quinta-feira, 14 de maio de 2009

Monomanias de Madame Mim





Uma série de coisas tem me feito feliz ultimamente. Coisas pequenas: quem disse que a felicidade está nas coisas simples da vida estava certo -- até mesmo porque a vida não passa de uma série numerada de coisas simples: a gente que complica ela, nas sábias palavras do meu pai.

Pois então. Uma das minhas atuais fontes de alegria tem sido o programa de rádio Theme Time Radio Hour (with your host Bob Dylan), seleção semanal de músicas escolhidas pelo velho Bob e equipe, todas partilhando um tópico: sapatos, cabelos, amigos & vizinhos, cachorro, Bíblia, noite, demônio, cores, coração, escola, telefone, água, sangue, Natal, carros, armas, nomes de mulher -- a lista de temas varia do poético ao hilário, do profundo ao absurdamente profano. As playlists, ecléticas e deliciosamente antiquadas, são pontuadas pelos comentários, anedotas, citações e tiradas geniais de Dylan, que mesmo aos sessenta e muitos anos ainda consegue deixar esta ouvinte mordendo a fronha com sua voz rascante e dicção suingada.

O Theme Time Radio Hour pode ser baixado em torrents ou acompanhado online. Como boa copyfighter que sou, fico com a opção que, além do rum e das putas, não diminui o meu butim. HARRRRR, mateys!



Outra coisa me deixou feliz foi minha inesperada (porém efêmera) alforria conjugal, que rendeu deliciosas semanas de solidão, há muito almejadas. Dias da minha música tocando no último volume pela casa, da minha voz ecoando no banheiro às sete da manhã, minhas roupas espalhadas pelo chão, meus gatos, minha dieta insana, meus livros, meus horários, tudo meu meu MEU. Me agarrei à solidão num desespero que me assusta até agora: não fazia idéia do quanto sentia minha falta, e agora que faço estou com medo de fugir comigo mesma -- para ser abandonada, prenha de nada e desonra, pela canalha que eu sou frente à primeira adversidade, barra de saia/calça ou criatura de tendências artísticas.

É duro não valer nada. Ser vadia não é para as fracas de espírito, companheira Bel. Estou contigo e nãoabro, aguardando o momento oportuno de lançar nossa grife/editora/gravadora/restaurante/escola de idiomas/delicatessen/livraria & sebo/antiquário/esquadrias de alumínio/pastel frito na hora/drogaria/sex shop e sorvete no cascão Vadias 'r' Us.

Mas mudemos de assunto antes que eu me comprometa (O RLY?): nostalgia e liquidificadores de algodão. Dia desses o TC conseguiu fazer com que eu desencavasse meu antigo caderno de textos/letras de música/poesias, no qual escrevi sofregamente dos dezenove aos vinte e um anos, com resultados variáveis. Foi uma experiência interessante reler versos da Xochiquetzal de dez anos atrás, e surpreendente achar alguns legais (levando-se em consideração o contexto sócio-histérico-cultural das obras , claro). Quer brincar de médico literário comigo? Me mostra o seu que eu te mostro o meu.

Você acredita que eu nunca vi Wonder Years? Eu tenho umas lacunas culturais absurdas: por exemplo, eu nunca tinha ido ao teatro na minha VIDA até o mês passado, quando fui conferir o Hamlet de Wagner Moura no Rio. Também nunca tinha escutado The Dark Side of the Moon até o ano passado, e até hoje permaneço sem ter conhecido São Paulo, ido ao Pão de Açúcar de bondinho, lido Karl Marx, assistido Star Wars ou visitado um motel. A lista vai ficando mais vergonhosa conforme progride ad absurdum, por isso vou ficando por aqui antes que perca minha tão suada credencial de vadia letrada.

Zelosa da reputação da categoria, câmbio e desligo,

--Xochiquetzal.


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