quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Requiem para uma crise



E não é que, depois de tanto tempo nessa vidinha mais ou menos, eu simplesmente dei um surto horroroso poucos dias atrás?
Passar o dia inteiro com gastrite nervosa.
Voltar a escrever apaixonadamente no diário.
Ficar a noite inteira febril, num sono inquieto e agitado, com imagens que não faziam o menor sentido martelando na minha cabeça.
Abandono, abatimento, aflição, agitação, angústia e ainda nem cheguei na letra D de "desespero total e absoluto".
A crise simplesmente apertou minha garganta com dedos gelados e se recusava a me deixar fazer qualquer coisa que não fosse sofrer com cada decisão que já tomei até hoje.

Tive que sentar com um CD bom e enfileirar meus pensamentos de forma que fizessem sentido. Tive que jejuar, mais por hábito que por crença. Páginas e mais páginas de palavras-cruzadas. E isso por uma coisinha que, em dias normais, me faria levantar as sobrancelhas de indignação e depois me esqueceria do assunto.

A X. me diz que eu vejo as coisas de maneira muito simples e prática, e eu acho que é realmente isso que me fode. Quando eu resolvo duvidar e ter medo, des-simplificar as coisas, desdobrar o origami e ver que no fim é tudo papel amassado; vem tudo de uma vez, é um tsunami com proporções catastróficas principalmente pro meu pobre estômago sensível e pro meu (pequeno, porém existente) juízo desequilibrado.

Graças a Deus, o saldo foi positivo. Acreditem se quiser, mas foi Raul Seixas quem me salvou de, no mínimo, mais quatro dias de jejum, náuseas e pesadelos sem sentido. Ouvi, refleti, epifanei-me inúmeras vezes e cheguei ao seguinte diagnóstico:

HORMÔNIOS.

Malditos sejam meus ovários, mas foi a única explicação plausível que eu encontrei. Tanta insegurança num período tão curto de tempo? Hormônios, só pode.
Também encarei como um sinal para começar a refletir mais sobre o que eu faço, ao invés de achar tudo muito certo, aceitável e bonito. Acho até que não é que eu encare a vida de maneira simples, mas eu prefiro deixar que as complicações se acumulem, passo por cima e finjo que não existem, até que explodam todas de uma vez só em cima do meu colo, espalhando merda em todos as paredes, teto e sujando meu jardim todinho. Se eu continuar tendo uma crise de psicótica só uma vez por ano tá bom, né?

Depois de me auto-diagnosticar com uma TPM + uma viagem errada (tatu andou pro brejo, JESUS!) + muito álcool, foi muito mais fácil colocar rédeas nos wild horses. Wild horses couldn't drag me away. Confesso que foi fácil -apesar de dolorido- encarar meu Cheshire Cat e foi até bom ele me lembrar que eu não sou tudo isso que penso na maior parte do tempo.
Me renovei, depois de tanto tempo achando que ainda era a mesma. No final das contas, eis-me aqui, prontinha pra florescer de novo. A noite ainda não findou, mas já existem prelúdios de sol no horizonte. Auto-conhecimento é uma dádiva adquirida a duras penas.

Depois de tanta coisa boa, voltar pra severinidade nossa de cada dia é meio extenuante. É tudo parte da crise.

O estômago ainda tá meio fraco das pernas e ainda luto pra que o juízo entre de volta nos eixos plenamente. Mas aê, o pior já passou.
Convido vocês para o funeral de mais uma crise. Vai-te embora, trem ruim do caralho.


Jogando flores em cima do caixão, feliz da vida,
Bel.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tava na mesma, cara. Ontem e anteontem foram dias de fúria em minha vida: dei chilique no meio da rua, pedi o divórcio, pedi desculpas, chorei horrores por ser uma mulher perversa, amaldiçoei o Inefável por ter nascido...

...mas tá passando. Devagar, mas tá passando.

Desce, menstruação, para que eu possa viver!

Whoremones: we haz dem!