
Vestida de branco, enchendo a fuça de espumante e pulando ondinhas,
Bel
p.s- O último post do ano vai ser meu, yay!
CULT: –adjective: of, for, or attracting a small group of devotees: "a cult movie".
Taking into consideration our amount of devotees, you're about to be part of one hell of a cult blog; a couple of readers less and we will turn into a diary.
Welcome to Xochiquetzal's mind. Grab a seat and enjoy the show.
*PARENTAL ADVISORY: EXPLICIT CONTENT*
Preparem-se...
A cada dia se morre um pouco.
Bela constatação, perfeitamente óbvia e idiota. Muito mais bela por ser perfeitamente idiota, pois há beleza na estupidez: é como uma folha em branco, imaculada, na qual nenhum fato da vida se grava, uma tabula rasa eternamente a ser escrita, um vir-a-ser que cumpre para sempre a sua função de nunca ser. Bonito isso. Bonito ser estúpido. BONITO, HEEEIN!? “MUITO BONITO, DEZ HORAS DA MANHÃ E AINDA DORMINDO. TÁ ACHANDO QUE A VIDA É SÓ DIVERSÃO?!”
Vai trabalhar, vagabundo.
Mas divago, porque quero fugir do assunto. O que importa é que, seres sem perenidade que somos, desde o primeiro arfar, recém-saído do meio das pernas de alguma mulher, se começa a morrer. Oxigênio, esse algoz: um modafóca disfarçado de herói, tão vital mas ao mesmo tempo tão oxidante; oxidando meus órgãos e aos poucos transformando tudo naqueles pára-choques velhos, cromados, de Brasília 79. Uma Brasília daquelas brancas, onde a ferrugem só faz macular ainda mais a brancura, tornando evidente a deterioração que um dia, com certeza, levará aquela Brasília ao ferro-velho.
Eu sou uma Brasília 79, e a cada dia eu morro um pouco.
Eu sempre morri todo dia e no começo isso até me assustava, mas me disseram que acontece com todo mundo. E se acontece com todo mundo, sabe como é: a gente se acostuma. Parece que o preço de viver é que um dia a diversão toda acaba de uma vez só e você vira adubo. Olha, sé é só isso mesmo, então tá saindo barato. Tem muita gente aí que tá pagando barato e, sinceramente, eles não merecem viver e podiam virar adubo bem antes. Mas isso é outro assunto. Divago. Divago de propósito, pra evitar o assunto principal: a cada dia eu morro um pouco.
Mas agora eu morro mais.
Mas agora eu vivo menos.
Eu era vagabundo.
Morrer mais, viver menos, quisifoda. Que diferença faz? Faz um pouco de diferença, acho. Porque um dia você constata que, se um dia você vai virar adubo, talvez seja, sei lá, LEGAL aproveitar enquanto você não vira. Porque, não tenho certeza, mas acho que vida de adubo não é grande coisa. Tem um tipo de adubo que é basicamente merda de vaca, não tem? Porra, quem quer ser um punhado de merda?
Eu era vagabundo. Eu me sentia bem.
Agora eu me sinto um punhado de merda, cinco dias por semana, das oito às seis. Mas com benefícios e, pasmem, plano odontológico. Eu nem sabia que usavam dente pra fazer adubo.
É, um gosto de merda na boca sabem? Todo dia. Vai ver eu já tô morrendo e virando adubo. Eu trabalho e me sinto um merda. Mas a gente se acostuma. Parece que acontece com todo mundo. Parece que esse lance de viver tem dessas coisas, de você não poder viver direito, porque em pelo menos umas oito ou nove horas do seu dia você precisa se sentir um merda, e não viver. Não dá pra viver e ser adubo ao mesmo tempo. Mas então, você vive mais ou menos metade do dia, morre durante a outra metade e, como bônus, ganha dois dias livres na semana. Ainda é um bom négocio? Viver tá saindo mais caro agora. Tá meio a meio. Tá elas por elas. Tá uma merda. Adubo. Bonito, hein?
