terça-feira, 27 de novembro de 2007

Xochiquetzal e seu Mestrado


Para aqueles que estavam curiosos quanto ao meu desempenho na prova de mestrado, uso meus queridos lolcats para dar o recado (até mesmo porque algumas imagens valem mais do que mil palavras):










Como minha primeira brochada acadêmica, "FAIL" não é suficiente para expressar o tamanho de meu fracasso.



Agora sim.



Que se foda. Eu NEM queria passar nessa porra mesmo...

Hating everything,

--Xochiquetzal.

domingo, 25 de novembro de 2007

Balada do Louco

Tipo isso.


Quando se leva uma vida bizarra como a minha fica realmente difícil dizer coisas do tipo “esse foi um dia difícil" ou "essa foi a semana mais bizarra da minha vida", porque me pego pensando em todas as coisas simplesmente toscas que pontuam a minha existência e vejo que seria injusto com elas colocar qualquer determindado período de tempo na pole position. Já fui atacada por tatus sanguinários, já fugi de um enxame de abelhas iradas me descabelando pela rua, sobrevivi a dois atropelamentos, um acidente de carro e uma tentativa de homicídio, quase fui presa pela fina flor da polícia americana, perdi parte de um dedo em um acidente bizarro envolvendo o fim da copa de 1998, um bolo de um ficante idiota, um irmão caçula desatento e o batente de uma porta... poderia seguir ad nauseam, mas só queria dar a vocês uma idéia das coisas que só acontecem comigo. O Atillah, companheiro e testemunha indireta de todas as minhas desventuras, já não se surpreende mais com as inverossimilhanças do meu ser.

Eu ainda me surpreendo.

Por isso digo: essa foi uma semana TOSCA. Parece que todo o mau carma acumulado durante o ano decidiu armar uma emboscada contra mim e me matar de morte matada; sobrevivi a mais essa tempestade mental com o auxílio de meus queridos benzodiazepínicos -- cuja presença já está começando a me incomodar e dos quais pretendo me livrar com finesse logo, logo -- e do onipresente açúcar, o crack feminino, que deixou para trás as marcas adiposas de sua presença na parte inferior do meu corpo. Mais alegria para os pedreiros da cidade, mais angústia desabrida até essas dobrinhas abandonarem esse corpo que não as pertence.

But I digress. As situações-limite envolvendo a saúde de amigos, amores e familiares parecem estar sob controle, meus planos de passar bem (se passar, claro) na prova do mestrado foram pra casa do caralho, estou sob uma overdose de açúcar e cafeína embalada pela voz de Edith Piaf e cheguei à conclusão de que, se não sentasse a bunda pra escrever alguma coisa, eu iria acabar pelada, correndo em círculos no terraço. Como todos os apartamentos ao redor são repúblicas de estudantes e os alicerces do meu prédio datam da época da Inconfidência Mineira, achei mais seguro depositar meus desabafos aqui no blog.

(Aliás, gostaria de dedicar esse post desconexo à Mme. Esquivel, meu carro-pipa de lágrimas eletrônicas.)

Pois é. Uma das bigornas que caíram na minha cabeça desde o meu último post me levou a uma clínica psiquiátrica -- não para tratar da minha cabecinha deformada, mas para visitar uma pessoa querida que foi parar lá E QUE NÃO SOU EU.

Por enquanto.

Eu sempre fui fascinada pelos loucos e pela loucura. Não sei por quê. Casos de instabilidade mental pululam na minha família e a cada ano que passa fico sabendo de estórias mais estranhas e escabrosas (talvez pelos meus familiares não acharem mais que possam me impressionar com os relatos do tio que anotava TUDO o que fazia 24hs, da prima guerrilheira "desaparecida" pela ditadura militar, das diversas e criativas tentativas de suicídio e do primo que só falava rimando, entre outras). Pois é. Durante essa visita fiquei conhecendo mais casos que gostaria de partilhar com vocês.

A clínica, que mais parece um pequeno hotel-fazenda e custa os olhos da cara, é agradabilíssima. O clima do lugar não lembra nem de longe as cenas noir dos hospitais psiquiátricos públicos ou as monstrusidades de filmes como “Bicho de Sete Cabeças” – exceto pelo eventual paciente obeso e desdentado, vagando sem camisa e torcendo as mãos. Cheguei em um sábado ensolarado, trazendo chocolates, biscoitos, coca-cola e cigarros para a minha pessoa querida QUE NÃO SOU EU, já que a minha remessa de alguns dias atrás fora surrupiada pelos outros internos, que abusaram da boa-vontade da minha pessoa querida QUE NÃO SOU EU. Cheguei, sentei-me à beira da piscina e comecei a botar o papo em dia com a minha pess... com o indivíduo que a partir de agora vou identificar como PQ.

