sábado, 12 de abril de 2008

Liberdade Que Será Também...

ÓÓÓ Minas Gerais... ÓÓÓ Minas Gerais...

...liberdade, ainda que tardia. Após onze anos de trabalho forçado nas profundezas das Minas Gerais, garimpando pepitas de existir sem êxito, exausta, exilada de mim mesma e dos meus, vi a famosa luz no fim do túnel – que acabou não sendo a de um trem correndo em minha direção – e cavei a mãos nuas meu caminho em direção a ela. Removi com tocos sangrentos de unha as últimas rochas que impediam minha passagem e me encontrei piscando ao sol, cega como um peixe abissal, pele fluorescente coberta de musgo, cabelos emaranhados de líquen, embasbacada por existir e chocada ao descobrir que a alegoria da caverna de alegoria não tem nada.

Saí ao sol.

Passei duas semanas frenéticas, resolvendo problemas de devolução de chaves, burocracia de apartamento, contas a pagar e receber, despedidas comoventes de alunos, quatro horas de sono por dia e um consumo de calorias digno de triatleta. Se cheirar açúcar trouxesse alguma gratificação, estaria consumindo carreiras do mais puro União na clandestinidade de uma padaria de esquina. Se minha mudança não estivesse tão próxima, estaria diabética, incapaz de amarrar os cadarços e completamente tomada por essa droga que é o açúcar refinado, roubando para comprar bombinhas de doce de leite e trocando favores sexuais por doses de chocolate, por mais malhado de parafina que fosse. A que ponto chegaste, Xochiquetzal. Uma menina com um futuro tão promissor, entregue aos antros de ópio das docerias de Minas.

Mas eu vi a luz, irmãos de blog.

Quilos e olheiras a mais, paciência e sanidade de menos, comecei a tatear o labirinto de concreto que conheci como lar sem emoção alguma, como quem observa o rosto adormecido de um amante pelo qual já não se sente mais nada. Meus adeuses não me comprimiram o peito; acariciei a pele dessa cidade comatosa na ânsia de desligar-me dela, de observar sua pulsação desaparecer num traço contínuo causado pela ausência de mim. Removerei o pó das sandálias ao subir no ônibus que me levará para fora daqui sem resquícios nem memórias, deixando para trás o esboço de uma vida insana e a esperança de rever meus companheiros de cativeiro sob o calor que me espera.

Subo a corrente do Rio de minhas origens, pesada e prenhe, para desovar ali minhas esperanças. Não a Cidade-Desespero da qual fugi aos dezesseis anos, mas a Costa Azul do estado onde nasci, entre o mar e as montanhas, numa cidade de sonho, um misto de Macondo e Pasárgada que me faz rir das sombras da Gotham que abandono. Ainda não estou acreditando que estou realmente saindo daqui, com malas feitas, gatos e amado me esperando do outro lado, meus livros devorados pelo mofo inclemente da Princesa de Minas encaixotados... como pode?

Finalmente entendo os pássaros que permanecem nas gaiolas com a portinhola aberta, olhando embasbacados o mundo ao seu redor.

Como pode?

Starting all over, restarting, rebooting. Queimarei as memórias úmidas de meu cárcere e reescreverei minhas rimas na areia da praia.

Saio de Minas para entrar para a História.




BANG!

--Xochiquetzal =)

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