domingo, 10 de fevereiro de 2008

$#@!%&*!!!




Dezembro passou, levando com ele o escabroso ano de 2007 -- que o dia em que nasceu moura e pereça. Janeiro seguiu seu curso, e meu camarada Atillah não se manifestou. Fevereiro chegou trazendo meus ímpetos suicidas carnavalescos e mesmo assim o blog continuou às moscas.

Três meses de aguda dor interna e eu, lady que sou, dando aos outros a oportunidade da palavra antes de inundar o blog com minhas imprecações bioquímicas e existenciais. E nada. Senti-me uma portuguesa de buço a mirar o horizonte em busca de um amado há muito convocado por Netuno.

E chega domingo, trazendo com ele seu marasmo e desespero amplificados. Rapei o buço, endireitei as costas e murmurei:

VAI TOMAR NO CU GERAL.

Não satisfeita, apelei às minhas raízes mouriscas e desejei suavemente na língua do Corão:

QUE AS PULGAS DE MIL CAMELOS INFESTEM OS SEUS SOVACOS, CÃO INFIEL.

E, ao consultar meu irmão Gabriel, o Sábio, recebi esse bálsamo de aforismo para repetir em minhas noites de solidão:

CHEIRA MEU OVO ESQUERDO.

As pessoas realmente subestimam o poder terapêutico de um xingamento dito com brio. Então mãos ao teclado.

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Queridos leitores, se vocês ainda estão por aqui e não migraram para outros blogs em busca de alimento e abrigo:

Sabe aquele pobrema dos neuvo conhecido como transtorno bipolar? Pois é, eu ganhei um de presente quando nasci e posso garantir que é uma merda. Mas sabe o que é mil vezes pior do que ter transtorno bipolar? É ser tratada por um psiquiatra incompetente por um ano, para descobrir que o medicamento que você estava tomando com mais fé do que as pílulas do Frei Galvão não só não faziam efeito ALGUM em você -- devido à química peculiar do seu cérebro -- como PIORAVAM todos os seus sintomas. Na verdade, três psiquiatras diferentes, caros pra caralho e bem reputados me disseram que se eu tivesse me submetido à TEC (Terapia Eletroconvulsiva) teria sido melhor para mim do que passar um ano tomando IRSs (Inibidores de Recaptação de Serotonina -- os anti-depressivos mais comuns do mercado).

Em Dezembro e Janeiro a coisa atingiu massa crítica. Minhas mãos tremiam como se eu tivesse Parkinson, engordei oito quilos, quase me divorciei (se bem que isso não conta porque em quase me divorcio a cada lua cheia), via (VIA MESMO) pessoas tentando me agarrar à noite (nenhum alto, bonitão e moreno, infelizmente), falava sem parar, o tempo todo, sobre qualquer coisa, com qualquer um, dormia três horas por noite... enfim, a lista de sintomas absurdos segue ad infinitum.

No início do mês de Janeiro fui visitar, ainda totalmente maníaca, um amigo-irmão que estava passando por uma situação-limite na família -- e cuja atitude belíssima em relação a um problema extremo me ensinou uma lição tão gigantesca que chega a ser clichê. A minha situação + a do amigo + más decisões de ordem química = total colapso nervoso. TOTAL.

Eu enlouqueci, perdi o senso das coisas, a razão, tudo. Por horas intermináveis eu não conseguia falar, via o mundo como se refletido em um espelho quebrado, não conseguia controlar minhas funções cognitivas. Cada um dos meus sentidos estava deturpado E funcionando em um timing diferente: eu balbuciava mas só conseguia ouvir o som que produzia depois de um certo delay; ouvia o que era dito pra mim mas só registrava após alguns segundos. A visão, além do efeito fraturado, era horrivelmente borrada, como se alguém houvesse lixado minhas córneas: tudo era iluminado por uma luz horrenda. Meu corpo não era mais meu, mas ao mesmo tempo, em um buraco dentro da minha cabeça, uma parte sã assistia a tudo com horror.

Está aí o resumo do Grand Guignol. Se estou aqui escrevendo hoje é graças à infinita paciência e carinho do amigo que estava comigo, que por horas conversou, me acalmou e mostrou que aquilo poderia passar, guiando-me de volta à sanidade. NUNCA presenciei nada mais delicado e eficiente do que a abordagem dessa pessoa, que manteve a calma em uma situação desesperadora -- para receber uma porrada da vida poucos dias depois. Devo muitas coisas a ele -- minha sanidade passou a ser uma delas.

Thank God t small kindnesses.

Desde então estou de volta, enquanto os médicos brincam de casinha com meu cérebro e resolvem se a coisa tem jeito ou não. Por enquanto, sou louca mansa; acho que se descontarmos o tremor das mãos, a tendência à compulsão, os gestos repetidos mil vezes e a conversa um pouco desconexa eu quase passo por normal.

“'But I don’t want to go among mad people,' Alice remarked.
'Oh, you can’t help that,' said the Cat. 'We’re all mad here. I’m mad. You’re mad.'
'How do you know I’m mad?' said Alice.
'You must be,” said the Cat. 'or you wouldn’t have come here.'”

--Lewis Carroll, Alice in Wonderland

Chemically Yours,

--Xochiquetzal.






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