Logo fomos interrompidos por um senhor de uns sessenta anos, com um olho faltando e o outro olho, de um azul esquisito, mirando um ponto qualquer na minha testa. Antes que eu conseguisse decidir pra que olho olhar enquanto falava com ele, o tal senhor pegou meu braço e disse, em tom confessional, que não me preocupasse com PQ, já que estava tomando conta dele, protegendo-o de todos os criminosos perigosíssimos que infestavam a clínica e de todos os espíritos malignos que conspiravam contra os dois. Durante a minha visita esse senhor caolho nos interrompeu pelo menos mais umas três vezes para me dizer exatamente a mesma coisa, num tom cada vez mais alarmante.

Pouco depois uma mulher de óculos fundo de garrafa e camisola florida veio me abraçar e beijar, emocionadíssima. Quando PQ fez menção de me apresentar a ela, ela o interrompeu: "Não, pode deixar, eu sei quem ela é -- é a XUXA!" Leitores, eu juro que na hora eu não consegui rir. Graças a Deus eu estava usando meus óculos rave que cobrem a metade da cara, porque acho que a expressão do meu rosto trairia o meu espanto. Sem largar a minha mão um minuto, a mulher disse o quanto gostava de mim, que sabia que eu viria, que ela assistia meu programa toda manhã... fiquei fúcsia. Não lembro se disse alguma coisa; acho que só fiz que sim com a cabeça. Ela cantou umas músicas que deviam ser da Xuxa (não reconheci nenhuma, já que meu repertório xuxesco se limita aos anos 80), disse que seus desenhos preferidos eram "o do Scooby-Doo e o do Bob Esponja" e que não gostava do Homem-Aranha, mas achava "o Homem de Gelo muito bonito". Uma pessoa, provavelmente parente dela, veio tirá-la dali -- depois de muitos abraços, "eu te amo Xuxa!" e promessas de visitá-la outro dia.

Depois de ser confundida com a Xuxa e alertada sobre os perigos físicos e espirituais do recinto, tive alguns minutos preciosos de conversa a sós com PQ, interrompidos pelos eventuais borrifos elefantinos causados pelos pacientes que se jogavam alegremente na piscina. Encharcada, divertida e um pouco confusa, fui apresentada a Mateus, um homem bonito e extremamente simpático -- o tipo de pessoa que causa empatia instantânea. Mateus foi o que mais me impressionou: sua lucidez, seu sorriso e sua aura de bondade absurda me deixaram desconcertada, especialmente quando soube que ele estava na clínica há três meses. Dentre muitas coisas, Mateus previu a Terceira Guerra Mundial, um confronto nuclear no qual os Estados Unidos e o Brasil venceriam a Inglaterra e a França; que eu teria um casal de gêmeos; me disse que viu Jesus -- com uma convicção da qual eu não duvidei -- e que o período que estava na clínica o prepararia para seu apostolado junto às nações do mundo.

Hmmm. Acho que o blog cumpriu sua função de depósito de desabafos (merci Mme. Esquivel) por enquanto... precisava escrever para não enlouquecer; agora entendo todos os escritores que atribuem a mesma função terapêutica à escrita.

Um leitor-não-tão-imaginário-assim que me achou no MSN e trocou algumas idéias comigo a respeito do Espancando disse que eu glamourizava meus problemas emocionais e exagerava as coisas que aconteciam comigo pra conseguir atenção. Nunca neguei meu status de attention whore, mas gostaria de poder recorrer à hipérbole ao descrever as coisas que acontecem comigo. Leitor, acredite se quiser. Não sei, só sei que foi assim, como diria o Chicó. Li em algum lugar que há um ditado chinês que diz que "para conquistar uma besta, você deve primeiro torná-la bela". Pode ter a profundidade de um biscoito da sorte do China in Box, mas é verdade. Tento amansar a besta da loucura e ensiná-la a dar a patinha, em vez de subir numa cadeira e gritar feito uma mulherzinha cada vez que ela se esgueira pela cozinha da minha cabeça. Alguém pode me culpar por isso?

