terça-feira, 23 de outubro de 2007

Stardust


Collision rules.

Você foi muito coerente na citação do INXS. É realmente a história da nossa relação:

I
I was standing
You were there
Two worlds collided
And they could never ever tear us apart


É a história da nossa cosmogonia, melhor dizendo. Olha só.

Embora nossos mundos tenham se formado e crescido de forma muito diferente depois de mais de uma década (você está ficando velha :( ), nada do que aconteceu foi capaz de nos separar. Zoados pelo Big Bang originário, separados por anos-luz, mas muitas vezes mais próximos entre nós do que com nossos próprios patrões e patroas.

Apesar de todos os seus esforços para orbitar para longe de mim, do seu momentum planetário que te leva para os confins do nosso sistema solar, a atração gravitacional sempre te traz de volta, mesmo quando a distância dos seus erros contraria todas as leis da física, dizendo que NÃO HÁ atração gravitacional suficiente para você voltar.

Condenada a ficar no nosso sistema de estrelas locais, você é um torrãozinho insano de poeira acumulada, indo e voltando constantemente em minha direção, acelerando e desacelerando de forma impossível no vácuo. Você é uma catástrofe cósmica esperando pra acontecer.

Você não olha para os dois lados antes de atravessar a órbita, e não sei como você ainda não foi atropelada por um cometa desgovernado. Eu vejo esses cometas passando zunindo por você, e penso: “caralho, escapou de mais uma, essa quase acaba com a vida inteligente na sua biosfera”. No seu balé de Rasputin você desvia graciosamente dos impactos profundos que poderiam acontecer. Tão diferente de mim. Porque eu fico aqui, planejando para o inevitável (?) choque, suporto cada asteróide que cai na minha superfície, absorvo e distribuo o impacto, e uso os restos de cada um pra aumentar a minha própria massa.

O planeta Atillah: um torrão vermelho e carnívoro como Marte, girando em volta de si mesmo e de um Sol que eu não sei qual é, mas ajuda as coisas a ficarem sempre quentinhas e confortáveis. Minha órbita é regular, e com cálculos simples se descobre em que ponto estarei em qualquer momento dos próximos 100 milhões de anos e SEMPRE com apenas dois climas bem definidos: verão e inverno.Enquanto faço as minhas voltas preguiçosas em torno do Sol, de vez em quando consigo ver você ao longe, entre planetas gasosos, escapando por um triz de buracos negros que acabariam com sua existência, testando os limites desse sistema em que te colocaram.

Então VÁ, seu pequeno planeta instável. Shine on you crazy diamond. Estenda sua órbita, contrarie as leis da Física, faça e refaça a composição do seu planeta.

Depois volte ao nosso sistema local, cruze minha órbita, choque-se de leve com a minha superfície, vamos provocar um pequeno desastre, vamos trocar poeira estelar, deixe meus vulcões explodirem em você, deixe a lava do manto escorrer e solidificar na sua superfície. Minhas rochas piroclásticas GRUDAM MESMO, e você não vai conseguir se livrar delas, nem com terremotos.

Deixe eu aplacar minha fúria magmática nos seus oceânus gélidos, ferver suas águas frias (você se afastou DEMAIS do Sol), criar vapor e embaçar tudo que pode ser visto de fora.

No fim, você leva um parte de mim, e eu fico com uma parte de você. Dois mundos colidiram, e agora eles nunca mais poderão ser separados.

Isso devia virar música.

Atillah.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

TC!!!!

Gratuitous LOL.

Só mesmo o TC pra resumir em um textículo killer a importância de Buckley -- e ainda citando "Lover, You Should've Come Over". Nem acredito que tirei o TC da tumba. Emocionei-me.

Fall in light, brothers!!!

