quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O Mundo Assombrado Pelos Demônios

I told you so.


Olá, Cosmonauta Spiff!!!

Passei uma preciosa parte do meu tempo pensando em como escrever um texto à altura do seu último post. Revi meus conceitos de astronomia, revisei minha gama de metáforas e alegorias, fiz esquemas, fiz esboços... e nada. Não consegui produzir nada que chegasse aos pés do extremamente bem-escrito, embasado e humorístico post que você criou. Puta. Que. Pariu. Perdi a conta das vezes em que me peguei relendo o texto, me embasbacando com a sua qualidade e com o impacto ridículo das rochas piroplásticas.

Joguei a toalha mesmo. Não há mais o que comentar ou adicionar; curvo-me perante seu talento, deleito-me em aquecer minha superfície frígida nas emanações de seu gênio, e espero permanecer orbitando (ainda que de modo errático) o planeta Atillah, nessa danse macabre de coincidências que rege nossa cosmogonia...


...and here's to life!

Enquanto você valseia lentamente em torno de seu Sol incognoscível, eu continuo sapateando pelo Cosmos -- dessa vez com sapatinhos de lítio que me desaceleram, me desintegram, me desangustiam. Baudelaire disse que "não há angústia maior do que viver sem angústia", e às vezes sou forçada a concordar. O lítio é como uma terraplenagem no solo na mente: você não corre mais o risco de se estabacar a cada passo nos buracos e irregularidades do terreno, mas perde toda a excitação, maravilha e encanto caóticos com os quais estava habituado. G. K. Chesterton disse:

"Existe no fundo da mente de todo artista algo como um modelo ou um tipo de arquitetura. É algo como a paisagem dos seus sonhos; o tipo de mundo que ele gostaria de construir ou no qual gostaria de vagar; a estranha flora e fauna de seu próprio planeta secreto."

O lítio me tornou uma criatura apátrida, exilou-me de mim mesma. Estou calma, ponderada, menos extravagante e exagerada, mas como diria Pessoa: "no meu coração há uma paz de angústia, e meu sossego é feito de resignação". Minha calma é na verdade apatia, minha ponderação, tédio. Vivo uma vida de refugiada no status quo, ansiando pela energia desmesurada, pelos vôos da imaginação, pelas danças insanas no apartamento e risadas histéricas em momentos inadequados.

Eu não sei ser equilibrada. Eu não gosto de ser equilibrada. Granted, eu não gosto de ser auto-destrutiva, instável e psicótica, mas se o preço a pagar pela "normalidade" for uma vida em banho-maria eu vou voltar ao Bedlam do meu mundinho. Tenho saudades dos meus demônios internos e da vida em permanente assombro.

"Mas agora você se sente como uma pessoa normal, como uma de nós". Esse comentário, que já virou lugar-comum na minha família, me horroriza. Lembra-me das aberrações do clássico filme Freaks: "One of us! One of us! Gobble-Gabble, one of us!" Eu não quero ser um de vocês! Eu não quero ter que beber sete litros de água por dia para evitar os problemas renais causados pela droga e ir ao banheiro a cada 45 minutos; não quero o gosto metálico na boca seca, os tremores nas mãos que transformaram minha letra em coisa de criança de quarta série, a confusão, a incapacidade de fazer mil coisas tudo ao mesmo tempo agora, o silêncio que abafa o cérebro, não ser capaz de viver descaralhada com tudo ao meu redor. A náusea sartreana de viver.

Mas eu não quero enlouquecer também.

É tudo muito esquisito. Meus textos são desconexos, levo três vezes mais tempo para ler qualquer coisa, acho tudo difícil. Estou me sentindo burra. Em pouco mais de três semanas faço a prova para o mestrado em Lingüística e estou tendo dificuldade para estudar. Argh. A náusea.

Ó vida, ó azar. Chega de lamentação -- tenho quatro textos longos para ler e resenhar e uma tremenda ressaca existencial pós-Halloween. Veremos o que os meus 27 anos (você estava certo: você está ficando velho) reservam para mim.

Shivers me timbers!

Avast!

--Xochiquetzal.



2 comentários:

Anônimo disse...

Caramba...

Eu li os dois posts seguidos e uma onda de calor me subiu. Caramba. Caramba, caramba, caramba.

Porra, muito bom. Estou embasbacado.



Sério.

Anônimo disse...

Obrigada, Reverendo. Espancando bem para espancar sempre...

Thanks for the feedback!

Beijos,

--X