Falando em China in Box, no meu frenesi de alimentação panda pedi China in Box hoje (me arrependi depois, comida horrível, mas meu corpo ficou feliz com os carboidratos). Eis o que dizia o papelzinho do biscoito da sorte:

Um grande desempenho cultural: aproveite-o para grandes obras.
(26-37-59-07-27-10).

Leitores que jogam na Sena, não se esqueçam do meu desempenho cultural caso ganhem com esses números aí. Estou destinada à grandeza.

Mais louco é quem me diz,

--Xochiquetzal.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Tatu no Rasinho... LÁ VOU EEEEEU!

.

Enquanto a poeira não baixa nessa tempestade de areia da minha vida, enquanto não tenho paz de espírito para responder o (mais uma vez excelente) post do Atillah, enquanto seu lobo não vem, gostaria de partilhar com meu companheiro de blog e com nossos leitores nem-tão-imaginários-assim essa pérola da falta do que fazer digital:



Estou rindo até agora. Obrigada TC por me fazer sorrir num dos momentos menos risíveis da minha vida. Eu te amo, cara.

Chama o outro Ben!!!!

--Xochiquetzal.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Mafalda-se



De jeito nenhum. Só sobre o meu cadáver.

Olá, enfermeira!

Agradeço pela campanha particular que você fez pelo meu retorno, mas ela não era necessária. Minha volta é sempre tão certa quanto a minha ida. Eu sou um pêndulo.

Naturalmente você compreende que, devido às repercussões do meu último post, eu precisei de algum tempo para afastar o receio de um novo post. Pensei muito em todas as questões levantadas e cheguei à seguinte conclusão:

FODA-SE.

Sim, uma decisão deveras ponderada e refletida, embora o palavrório de baixo calão passe uma impressão contrária. Mas fui guiado por alguns pensamentos simples e muito verdadeiros, que parecem se aplicar não só à situação em questão, mas à vida como um todo:

LIFE IS SHORT.

Curta demais, de fato, para que eu fique me preocupando com os problemas dos outros, por mais que sejam pessoas queridas por mim. Curta demais para que eu me restrinja e não expresse com toda clareza, e ao tempo que eu achar melhor, o afeto que eu sinto por essas mesmas pessoas. Curta demais para achar que eu possuo pessoas ou coisas. Curta demais para agüentar encheção de saco em escala industrial, acusações falsas e mimimimi.

Portanto, em um arroubo libertário, CONTINUAREI meu último post. No pasarán! Ninguém vai passar por cima de mim. Eu sigo adiante, dentro dos meus princípios e valorizando o que sempre fiz e sei que é certo. No pasarán!

Como você lembra, eu havia citado o refrão daquela música do INXS, que foi legal e tals. Mas a melhor parte da porra da música vinha depois, cara:

I told you
That we could fly
'Cause we all have wings
But some of us don't know why


Olha que maravilha, o tema das asas e anjos voltando de novo. A boiolagem angelical vem assombrando esse modesto blog por alguns meses já. As asas, as asas que nossas vidinhas suburbanas cortaram ou incapacitaram. Por que fazemos isso com nós mesmos? Maldita conformação e venda da alma ao sistema. Eu nem sei em que momento eu esqueci que tinha asas e podia ir pra onde quisesse. Mas também, como eu já disse antes, voar pra quê? Só não sei o que faço com esse par de coisas penadas e inúteis que eventualmente lembro que todos temos.

Você, sim VOCÊ, que tinha suas asas enormes e negras, feitas de insanidade, que te levavam para paisagens noturnas e pesadelos maravilhosos, está aí agora; reduzida a uma sombra depenada do que era. O lítio cortou suas asas e você é apenas mais uma infeliz, desprovida da capacidade de vôo. Bem vinda à nossa gaiola dourada. O alpiste fica à esquerda, os banhos de serragem à direita. Cerveja, só com permissão do carcereiro. Se você for um bom pássaro lógico, e cantar no tom.

Quem ganha asas mesmo e sai da maldita gaiola é Fibonacci. Vá em paz Fibonacci, você foi amado. Você foi amado até por quem teve pouco tempo com você. Deixe a dor para quem ficou. Apenas um gato, diria minha persona insensível. Apenas um gato sim, mas repositório de amor incondicional, sem laços que restringem, que limitam, que tornam tudo insuportável. Pelo menos não serei condenado ao falar de meu afeto por Fibonacci; a distância entre espécies me isenta da condenação e torna irrelevante o crime do gostar. Aos pais, deixo meu lamento, e torço para que se consolem no resto da família peluda que persiste. Por favor, estenda minhas condolências ao digníssimo.