Eu falava de idiotas e estúpidos. E vagabundos. Escória. Vou adicionar os imbecis. Porque, olha só, qualquer imbecil pode ver que não tá sendo um bom negócio esse lance aí de viver pouco mais da metade do tempo e virar merda no tempo que sobra. Tá meio caro. Bonito hein, vagabundo? Jogando merda no carro, hein? Depois a Brasília 79 fica toda enferrujada e quero ver quem vai comprar. Não tem conserto não, minha senhora. Deu problema na rebimboca da parafuseta, melhor mandar pro ferro-velho e comprar uma nova. Ninguém quer andar em carro velho.
Mas a gente se acostuma. Se acostuma a morrer.
love grace tolerance
Atillah
Tempo-tic
Tempo-tac
Uma salva de palmas ritmadas de um em um segundo, uma salva de palmas para o primeiro motherfucker que resolveu começar a contar o tempo. O tempo não existia, e o homem viu que era bom. Ele podia chegar em casa trêbado e sua mulher nunca saberia se era cedo demais ou tarde demais. Porém, num momento de desatino alcoólico alguém gritou “Faça-se o tic, faça-se o tac”, e nossa história de miséria humana começou oficialmente, com a precisão exata de um grão de areia escorrendo lépido na ampulheta. Agora podemos nos foder com todo o tempo do mundo. Tempo de sobra para sofrer. Segundos intermináveis que se empilham em minutos e horas e dias e anos e, principalmente, se juntam para virarem morte.
Tempotic -Tempotac
Tempocaixão
Vou contar um lance bem lôco pra vocês: o tempo não corre, ele se empilha. O tempo se junta e faz peso nos ombros, nas costas, na cabeça, e eventualmente comprime o coração. Impossível não sentir a compressão. Dizem que o tempo passa rápido demais nos dias de hoje. É mentira. O tempo não passa nunca, a presença dele é constante; ele chega de longe, se instala do lado da tua cama e fica ali te assombrando. Os segundos não me escorrem pelas mãos; eles chegam de algum lugar, como os raios de luz, como o vento soprando sem destino, chegam e me atingem o TEMPO TODO. TODO o TEMPO do mundo me atingindo. Tempo demais, tempo excessivo, tempo insustentável.
Tic...Tac...tic... tac, tic-tac, tictac, tictactictactictacitcaicacicaccccccc...Morri.
Porque a vida, minhas queridas companheiras de jornada, a vida é uma marcha inexorável para o fim. E no fim não tem um “fim” escrito, como nos livros que adoramos. Não tem um “fim” porque só acaba para nós. Life goes off, time goes on. On and on. Nós acabamos, mas tempo não tem fim. Quem precisa medir o tempo somos nós, porque o fim se aproxima. Ele sempre se aproxima. Esteja preparado para o seu fim, porque ele não tem hora pra acontecer. O fim não carrega relógio, o fim não tem celular, o fim não tem nenhum outro compromisso a não ser pegar você. O fim não trabalha, o fim não dorme, o fim não tem dinheiro. Mas ele vem à galope.
Ao fim e ao cabo da foice, o que nos resta? Nada resta, porque é o fim. Então, só temos o que vem antes do fim, vamos aproveitar bem. E eu sou niilista e hedonista pra caralho. Mas aí também não sei não. Não sei se tenho tempo pra ser alguma coisa. Vai ver esse negócio de ficar tentando ser alguma coisa é perda de TEMPO. A gente fica tentando ser alguma coisa e o tempo ri de nós, porque não interessa o que você seja agora, daqui a pouquinho você não vai ser nada de novo.
O tempo a tudo destrói.
Mas isso não é motivo pra se sentir mal. É bom que as coisas terminem. E mesmo que não seja bom, não faz diferença, porque elas terminam de qualquer modo. É bom ser niilista e entender que não importa o que você acha das coisas. Elas continuarão sendo o que sempre foram apesar de você.
Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Torça para você estar lá. Torça para você estar lá e poder aproveitar mais um pouco. Aproveite com todas as forças. É bom ser hedonista e entender que não importa o que acham de você, porque no fim todo mundo termina do mesmo modo. Você sempre será o que sempre será, apesar dos outros. O tempo a tudo destrói.
Queridas, um brinde ao tempo:
tin-tin
tintic-tintac.
love grace tolerance
Atillah