--Xochiquetzal.

domingo, 14 de outubro de 2007

Acordando neste domingo de manhã, qual não é minha supresa ao constatar que seu post é justamente sobre ele, o trovador dos corações solitários modernos, a voz chorosa do bêbado em algum beco de Nova York, a angústia destilada que alguém bebe dentro de uma dose de Jack Daniel´s: Jeff Buckley. Normalmente sou apenas observador das discussões de vocês, mas dessa vez não pude me furtar a fazer um breve comentário. Jeff é o cara. Puta merda. Veio do nada, filho de um tal de Tim Buckley, que era igualmente cantor e desesperado, rasgou uns ouvidos com a faca da agonia e sumiu dentro de um rio gelado, deixando uma pequena porém valiosa obra. Coloco abaixo aquela que é uma de minhas músicas preferidas, e que certamente disputa o top 5 das músicas mais melancólicas de todos os tempos:


LOVER, YOU SHOULD´VE COME OVER

Jeff Buckley

Looking out the door I see the rain fall upon the funeral mourners
Parading in a wake of sad relations as their shoes fill up with water
And maybe I'm too young
To keep good love from going wrong
But tonight you're on my mind so (you'll never know)

I'm broken down and hungry for your love
With no way to feed it
Where are you tonight? Child, you know how much I need it
Too young to hold on and too old to just break free and run

Sometimes a man gets carried away
When he feels like he should be having his fun
And much too blind to see the damage he's done
Sometimes a man must awake to find that, really,
He has no one...

So I'll wait for you... And I'll burn
Will I ever see your sweet return, oh, or will I ever learn
Lover, you should've come over
Cause it's not too late

Lonely is the room the bed is made
The open window lets the rain in
Burning in the corner is the only one who dreams he had you withhim
My body turns and yearns for a sleep that will never come

It's never over, my kingdom for a kiss upon her shoulder
It's never over, all my riches for her smiles when I sleep so soft against her...
It's never over, all my blood for the sweetness of her laughter
It's never over, she is the tear that hangs inside my soulforever

Maybe I'm too young to keep good love from going wrong
Oh... Lover, you should've come over...
'Cause it's not too late...



Baixem a canção. Sintam a dor. Chorem comigo, vamos lá! \o/

Recomendo também: Elliot Smith

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Jeff Buckley

*SIGH*


Quando ouvi Jeff Buckley pela primeira vez, há uns dois anos atrás, não gostei de primeira. Achei meio fresco demais, muito cru -- com exceção da extática versão da "Hallelujah" de Leonard Cohen, que na voz de Buckley é a canção mais bonita do mundo. Dois anos de histeria musical passaram e "Hallelujah" permanece na minha pole position. Infelizmente não encontrei uma versão melhor no youtube, portanto virem-se e baixem a versão original, que é simplesmente... "Hallelujah":



Por acaso decidi revisitar a obra de Buckley na semana passada, para ver se minha primeira impressão seria mesmo a que ficaria -- se ao menos alguém houvesse me prevenido a respeito da porrada lírica que tomei... Estou tonta até hoje, e nem comecei a abarcar a enormidade da obra do rapaz (composta basicamente dos álbuns Grace e Sketches for My Sweetheart the Drunk, mais um monte de coisas encontráveis online). Todas as canções de Buckley são memoráveis em seu je ne sais quoi de diáfano, de troubadour urbano, de experimentos melódicos, letras angustiadas e vocais transfigurados. A que anda grudada na minha cabeça é a belíssima "Satisfied Mind" (infelizmente não encontrei o vídeo da versão de estúdio, damn you Sony Music!!):



Fica aqui o poema "New Years' Prayer" (pode-se ver Buckley declamando o mesmo em http://www.youtube.com/watch?v=Ue_S1lkSNBQ&feature=PlayList&p=4E9A16010C998299&index=5 -- não quero o Atillah me acusando de mania ao postar mil vídeos aqui):

"New Year's Prayer" - Jeff Buckley

You, my love, are allowed to forget about the Christmas you just spent stressed out in your parents' house. You, my love, are allowed to shed the weight of all the years before, like bad disco clothes. Save them for a night of dancing stoned with your lover. You, my love, are allowed to let yourself drown every night in bottomless wild and naked symbolic dreams. You, my love, in sleep, can unlock your youth and your most terrifying magic, and dreaming is for the courageous.

You, my love, are allowed to grab my guitar and sing me idiot love songs if you've lost your ability to speak (keep it down to 2 minutes). You, my love, are allowed to rot, and to die, and to live again, more alive and incandescent than before.

You, my love, are allowed to beat the shit out of your television, choke its thoughts and corrupt its mind, kill kill kill, kill the motherfucker before the song of zombified pain and panic and malaise and its narrow right-wing vision and its cheap commercial gang-rape becomes the white noise of the world; turnabout is fair play. You, my love, are allowed to forgive and love your television. You, my love, are allowed to speak in kisses to those around you and those up in heaven.