Falando nele, não ligo para seus problemas, pois tenho os meus que me bastam, mas sinceramente torço por vocês. Mais sinceramente ainda torço por mim, que não quero perder essa força da natureza que vocês formaram juntos. Certamente fui arrebatado pela tormenta de vocês, ao chegar perto do olho do furacão, e não resistir à tormenta foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado. Das poucas certezas que tenho, o foco nos relacionamentos é a mais permanente, e devo isso a vocês.

Minha única mensagem final possível é: toca daí, que eu mando daqui. Remenda as asas, exercita elas de vez em quando. Nunca se sabe quando o garoto levado vai chegar de fininho e abrir a porta da gaiola e, cara, nessa hora, tu sai voando o mais rápido que der, ok? Sua prisão é temporária, que eu sei. Você sempre voou mais alto do que eu.

Atillah




sábado, 10 de novembro de 2007

WHA?

Wha? INDEED!

Guys. Guys. Hey guys.

This was on fucking cnn.com. Chris has just shown it to me.

I'VE TOLD YOU SO!!!!!!!

*does little happy dance*

--Xochiquetzal

P.S. - Original link: http://www.cnn.com/2007/TECH/science/11/09/simington.ufocommentary/index.html

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Symington: I saw a UFO in the Arizona sky

By Fife Symington -- Special to CNN

November 9, 2007

Former Arizona Governor Fife Symington will be moderating a November 12 event at the National Press Club where he will discuss the Phoenix Lights incident. He says he will be joined by 14 former high ranking military and government officials from 7 countries who will share evidence from what they call their own UFO experiences and investigations.

(CNN) -- In 1997, during my second term as Governor of Arizona, I saw something that defied logic and challenged my reality.

I witnessed a massive delta-shaped, craft silently navigate over Squaw Peak, a mountain range in Phoenix, Arizona. It was truly breathtaking. I was absolutely stunned because I was turning to the west looking for the distant Phoenix Lights.

To my astonishment this apparition appeared; this dramatically large, very distinctive leading edge with some enormous lights was traveling through the Arizona sky.

As a pilot and a former Air Force Officer, I can definitively say that this craft did not resemble any man made object I'd ever seen. And it was certainly not high-altitude flares because flares don't fly in formation.

The incident was witnessed by hundreds, if not thousands of people in Arizona and office was besieged with phone calls from very concerned Arizonians.

The growing hysteria intensified when the story broke nationally. I decided to lighten the mood of the state by calling a press conference where my chief of staff arrived in an alien costume. We managed to lessen the sense of panic but at the same time, upset many of my constituents.

I would now like to set the record straight. I never meant to ridicule anyone. My office did make inquiries as to the origin of the craft, but to this day, they remain unanswered.

Eventually the Air Force claimed responsibility stating that they dropped flares. This is indicative of the attitude from official channels. We get explanations that fly in the face of the facts. Explanations like weather balloons, swamp gas and military flares.

I was never happy with the Air Force's silly explanation. There might very well have been military flares in the sky that evening but what I and hundreds of others saw had nothing to do with that.

I now know that I am not alone. There are many high ranking military, aviation and government officials who share my concerns. While on active duty they have either witnessed a UFO incident or have conducted an official investigation into UFO cases relevant to aviation safety and national security.

By speaking out with me, these people are putting their reputations on the line. They have fought in wars, guarded top secret weapons arsenals and protected our nation's skies.

We want the government to stop putting out stories that perpetuate the myth that ALL UFOs can be explained away in down-to-earth conventional terms. Investigations need to be re-opened, documents need to be unsealed and the idea of an open dialogue can no longer be shunned.

Incidents like these are not going away. About a year ago, Chicago's O'Hare airport experienced a UFO event that made national and international headlines.

What I saw in the Arizona sky goes beyond conventional explanations. When it comes to events of this nature that are still completely unsolved, we deserve more openness in government, especially our own.

icanhascheezburger.com








Vejamos se isso tira o Atillah de sua cápsula criogênica.

