sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Mafalda-se



De jeito nenhum. Só sobre o meu cadáver.

Olá, enfermeira!

Agradeço pela campanha particular que você fez pelo meu retorno, mas ela não era necessária. Minha volta é sempre tão certa quanto a minha ida. Eu sou um pêndulo.

Naturalmente você compreende que, devido às repercussões do meu último post, eu precisei de algum tempo para afastar o receio de um novo post. Pensei muito em todas as questões levantadas e cheguei à seguinte conclusão:

FODA-SE.

Sim, uma decisão deveras ponderada e refletida, embora o palavrório de baixo calão passe uma impressão contrária. Mas fui guiado por alguns pensamentos simples e muito verdadeiros, que parecem se aplicar não só à situação em questão, mas à vida como um todo:

LIFE IS SHORT.

Curta demais, de fato, para que eu fique me preocupando com os problemas dos outros, por mais que sejam pessoas queridas por mim. Curta demais para que eu me restrinja e não expresse com toda clareza, e ao tempo que eu achar melhor, o afeto que eu sinto por essas mesmas pessoas. Curta demais para achar que eu possuo pessoas ou coisas. Curta demais para agüentar encheção de saco em escala industrial, acusações falsas e mimimimi.

Portanto, em um arroubo libertário, CONTINUAREI meu último post. No pasarán! Ninguém vai passar por cima de mim. Eu sigo adiante, dentro dos meus princípios e valorizando o que sempre fiz e sei que é certo. No pasarán!

Como você lembra, eu havia citado o refrão daquela música do INXS, que foi legal e tals. Mas a melhor parte da porra da música vinha depois, cara:

I told you
That we could fly
'Cause we all have wings
But some of us don't know why


Olha que maravilha, o tema das asas e anjos voltando de novo. A boiolagem angelical vem assombrando esse modesto blog por alguns meses já. As asas, as asas que nossas vidinhas suburbanas cortaram ou incapacitaram. Por que fazemos isso com nós mesmos? Maldita conformação e venda da alma ao sistema. Eu nem sei em que momento eu esqueci que tinha asas e podia ir pra onde quisesse. Mas também, como eu já disse antes, voar pra quê? Só não sei o que faço com esse par de coisas penadas e inúteis que eventualmente lembro que todos temos.

Você, sim VOCÊ, que tinha suas asas enormes e negras, feitas de insanidade, que te levavam para paisagens noturnas e pesadelos maravilhosos, está aí agora; reduzida a uma sombra depenada do que era. O lítio cortou suas asas e você é apenas mais uma infeliz, desprovida da capacidade de vôo. Bem vinda à nossa gaiola dourada. O alpiste fica à esquerda, os banhos de serragem à direita. Cerveja, só com permissão do carcereiro. Se você for um bom pássaro lógico, e cantar no tom.

Quem ganha asas mesmo e sai da maldita gaiola é Fibonacci. Vá em paz Fibonacci, você foi amado. Você foi amado até por quem teve pouco tempo com você. Deixe a dor para quem ficou. Apenas um gato, diria minha persona insensível. Apenas um gato sim, mas repositório de amor incondicional, sem laços que restringem, que limitam, que tornam tudo insuportável. Pelo menos não serei condenado ao falar de meu afeto por Fibonacci; a distância entre espécies me isenta da condenação e torna irrelevante o crime do gostar. Aos pais, deixo meu lamento, e torço para que se consolem no resto da família peluda que persiste. Por favor, estenda minhas condolências ao digníssimo.

Falando nele, não ligo para seus problemas, pois tenho os meus que me bastam, mas sinceramente torço por vocês. Mais sinceramente ainda torço por mim, que não quero perder essa força da natureza que vocês formaram juntos. Certamente fui arrebatado pela tormenta de vocês, ao chegar perto do olho do furacão, e não resistir à tormenta foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado. Das poucas certezas que tenho, o foco nos relacionamentos é a mais permanente, e devo isso a vocês.

Minha única mensagem final possível é: toca daí, que eu mando daqui. Remenda as asas, exercita elas de vez em quando. Nunca se sabe quando o garoto levado vai chegar de fininho e abrir a porta da gaiola e, cara, nessa hora, tu sai voando o mais rápido que der, ok? Sua prisão é temporária, que eu sei. Você sempre voou mais alto do que eu.

Atillah




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