You, my love, are allowed to show your babies how to dance, full-bodied, starry-eyed,audacious, supernatural and glorified. You, my love, are allowed to suck in every single endeavor. You, my love, are allowed to be soaked like a lover's blanket in the New York summertime with the wonder of your own special gift.

You, my love are allowed to receive praise. You, my love, are allowed to have time. You, my love, are allowed to understand. You, my love, are allowed to love. Women, disobey. Little men, believe. You, my love, are a rebellion.

A gratuidade da beleza nesse mundo jamais deixará de me espantar, assim como a banalidade de certas mortes e tanto sofrimento em vão.

Aos poetas mortos!

--Xochiquetzal.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Staring At The Sun

É.



Pra começar, gostaria de dizer que fico feliz com a aprovação pública de meu relato do Outro Lado, apesar de triste por não ter condições de atender à demanda por maiores informações por motivos quimio-epistemológicos.

Explica-se: após quase um mês de homeostase cerebral -- fato inaudito na minha vida adulta -- as situações pitorescas que engatilharam reações extremas em mim perderam o seu impacto. Lembro-me de todas sem exceção: o caso do dia em que todos os relógios pararam; o dia em
que quase perdi um mamilo, tentando provar a lenda urbana de que coelhos agressivos se acalmam ao serem segurados contra o peito e ouvirem a batida de um coração; o dia em
que eu estava ouvindo o Robert Plant & Jimmy Page No Quarter, uma música árabe travou no CD player e eu passei uns vinte minutos ouvindo o mesmo solo de cítara em loop, perfeitamente convencida de que o tempo havia parado. Por aí vai. Contando assim é engraçadinho, mas me falta a capacidade de passar de modo fidedigno a dimensão do estranho e do insano que permeou cada situação.

Há poucos dias as coisas franziram feio aqui em casa, numa situação-limite que há um mês atrás me poria virada para a parede, fazendo arabescos com meu próprio excremento e batendo a cabeça fazendo "mimimimimi". Que nada. Fiquei impressionada em como consegui manter a calma, e lembrei-me da mesma hora de um post antigo no qual você dizia possuir apenas dois estados: normal e puto. Naquele momento eu estava em modo "puto", dando-me conta que sim, era possível conter a represa lisérgica da minha mente com barreiras bem-definidas. Por enquanto eu só consigo definir três estados: o supracitado "puto", o "hiperativo" e o "aliviado". Creio que com o passar do tempo e um pouco de prática conseguirei colocar minhas barreiras em ordem.

O preço a pagar é a perda da capacidade de narrar o inenarrável, mas por enquanto está valendo a pena. Não creio que eu tenha experimentado o mundo com uma vivacidade especial: acho que sob uma luz fria e brutal seria uma expressão mais correta. Era como se o Sol fosse uma gigantesca lâmpada fluorescente, acentuando com sua luz dura cada espinha, mancha, calombo e ferida da cútis do mundo, examinada e cutucada diante do espelho do banheiro porco da rodoviária da minha mente. Agora as coisas estão mais quentes, menos Pi e mais Amélie Poulain. O Sol aquece o cérebro e silencia as crianças da noite (ah, mas que música elas faziam!).

Fica aqui a citação do sublime livro "Pilgrim at Tinker Creek", de Annie Dillard:

"'Still,' wrote Van Gogh in a letter,'a great deal of light falls on everything.' If we are blinded by darkness, we are also blinded by light. When too much light fals on everything, a special terror results."

Luz. Sol. Desde que assisti "Sunshine"("Alerta Solar",LOL) venho conversando frequentemente com meus botões a respeito da nossa estrela -- e sincronicamente me deparando com fragmentos de conversas de outros botões a respeito do mesmo tópico. O Sol é uma coisa assombrosa. Descaralhante em sua enormidade e insignificância, e como toda a mirabilia que nos cerca, nós raramente nos damos conta dele. Annie Dillard, no mesmo livro, diz que:

"(...) our local star without surcease explodes on our heads. We have really only that one light, one source for all power, and yet must we turn away from it by universal decree. Nobody here on the planet seems aware of this strange, powerful taboo, that we all walk about carefully averting our faces, this way and that, lest our eyes be blasted forever. Darkness appalls and light dazzles; the scrap of visible light that doesn't hurt my eyes hurts my brain. What I see sets me swaying. Size and distance and the suden swelling of meanings confuse me, bowl me over."