--Xochiquetzal

sábado, 3 de novembro de 2007

Goodbye, Mr Fibbers


This is for my friend Fibonacci, who was put down today, November 3rd, 2007. He was eight years old, he was slowly dying. Fibbers was the best cat ever. I just came back from the pet cemetery and there's a big, gray, cat-shaped hole in my life. I can't even begin to deal with the pain.

Rest in peace, buddy. There will never be another cat like you.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O Mundo Assombrado Pelos Demônios

I told you so.


Olá, Cosmonauta Spiff!!!

Passei uma preciosa parte do meu tempo pensando em como escrever um texto à altura do seu último post. Revi meus conceitos de astronomia, revisei minha gama de metáforas e alegorias, fiz esquemas, fiz esboços... e nada. Não consegui produzir nada que chegasse aos pés do extremamente bem-escrito, embasado e humorístico post que você criou. Puta. Que. Pariu. Perdi a conta das vezes em que me peguei relendo o texto, me embasbacando com a sua qualidade e com o impacto ridículo das rochas piroplásticas.

Joguei a toalha mesmo. Não há mais o que comentar ou adicionar; curvo-me perante seu talento, deleito-me em aquecer minha superfície frígida nas emanações de seu gênio, e espero permanecer orbitando (ainda que de modo errático) o planeta Atillah, nessa danse macabre de coincidências que rege nossa cosmogonia...


...and here's to life!

Enquanto você valseia lentamente em torno de seu Sol incognoscível, eu continuo sapateando pelo Cosmos -- dessa vez com sapatinhos de lítio que me desaceleram, me desintegram, me desangustiam. Baudelaire disse que "não há angústia maior do que viver sem angústia", e às vezes sou forçada a concordar. O lítio é como uma terraplenagem no solo na mente: você não corre mais o risco de se estabacar a cada passo nos buracos e irregularidades do terreno, mas perde toda a excitação, maravilha e encanto caóticos com os quais estava habituado. G. K. Chesterton disse:

"Existe no fundo da mente de todo artista algo como um modelo ou um tipo de arquitetura. É algo como a paisagem dos seus sonhos; o tipo de mundo que ele gostaria de construir ou no qual gostaria de vagar; a estranha flora e fauna de seu próprio planeta secreto."

O lítio me tornou uma criatura apátrida, exilou-me de mim mesma. Estou calma, ponderada, menos extravagante e exagerada, mas como diria Pessoa: "no meu coração há uma paz de angústia, e meu sossego é feito de resignação". Minha calma é na verdade apatia, minha ponderação, tédio. Vivo uma vida de refugiada no status quo, ansiando pela energia desmesurada, pelos vôos da imaginação, pelas danças insanas no apartamento e risadas histéricas em momentos inadequados.

Eu não sei ser equilibrada. Eu não gosto de ser equilibrada. Granted, eu não gosto de ser auto-destrutiva, instável e psicótica, mas se o preço a pagar pela "normalidade" for uma vida em banho-maria eu vou voltar ao Bedlam do meu mundinho. Tenho saudades dos meus demônios internos e da vida em permanente assombro.

"Mas agora você se sente como uma pessoa normal, como uma de nós". Esse comentário, que já virou lugar-comum na minha família, me horroriza. Lembra-me das aberrações do clássico filme Freaks: "One of us! One of us! Gobble-Gabble, one of us!" Eu não quero ser um de vocês! Eu não quero ter que beber sete litros de água por dia para evitar os problemas renais causados pela droga e ir ao banheiro a cada 45 minutos; não quero o gosto metálico na boca seca, os tremores nas mãos que transformaram minha letra em coisa de criança de quarta série, a confusão, a incapacidade de fazer mil coisas tudo ao mesmo tempo agora, o silêncio que abafa o cérebro, não ser capaz de viver descaralhada com tudo ao meu redor. A náusea sartreana de viver.

Mas eu não quero enlouquecer também.

É tudo muito esquisito. Meus textos são desconexos, levo três vezes mais tempo para ler qualquer coisa, acho tudo difícil. Estou me sentindo burra. Em pouco mais de três semanas faço a prova para o mestrado em Lingüística e estou tendo dificuldade para estudar. Argh. A náusea.

Ó vida, ó azar. Chega de lamentação -- tenho quatro textos longos para ler e resenhar e uma tremenda ressaca existencial pós-Halloween. Veremos o que os meus 27 anos (você estava certo: você está ficando velho) reservam para mim.

Shivers me timbers!

Avast!

--Xochiquetzal.