darkness, we are also blinded by light. When too much light fals on everything, a special terror results."
Luz. Sol. Desde que assisti "Sunshine"("Alerta Solar",LOL) venho conversando frequentemente com meus botões a respeito da nossa estrela -- e sincronicamente me deparando com fragmentos de conversas de outros botões a respeito do mesmo tópico. O Sol é uma coisa assombrosa. Descaralhante em sua enormidade e insignificância, e como toda a mirabilia que nos cerca, nós raramente nos damos conta dele. Annie Dillard, no mesmo livro, diz que:
"(...) our local star without surcease explodes on our heads. We have really only that one light, one source for all power, and yet must we turn away from it by universal decree. Nobody here on the planet seems aware of this strange, powerful taboo, that we all walk about carefully averting our faces, this way and that, lest our eyes be blasted forever. Darkness appalls and light dazzles; the scrap of visible light that doesn't hurt my eyes hurts my brain. What I see sets me swaying. Size and distance and the suden swelling of meanings confuse me, bowl me over."
Não sei se vivemos em mundos diferentes ou se apenas assistimos o descortinar do mesmo mundo sob lâmpadas completamente diversas. Acho a segunda opção mais provável e mais bonita, além de menos solitária. 14 anos depois ainda me pego pensado na supernova de casualidades que nos uniu e no "como pode?" da coisa toda, mas hoje me limito a sorrir e a agradecer ao que quer que tenha orquestrado essa colisão de mestre. Questionar pra quê? Ponho INXS no Winamp e escuto Michael Hutchence:
I
I was standing
You were there
Two worlds collided
And they could never ever tear us apart
PAM PAM PAM PAM!!!!!!
Simbora, passarinho angustiado. Você com a sua asa de cera, eu com a minha, de braços dados rumo ao Sol, nossa ruína.
YARRR!
--Xochiquetzal.
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