Não sei se vivemos em mundos diferentes ou se apenas assistimos o descortinar do mesmo mundo sob lâmpadas completamente diversas. Acho a segunda opção mais provável e mais bonita, além de menos solitária. 14 anos depois ainda me pego pensado na supernova de casualidades que nos uniu e no "como pode?" da coisa toda, mas hoje me limito a sorrir e a agradecer ao que quer que tenha orquestrado essa colisão de mestre. Questionar pra quê? Ponho INXS no Winamp e escuto Michael Hutchence:

I
I was standing
You were there
Two worlds collided
And they could never ever tear us apart

PAM PAM PAM PAM!!!!!!

Simbora, passarinho angustiado. Você com a sua asa de cera, eu com a minha, de braços dados rumo ao Sol, nossa ruína.


YARRR!

--Xochiquetzal.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

One-Winged Fuckin' Angels


Voa passarinho angustiado.

Eu queria dizer, em meu nome, e em nome de todas as estatísticas que freqüentam esse blog, que apreciamos o seu relato sobre o que existe do outro lado. Sério. Precisamos fazer isso mais vezes. Tipo, no seu próximo post.

Continuando nossa historinha de contrastes entre eu e você, queria dizer que as coisas que você descreve são realmente mind-bending, porém eu simplesmente passaria por elas com um “putaquipariu, preciso tomar uma cerva antes do dia terminar”. Normalmente resolve. Mas compreendo que para você seja um pouco mais complicado. Seu cérebro de “pessoa especial” deve funcionar como um amplificador dos detalhes esdrúxulos, tornando tudo mais vivo, colorido e insuportável. Já o meu, parece que bóia em uma câmara de privação de sentidos. Eu passo pela vida como se estivesse vendo televisão. Mesmo o que acontece à minha frente me parece muito distante, se assim eu o quiser.

É uma capacidade interessante essa, de considerar que o mundo em volta é apenas uma paródia ou versão mal-feita de um mundo real. É como se eu estivesse permanentemente preso no museu da Madame Tussaud. Faz-me pensar que realmente o mundo só existe na minha cabeça, e que se eu parar de acreditar nele tudo vai ruir. Pintinhos cor-de-rosa ameaçando minha sanidade? Bah, é só meu cérebro tentando deixar minha vida mais bizarra. Não existe nada de impressionante nisso; há muito tempo percebi que a humanidade pode ser divina e podre ao mesmo tempo. Nada que é humano me surpreende (mentira). Tudo que é humano me interessa (mentira também). Deixa isso pra lá e vai assistir a um filme que dá na mesma.

É lógico que às vezes eu te invejo, por você experimentar o mundo com toda essa vivacidade que me é opaca. Mas daí, já sabe né, eu olho pra fora, e aqui tá quentinho... Vai lá e me conta depois. Seja meu arauto, seja minha enviada e correspondente especial do mundo retalhado. Flane por essas planícies de sal, por essas ruínas de construções com ângulos impossíveis (Lovecraft :) ), por essas montanhas de resíduos humanos. Abra os olhos, veja bem, anote no caderninho, e depois volte para sua festa de boas-vindas.

Aliás, pensar nisso tudo me lembrou a filosofia barata de “Matrix”; considerando as nossas imensas diferenças de percepção do mundo, acho bastante provável que nós estejamos habitando/criando mundos literalmente separados e diferentes. Não sei exatamente onde fica a ponte de um para o outro, e acho admirável que eles tenham se chocado em algum momento.

Também é impressionante e improvável que tenhamos nos agarrado um ao outro, como forma de atravessar mais facilmente esse vale de lágrimas. Não que eu ache isso ruim ou queira desistir de nosso empreendimento e parceria, veja bem, só acho surpreendente.

No fim das contas, volto à imagem bicha e idílica de que somos anjos caídos. Anjos que se jogaram, melhor dizendo. E anjos de uma asa só, que precisam se agarrar uns aos outros pra tentar voar novamente pra algum lugar.

Atillah.