(escrito sob a influência do tatu, baseado em tantos textos legais escritos sob as mesmas condições idiossincráticas de temperatura e pressão produzidos pela Bel)
Dia desses tava usando o laptop e uma colega veio espiar por sobre o meu ombro. Assombrada com o tamanho das fontes que eu uso, deu uma de Chapeuzinho: "Mas Xochiquetzal, por que essas fontes tão grandes?"
"É para melhor enxergar, PORRA!", uivei loba má, sem saco pra responder perguntas óbvias.
Eu não enxergo bem desde a quinta série, apesar de desconfiar que minha miopia venha de muito mais cedo. Após a grosseria lupina fiquei pensando no fato de eu não conseguir enxergar as coisas PONTOFINAL, de ser física e espiritualmente míope. Até nisso eu consigo ser ambivalente. Salva de uma palma pra mim.
*CLAP*
Ser míope é um absurdo. Ter o sentido fundamental para a conceituação do mundo tão bisonhamente deficiente me revolta. Claro que poderia ser pior -- SEMPRE pode-se ser pior -- mas não me conformo. Mundo injusto, injusto! Depender de óculos (ou, no meu caso, lentes de contato) já é uma BOSTA aqui no plano físico, mas quando se depende de óculos metafísicos para apreender um pouco do que chamamos vida a coisa fica pior ainda (viu? Eu avisei): eu sou uma toupeira filosófica, uma Senhora Magoo da auto-percepção. Incapaz de ver o óbvio ululante das coisas.
Vai que daí nasceu minha incomensurável habilidade para viver num mundo só meu: a impossibilidade de distinguir os contornos do real me empurrou para os traços definidos da minha imaginação, onde posso caminhar sem medo de me estabacar a cada buraco do terreno ou pegar o bonde errado por incapacidade de ler o letreiro. Na minha cabeça as coisas não estão borradas, tremidas ou embaçadas; confusas, com certeza, mas nitidamente confusas.
Já me disseram que eu ando pelas ruas com uma expressão entre compenetrada e dolorosa no rosto. Já me disseram que pareço um personagem de anime com esses olhos enormes que a terra há de comer. Mal sabem eles que esse misto de esquisitice e charme não passa da manifestação de uma deficiência física, e que mesmo do disfarce das minhas lentes de contato miro o mundo com um olhar eternamente apertado, concentrado, desconfiado. Nunca sei se o que estou vendo é mesmo o que estou vendo, em todos os sentidos. Querendo ou não, estou sempre me esforçando para enxergar o que está acontecendo, franzindo o cenho para o céu, sobrancelhas unidas numa expressão tristemente séria. Tristemente míope.
Tatu andou e eu fui atrás dele, deixando minha psicologia torta de lado para enveredar pela história convoluta: como deveria ser míope antes do advento das lentes, óculos e muletas visuais afins? Como se viravam os ceguetas harcore nas nossas priscas eras de caçadores-coletores? A pergunta que não quer calar: como é que um gene desabonador como o da miopia não foi exterminado antes da sedentarização da espécie?
QUE PROPÓSITO SERVIMOS, SENHOR????????
Desejei ardentemente ter o Google para me iluminar no momento, mas estou sozinha em casa num domingo airoso de semisol, ao som de Old Crow Medicine Show e The Wallflowers. Na verdade, acabo de me dar conta que poderia estar escrevendo isso diretamente no laptop que está aberto na minha frente, em vez de num bloquinho ridículo de anotações. Putaquepariu. !Arriba, armadillos, arriba!
Vou passar as seis folhas de bloquinho a limpo no computador e volto logo.
*5 minutos depois*
Esqueçam. Digitar, no momento, é mais complexo que tocar harpa com os dedos do pé. Aham.
(Como diabos a Bel consegue escrever seus textos completamente ébria permanece um mistério pra mim.)
Looking at the world from the bottom of a well,
Dia desses tava usando o laptop e uma colega veio espiar por sobre o meu ombro. Assombrada com o tamanho das fontes que eu uso, deu uma de Chapeuzinho: "Mas Xochiquetzal, por que essas fontes tão grandes?"
"É para melhor enxergar, PORRA!", uivei loba má, sem saco pra responder perguntas óbvias.
Eu não enxergo bem desde a quinta série, apesar de desconfiar que minha miopia venha de muito mais cedo. Após a grosseria lupina fiquei pensando no fato de eu não conseguir enxergar as coisas PONTOFINAL, de ser física e espiritualmente míope. Até nisso eu consigo ser ambivalente. Salva de uma palma pra mim.
*CLAP*
Ser míope é um absurdo. Ter o sentido fundamental para a conceituação do mundo tão bisonhamente deficiente me revolta. Claro que poderia ser pior -- SEMPRE pode-se ser pior -- mas não me conformo. Mundo injusto, injusto! Depender de óculos (ou, no meu caso, lentes de contato) já é uma BOSTA aqui no plano físico, mas quando se depende de óculos metafísicos para apreender um pouco do que chamamos vida a coisa fica pior ainda (viu? Eu avisei): eu sou uma toupeira filosófica, uma Senhora Magoo da auto-percepção. Incapaz de ver o óbvio ululante das coisas.
Vai que daí nasceu minha incomensurável habilidade para viver num mundo só meu: a impossibilidade de distinguir os contornos do real me empurrou para os traços definidos da minha imaginação, onde posso caminhar sem medo de me estabacar a cada buraco do terreno ou pegar o bonde errado por incapacidade de ler o letreiro. Na minha cabeça as coisas não estão borradas, tremidas ou embaçadas; confusas, com certeza, mas nitidamente confusas.
Já me disseram que eu ando pelas ruas com uma expressão entre compenetrada e dolorosa no rosto. Já me disseram que pareço um personagem de anime com esses olhos enormes que a terra há de comer. Mal sabem eles que esse misto de esquisitice e charme não passa da manifestação de uma deficiência física, e que mesmo do disfarce das minhas lentes de contato miro o mundo com um olhar eternamente apertado, concentrado, desconfiado. Nunca sei se o que estou vendo é mesmo o que estou vendo, em todos os sentidos. Querendo ou não, estou sempre me esforçando para enxergar o que está acontecendo, franzindo o cenho para o céu, sobrancelhas unidas numa expressão tristemente séria. Tristemente míope.
Tatu andou e eu fui atrás dele, deixando minha psicologia torta de lado para enveredar pela história convoluta: como deveria ser míope antes do advento das lentes, óculos e muletas visuais afins? Como se viravam os ceguetas harcore nas nossas priscas eras de caçadores-coletores? A pergunta que não quer calar: como é que um gene desabonador como o da miopia não foi exterminado antes da sedentarização da espécie?
QUE PROPÓSITO SERVIMOS, SENHOR????????
Desejei ardentemente ter o Google para me iluminar no momento, mas estou sozinha em casa num domingo airoso de semisol, ao som de Old Crow Medicine Show e The Wallflowers. Na verdade, acabo de me dar conta que poderia estar escrevendo isso diretamente no laptop que está aberto na minha frente, em vez de num bloquinho ridículo de anotações. Putaquepariu. !Arriba, armadillos, arriba!
Vou passar as seis folhas de bloquinho a limpo no computador e volto logo.
*5 minutos depois*
Esqueçam. Digitar, no momento, é mais complexo que tocar harpa com os dedos do pé. Aham.
(Como diabos a Bel consegue escrever seus textos completamente ébria permanece um mistério pra mim.)
Looking at the world from the bottom of a well,
--Xochiquetzal.
Um comentário:
Olha, eu acho que tudo está se deteriorando na nossa genética, menos a nossa atividade cerebral. Éramos mais aptos a viver na selva, mais fortes, mais ágeis, mais resistentes.
Agora se colocarmos um Einstein num ringue com um Neanderthal, por mais que nós Sapiens Sapiens tenhamos sobrevivido e eles não, acho que o resultado ia ser bárbaro.
Ser inteligente é burrice, se pensarmos dessa forma.
Wow.
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